quarta-feira, 18 de maio de 2016

O poder é um fluxo que não admite incompetência

Sebastião Pinheiro*

Lisarb, o “Pereba” passou a noite com os olhos pregados na TV, cônscio de saber da trava em seus olhos e sem preocupar-se com o cisco no alheio (Mateus 7:3). Nunca em sua vida, antes, havia visto um jogo preliminar tão cretino.

A covardia ingênua da vítima presa com o focinho na ratoeira (corrupto) e a coragem medrosa dos algozes iguais, ainda livres. O resultado o espantou, pois a abstenção funcionou como empecilho a que “toda a unanimidade é burra” ensinamento do irmão de Mário Filho: 74 a 1. O Senador covarde, em desgraça, não teve a grandeza de subir a tribuna e transformar sua delação em libelo contra seus juízes. Não gritou como Danton (Tu me seguirás... Renan, Jucá, Barbalho, Agripino, Aécio, Gleici, Collor, Aziz, Braga et caterva). O ato de coragem eliminaria muito por baixo dez senadores com folha corrida igual à dele.

Será o silêncio o aceno com Anistia?

“No Brasil até o passado é incerto”. Postei Tânia e compartilhei a dignidade de R. Flores Magón.

Bem, o jogo de “cortar na própria carne” permitia aos que vivem de “pão e circo” aceitar o resultado do jogo principal, a decapitação da “Maria Antonieta”. Eqüidistante, com uma planilha analítica, Pereba separou os votos em três colunas: Aptos – Corruptos e Ineptos. Não lhe importava orientação ideológica, nem cultura ou “finesse”, apenas a fundamentação no voto.

Ao final seu escore foi 12 – 25 – 40. Alguns eram piores que defesa de moção em assembléia estudantil. Outros, mal lidos, do escrito de uma assessória, que permitia perceber, se homem ou mulher. Já os votos de Aluisio Ferreira, Cristovão e Collor, Viana e Requião foram dignos de tribunos.

É triste, em 13 anos os que pleiteavam um lugar permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas não conseguiram desindexar 25, e pior, burilar 40, pois não houve cuidado com a educação no plano ético e moral; menos ainda com a saúde e fizeram tudo tão errado com a Segurança Pública que ressuscitaram um zumbis do armário da ditadura (Etchegoyen). Pior foram corruptos, do primeiro ao quinto, e invertido, como se escreve no jogo de bicho.

Ignorantes de que o poder é um fluxo de energia unidirecional e vertical que não tolera desculpas, manipulação, remediação ou diversão promocional. O acobertamento ideológico às denúncias para fugir do alcance da Justiça desgasta e desmoraliza tanto quanto os números ou leis manipuladas.

Não tenho dúvida, sim houve um golpe. Os golpistas de 64 triunfalmente anunciam, agora, haver-se antecipado a outro antagônico que foi menos competente. Sim, somos prepostos. O estranho é que, agora, usam os mesmos instrumentos de antanho o Congresso Nacional, Mídia, ódio, soberba, incompetência e corrupção.

O governo tem culpa, muita culpa. São marxistas de arack, que desconhecem Ho Chi MInh em seu testamento, onde recomenda a autocrítica como resposta à toda e qualquer crítica para elevar o nível da educação política. Gente pobre de espírito. O fato de gente sair a rua pedindo à volta da ditadura foi o exemplo mais vexatório no último século.

Quem “vive para o pão e circo” desconhece que a mandatária, economista de profissão, ao não mostrar competência na produção de números, por honradez e humildade, deve fazer o meã culpa e pedir o boné, não esperar o pontapé na bunda, pois o que chuta se arvora de “salvador da economia, sociedade e povo”, pois são as ordens que cumpre como preposto.

História faz bem à saúde: O sucesso dos piratas holandeses com a “Companhia das Índias Ocidentais”, empresa criada com o botim do carregamento de prata (1623), espelha-se na trajetória de Sir Francis Drake, meio século antes, que abriu um novo e rentável segmento financeiro: A securitização do transporte marítimo para o império britânico-holandês através do poder militar.

A fundação da “República dos Piratas” foi um contraponto, embora não ameaça, mas pôs as realezas com as barbas de molho pelo que em 5 de Setembro de 1717, o rei George I proclamou um perdão real para todos os piratas, trazendo para seu lado três centenas dos de primeira linha. Seus sucessores o cumpriram à risca.



Só os ingênuos crêem em benevolência real. Cinco anos antes, Benjamin Hornigold, mentor de “Barba Negra” e “Sam Bellamy”, entre muitos outros, havia fundado uma República de Piratas em Nassau, e isso poderia prosperar por todas as 13 colônias americanas de forma catastrófica.

Obter informações dos piratas sobre suas compreensões sobre a realidade na América permitia organizar, antecipar e evitar o golpe.

A fundação da república nos Estados Unidos, em 1776, é mais próxima à “República dos Piratas” que à Coroa de George III, o derrotado. Foi um Golpe (E que golpe).

O poder é um fluxo que não admite incompetência, ainda mais nos prepostos.

Lisarb viu nestes 13 anos muita gente incompetente, revoltada e corrupta não se preparar para defender sua proposta ideológica. Triste poderia discorrer sobre a não aplicação da Lei dos Agrotóxicos e Transformação no país no maior consumidor dos mesmos e Transgênicos; O fim da Varig; O fim da Coolméia; O Projeto de legalização do Terminator do Vacarezza ou das modificações na MP da Leniência, mas detalhes não são observáveis por quem vive para o “pão e circo”, pois importa apenas propaganda e jogo de cena.

Um derradeiro exemplo basta para tripudiar sobre a realidade: A foto é do reitor da Universidade do Maranhão, agora professor fantasma (salário de 16.000,00 reais, cujo filho médico é funcionário fantasma do Tribunal de Contas do Maranhão, mas trabalha em São Paulo) Waldir Maranhão, interino na Câmara Federal chamado por seu governador F. Dino, ex-Juiz Federal e ex-professor de Direito, quadro do PC do B(?). Elaboraram a anulação revogando as sessões da Câmara que votaram o Impeachment com o Ministro da AGU.



Quem pleiteou um lugar permanente no Conselho de Segurança da ONU se transformou em escárnio mundial. Se a mandatária não sabia, não havia mais fluxo de poder sob suas mãos. Se, sabia é o pior, muito pior.

Renan não pestanejou, era o "Habeas Corpus" que necessitava. “Somente farei o julgamento do Impeachment, após a cassação do desafeto Delcídio”. Logo, qualquer abstenção é burra.

Aguardem, não haverá condenado graúdo na Lava Jato, nem punição à Cunha. Duvi do dó. Não haverá prisão, exílio ou olvido, apenas anistias políticas e econômicas para as grandes trapaças do governo de fenestrado.

Penas, punições com gradação severas só com os piratas: Amputação da mão; Perna e o caminhar na prancha, didaticamente antes vista.

Aqui e lá fora há uma guerra de bugios: Temer é agente da CIA. Dilma perdoa o empréstimo de 30 bilhões à Friboi (Meirelles, novo Ministro da Fazenda/Lula Jr?). Lula/Dilma “queimaram” 3,3 trilhões. Roger Agnelli, da Vale, denunciou extorsão de consultores (partidários) à Dilma um dia antes de morrer em raríssimo acidente de avião.

Em “firme terra brasilis” o espaço é da bisbórria e sarfadanas dos acólitos quase filigreses (procurem o significado).


Nada disso importa à mão do Council on Foreign Relations CIFR (foto), ontem e hoje. Sob a bandeira negra a luta segue e segue sem golpe ou contragolpe.

É impossível ocultar a verdade no tempo, pois haverá o amanhã.
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*Engenheiro agronomo e florestal, ambientalista e escritor

Juventude, em várias fases

Uma pintura, uma trilha ou uma poesia são linguagens de tempos próprios, sobre as quais o cinema tem o potencial de estabelecer convergências como nenhuma outra arte. Em A Juventude essas relações se dão em um nível metafórico intenso, que passeia constantemente entre fases distintas da vida. Paolo Sorrentino constrói uma bela e perturbante narrativa que convida a pensar sobre a redescoberta da de cada um, em diferentes momentos. Tendo como pano de fundo belíssimas paisagens dos alpes suiços, dois idosos experimentam o envelhecimento como um momento muito além de uma fase de silêncio: um período de grandes transformações espirituais, q se reflete sobre quem nos cerca, em uma relação recíproca e renovadora.

sábado, 7 de maio de 2016

Provocações do Tião - Ingenuidade pouca é bobagem

 Sebastião Pinheiro*

Todo barco pirata é pequeno, veloz e com bom poder de fogo, mas é na sua tripulação que está a chave para evitar que ele se torne na solidão da espera, uma Nau de Insensatos.

A audiência do Presidente do STF a vários partidos políticos exigindo a impugnação do presidente da Câmara e a indicação do Ministro M. A. de Mello como relator, à solicitação para o dia seguinte, provocou a reação, e deixa uma pulga atrás da orelha na marujada (foto)...


A ingenuidade abre as portas do paraíso aos gentios, pelo que duvido que o voto do Ministro Teori Zavascki tenha sido elaborado em poucas horas.

Emergencial foi a liminar de sua excelência concedida para a solicitação feita em 17 de Dezembro passado. Essa é a diferença entre o artista e o virtuose. O primeiro executa, atende; já o segundo, o faz com tal desempenho, harmonia (oportunidade) que é único e está acima da razão.

Ingenuidade pouca é bobagem. Não houve competência para conter o parceiro Cunha na candidatura à Câmara Federal. No poder, ele mostrou que o buraco era mais em baixo, além do infra-mundo moral, ao mesmo tempo que sua eficiência gestora gigantesca, em proveito próprio.

Fez-se de conta enfrentar sua súcia com refrães juvenis e clichês, mas "No hay mal que dure cien años, ni enfermo que los aguante". Menos de duas horas depois do anuncio do presidente do STF ribombou o trovão anunciando a Mãe de todas as tempestades, a liminar de afastamento, pegando a todos no contrapé.

O elaborado voto estava já a tempo suficiente em um barril de carvalho, que pela mitologia celta, simboliza honra.

Já há tanto tempo amadurecido, tinha a qualidade suficiente para impedir aventuras rocambolescas nos escaninhos de vaidade e poder. À luz, impediu "as vivandeiras de tribunais" e que, moribundos recebessem a "visita da saúde"; Cadáveres levantassem nos necrotérios; Zumbis das tumbas ou acorrentados fossem libertos, e até pôs uma pá de cal na proposta de eleições extemporâneas, confundindo e levantando ondas ameaçadoras de retrocesso.

O jovem estudante foi citado, por não querer deixar o país, quando o interessante é ensinar a todos a chegar ao país como cidadãos e não como privilegiados, como disse a ministra, dissecando a etimologia do termo.

Lembro o militante e político comunista que requeria recuperar o título nobiliárquico de seus antepassados, em situação juvenil, pior que a do estudante em preparação para ser elite hereditária. Há a liberdade em deixar o barco pirata a qualquer tempo, pela prancha...

Lembro ainda da época estranha, à saída do sopor da ditadura: O traficante "Meio Quilo" teve a bandeira nacional colocada sobre seu caixão, rapidamente retirada por um policial em vergonha pessoal. Nada mudou desde Pero Vaz de Caminha, os descendentes das capitanias hereditárias roubam desde a merenda à pesquisa científica, ou através das propinas centralizadas para os partidos, campanhas, construção do patrimônio de seus caciques ou na prestação de serviços (não convocação à CPI da Petrobras).

Escolas são ocupadas por novos "caras pintadas”, início de carreira política lembram o oportunismo para se eleger e ter sua lancha em um condomínio em Miami.

Policiais, promotores, juízes, pastores, artistas, técnicos, analfabeto conquistam mandatos, não por e para o exercício cidadão, mas por repercussão midiática de suas ações, úteis para arrastar votos da massa, multidão ou horda, em campanhas que a cada dia mais parece um show da Broadway, sem conteúdo, compromisso, apenas vaidades.

Motim só ocorre em alto mar, como diria Haydée Tamara Bunke Bider, "Tania" em seu poema:

“Dejar un recuerdo”.
¿Con que he de irme, cual flores que fenecen?.
¿Nada será mi nombre alguna vez?.
¿Nada dejaré en pos de mi en la tierra?.
¡Al menos flores, al menos cantos!.
¿Cómo ha de obrar mi corazón?.
¿Acaso en vano venimos a vivir, a brotar en la tierra?.

Na infância, chorava com o sentimento caipira na música de "Jararaca e Ratinho". Já com a faca nos dentes, concordei com “Reunião de Bacana” de Ary do Cavaco & Bebeto di São João.

Se gritar pega ladrão
Não fica um meu irmão
Se gritar pega ladrão
Não fica um
Você me chamou para esse pagode
Nem me avisou aqui não tem pobre
Até me pediu pra pisar de mansinho
Porque sou da cor eu sou escurinho
Aqui realmente está toda a nata
Doutores senhores até magnata
Com a bebedeira e a discussão
Tirei a minha conclusão
Lugar meu amigo é minha baixada
E ando tranquilo e ninguém me diz nada
E lá camburão não vai com a justiça
Pois não há ladrão e é boa a polícia
Lá até parece a Suécia bacana
Se leva o bagulho e se deixa a grana
Não é como esse ambiente pesado
Que você me trouxe para ser roubado"

Os mais pretensiosos preferirão a obra teatral de Fernando Melo, “Greta Garbo, quem diria, acabou no Irajá” ou “O triste fim de Policarpo Quaresma”, de Lima Barreto melhor adequados ao salvado do naufrágio, na significação de Goya.


Contudo, o cangaceiro “Jararaca” foi baleado quando da invasão de Mossoró e enterrado vivo (foto). Corre a voz no sertão que faz milagres. A propaganda anuncia que do outro lado da prancha está a "Arca da Salvação". No portão de Auschwitz dizia "O trabalho liberta".


A visão premonitória de "Tânia" e seu lindo poema continuam.

"Vocês passarão, eu passarinho".

Pois estou à bordo, na minha Natureza e Lar.

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*Engenheiro agrônomo e florestal, ambientalista e escritor

quarta-feira, 4 de maio de 2016

STF poderá ser julgado pela Corte Internacional de Direitos Humanos

Em termos de Democracia, nenhuma instância institucional é legítima por definição divina [e nunca será, mesmo que certos segmentos partidários, em evidência, defendam isso], e por isso mesmo está na elementar órbita da avaliação pública: a legitimidade é uma conquista diária, pelo voto, pela coerência e pelo respeito cotidiano ao interesse público. Fora disso, é pura ideologia, interesses próprios ou farsa total.
 
Foto: L&C

 

domingo, 1 de maio de 2016

A sabedoria de Vovô Nonô e as testemunhas que preservam o que nos falta

Sebastião Pinheiro*

Na minha tenra infância combati a felonia com a natureza, talvez por razões religiosas; A coisa mais triste era encontrar um sapo com a boca costurada. Todos tinham pavor do animal, condenado pela ignorância a uma morte cruel; mas o pior, é que, na comunidade, a quase totalidade acreditava que não se podia chegar perto do anfíbio, porque “o mal”, a inveja, o despeito ou o ódio podia pegar no incauto.

Mas, aprendi como Vô Nonô, um velho “ex-escravo”, que ao ver-me preocupado em descosturar a boca de um sapo-boi, untanha (Ceratophrys ornata) preveniu-me a jamais tocar na pele de qualquer sapo. “Use a folha de inhame (Colocasia sp.) ou mamona (Ricinus sp), mesmo assim, depois lave bem as mãos com urina. A gosma da pele do sapo é um veneno perigoso, embora alguns tardem muito tempo em atuar, sempre leva à morte”.

Como ele sabia tudo isso, se não sabia sequer ler? Fiz de tudo para pertencer à sua Escola...

