quinta-feira, 9 de novembro de 2023

Agricultura urbana e periurbana | Hortas revelam benefícios multifuncionais, mas carecem de uma política pública integrada na Capital

Além de segurança alimentar e renda, o cultivo coletivo da terra propicia saúde, memórias, conhecimento e autonomia. Prefeitura defende unidades demonstrativas e Fórum quer a valorização de contextos locais

“O segredo da vida é o solo, porque do solo dependem as plantas, a água, o clima e a nossa vida. Tudo está interligado”. Esas palavras Ana Primavesi, que nos deixou há poucos anos, continuam ensurdecedoras entre nós. Considerada uma das pioneiras da agroecologia moderna, a ambientalista austro-brasileira eternizou-se na atualidade de sua visão sobre a relação de dependência entre os seres humanos e o seu meio.

Embora o desafio de garantir a alimentação segura e saudável permaneça como uma questão mundial de primeira ordem, os impactos e custos que os modelos uniformes e massivos de agricultura têm gerado ao Planeta, sem êxito no equaciamento do problema da fome, tornaram a questão da produção alimentar uma atenção que tem atravessado as fronteiras entre o campo e a cidade, gerando impactos e desigualdades. Talvez por isso cada vez mais se fale e se crie pelo País experiências de agricultura urbana e periurbana (praticada no interior ou na periferia de uma localidade, cidade ou metrópole).

“A agricultura urbana é uma alternativa ao planejamento urbano, que joga o pobre o vulnerável para fora da cidade. Esse cara não tem acesso a facilidades urbanas. Então, a agricultura urbana é uma forma de repensar a cidade”, avalia Ricardo de Sampaio Dagnino, professor do Departamento Interdisciplinar e do Bacharelado em Geografia da Ufrgs, Campus Litoral Norte (CLN/UFRGS).

Já em Porto Alegre, berço de grandes referências e debates ambientalistas, a agricultura urbana é cada vez mais reconhecida como uma prática comunitária econômica, saudável e estratégica para demandas que vão bem além da prateleira do supermercado.

“Quero poder ensinar ao meu filho esse valor que tem uma fruta, tem uma verdura, um legume, diretamente de um da horta, de ele plantar uma semente”, declara entusiasmada Letícia Silva Oliveira, enquanto participa de um mutirão de plantio na Horta Solidária Desabafa, no Bairro Farrapos. Nascida em Salvador (BA) e há cinco anos morando no Bairro Farrapos, Letícia deverá ser uma das beneficiadas das colheitas dessa iniciativa. “Me deixa feliz de poder participar dessa horta, pois eu posso ensinar a ele a maneira correta de onde vem o alimento”, complementa.

Redes Solidárias

Nascida a partir de necessidades relacionadas a manutenção da Cozinha Solidária Desabafa - por sua vez, criada há dois anos por um coletivo de moradores atentos à diversas demandas sociais daquele bairro, agravadas durante a pandemia (fome, desemprego, depressão, violências...) - a Horta Desabafa ilustra bem uma das motivações principais que têm despertado maior atenção à valorização da terra e da agricultura urbana: a Insegurança Alimentar. 

"Posso ensinar a ele a maneira correta de onde vem o alimento”, considera Letícia, com o filho no mutirãoFoto: Ronaldo M. Botelho

 “A desigualdade social gerada pela falta de emprego e renda impede que essas pessoas de adquirir alimentos adequados em quantidade e qualidade. Muitos legumes e verduras poderíamos plantar e consumir da horta, evitando termos que adquirir do mercado”, explica Ony Teresinha Pereira da Silva, advogada e integrante da equipe de trabalho da cozinha e da horta solidárias da Associação Cultural e Educativa pelo Desenvolvimento do Bairro Farrapos (DESABAFA), por onde se articulam esses projetos. Semanalmente, a cozinha do DESABAFA serve mais de 300 marmitas para pessoas em vulnerabilidade de 19 comunidades daquela região da cidade.

Para efetivar essas ações, a entidade conta com uma rede de apoio integrada por sindicatos, associações culturais, ONGs, movimentos socais e parlamentares vinculados às lutas socais.

“O Brasil é chamado por todo mundo como o celeiro do mundo, mas do lado aqui da nossa universidade, que esse ano tá completando 125 anos, a gente tem pessoas passando fome. Com todo o conhecimento adquirido ao longo dos anos, e que ainda vem sendo gerado para se produzir mais alimentos. Então, o que que a gente pode fazer?”, analisa a professora Amanda Posselt Martins, professora do Departamento de Solos da Faculdade de Agronomia Ufrgs.

Amanda também é integrante do UVAIA (Uma Visão Agronômica Com Ideal Agroecológico), que reúne acadêmicos da Faculdade de Agronomia da UFRGS e que recentemente firmou parceria com o DESABAFA para a orientação técnica ao trabalho da horta. “Eu vejo que essa articulação da universidade com comunidades periféricas visando a organização dessas hortas urbanas é importantíssima”, avalia. Mas a parceria com o UVAIA levou mais que conhecimento técnico ao bairro.

O convite para o apoio desse coletivo oportunizou a participação de extensionistas, que não têm medido esforços para participar do projeto. “As hortas comunitárias são essenciais para a manutenção e construção de um ambiente social e cultural”, considera Aline Teixeira, acadêmica do 8º Semestre de Agronomia na FAGRO/UFRGS. A ambientação com a terra no meio urbano é também valorizado pelos estudantes. “Uma horta propicia uma maior aproximação com a natureza, cada vez mais distante nos grandes centros urbanos”, repara Nicolas Della Casa, colega de aline na universidade e formando no mesmo curso.

Na perpectiva dos acadêmicos, também há virtudes e desafios importantes a enfrentar nesse tipo de projeto. “As hortas comunitárias geralmente ocupam espaços ociosos, trazendo mais vida a estes locais. Mas a participação e o envolvimento dos alunos geralmente depende da existência de projetos, que, por sua vez, dependem da participação de professores, repara Nicolas Della Casa, do UVAIA/FAGRO. Para Aline Teixeira, também desse coletivo, uma das limitações desse projeto tem a ver com a falta de interesse de alguns estudantes no tema, bem como a dificuldade de transporte para os alunos interessados em participar das atividades.

