Sebastião Pinheiro
Gente eu já vi muita coisa ruim. Um dos primeiros desastres que tive a oportunidade de ver foi o incêndio na Fábrica de Fogos Santo Antônio, no Engenho Pequeno, em São Gonçalo-RJ. Foram 14 mortos, e isso foi por volta de 1952. Depois, perdi seis colegas de aula quando o pai delas resolveu esquentar em uma frigideira umas bananas de dinamite que haviam ficado umedecidas pela chuva na barreira de saibro que possuíam. A explosão fez desaparecer a casa, toda a família morrendo oito pessoas e as vidraças de todo um quarteirão em Sete Pontes.
No segundo ano ginasial, no Colégio Orlando Rangel, perdi quatro colegas de aula vítimas do incêndio provocado no Gran Circus Norte-Americano, em Niterói, na tarde de domingo de 15, de dezembro de 1961. Fui ao hospital Luis Palmier para ajudar a transportar água de coco para os feridos e vi serem construídos, por presidiários, emergencialmente, dois cemitérios para as vítimas.
Conviver com violências nos torna enrijecidos, rancorosas, indiferentes, e também violentos. Na Baixada Fluminense eu tinha a capacidade de identificar um tiro a distância, se era de uma 22, 32, 38, 357, 6,35, 7,65, 9 mm e 45, tal era a profusão de atentados, assassinados e enfrentamentos. Em 1962, a PM do RJ usou balas de metralhadoras traçadoras para dispersar os motoristas em greve, a menos de três metros de mim, que esperava o primeiro ônibus, depois de uma noite no Centro Espírita, assistindo a um batismo em Umbanda. Experiências inesquecíveis para quem já havia sido “coroinha”.
É muito difícil livrar-se ou desvencilhar-se da violência, pois ela impregna nas pessoas mais humildes, pela maldade, o lucro, a vaidade e outros que a igreja chama de 7 pecados capitais e o papa Bento XVI transformou em 15, incorporando os Agrotóxicos e os Transgênicos.
Morei em La Plata, capital da Província de Buenos Aires, uma cidade com 250 mil habitantes e vendi três jornais todos os dias, santos e não santos. Somente gritei uma manchete de assassinato. De um velho grego que matou o genro e com a carne fez “empanadas” e vendeu em sua “rotisserie”. Quando a violência está longe, você (pobre) se sente feliz e protegido. Ela perto, te degrada de forma irreversível.
Em 18 de março de 1968 as coisas começavam a pegar fogo em Paris com os estudantes, mas estarrecido, fui obrigado a gritar a manchete da “proeza” do tenente Willians Laws Calley (foto) do exército dos EUA que depois de estuprar crianças na aldeia de My Lai mandou matar 504 pessoas em um dos crimes de guerra no Vietnã. Não foi preso ou degradado, apenas em prisão domiciliar por três anos até receber indulto presidencial de Nixon. Esse tema rendeu imagens em três filmes, o que significa alguns milhões de dólares na Economia e “Cultura”.
Não mais vendendo jornais, mas com a experiência de identificar “o cego dormindo e o coxo sentado” nos meios de comunicação percebi outro desastre disfarçado. Durante o bloqueio ao Iraque, em 03 de julho de 1988, antes da primeira Guerra do Golfo o comandante William C. Rogers III da USS Vincennes, ordenou o disparo de um míssil cruiser contra o Airbus A300 do vôo 655 da Iranian Air no espaço aéreo daquele país matando 290 pessoas. O militar tampouco esteve preso ou foi degradado. Depois escreveu um livro que lhe rendeu alguns milhares de dólares, embora não tenha se transformado em filme.
Agora sou um ancião enternecido pelas acéquias da vida, e anteontem, a força aérea dos EUA bombardeou e destruiu um hospital em Kunduz, no Afeganistão, e matou 22 médicos, enfermeiras e pacientes de uma ONG francesa que vive de prestar serviços à violência nas periferias do mundo, longe de casa. As Nações Unidas diz que foi crime de guerra, mas ainda não há nomes, prisões, degradações, nem livros ou filmes, mas seguramente seguira as normas anteriores.
O interessante é que na semana anterior um novo massacre ocorreu em Umpqua, no Oregon, em uma Faculdade com 10 mortos, e ontem, um menino de onze anos disparou uma calibre 12 contra uma menina de 8 anos que não queria mostrar o seu cachorro.
Não me interessa a violência do fato, pois ela, antes de tudo, degrada o espírito. Pergunto ao policial, militar ou bandido: Pode uma criança de 11 anos disparar com uma espingarda calibre 12? Esse é o problema dos EUA, crianças são ensinadas a atirar com armas militares de assalto (M16, AK-47) a partir dos sete anos de idade; e dou o exemplo da menininha que com o recuo da arma matou o instrutor de tiro muito recentemente naquele país.
Diariamente, assisto a CNN e não me espanta a forma como trata os “breaknews”. Deparei com a lista que ela produziu, com os 27 mais bestiais “tiro ao humano”, nos EUA, ordenados pelo número de mortos, mas a reordenei pelas datas ignorando os nomes dos autores (foto).
“Ver a palha no olho alheio e não ver a trava no próprio olho” é impossível para quem já leu “Laudato sii” duas vezes e se prepara para lê-la em latim.
