Iniciei na manhã de hoje a organização de
minha 18ª mudança de minha vida. Cada uma renderia um livro.
Por acaso,
comecei a arrumar as coisas pelos livros. Ansioso - porque mudança exige sempre
certo prazo - me dispus a dedicar um tempo diário a essa organização, a fim de
concluir em poucos dias, mas, com relação aos livros, logo quando me deparei
com aquele cenário entre as prateleiras e as caixas vazias, já lembrei que as
coisas podem ser um pouco mais complexas. Livros, como a Literatura e a vida -
parodiando C.H. Cony, têm seus caprichos.
Então,
organizar livros, como toda transformação que se opera em nossa vida, pode ser
um processo. Tem seu tempo e atenção devida. Semelhante também à realidade que
nos cerca, cada opção, em uma "caixa de oportunidades" apresenta
espaços, dimensões, frestas, apertos e encaixes. Por outro lado, nesse curto
espaço de contato entre um livro e nossos olhos, especialmente em se tratando
de um livro guardado por muito tempo, há uma história que se reacende.
Experiências que adquirimos e guardamos em algum canto (de nós) e que ficam lá,
como esperando um momento mágico, em que são revistos e tocados, para voltar a
despertar dentro de nós novas expectativas.
Daí, se
acumulam nesse túnel escuro e infinito daquela prateleira de sonhos e
histórias, que atravessamos um dia, energias particulares, com um poder
específico de renovar nosso jeito de ser e amar. Sintetizado em cada capa, cada
forma, cada desenho, cada textura, e até mesmo no amarelado que encobre suas
superfícies, os livros expressam projetos, caminhos, necessidades, apuros,
prazeres, enfim, tudo que possa conter em uma existência. E a caixa, ali vazia,
como a vida que nos resta, ampla e multifacetada, espera ser ocupada com as devidas
adequações.
Podemos, se
quisermos, também rasgá-la, dispensá-la e seguir carregando os livros -
escritos dentro de nós - sem ajustá-los em algum norte ou enquadramento
estratégico. É uma opção respeitável, até mesmo nobre, desde que não
perturbemos ninguém com o peso e a dispersão dessa autonomia. Mas se a
perspectiva é concentrada em uma chegada, ainda que provisória, a caixa está
ali, e exige ser preenchida com sensibilidade e certa maestria.
E são
nesses segundos desse transporte do passado para um outro porvir, que cada
livro nos apresenta, ou renova, escolhas, lembranças, ideias, e, claro, o
ajuste necessário ao espaço que tempos para ocupá-las. Dentro de nós, ou dentro
da caixa. Sempre no peso e no tamanho que consideramos caber, para uma nova e
emocionante viagem.
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