Valores diversos

Mas a DESABAFA é apenas entre inúmeras experiências de agricultura urbana mantidas em Porto Alegre. Projetos de hortas comunitárias isoladas, ou via redes, têm se espalhado por escolas, unidades de saúde, ONGs, núcleos penais, universidades, empresas, igrejas ou simplesmente coletivos de moradores locais nos mais distantes bairros da periferia ou da região metropolitana de Porto Alegre. São comunidades que parecem ter (re)descoberto nas hortas um ambiente de compartilhamento de problemas e organização de soluções, um caminho construtivo e para unir forças, trocar experiências e cultivar solidariedade, para além do assistencialismo.

No âmbito da gestão pública municipal da Capital, a questão das hortas comunitárias está sob a coordenação da Secretaria Municipal de Governança Local e Coordenação Política (SMGOV). Desde que assumiu essa área da zona rural, em meados do ano passado, essa secretaria diz ter dado prioridade à produção primária, da zona rural. O titular dessa pasta, Cássio Trogildo faz questão de enumerar várias ações para esse segmento, como limpeza, irrigação, com a construção de açudes e tanques de reservação. “Fizemos um planejamento estratégico guarda-chuva, mas naquele primeiro momento, nem estava na ótica tratar de hortas comunitárias”, observa.

Ele diz que para as hortas urbanas e periurbanas, a administração municipal tem desenvolvido uma política que prioriza o desenvolvimento de hortas-pilotos, que deverão funcionar como unidades demonstrativas, modelos para o resto da cidade. “Meu sonho atual são quatro unidades, uma em cada quadrante. A gente pensa até depois de ter unidade demonstrativas também regionalizadas, jogar isso para o Orçamento Participativo, uma por cada uma das 17 regiões”, prevê. O secretário também anuncia a preparação de uma política de capacitação a partir de escolas e a articulação de uma rede de apoio à hortas, por meio dos Prefeitos de Praças, projeto que a atual gestão municipal têm apostado para a formação de interlocutores locais em iniciativas comunitárias.

Sob uma visão mais local e contextualizada, o Fórum de Agricultura Urbana e Periurbana de Porto Alegre (FAUPOA) considera prioritário a valorização das experiências de hortas já estruturadas, ao invés de um projeto pronto, de fora para dentro. Criado em agosto de 2021, esse coletivo já mapeou mais de 35 projetos de hortas comunitárias na cidade, em diversos níveis de estruturação. Por meio desse monitoramento, a entidade desenvolve um trabalho de articulação, orientação e apoio. Nessa perspectiva esse fórum concebe a agricultura urbana e periurbana sob uma lógica de multifuncionalidade, focada para além da geração de renda e trabalho.

“Se a horta que se estabelece numa escola, o fim imediato é a pedagogia; se num posto de saúde, é dialogar com a saúde das pessoas; se num presídio, a finalidade pode ser geração de renda, recuperação terapêutica ou produção de alimentos; se ela dá na praça, ela é da agroecologia. Então, é simbólica, é pedagógica e é laboratório.”, analisa Antolino Elisandro, voluntário na Horta da Lomba e membro da rede de apoio do FAUPOA. Engenheiro Agrônomo e ambientalista, Elisandro também é um dos voluntários em uma horta comunitária, a Horta Praça da família Imigrantes, no Centro Histórico.

Mapeamento do FAUPOA indica distribuição e diversidade de hortas na cidade

Concorda com a perspectiva do presidente do FAUPOA a professora Tatiana da Silva Duarte, atual docente de disciplinas relacionadas à tecnologia de produção de hortaliças na FAGRO/UFRGS e orientadora técnica de diversos projetos de hortas comunitárias pela cidade. “Certamente um modelo não vai servir para todas as hortas, principalmente falando em locais onde tem a vulnerabilidade social. Muitas vezes, há condições para o uso daquela área, daquele solo, que não vai ser igual do que eles vão fazer lá no centro, lá na Cidade Baixa. Até a questão de de renda é diferente, né?”, exemplifica.

Em abril desse ano, o secretário Cássio chegou a participar do IX Encontro do FAUPOA, realizado na Faculdade de Agronomia da UFRGS, o que o levou a visitar a Horta da Lomba, no bairro Pinheiro. Na ocasião ele ouviu demandas e atendeu reividicações do projeto, como o apoio à instalação de energia no local.



IX Encontro do FAUPOA foi realizado em abril desse ano, na Faculdade de Agronomia  - Foto: FAUPOA
 


“Porque a gente ainda não está em uma fase mais avançada na parte urbana? Porque tínhamos tudo isso pra cuidar. É uma equipe pequena, não adianta tu abrir demais o flanco, que daí tu acaba não fazendo nada, conforme o engajamento e planejamento, né?” Não adianta tu planejar, tu querer fazer aquilo que a tua perna não alcança, né? Mas isso sempre teve no nosso horizonte”, revela.

Para além dos limites de Porto Alegre, outro tipo de iniciativa que tem tido bons resultados na formação ambiental relacionada à hortas são os projetos de extensão dirigidos à capacitação de pessoas de baixa renda. É o caso do projeto Agricultura do Plano, desenvolvido a partir de parceria entre o Campus Litoral Norte da UFRGS e a Prefeitura de Tramandaí.

Coordenado pelos professores Rejane Margarete Schaefer Kalsing e Ricardo de Sampaio Dagnino, ambos vinculados ao Departamento Interdisciplinar e do Bacharelado em Geografia da Ufrgs do CLN/UFRGS, a iniciativa beneficia pessoas em vulnerabilidade, por meio de cadastros sociais. O curso contempla conteúdos como gricultura urbana e periurbana, saúde, soberania e segurança alimentar e economia solidária. Realizado desde 2019, essa iniciativa já contou com mais de 500 participantes.

“Me fez ver vida onde não via. Para mim, era só mais uma capina. Depois do curso, cuidava para até para não machucar as minhocas. É gratificante plantar ver crescer colher e comer o meu próprio alimento. Numa caixinha de leite crio um alimento saudável. É incrível”, relata o trabalhador autônomo João Carlos Garcia dos Santos, 51 anos, aluno da turma de 2022 do curso, e agricultor urbano em Tramandaí.

Refúgio e Cooperação

Considerada um dos projetos históricos e referenciais nesse segmento, as atividades desenvolvidas na Horta da Lomba transcendem o cultivo na terra. Localizada na Zona Leste da Capital, nessa horta são realizadas capacitações, palestras, atividades culturais, entre outras iniciativas propícias a um ambiente em que o verde predomina.

“A horta tem um impacto muito positivo, não só na comunidade, mas em toda a região metropolitana e no estado. É uma Horta-mãe que serve de inspiração pras outras hortas contribuindo com exemplo, mudas, sementes, estudos e pesquisas. A gente costuma dizer que não é uma grande produção, mas sim uma escola”, conta Ana Carolina da Rosa, acadêmica do 6º semestre de Licenciatura em Educação do Campo em Ciências da Natureza na Ufrgs.

Frequentadora da Horta da Lomba há cinco anos, a acadêmica diz visitar o local há mais de quatro anos. “Comecei a ir semanalmente na horta em busca de mais saúde mental e qualidade de vida no trabalho com a terra e com as plantas. Tenho contribuído mais com a minha presença do que com minha experiência acadêmica, mais aprendendo do que ensinando, aprendendo principalmente com a natureza e com os mais velhos da Horta”, declara.

A longa convivência, entre lutas e conquistas, consolidou o local como referência de uma ampla rede de colaboradores – entre professores, estudantes, técnicos e vizinhança local – em que o afeto é tão cultivado quanto os alimentos e o abraço é uma prática habitual entre os frequentadores. “Tenho uma filha e uma neta e elas trabalham ainda, né, mas quando elas podem nas férias elas vem elas gostam muito. A gente sempre está ajudando e cooperando. Venho ajudar a fazer chá ajudar e doces Não venho mais porque às vezes não dá, mas assim eu posso eu tô sempre aqui”, conta Teresa Marlene de Oliveira Silva, que com seus 82 anos, dos quais 50 resido no bairro.

 

Horta de gente: Tereza, Flávio e Ana, convergências intergeracionais - Foto: Ronaldo M. Botelho

A identificação da horta como um espaço familiar também é destacada por seus frequentadores. “É uma mãe natureza, uma experiência assim pra gente que ali chega. Fulano chegando e tu conhece e a gente virou tudo numa família. E essa questão do alimento também, aqui que é cultivado, a gente fazia almoço aqui fazia só com comer coisas da horta”, conta Albertina Goulart Gold, outra moradora histórica do local e também beneficiária da Horta da Lomba. Com orgulho, ela mostra o chá preparado por ela com ervas colhidas da horta para ser servido aos presentes.

A visita que fiz para esse registro à Horta da Lomba coinscindiu com uma homenagem. O professor Flávio Burg, cedido há mais de 10 anos pelo município para a horta, próximo de se aposentar e foi agraciado com uma modesta celebração por históricos colaboradores daquela horta. “Eu considero os ciclos da vida nossa, né? Então, vim aqui pra cidade grande vai fazer 39 anos, e agora, que fiz 60, tô com esses planos de morar no interior de Maquiné certo, então o meu ciclo aqui eu vejo que passa completando né?”, reflete.

Campo Multidisciplinar

Ainda que as hortas comunitárias não dependam necessariamente de estruturas institucionais ou formalidades disciplinares, a multidisciplinaridade de temas e de questões que suscitam tem despertado crescente atenção do mundo acadêmico. Professores e alunos de diferentes áreas, regiões e níveis de experiência - de universidades e de escolas - têm se dedicado a projetos desse tipo, seja de forma independente, seja por meio de projetos e de consultorias.

“O que a gente precisa é o espaço de conversa, que não seja aquele espaço formal, que não seja aquela reunião acadêmica. Entrar num espaço que quem não é daquele espaço não se sente constrangido de falar. Aqui não aqui é roda de chimarrão, é a roda de chá. Quando tá frio, uma fogueira e uma conversa que ela é, ao mesmo tempo de construção e de cura”, resume a professora Ingrid Bergman Inchausti de Barros, histórica participante desse projeto.

Doutora em Agronomia pela Universidade de São Paulo e professora aposentada da UFRGS, onde lecionava na área de produção de hortaliças, Ingrid foi referência para grandes pesquisadores. Entre eles, o biólogo Valdely Ferreira Kinupp, considerado o “Papa das Pancs” (Plantas Alimentícias Não Convencionais), de quem foi orientadora da tese “Plantas alimentícias não-convencionais da região metropolitana de Porto Alegre, RS”.

No esteio dos estudos de veteranos como a professora Ingrid, as novas gerações de acadêmicos prosseguem interessados no tema das hortas. Pesquisa e extensão parecem confluirem nesse território de cultivos e convivências, em um âmbito multidisciplinar. É o que demonstra estudos como “A gente cultiva a Terra e a terra cultiva a gente”, desenvolvido como TCC pela então acadêmica de psicologia, Layla Nicoly Mattos Medeiros – ou Solar, como gosta de ser chamada.

“O meu trabalho foi basicamente falar sobre a minha experiência assim, né? Não tinha tanto um um viés assim aí a partir da minha presença aqui que eu fui construindo a pesquisa, né? Foi a partir das coisas que eu que eu vi aqui e aí o meu olhar assim para horta. E ficou basicamente dividido entre três pontos: a horta como espaços de resistência, de cuidado e de refúgio”, explica a psicóloga. “Foi um baita desvio do que a gente tem estudado dentro da Psicologia, algo que vai contra todo esse projeto de destruição capitalista”, considera.

A função das hortas como espaços funcionais para além da agricultura é confirmada pelo estudo “Agricultura Urbana e Periurbana no Município de Porto Alegre/RS – Segurança Alimentar e Nutricional e Possibilidades de Desenvolvimento”. Essa discertação, defendida recentemente por Rafael Caetano de Lima e Silva, no Programa de Pós-Graduação em Dinâmicas Regionais e Desenvolvimento – PGDREDES/UFRGS, analisou as práticas de agricultura urbana e periurbana em hortas de quatro bairros da Capital (Jardim Leopoldina, Jardim do Salso, Lomba do Pinheiro e Restinga).

O estudo constatou que as hortas urbanas contribuiram para reduzir a insegurança alimentar e nutricional e, mais do que isso, que as hortas são originadas a partir da mobilização popular da comunidade e tem para elas funções que vão além do alimento.

“As vezes, uma vila não tem muitas opções e a horta acaba sendo um pretexto para organizar outras articulações. Eu fiz o no questionário que tinha uma pergunta porque qual o principal motivo que o pessoal ia participar das hortas, e o que mais foi mencionado foi a socialização. Eu até me impressionei, porque eu achei que fosse mais a questão da da própria alimentação”, relata o acadêmico.

Pesquisa e Apoio

Mas ainda que existam produções importantes sobre a agricultura urbana pelo País, a agricultura em regiões metropolitanas carece de estudos integrados melhor desenvolvidos. É o que pensa a professora Heloisa Soares de Moura Costa, da UFMG. Pesquisadora em planejamento urbano e ambiental e ecologia política e segurança alimentar e nutricional na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), ela entende que existe uma lacuna de estudos e pesquisas mais estruturadas sobre as dinâmicas existentes relacionadas à agricultura em regiões metropolitanas, metrópoles e cidades, que incorporem tanto as zonas urbanas e rurais.

“O maior aprofundamento nessas dinâmicas e sua análise podem contribuir para subsidiar tanto políticas públicas específicas, quanto às ações e atividades de organizações sociais e os coletivos das hortas”. Por outro lado, ela concorda que há potencial considerável da universidade para ocupar esse espaço. “Além das pesquisas, a universidade pode contribuir com ações de ensino e extensão, oferecendo assessoria às hortas ou outras experiências de agricultura, e cursos ou outros processos formativos que atendam às demandas de cada contexto”, avalia.

Examinando a questão dos conflitos e da mediação, a professora vai mais além. “Do ponto de vista da organização dos sujeitos, a coletividade e o fazer coletivo muitas vezes esbarram em conflitos (comuns em muitas experiências coletivas de forma geral), necessitando a mediação dos interesses e motivações individuais que podem encontrar soluções coletivas ou acordos que atendam grande parte das pessoas envolvidas (não necessariamente solucionando os conflitos).” , avalia.

Como sugestões para a superação das dificuldades técncias a professora da UFMG recomenda investimento em assessorias técnicas orientadas pela agroecologia; fortalecimento de políticas públicas de compras institucionais e ampliação do público atendido e investimentos em apoio produtivo e fortalecimento de políticas relacionadas às águas.

A professora Heloisa Soares de Moura Costa também é coordenadora do Auê! Grupo de Estudos em Agricultura Urbana, que existe na UFMG desde 2013, atuando em várias áreas relacionadas à agricultura urbana e a agroecologia. Esse coletivo tem acompanhado hortas comunitárias e outros espaços de produção de alimentos na RMBH. Um desses trabalhos foi o projeto das Unidades Produtivas da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), disponível no site do Auê!.


Desafios e Perspectivas

Ao considerar os problemas e conquistas, um diagnóstico realista das necessidades e oportunidades das hortas comunitárias em Porto Alegre parece impor considerações que se estendem desde as dificuldades de espaços e recursos, passando por problemas interpessoais, até o comprometimento de instituições potencialmente capazes de apoiar projetos e se fazer mais presente junto a esse segmento.

O titular da SMGOV, Cássio Trogildo, pondera a necessidade de recursos para investimentos nesse stor. “Para as hortas urbanas, nós precisamos de capacidade nova, capacidade instalada. Tudo que a capacidade que a gente tem hoje não dá conta de fazer o que já é a nossa obrigação primeira né?”, declara.

Para técnicos e pesquisadores que atuam diretamente na área da agricultura urbana as hortas devem ser consideradas como um investimento público estratégico, que exige uma política com estrutura para manter as hortas ao longo do tempo. “Há muita gente com depressão pós-pandemia. Pessoas que tratavam com remédios tarja preta daqui a pouco estavam livre desse dependência, só por isso já há aqui um grande investimento”, observa o engenheiro agrônomo e técnico da Emater, Sandro Trevisan Fidler, com larga experiência em extensão rural.

Por outro lado, ele oberva que o governo precisa assumir esse segmetno enquanto política pública.

“A primeira coisa são as lideranças envolvidas, que são apaixonadas pelo projeto. Eu acompanho muitas hortas na cidade, que era uma pessoal – um profissional, um professor, um enfermeiro, um entusiasta. Mas ele saía da unidade e a horta já morria”, lembra. A esse respeito, o professor Flávio, funcionário da Horta da Lomba, repara que um projeto que envolva agendas e visitas necessita uma pessoa renumerada para acompanhar. “O voluntariado não é, digamos, sistemático, as pessoas vêm quando podem né? Elas têm seus compromissos, né? Um projeto desse, com muitos grupos, que vê, que faz agendas, alguém tem que receber, né?”, observa.

Já para o professor de Economia Rural e do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimetno Rural da UFRGS, Glauco Shultz, as hortas devem ser valorizadas por seu caráter de sociabilidade, mas a questão do envolvimento popular merece uma atenção especial. “Elas resgatam a função recreativa na produção de alimentos, por constituírem-se de projetos coletivos em bairros que envolvem diferentes atores locais, geram bem-estar, aprendizados sobre diferentes plantas e suas formas de cultivo e contribuem para a melhoria da qualidade de vida. O desafio maior é superar os aspectos que impedem a maior participação”, considera.

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ENTREVISTAS

 

Albertina Goulart Gold, moradora local e beneficiária da Horta da Lomba

Foto: Ronaldo M. Botelho

Memórias da Horta
Nós temos o quê? 12, 13 anos aqui. Mas só que a gente não vinha aqui porque aqui já foi negócio de cavalo, já teve outras coisas. Foi ampliada a horta, né? Os freis ajudaram. Já há muito tempo que eu participo, eu, que não vinha mais.

Não tenho ninguém aqui, é só eu e meu filho.

O Flávio... não está mais aqui, né? Do início, era Lourdes, depois veio o Flávio, né? E assim foi Flávio sim, sim. Esse aí já faz uns anos.

Agricultura
Não, não nunca gostei. Fui aprendendo e fui ficando. Não estou aqui todos os dias, mas uma vez ou duas na semana. Às vezes, até mais se precisa, eu estou aqui.
                            
Natureza e Família
É outra coisa é uma mãe natureza é uma experiência, assim, pra gente. E ali chega fulano, vão chegando e tu conhece, e a gente virou tudo numa família.
E essa questão do alimento também aqui que é cultivado, todas as terça-feira, a gente fazia almoço aqui, fazia só com comidas de coisas da horta.

Almoços e Receitas
Sextas e na terça-feira só coisas da horta e chegavam para fazer o almoço com cuidado, era umas quantas né?                                                                                          
Daí, nós fazia era couve. Tinha gente que não comia carne, né?
Aí a gente fazia, e elas colhiam as plantas, corria a couve outras coisas a gente fazia aquele comidão Eu como carne, mas não é assim dizer, que eu sou obrigada ligada na cara, né?
Aprendo sim, aprendo que aprendi aqui. Eu lembro que eu participei de uma oficina aqui, de hibisco, né?
Eles costumam ensinar a oficina de coisas que a gente tira muita oficina aqui, a gente aprende muito oficina de pancs. E ensinam o povo como comer. É porque o povo não sabe comer.
Meu filho não come também sem os verdes seguido quando não tem verde “deixa mãe, que é comida”.

Colheita
O alho poró várias, várias plantas, né? A gente colhe daqui tanto a batata, o aipim, essas coisas... porque nós plantamos e levamos né? A gente está trabalhando mais com essas coisas verde mesmo, sabe, é oleosa e muitas panc e batata doce, né?A gente pega daqui também pepino.

Coquistas
A gente conseguiu a água aqui pra gente também que nós não tinha não tinha nós não tinha luz a luz. Nossa não faz um ano que nós temos aqui, e como é que você se virava sem luz, aqui, ó, não dá para ficar à noite.

Frequência e apoios
Tenha fogo ali, ficava pra fazer a comida ali no fogo mesmo.
Aquela turma acampava a noite toda aí, cantando era um problema.
Antes também, daí, a gente vem pelas mangueiras e tal, assim, sabe, mas lá de vez em quando também a gente fica assim, porque eles arrebentam as mangueiras.
Daí tem que ter uma pessoa para sair e achar onde tá arrebentada.                                                   

Lugar de cuidar
O Flávio  ajuda a gente, muitas coisas... ele que vai fazer isso, ele vai fazer aquilo é ele que tem a caminhada direto para ajudar para cuidar.

Cuidar, ajudar a gente fazer todas essas coisas assim, né? Como capinar que tem certas coisas que a gente eu nunca capino, sabe, mas tem certas coisas que é capinado, que é limpar canteiro que é plantar que é mudar hibisco quer mudar isso quer mudar aquilo, né?

Ninguém fica aqui sozinha, né? a não ser que elas fiquem bastante, daí elas podem ficar.
Mas deixar elas sempre para trás, eu nunca deixo.

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Aline Teixeira, acadêmica do 8º Semestre de Agronomia na FAGRO/UFRGS e integrante do grupo UVAIA (Uma Visao Agronomica com Ideal Agroecologico), que desenvolve trabalhos no âmbito da agroecologia desde 2003.

Foto: Ronaldo M. Botelho


Projetos que participa
Comecei a participar de projetos em hortas comunitárias quando entrei na UFRGS e no Grupo UVAIA, antes de entrar na Universidade não conhecia projetos de hortas comunitárias. Visitei algumas vezes a horta da Lomba do Pinheiro, mas não participei ativamente da sua manutenção. Posso dizer que a implementação da horta comunitária no bairro Farrapos será a primeira em que me envolvo  ativamente.

Papel das hortas
Acredito que as hortas comunitárias são essenciais para a manutenção e construção de um ambiente social e cultural. Esta relacionada com a Paisagem no meio urbano, já que além de embelezar a região, tem um papel de construção de conhecimentos e divulgação de informações, além é claro, da produção de alimento.

Envolvimento
A minha formação acadêmica tem muita relação com o meu envolvimento com a horta comunitária, já que participei do Fórum de encontros de hortas Urbanas de Porto Alegre na Faculdade de Agronomia. O momento e a vivência foram fundamentais, pois a partir do momento em que vi líderes comunitárias relatando as mudanças que as hortas fazem nas vidas das pessoas (qualidade de vida e alimentação saudável) me interessei em entender mais sobre o processo de formação das hortas comunitárias Urbanas.

Experiência acadêmica
Acredito que a minha contribuição foi em relação às coletas e análises de solo, bem como identificação/seleção de espécies para plantio na horta. Além de auxílio na elaboração das linhas de plantio e principalmente novos pensamentos sobre o papel da Universidade e da Faculdade, não só no meio rural, mas também no urbano.

Universidade e hortas                     Existem diversos projetos relacionados a implementação de hortas Urbanas, auxílio e cursos. Mas ao mesmo tempo, percebo como limitação a falta de interesse de alguns estudantes no tema, bem como a dificuldade de transporte para os alunos interessados em participar das atividades.

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Amanda Posselt Martins, professora do Departamento de Solos da Faculdade de Agronomia Ufrgs

Foto: Perfil whatzap da entrevistada


Universidade e periferias

Eu avalio que esse é um papel essencial e muito necessário que a universidade tem. A faculdade de agronomia da UFRGS é uma faculdade com muita tradição na área de ciências agrárias, mas que tá no meio de um grande centro urbano, que é Porto Alegre. Mas ainda tá um pouco distante da agricultura urbana. 

E eu vejo que tem tem sido feito um movimento de alguns professores e professoras nos últimos anos para incluir essa realidade da agricultura urbana, para justamente ter, de fato, essa extensão universitária nesse processo educativo-cultural-científico, articulando ensino e pesquisa dentro de Porto Alegre. 

Mesmo sendo uma instituição de ciências agrárias, que, muitas vezes, a gente só fala do rural, a gente tem graves problemas ligados a profissão.              Por exemplo, dos engenheiros agrônomos, que são formados pela UFRGS, aqui, do nosso lado, na periferia de Porto Alegre.

Teve uma uma pesquisa que foi feita na pandemia, em 2021, se eu não me engano, que trouxe esses dados alarmantes do ressurgimento da fome e da insegurança alimentar no Brasil, e no ambiente urbano. A gente tem quase dois terços das pessoas hoje em situação de insegurança alimentar. Então, é esse papel da Universidade, mobilizando as comunidades periféricas, junto com associações, como a Desabafa, pela organização de hortas, para mim, tem esse papel. 

Insegurança Alimentar

Extremamente importante de a gente conseguir diminuir esse problema social, que, para mim, é um dos problemas sociais mais graves que a gente pode ter na nossa sociedade. 

Ainda mais no Brasil, que é o que é, chamado por aí como o celeiro do mundo, grande produtor, enfim, do agronegócio, mas, do lado aqui da nossa faculdade, que esse ano tá completando 125 anos, a gente tem pessoas passando fome?! Com todo o conhecimento que foi adquirido ao longo dos anos, e que ainda vem sendo gerado para se produzir mais alimentos, mas é isso, aqui, do lado da nossa universidade, tem pessoas passando fome em situação de insegurança alimentar. Então, o que que a gente pode fazer com isso? 

Eu vejo que essa articulação, essa mobilização da universidade com comunidades periféricas, visando a organização dessas hortas urbanas, tem esse papel, que, como eu disse, para mim, é importantíssimo.
 

Envolvimento

Justamente por colocar os estudantes e esses futuros engenheiros agrônomos em contato com essa realidade. Porque, apesar de estar do nosso lado,  muitas vezes isso passa desapercebido, né? Muitos desses alunos não tem contato com essas regiões da cidade, por exemplo, vem do interior. Às vezes, fica muito só dentro da universidade e a gente vê muito desse perfil de aluno que tá dentro da universidade, dentro dos muros. Vamos chamar assim, da universidade e do rural, né? no campo, no interior. Essa questão da agricultura urbana, ela passa totalmente desapercebida. Então, esse trabalho que a gente vai fazendo agora.

Extensão

Ainda mais com a inclusão de 10% da carga horária da formação dos alunos, que agora tem que ser em extensão universitária. Então, a gente vem incluindo isso, inclusive, dentro do ensino, dentro de disciplinas obrigatórias, como é o caso, por exemplo, da minha disciplina que a fertilidade do solo. 

Então, hoje a gente tem uma carga horária dedicada dentro da disciplina de fertilidade do solo na formação de todos os engenheiros agrônomos - porque é uma disciplina obrigatória do quinto semestre - um trabalho de extensão em hortas de comunidades periféricas aqui do da Região Metropolitana de Porto Alegre. Em escolas, em associações, para que os alunos tenham esse contato e vejam a possibilidades, né? Como realmente se pode ter essa relação transformadora entre universidade e sociedade. Às vezes, do ponto de vista técnico, são coisas extremamente simples que, muitas vezes, podem ajudar uma  realidade de uma comunidade urbana em insegurança alimentar a ter a sua autonomia através da da viabilização de uma de uma horta comunitária, né?         E de ter esse menor custo, vamos dizer assim, às vezes na produção do seu alimento.

Autonomia
Como eu disse, essa autonomia, que é algo muito importante da gente buscar, de não ser dependente, até do preço do alimento no mercado - apesar de isso estar muito dentro da Agronomia, o alimento até como uma commoditie agora. Mas o alimento, na minha opinião pelo menos, jamais deveria ser algo negociado no mercado, cujo preço, o valor depende do mercado. Porque isso é o básico do básico do bem-estar humano e da sociedade como um todo.

Então, eu acho que a gente proporcionar esse envolvimento dos dos nossos estudantes nesse ambiente da extensão, tem esse papel transformador. É algo que muitos deles podem levar depois para qualquer que seja a sua atuação. Porque sempre a gente vai ter um lugarzinho, um pedacinho de terra lá no solo, pronto para ser cultivada, e que qualquer alimento que a gente consiga promover o crescimento, pode mudar a realidade de de muitas comunidades que precisam, que carecem disso. Infelizmente, esse é o nosso cenário, de nos últimos anos ter um agravamento do problema da fome e da insegurança alimentar.






domingo, 15 de outubro de 2023

Israelenses e Palestinos e o contexto geopolítico

                    

Daniel Wanderlinde Luiz*

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O conflito entre israelenses e palestinos se propaga com o passar dos anos. Este impasse entre estes dois povos, vem desde os primórdios da Guerra dos Seis Dias, em 1967

Os israelenses venceram a guerra travada com alguns países árabes, resultando com isso a anexação das Colinas de Golã, território que pertencia a Síria.  Anexou também as Fazendas de Shebaa, território libanês e, por fim, a CISJORDÂNIA, FAIXA DE GAZA e JERUSALÉM  ORIENTAL, territórios  pertencente ao povo palestino.   

O Egito até que teve a sua situação favorável, pois conseguiu nacionalizar o Canal de Suez, devido a estratégia de seu líder político, presidente Egípcio GAMAL ABDEL NASSER. Consequentemente, algumas décadas após a Guerra dos Seis Dias, então, mais precisamente em 1987 foi criado em território palestino, com intuito  de resolver as consequências danosas para a PALESTINA, um braço armado denominado HAMAS. 

O HAMAS, que  é um grupo palestino muçulmano sunita, tem como intenção, através de ataques,  serem ouvidos sobre a situação caótica de seu povo árabe, pois através do diálogo não houve uma resposta satisfatória. 

Nesta conjuntura, este braço armado muçulmano sunita, que foi criado em 1987, tem como ideologia o Nacionalismo palestino, o islamismo, o  antissionismo e a Solução do Estado Único e, certamente,   tem como lema  atacar fortemente o Estado de Israel, Estado no qual é liderado pelo seu primeiro-ministro BENJAMIN NETANYHU.  Obviamente, nestes últimos dias,  foi um ataque surpresa para os  sionistas. 

Naturalmente, devido a estes episódios conflituosos, então, o  grupo muçulmano sunita  HAMAS  foi acusado pelo Ocidente como terroristas, pelo fato de matar civis e ter  feito inúmeros reféns, reféns os quais, possivelmente, serão trocados por prisioneiros palestinos que estão em cárceres de Israel. 

Será que são terroristas mesmo ou será apenas um título pejorativo citado pelos os ocidentais? 

Não dá para afirmar com precisão neste STATUS QUO  se tem mocinho ou bandido nesta guerra.  Nós ocidentais temos que entender que a criação do Estado de Israel foi oficializada em 14 de maio de 1948 e quem teve a proposta de criá-lo foi a ONU.   

Então, as Nações Unidas lançaram a proposta de dividir a Palestina em duas nações ISRAEL e PALESTINA. Sabe-se que o Estado de Israel surgiu devido a um movimento  denominado sionista, movimento o qual, pregava a defesa de um Estado Judaico na Palestina. 

No entanto, atualmente, muitos consideram que os palestinos vivem em um regime de apartheid, pois são tratados como cidadãos de segunda categoria, não possuem um Estado Nacional nem um território  estabelecido, simplesmente, porque os judeus não respeitaram as linhas de delimitações da Palestina, elaboradas pela ONU. 

Isto é, através da Guerra de Seis Dias, em 1967 anexaram a Faixa de Gaza, a Ciosjordânia e Jerusalém Oriental, áreas  que  as Nações Unidas já tinham estabelecidas como da Palestina.  

Nesse contexto geopolítico, surgiram algumas lideranças que querem fazer uma mediação para o final deste conflito. Comumentemente, neste aspecto como mediadora está a TURQUIA, pois o presidente turco RecepTayyip Erdogan relatou que é contra ações indiscriminadas contra os  judeus, mas também é contra a perseguição dos palestinos pelas forças isralenses ou pelos colonos sionistas

Nesse sentido, o presidente ERDOGAN conversou com o presidente da Autoridade Palestina, MAHMOUD ABBAS  e, com o presidente israelense ISAAC HERZOG, pois almeja com isso um acordo de paz.   

Há dois pesos na balança neste conflito entre árabes e israelenses, pois os árabes querem o seu territórios que foram tomados e, além disso, que  sejam  tratados com dignidade  e, comumentemente, não como cidadãos de segunda classe. E, pelo outro lado, os judeus  querem que os palestinos parem com os ataques liderados pelos grupo sunita muçulmano HAMAS.  Nesta atual conjuntura, só nos resta torcer que este conflito não se amplie com extrema profundidade.

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*Contador – CRS/RS:055696/0. Bacharel em Ciências Contábeis (FAPA) e acadêmico em Direito (UnilaSalle), Canoas-RS 

Democratização do conhecimento científico esbarra no alto custo de publicação de artigos e de acesso a periódicos

 

Ciência | Garantia do Acesso Aberto nas publicações científicas e riscos do mercado de publicações predatórias mobilizam gestores e pesquisadores. Capes fomenta uma política de Desenvolvimento de Coleções

Jornal da Universidade - UFRGS

*Foto: Freepik

Há um certo consenso entre a comunidade acadêmica de que o conhecimento científico é um bem público. Mas a democratização da ciência, enquanto interesse geral da sociedade, esbarra em obstáculos. Entre eles está o custo de publicação e de acesso às pesquisas. Desde que se iniciou, pelos anos 1980, o processo de migração de periódicos para o universo online, a manutenção dos suportes de publicação se tornou um desafio às instituições de ensino superior.

Para a bibliotecária Letícia Strehl, diretora do Sistema de Bibliotecas da UFRGS, o pagamento de assinaturas pelas agências não está se refletindo no acesso. “Se a revista publica 100 artigos e, destes, 50 foram pagos, a assinatura deveria cair à metade. Só que essa conta não está aparecendo, as assinaturas só aumentam, temos cada vez mais pesquisadores pagando taxa de publicação de acesso aberto”, analisa.

Ao lado disso, muitas publicações de qualidade duvidosa assediam diariamente os pesquisadores com propostas de veiculação rápida e custos bem mais baixos que a média, mas geralmente insuficientemente confiáveis em termos de qualidade de revisão. Gestores universitários, editores e pesquisadores preocupados com esse cenário levantam questões sobre como enfrentar e aperfeiçoar os meios e os canais de comunicação entre os cientistas (comunicação científica) e democratizar o acesso da ciência a toda população (divulgação científica).

“Desde 2017, a CAPES vem debatendo os modelos de Acesso Aberto e ampliando as discussões sobre o tema junto à comunidade acadêmica com o objetivo de elaborar uma Política de Desenvolvimento de Coleções que contemple, por exemplo, o pagamento de APCs (Article Processing Charges ou Taxas de Processamento de Artigos) nos contratos firmados”, revela Andréa Carvalho Vieira, coordenadora-geral do Portal de Periódicos e Informação Científica da Capes.

Mudanças e Impactos

Para melhor entender a crise por que atravessa o segmento de publicações científicas, é preciso olhar para algumas décadas atrás, quando as revistas eram impressas e vendiam assinaturas.

“As bibliotecas e os pesquisadores que pagavam individualmente a assinatura eram a maior fonte de recurso. Nos anos 1980, houve uma grande crise financeira internacional, com um salto no valor das assinaturas. E os recursos anuais das bibliotecas não acompanharam”, explica a coordenadora da Comissão Assessora de Apoio à Edição de Periódicos Científicos da UFRGS, Samile Andréa de Souza Vanz.

Nesse processo de mudança do papel para o formato digital houve vários ganhos, mas também o surgimento de novas necessidades. “Nesse período de transição, há revistas que já nasceram em acesso aberto. Mas as revistas científicas têm um custo mínimo para a sua operação. Esses custos básicos, dentro desse movimento de acesso aberto, em que a revista não cobra mais assinatura, precisam ser repassados ou subsidiados”, explica Samile, que também é editora-chefe da revista Em Questão. Com mais de 35 anos de existência, essa publicação circulava em papel e cobrava assinatura; e agora ocorre só em acesso aberto.

Como não poderia deixar de ser, a nova realidade de transferência dos custos para os autores e/ou leitores contribuiu para um novo arranjo no mercado editorial, com facilidades e oportunidades, mas também com abusos e precariedades.

