Uma cicatriz histórica se faz presente no cinema argentino, seja que gênero for. Os dramas gerados pelas restrições democráticas naquele País, durante uma das ditaduras mais sangrentas do continente, foram muito além da censura e deixaram marcas latentes em toda a população.
E o cinema, arte que reflete vivamente a vida social, não poderia deixar de expressar isso, em uma espécie de inconsciente coletivo.
Em “Eva e Lola” (2010), Sabrina Farji parte desse contexto para contar a história de duas amigas, colegas de trabalho em uma casa noturna. Ambas representam dois pólos de um mesmo drama coletivo: uma é filha de um militante morto nos porões da temida Escola Superior de Mecânica da Armada, a ESMA; e Lola, filha (seqüestrada) e assumida por um casal, cujo pai é um ex-torturador, que se encontra com a saúde debilitada.
Sobre a vida de ambas amigas está esse peso, que é, ao mesmo tempo, uma busca – de uma identidade – e uma fuga e um vazio que o passado deixou.
Administrar isso, em uma relação entre duas pessoas que tem tanto em comum, e ao mesmo tempo, sensibilidades diferentes em encarar sua realidade, é um desafio para a manutenção dessa amizade, e ao mesmo tempo que uma prova de fogo, sobre a possibilidade de superar uma dor para que a própria existência se torne menos amarga.
O clima natalino dá um toque mais profundo nesse conflito constante de acertos com as memórias e o tempo. No meio disso tudo, o amor romântico - na medida e no tempo que ele tem pra florescer.
Nenhum comentário:
Postar um comentário