"O HAMAS, que é um grupo palestino muçulmano sunita, tem como intenção, através de ataques, serem ouvidos sobre a situação caótica de seu povo árabe, pois através do diálogo não houve uma resposta satisfatória."
domingo, 8 de fevereiro de 2015
A “Olho Nu”, uma energia complexa chamada Ney Mato Grosso
Há alguns documentários que marcam pelo alto nível das imagens e a boa trilha sonora; outros, pelo forma com que o diretor controi e concatena uma história; há, ainda, os que nos conquistam pelo texto e a expressividade dos atores/entrevistados. Mas, quando se combinam esses fatores, somados a uma polivalência de um personagem de longa trajetória artística e singular modo de ser, pode haver condições favoráveis para uma catarse na plateia. Foi o que encontrei em “A olho nu”, documentário de Joel Pizzini (2014), sobre a vida e obra de Ney de Souza Pereira, ou Ney Mato Grosso.
A simples escolha de um artista como Ney, pela expressividade histórica na música brasileira e o jeito exótico de cantar atuando (porque o proprio Ney se afirma no documentário, como um cantor que atua) já seria, por sí, um ponto fortemente positivo para ampliar o interesse no filme para além de seus fãs. Mas Pizzini acertou a mão também nas escolhas e no modo de contar. Beneficiado pela disposição de um rico acervo audiovisual e discográfico, acumulado ao longo da vida do artista, o diretor dosou o íntimo e o público, magistralmente. Sob um roteiro multilinear, o cantor sul-matogrossense conta a sua história a partir de vários aspectos, sem dissociar de uma coesão com um ponto aparentemente perseguido: a sua interioridade, aquilo que o moveu e o move como ser humano, para além dos palcos.
Apresentar curiosidades sobre Ney Mato Grosso, desde a sua infãncia, em Bela Vista (MS), os seus hábitos na esfera familiar, o início de usa carreira, aos momentos mais brilhantes de sua vida – entre RJ, SP e Brasíla - estão contemplados no trabalho de Pizzini, para a satisfação dos fãs. Mas para os que ainda pouco ou nada conheciam o artista, o diretor também criou pontos de contato. Entre paisagens belíssimas dos recantos do centro-oeste em que o cantor cresceu e momentos especiais de seus shows, o diretor articulou uma linha narrativa conduzida pelo próprio Ney, em que se misturam ângulos curiosos de performances com comentários do cantor sobre temas como aids, censura e política e homossexualidade. São visões de mundo que se harmonizam nas cenas, não apenas como tempero, mas como elementos ilustradores das experiências de vida do artista.
O retrato desses momentos, a propósito, entre a pré e a pós atuação é um elemento digno de nota. O corpo, as cores, a criatividade, os silêncios, os olhares, enfim, a energia atomizante que o artista estabelece a partir de si, apresenta um lado atraente, estravagante e interessante sobre esse consagrado artista, sem cair na vulgaridade, ainda que o diretor demonstre não ter qualquer pudor em explorar a fundo o lado “libístico” assumido tranquilamente pelo cantor.
O modo de se projetar e se expressar com o corpo, ampliando sua significância para muito além de um suporte de voz e performance, transformação ou transgenerização desse personagem homem-mulher-bicho-transgênero, que explode com os limites da crítica tipificante e convida a plateia para perceber novas indefiníveis possibilidades de um artista ser, sem reduzir-se, concede ao documentário um valor transtemporal. As parcerias com nomes como Cazuza, Chico Buarque, Caetano Veloso e outros célebres, da velha e da nova geração da MPB, também dão uma cor especial ao esse trabalho.
Enfim, assistir A Olho Nu é a oportunidade de conhecer muito mais do que o artista e o humano Ney Mato Grosso: traz aos olhos e à sensibilidade do espectador um panorama singular sobre a história da música brasileira, e por tabela, da nossa história como um todo. Sobre o personagem-indivíduo o documentário nos marca também com a mensagem de que a vida de um artista brasileiro é bem mais que a soma de adversidades e conquistas - contém um ser humano que se afirma, reafirma, ou se nega. No caso de Ney, como raros outros, o caminho parece ter sido aceitar-se e assumir-se, do avesso, e em absoluto.
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