Vocês não imaginam, depois desses cuidados, quantos sapos abri a costura e as coisas absurdas que tirei de suas bocas: retratos, cabelo humano, pedaços de roupa, brincos, até um batom.

Lavava o bichinho e depois o levava para um lugar mais protegido. Aprendi a respeitar os batráquios, não pela deusa Heqet dos egípcios, ou Chaac, dos Mayas, mas por sua metamorfose estranha para qualquer criança; embora tenha exultado, na universidade, quando aprendi que algumas múmias incas traziam o sapinho de ouro indicativo de precaução para quem viesse encontrá-los. Sábio Vô Nono.

Os livros dizem que Francisco Orellana foi um dos primeiros que relatam o uso do sapinho “muiraquitã” pelas amazonas, talhado em jade (Amazonita), emblema da Juquira Candiru Satyagraha.

Há uns trinta anos, em uma das viagens de apoio ao agrônomo Nasser, no Espírito Santo, soube que ele já encontrara, no Hortão de Cachoeiro do Itapemirim, minúsculos sapinhos coloridos. Regeneração de espécies da Mata Atlântica. Repassei a ele o que aprendera com o Vô Nonô. Nasser tinha amizade com Augusto Ruschi e sabia que o cientista fora envenenado, no Amapá, ao coletar alguns sapinhos Dendrobatas para um amigo cientista.

Um dos sapinhos mais perigosos é o dourado Phyllobates Terribilis, que pelo que se sabe, não existe na Mata Atlântica, apenas na Amazônia, entre a Colômbia e o Panamá. A secreção da pele de apenas um sapinho de 3cm de comprimento pode matar dez mil ratos ou 20 humanos adultos. O estranho é que o ele adquiri o seu veneno através de sua alimentação de um tipo de inseto coleóptero, popularmente conhecido como “burrinho” (Epicauta sp).

No sertão do Piauí, estes insetos são atraídos pela luz e sua “urina”, secreção causa uma queimadura terrível, pelo que são chamados educadamente de “caga-pimenta”. Seguramente, os genes de formação, no inseto, e de transformação, no anfíbio, já são de domínio para biossíntese de armas, e depois, para outros produtos comerciais.

Estava nesse devaneio matinal, quando recebi uma bonita carta do amigo João Batista Martins, de Rio Novo do Sul, no Espírito Santo, quem não vejo há mais de 25 anos. Na sua casa, comi “Olho de Sogra” feito com carambola (Averrhoa Carambola), doce de jaca (Artocarpus heterophyllus) e bolinho de fruta-pão (Artocarpus communis). Sim é uma felonia destruir a natureza.

O trabalho feito pelo Nasser era algo muito além de um Hortão, onde a Prefeitura Municipal distribuía alimentos de altíssima qualidade para as obras sociais do município, em especial, a merenda escolar; sem nenhum alarde, ideologia ou coisa parecida, em 1984, que serviu de modelo para a Lei do Estado de Santa Catarina para merenda escolar.

Quando o prefeito Valadão foi substituído, o novo prefeito, Ferraço, quis destruir o Hortão, mas ficou totalmente inerme, quando foi lhe dito que uma Associação Internacional de Agricultura Orgânica, sediada em Paris, tinha 250 mil dólares para doar para a manutenção do Hortão. Os olhos do político ficaram vitrificados.

Era parte, do trabalho do Nasser e do jornalista Ronald Mansur ajuda o MEPES – Movimento de Educação Promocional do Espírito Santo responsável por duas dezenas de Escolas Famílias no sistema de alternância. Dizer que eles não tinham muitos recursos é eufemismo, pois eles careciam de tudo. Lembro que doei 400 exemplares do livro “Biotecnologia, Muito Além da Revolução Verde” para o pagamento dos professores e serviços.

Foi assim que causei espanto ao amigo João Batista Martins quando estava assistindo o casamento da filha dele na igreja. Ele exclamou espantado: “Sebastião, dentro da igreja!”. Fama, fruto de ação sempre radical. Sorrindo respondi: Já fui coroinha na minha infância, mas internamente lembrava as passagens do romance épico “Beau Geste” de Percival Christopher Wren.

O tempo passou, e o Hortão, antes de ser destruído pela vontade do Prefeito, recebeu da BBC de Londres o Prêmio de uma das 4 melhores inovações tecnológicas no planeta, no ano de 1993. A sabedoria e a ideologia no trabalho do Nasser não foi respeitada por inveja, ódio, despeito e felonia.

O João B. Martins foi vice-prefeito de Rio Novo do Sul, está com 82 anos, goza de boa saúde, e já tem bisnetos. Já devolveu à Mata Atlântica dezenas de milhares de árvores, sendo reverenciado até nos Estados Unidos.

Naquele então, em uma das visitas que fizemos à sua propriedade, acompanhando o Nasser e o Lutzenberger, ele contou a história que seu avô para evitar o corte das árvores da propriedade, colocava nas mesmas os nomes dos netos e nos fez plantar uma árvore cada um. O Nasser plantou um “ipê amarelo” (Tabebuia chrisotricha), o Lutz um “ipê roxo” (T. impetiginosa) e eu uma “farinha seca”, que estudei como Pithecellobium Niopoides, uma Leguminosa Mimosoidae, mas hoje é Albizia niopoides, Fabaceae, Mimosoideae, que os guaranis chamam de “Yvirá jy”.

Vejam, pela foto que a mesma já superou os sete metros de altura, e tem vinte centímetros de diâmetro a altura do peito (Foto). Naquela época, levei para o ES uns 10 quilos de sementes de cinamomo gigante (Melia Azedarach Gigantea), por causa do aedes aegypti, que surgia, hoje elas devem ter mais de 60 cm de diâmetro. Estive com o Nasser e com o MEPES, em Anchieta, há três anos, fazendo a cromatografia de Pfeiffer.
 
 

A “agricultura sem venenos” sofreu solução de continuidade. Mudou de nome e adquiriu ideologia revolucionária, embora patine há trinta anos sobre uma denominada “transição” que nos faz lembrar-se de A. Chayanov e sua sarcástica novela: “Viagem do meu irmão Alexei ao país da utopia camponesa”. Isso lhe custou cinco anos de trabalhos forçados em um Gulag, no Kazaquistão, e depois, foi fuzilado, acusado pela GRU (NKVD) de pretender formar o Partido Camponês no paraíso soviético de Stálin. Somente em 1987 o cooperativista rural foi reabilitado.
 
Meu radicalismo nas ações continua o mesmo, pois por de trás tem reflexões profundas e planejamentos espirituais: a transição na agricultura é retardada pela vontade dos “revolucionários” de plantão, esperando a sua Nova Ordem. Ignoram que fazem o jogo das grandes corporações, que, nos últimos 20 anos, vem estruturando, organizando e se apropriando da agricultura sem venenos para a elite que pode pagar mais caro.  

Por isso, em todo o mundo, todas as iniciativas foram transformadas em grandes conglomerados de bancos e monopólios como Nestlé, Coca-Cola, Pepsi-Cola, Kellogs, Hein Celestial... O grande problema é que não há folha de inhame ou mamona para evitar os venenos desses monstros... 

Moral da história: O J. B Martins ensina e permite a coragem de lembrar e ter árvores por testemunhas na construção do biopoder camponês nesse primeiro de maio, que, estranhamente, não é comemorado nos EUA, Canadá e Grã Bretanha talvez devido ao Haymarkett Day (04 May 1886) (foto) quando a disputa pelas 8 horas de trabalho foi tratada a bombas, tiros e condenas à morte e prisão perpétua.
 
 
Vocês lembram que, muito recentemente, Margareth Tatcher condenou prisioneiros irlandeses e mineiros do carvão à morte em Greve de Fome.?

Debout, les damnés de la terre - Debout, les forçats de la faim - La raison tonne en son cratère - C'est l'éruption de la fin. Salve o BIOPODER CAMPONES NO Primeiro de Maio.
 
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*Engenheiro agrônomo e florestal, ambientalista e escritor
**Fotos cedidas pelo autor