quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Mudanças e Livros, dentro e fora das caixas


Iniciei na manhã de hoje a organização de minha 18ª mudança de minha vida. Cada uma renderia um livro.

Por acaso, comecei a arrumar as coisas pelos livros. Ansioso - porque mudança exige sempre certo prazo - me dispus a dedicar um tempo diário a essa organização, a fim de concluir em poucos dias, mas, com relação aos livros, logo quando me deparei com aquele cenário entre as prateleiras e as caixas vazias, já lembrei que as coisas podem ser um pouco mais complexas. Livros, como a Literatura e a vida - parodiando C.H. Cony, têm seus caprichos.

Então, organizar livros, como toda transformação que se opera em nossa vida, pode ser um processo. Tem seu tempo e atenção devida. Semelhante também à realidade que nos cerca, cada opção, em uma "caixa de oportunidades" apresenta espaços, dimensões, frestas, apertos e encaixes. Por outro lado, nesse curto espaço de contato entre um livro e nossos olhos, especialmente em se tratando de um livro guardado por muito tempo, há uma história que se reacende. Experiências que adquirimos e guardamos em algum canto (de nós) e que ficam lá, como esperando um momento mágico, em que são revistos e tocados, para voltar a despertar dentro de nós novas expectativas.

Daí, se acumulam nesse túnel escuro e infinito daquela prateleira de sonhos e histórias, que atravessamos um dia, energias particulares, com um poder específico de renovar nosso jeito de ser e amar. Sintetizado em cada capa, cada forma, cada desenho, cada textura, e até mesmo no amarelado que encobre suas superfícies, os livros expressam projetos, caminhos, necessidades, apuros, prazeres, enfim, tudo que possa conter em uma existência. E a caixa, ali vazia, como a vida que nos resta, ampla e multifacetada, espera ser ocupada com as devidas adequações.

Podemos, se quisermos, também rasgá-la, dispensá-la e seguir carregando os livros - escritos dentro de nós - sem ajustá-los em algum norte ou enquadramento estratégico. É uma opção respeitável, até mesmo nobre, desde que não perturbemos ninguém com o peso e a dispersão dessa autonomia. Mas se a perspectiva é concentrada em uma chegada, ainda que provisória, a caixa está ali, e exige ser preenchida com sensibilidade e certa maestria.

E são nesses segundos desse transporte do passado para um outro porvir, que cada livro nos apresenta, ou renova, escolhas, lembranças, ideias, e, claro, o ajuste necessário ao espaço que tempos para ocupá-las. Dentro de nós, ou dentro da caixa. Sempre no peso e no tamanho que consideramos caber, para uma nova e emocionante viagem.

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