O amigo David Valpassos Viana, estarrecido, compartilhou o Blog do Sakamoto sobre a presença de agrotóxicos nos alimentos. Isso é mais velho, e hediondo que a guerra do Vietnã/Golfo I e II.
Por exemplo, o veneno mais usado no Brasil, o BHC (HCH internacionalmente), era importado, mas lá fora, ele era tratado com metanol gelado para separar o isômero gama chamado (Lindane) que era eficiente. Os outros sete isômeros eram apenas, e tão somente, contaminantes ambientais e carcinogênicos, mas os exportadores extraiam o isômero gama para seu uso, o que aumentava a proporção dos outros que exportavam, por isso o nosso BHC (Pó de Gafanhoto) tinha somente 12% de Lindane, quando deveria ter normalmente 18 a 20% e era formulado a 2%, até mesmo em fitas queimadas dentro de casa nas famosas Fumetas, ou na solução em querosene do “Carrasco, não fere mata”, em São Gonçalo no RJ.
Durante a Nova República, tive a oportunidade de ler os estudos “científicos” oferecidos ao M.A para o registro de agrotóxicos: Vergonhosos. Lembram a Portaria M.A 329/85 proibindo clorados, banindo o Endosulfan, colocando o Gramoxone sob venda aplicada, cinco anos depois, paguei o preço.
Quando um depravado mais insano que o tenente Calley vendeu no RS 300 toneladas de milho tratadas com Aldrin para fazer ração para porcos recomendado por um engenheiro agrônomo norte-americano, funcionário da empresa Pionneer de Santa Cruz do Sul; Não me estarreceu que meus “colegas” de trabalho tenham recebido garrafas térmicas da empresa e ficado de “cara virada”. Tampouco me causou frisson quando a juíza federal deixou prescrever o crime e não julgou a ação na justiça federal.
Hoje, quando vejo pessoas assustadas com os agrotóxicos, não me espanto, pois já estive no Mercúrio no RS; Em Tucuruí, no Pará; Instituto de Malariologia na Baixada Fluminense, Samaritá na Baixada Santista, lutei pela implantação da DC 414/91 da União Européia. Sei o porquê e para quê o Ministro da Agricultura de Lula colocou o Diretor Executivo da ANDEF Cristiano Walter Simon como Chefe da Câmara Setorial de Agrotóxicos daquele Ministério, e em menos de um ano, as vendas cresceram pelo menos 400%. A produção cresceu na mesma proporção? NÃO, mas todos os militantes são obrigados a jogar para a platéia.
Fui expulso pelo Collor do M.A, a pedido dos membros da Máfia. Tenho orgulho e discernimento: A Campanha Política feita hoje com os resíduos de agrotóxicos em alimentos esconde responsabilidades e por tráz, tem os interesses da própria indústria de alimentos a quem interessa o sobre-preço nos alimentos orgânicos, que não podem ser produzidos na Europa, Japão e EUA (por Hanford, Lucens, Chernobyl, Three Miles Island e Fukushima). Mas ele podem controlar as cadeias produtivas globais de venda de serviços (sutentabilidade, certificações, traçabilidade etc.), marcas, logística etc., pois aumenta indiretamente o valor dos alimentos transgênicos.
Afinal, a pior violência é a ideológica, invisível que não permite defesa: ”Corruptio facta more”.
13 killed - September 5, 1949 - In Camden, New Jersey,
18 killed - August 1, 1966 - In Austin, Texas,
8 killed - August 20, 1982 - In Miami,
13 killed - September 25, 1982 - In Wilkes-Barre, Pennsylvania,
13 killed - February 18, 1983 - Seattle,
21 killed - July 18, 1984 - In San Ysidro, California,
14 killed - August 20, 1986 - Edmond, Oklahoma,
8 killed - September 14, 1989 - In Louisville, Kentucky,
9 killed - June 18, 1990 - In Jacksonville, Florida,
23 killed - October 16, 1991 - In Killeen, Texas,
8 killed - July 1, 1993 - In San Francisco,
13 killed - April 20, 1999 - Columbine High School - Littleton, Colorado.
12 killed - July 20, 2012 - 12 killed - July 29, 1999 - In Atlanta,
9 killed - March 21, 2005 - Red Lake, Minnesota.
32 killed - April 16, 2007 - Virginia Tech in Blacksburg, Virginia.
8 killed - December 5, 2007 - In Omaha, Nebraska,
13 killed - November 5, 2009 – Fort Hood, Texas
13 killed - April 3, 2009 - In Binghamton, New York,
10 killed - March 10, 2009 - In Alabama,
8 killed - March 29, 2009 - In Carthage, North Carolina,
8 killed - August 3, 2010 - Manchester, Connecticut –
8 killed - January 19, 2010 - Christopher Speight, 39, in Appomattox, Virginia
8 killed - October 12, 2011 - Seal Beach, California.
27 killed - December 14, 2012 - Sandy Hook Elementary School - Newtown, Connecticut.
12 killed - July 20, 2012 - 12 killed Aurora Colorado
12 killed - July 29, 1999 - In Atlanta,
12 killed - September 16, 2013 - Shots are fired inside the Washington Navy Yard.
9 killed - June 17, 2015 - in Charleston, South Carolina.
__________
*Engenheiro Agronomo e Florestal, ambientalista e escritor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário