sábado, 18 de outubro de 2014

Provocações do Tião - Império e conflitos menores

Sebastião Pinheiro*

Cansado da leitura de “Silent Poison” de E. G. Vallianatos, em busca de notícias liguei a TV, a opção mais sadia aos animadores de ocorrências policiais (Datena e Marcelo Resende) era o “Chaves”. Foi quando, por casualidade topei com o segundo debate entre os candidatos. Madonna Acheropita: “Guerra de Bugio nada, aquilo era contenda de gorilas com cólera.

Nas salas, seguramente as vovós constrangidas e recatadas pensaram: “deprimente”; os adultos: “indignante”; os jovens: “ultrajante”; e as crianças “ingênuas torcedoras” acolheram um ou outro como o vencedor de sua simpatia ou indução familiar.

Nisso fomos transformados todos pelos marqueteiros de um e outro lado, pois é o modelo de debate dos meios de comunicações do império e não disputa eleitoral de representação e exercício de poder.
Sim, é um “Fla-Flu”, “Gre-nal”, “Ba-Vi”, no seio da nação para que os mais humildes não superem a situação de ingenuidade infantil e decidam destino e sociedade com ódio e rancor medieval.

Ficaram de lado os programas, propostas ou até as análises críticas de incompatibilidade entre discurso e ação. A formatação imposta pela mídia é de pergunta de um minuto, resposta de outro e treplica de outro o que impede um debate condizente com o nível de responsabilidade e necessidade facilitando agressões e baixo nível.

A nova Ordem Econômica formatada na Rodada Uruguai legou a OMC e o imperialismo começou a transformar-se em Império.

No império não há impedimentos à: liberdade, religião, ideologia, raça, comportamentos ou outros, pois ele não é disciplinador - como foi o imperialismo, que usava Fome, Ditadura, Segurança Ideológico do Estado Nacional e outros como seus instrumentos de desenvolvimento identificados com o modernismo. Por exemplo, não foi permitido eleger Salvador Allende democraticamente em 1971, hoje é trivial eleger Chávez/Morales/Mujica na nova Ordem, pois o império é, apenas, controlador – sem lugar para as ferramentas multilaterais ou das elites nacionais.

Contudo, a mudança de imperialismo para império não é por passe de mágica, logo há circunstancias que precisam de tempo para ser removidas ou superadas.

No inicio da OMC nós já éramos a 9º economia e tínhamos um IDH de 0,443, para a implantação do império foi “determinada a adoção de medidas pós-imperialismo de conteúdo social (Bolsas Sociais, Um milhão de cisternas etc.). O assustador é que não se fez uma leitura da proliferação de ONGs sustentadas por dinheiro de “benemerência” de um lado diminuindo e enfraquecendo o Estado e de outro “virtualizando” a economia dos países industriais.

Passados vinte anos somos a 7ª economia do Império, onde mais de um quarto da população sobrevive de “Bolsas Sociais, mas continuamos ocupando a 112ª posição em Saneamento Básico e 79ª em Índice de Desenvolvimento Humano com 0,749, mas ocupamos o decepcionante 8º lugar na América Latina e Caribe. E para arrematar somos o primeiro consumidor de agrotóxicos do mundo, desde 2004, atrás dos Estados Unidos que possui ma agricultura três vezes maior que a nossa o que é uma execração mundial.

Depois de vinte anos há um processo racial de eugenia descarado onde morrem mais jovens assassinados que em qualquer guerra declarada. A construção de presídios superou em muito a construção de escolas e hospitais.

Falta muito para chegarmos a “súditos do império”, ainda estamos patinando na realidade do imperialismo, todos como torcedores, acólitos ou “estipendiados” (do latim Stipendium) sem geração intelectual decente, posse e alteridade cidadã.


Envergonhado assisti à uma farsa e não um debate de postulantes presidenciais, apenas a escolha do “capitão de mato da Casa Grande” em guerra de bugios.

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*Engenheiro Agrônomo e Florestal, escritor e ambientalista

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