sábado, 24 de fevereiro de 2018

PLANTANDO E COLHENDO MUITO ALÉM DE FRUTAS


  Ia só lembrar aqui, como registrei outras vezes, o valor de uma horta e um pomar doméstico, para além da saúde mental, das relações de sociabilidade que pode criar; sobre o pé de Araçá aqui de casa, que dá tanto, que, pra não desperdiçar, costumo distribuir aos vizinhos  
- e estes, volta e meia retribuem, generosamente, com alguma fruta ou produção artesanal própria, como o Mateus, que me trouxe há pouco uma bacia de butiás; ou como a minha vizinha Joelma, dias depois de eu deixar-lhe uns araçás para provar, retornou o pote com um belo pedaço de bolo de chocolate. Então, ia falar, de novo, o quanto é valiosa essa cultura de troca, de um “comunismo primitivo” e belo, como lembro bem a colega Márcia Camarano. 



Mas, aí, resolvi aproveitar e buscar alguns comentários, e até uma poesia, retirados de arquivos do próprio Face, desse nível de abordagem da vida local,  a partir de alguns bairros que passei ou morei, os quais reproduzo, com algumas fotos, pela pertinência do que quero tratar; dos valores discretos e silenciosos que nos cercam, incluindo uma poesia sobre um certo bairro da RMPA.

PONTO DE VISTA. Saindo da Orla, avisto uma jovem de uns 15 anos tendo uma leve queda, ao saltar ra calçada para a avenida, em uma  manobra de skate arriscada. Após ouvir dela, diante de minha manifesta preocupação, q está tudo bem, pergunto se não há pista de skate no povoado, ao q ela dispara: "Tem não, aqui nesse Francês não tem nada". Olho pra ela e o imenso mar verde q tem atrás de si e fico em um silêncio confuso entre a lástima e a admiração. (Marechal Deodoro, Al, junho, 2016)


 NO INTERIOR DE SP, HÁ UNS 10 ANOS, MOREI EM UMA RUA CHAMADA ALAMEDA DAS AZALEIAS, NO BAIRRO CHAMADO CIDADE JARDIM, ONDE CADA RUA TEM O NOME DE UMA ÁRVORE.




ARAÇÁ MADURINHO, DIRETO DO PÉ? TEMOS! Sim, a Natureza é generosa com todos, ainda q o capitalismo atice o individualismo nos espíritos humanos. Se cada um plantasse um pé de uma fruta ou hortaliça em sua calçada, teríamos uma gigante fruteira a céu aberto, de graça e para todos; mas... (Fevereiro, Alvorada, 2017)


 Um giro do Centro ao Mathias transforma o tempo e a paisagem da alma / Pela tarde, o fervilhar do sábado se transfere para cantos anônimos, mas cheio de vida / Entre o frio seco do shopping e o calor chuvoso dos arredores da rodovia, sorvetes, cinema, churrasquinhos e pés sujos / Transita entre os corpos por aí uma confluência que extravasa a rotina da caixa registradora / As cavidades das testas e as fachadas com janelões descascam frestas de outras Canoas


 / Misturam à paisagem gelada um quente cheiro de saudade / O clima parado e a brisa de silêncio rimam com chimarrão, praça ou calçada; para outros, a sorte no bailão / E na mesa do bar, em meio ao pretexto da cachaça triste, ou da cerveja alegre, se despertam histórias e sorrisos / Que socorrem o coração de uma modernidade apressada e veloz / Vai, então, a imaginação de um trem ao outro, sem pressa de descer na próxima estação / Sob essa sombra do tempo, mais ao Centro, um avião atento vigia a implacável passagem da história / 

Foto: PMC
Debaixo das asas, entre interiores e capitais, um tapete de cimento e piche dá liga às corridas por outros amanhãs... ... de sonhos, medos e mudanças. (Canoas, RS, Jan, 2017)

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