Estava há alguns dias pra comentar algo sobre esse filme. Nesses tempos de extremos, em que a violência contra a mulher ocupa a centralidade de diversas outras violências, é pertinente, sempre, tentar compreender. Se é fato que a espécie humana, dita racional ,tem liberado impulsos que assustam, não é menos verdade que as reações do Estado ao crime sexual - em suas variadas formas- andam, invariavelmente, distantes e alienadas de qualquer resposta propositiva à transformação desses comportamentos - em geral, ao contrário, facilitam a perpetuação de sua cultura, eepecialmente entre celas. Santiago Mitre, audaciosamente, em direção oposta ao senso comum, põe uma lupa sobre a questão, abordando essa temática por uma órbita surpreendente: um estupro no meio rural, em que a vítima (Dolores Fonzi) é uma estranha ao contexto e que se posiciona na contramão das expectativas. Paulina (Argentina, Brasil - 2015 - 103min) vale a pena ser conferido, não apenas por ser tão próximo de nós geográfica e psicologicamente, mas, sobretudo, porque contrasta com a pobreza de argumentação a respeito do que ainda nos resta para reagir aos comportamentos que municiam o discurso sobre a negação da viabilidade do equilíbrio de nossa raça, contra os caminhos do medo, da dor, do ódio, da clausura ou da morte.
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