segunda-feira, 14 de março de 2016

Sobre caminhos para se aprender a aprender

Houve um tempo, pelo começo dos 90, em que o nosso namoro com a Utopia era mais proibido e provocante, e por isso mesmo, mais excitante. A universidade pública ainda era como a casa da menina rica, mas de cotas, nem se falava nessa torre de marfim. Naqueles dias férteis, de rebeldias idealistas, ainda estávamos contaminados pela década de uma abertura que prometia o arco-íris, mas nos deixou o colorido encardido. Mesmo assim, rebeldia de playboy se sacava de longe: a rua era o corte, o forte e o norte. E mesmo quando um sociólogo entreguista traiu o próprio passado, um outro sociólogo, fez o contraponto e nutriu um Brasil faminto de mudanças estruturais com uma ideia: a fome é o inimigo. Nesse clima, entre o verde, o vermelho e o preto, havia no ar uma pressa, embebida de esperança e coragem, por romper os muros entre o Brasil da novela e o Brasil da favela. Nos negavam a conhecer esse País por dentro, pois essa viagem “de volta” era um retorno a cada um de nós mesmos, nada mais perigoso para o sistema.
 
 
Foi assim, que muitos descobriram que as pautas das assembléias estudantis eram pequenas para o tamanho da vida lá fora, e que era preciso tirar as teias das idéias e leva-las para o calor das micro-sociedades, trocar os textos pelos contextos, pervertendo o monstro cartilhesco da academia, desde de sua garganta. E, para isso, a sala de aula ficou pequena, minúscula. Surgia, então a extensão como válvula de escape, novo horizonte para a pesquisa orgânica, uma trilha capaz de afinar o conhecimento de gravata com os saberes dos campos e as periferias. Na Ufrgs, por um objetivo comum, esse movimento percorreu diversos cenários, por várias regiões e muitas cidades. Foram anos de olhar nosso passado por ângulos e distâncias estranhas até então. Essas rotas tiveram também vários nomes. Um desses, dos mais marcantes, chamou-se Convivências, uma singela proposta de misturar corações, mãos e mentes em um mergulho de generosidade nas comunidades brasileiras. Foram poucos, alguns anos, quiçá uma década. Mas quem conviveu uma dessas experiências, nunca mais conseguiu enxergar uma realidade diferente, sem identificar uma igualdade, ou encontrar-se em um cenário igual, sem perceber uma diferença. (Foto: Arquivo Aline Kt - Convivência Verão 96 - Encruzilhada do Sul, Assentamento Segredo Farroupilha).

Nenhum comentário: