sexta-feira, 15 de setembro de 2017

O REPOUSO DO GUERREIRO





Era o início dos anos 90, quando as gestões petistas tornavam Porto Alegre modelo de participação e transparência para o Brasil e o Mundo - Orçamento Participativo (Olívio/Tarso); aula pública de Hobsbawm no Glênio Peres (Pilla Vares na SMC); Construtivismo (Esther Grossi na SME) e tantas outras experiências de políticas públicas inovadoras, que renderam um cinturão vermelho de governos do partido pela RMPA e o País. Por esse período, o PMdB de Temer/Sartori também já havia mostrado seu modo de governar, com as longas greves no governo Simon/Guazelli, e o triste episódio, com este último, do Massacre da Praça da Matriz, em 1991. Eu estudava Economia, era líder comunitário e militava no PCB - aos 20 e poucos, naqueles ventos de abertura, óbvio, mudar o Mundo era centro e norte. Enquanto isso, em Alvorada, a 20km da Capital, o PT despontava com um só vereador na bancada, que fazia sua ação valer por 10: Flávio Silva, ou flavinho, pioneiro do partido no parlamento local, raramente era visto em gabinete. Sempre com qualificados assessores, como Vitório Trovão, percorria, diariamente, conselhos populares, a Metroplan, o Daer, as universidades e as organizações civis, acionando a mobilização popular e colecionando conquistas. Na área de transporte público, a sua atuação resultou na abertura de acessos à gerações de trabalhadores e estudantes, em itinerários que o monopólio local, pela pouca lucratividade, ainda desprezava: Ipiranga, NH e Protázio, por exemplo, que hoje são rotas de volumosas demandas de passageiros, e que contribuíram para integrar a cidade às zonas Leste e Oeste da capital e à Região. Tive a honra de integrar uma dessas mobilizações, ainda quando membro do DAH, na Fapa (hoje, Uniritter). Meio Ambiente e serviços urbanos eram outras das frentes de atuação de Flávio. Em um trabalho em sintonia com as gestões, já operantes, de Stela Beatriz Farias Lopes, mobilizava ativistas pela proteção das matas ciliares da Lagoa do Cocão e do Rio Gravataí. Foram três ou quatro mandatos de lutas e vitórias. Mas o tempo passou, e de lá pra cá, os anseios políticos dos brasileiros também se modificaram - para o bem e para o mal. Capitalismo x Socialismo, então, deixou de resumir a utopia da juventude (a q n envelheceu precocemente), ainda que seus ares permaneçam vivos das bases às cúpulas - Trump e Puttin que o digam. E nesse cenário, o transporte público de massa tornou-se o único caminho estrutural possível para responder à altura ao verdadeiro colapso que o trânsito desenha para o futuro do presente das metrópoles brasileiras - mesmo que gestores públicos míopes ignorem isso. Flávio, por sua vez, de sua fase reflexiva, observa distante, ainda que sempre inquieto e indignado. "A política está na nossa veia, porque queremos melhorar a vida". E assim fez, e assim teima em fazer. Sob a chuva fria do fim da tarde desta quinta-feira, na cozinha de sua modesta e histórica morada, na região central da cidade que cresceu e se dedicou, falemos das transformações do cenário sócio-econômico; entre uma interrupção e outra de amigos e vendedores, conversamos também sobre as suas duas décadas e meia de empresário noturno (pós-parlamentar), vendo a cidade por outros ângulos; percorremos lembranças e recuperamos esperanças, de mudanças de ares e de política - a possível, urgente e necessária nesses tempos de perspectivas temerosas e parceladas.




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