“Há revistas cobrando APCs [taxas de processamento de artigos] de 5 mil dólares. Daí não é custo de publicação, com certeza; aí nós temos o mercado editorial extremamente lucrativo. Editoras como a Springer, a Elsevier e a Taylor & Francis têm lucros superiores a bancos, empresas farmacêuticas e montadoras de veículos”

Samile Andréa de Souza Vanz

Para ilustrar melhor o que diz, Samile recomenda o artigo The Oligopoly of Academic Publishers in the Digital Era (O oligopólio das editoras acadêmicas na era digital), que trata da consolidação da indústria editorial científica e das altas margens de lucro das grandes editoras. “É preciso considerar também que, além da significativa importância que as publicações em periódicos científicos de credibilidade têm para a carreira acadêmica de um pós-graduando, a quantidade e a qualidade de revistas científicas influenciam também na avaliação de um programa de pós-graduação. O volume de publicações interfere no ranking que determinada universidade vai ter e no quanto de financiamento ela recebe das agências de fomento”, repara.

Por outro lado, há casos em que o custo para se publicar pode influenciar não só na legitimidade, como na autoestima do pesquisador. “Quando estagiária, tentei publicar um artigo, mas não pude porque não era assinante da revista. Daí, convidamos uma colega assinante para publicar junto, só que aquela revista exigia que a assinante fosse primeira autora. Essa condição de secundária em um trabalho que fiz me prejudicou mais tarde em banca de ingresso no doutorado”, conta a nutricionista Giovana Paludo Giobelli, hoje doutoranda já qualificada no Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Rural da UFRGS (PGDR).

Mercado das Predatórias

A questão predatória de revistas de baixo custo é outro problema que surge no mercado editorial científico brasileiro, comprometendo a qualidade de pesquisas e a própria imagem do pesquisador.

“O pesquisador recebe por dia três ou quatro convites para publicar nessas revistas. Em alguns casos, tu és convidado para revisar artigos, e daí, quando tu olhas o que estão te enviando, tu não tens a menor competência para revisar aquele artigo”

Leticia Strehl

Outra preocupação a respeito desse assédio é sobre a proteção dos dados dos pesquisadores. “Há alguns anos, após ter apresentado trabalhos em eventos internacionais em Florianópolis e Porto Alegre, começaram a chegar mensagens de editoras, até em inglês, para publicar com diversos preços. Pra mim, é um tanto perigoso”, conta José Exequiel Basini Rodrigues, professor do Programa de Pós-graduação em Antropologia Social da Universidade Federal do Amazonas, egresso da UFRGS e atualmente pesquisador-visitante na Universidade do Quebec em Montreal.

A estética formal e o tratamento personalizado que as revistas predatórias utilizam são apontados como fatores de sedução, especialmente de pesquisadores mais jovens. “Essas revistas me confundem. Algumas são muito sutis, usam de má-fé. Não fazem avaliação por pares. Basicamente, o autor paga e publica; claro, elas são muito mais rápidas. Eles pegam alunos que precisam publicar”, observa a professora Samile Andréa. “Não temos esse tipo de publicação na UFRGS”, acrescenta.

Sobre as possíveis causas desse mercado editorial predatório, José Rodrigues atribui, em parte, a segmentos da própria comunidade científica. “Há uma visão na carreira acadêmica que é hierárquica e mesquinha, com falta de colaboração entre os colegas”, analisa.

“Se aproveitam da debilidade de falsos intelectuais. Além disso, ocorre uma pressão brutal pela produtividade, que se torna muita vezes arbitrária”

José Exequiel Basini Rodrigues
Outros Caminhos

Em busca de respostas a essa e outras demandas, em meados de setembro, o projeto de extensão Sala de Ciência, da Agência de Comunicação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, realizou o painel “O preço da ciência – pelo conhecimento científico aberto e a valorização dos periódicos nacionais”.

O evento, que teve transmissão ao vivo pela internet, reuniu pesquisadores das regiões Nordeste e Sudeste. Entre os temas, os presentes analisaram o papel social da ciência. “A Ciência é uma construção coletiva, é um bem que é comum. A gente não está lidando só com uma evidência, mas com questionamentos da sociedade”, considera Monique Oliveira, jornalista e pós-doutoranda na Unicamp, onde estuda ciência aberta e divulgação científica no Laboratório de Inclusão na Comunicação e na Ciência (LABinCC).

A pesquisadora lembra ainda que a Ciência Aberta envolve uma série de atores que a compõem e que isso tem a ver com a cultura científica. “Como esse bem, que é comum, que não é um empreendimento individual, mas coletivo, é fechado e é privatizado? Temos, portanto, uma cultura científica que está em contradição com a própria construção coletiva da Ciência”, reflete.

Ela também defende que é necessário valorizar o que já temos.

“O Scielo é uma base dados do Sul Global, é uma base construída por décadas, com critérios de qualidade”

Monique Oliveira

O pró-reitor de pesquisa da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), Robério Rodrigues Silva, vai mais longe: “No direito, quando há cobrança em duplicidade, eles chamam de ‘Bis in idem’; no caso da ciência, há um ‘Tris in idem’: porque a ciência é produzida com recurso público; para publicar, o pesquisador tem que pagar; e para se acessar tem que se pagar. Há uma tripla cobrança”, observa o gestor, que também é presidente do Fórum Nacional de Pró-reitores de Pesquisa e Pós-graduação.

Por outro lado, ele vê com otimismo a atual política da Capes para o setor. A Capes paga por ano 100 milhões de dólares, ou 500 milhões de reais, para permitir acesso a periódicos fechados. Seria ideal que não pagássemos nada, ou quase nada, e que os acessos sejam abertos. Os Acordos Transformativos caminham nessa direção”, aponta.

A gestora da UFRGS também acredita no poder das agências de fomento para intervir nesse cenário. “Se a Capes começa a fazer isto: colocar como critério anterior a tudo o acesso aberto – e ela pode colocar –, ela influencia, porque vai definir esse como principal requisito. O segundo requisito vai ser o prestígio, vai ser a situação, vai ser o não predatório”, considera Leticia Strehl.

Conforme a coordenadora de periódicos da Capes, o Acesso Aberto envolve desafios para avançar. “Em termos de políticas e procedimentos, deverão ser aprimorados com a mais ampla participação das instâncias e dos atores da comunicação de pesquisas do Brasil, por meio do grupo de trabalho que será criado em breve para tratar da temática e propor o desenho da política de acesso aberto”, anuncia.

A necessidade de conscientizar e criar meios para que segmentos sociais que necessitam da Ciência sejam mais bem contemplados foi outro ponto destacado no debate. “A divulgação científica precisa levar ao cidadão o contínuo acesso à informação científica, que precisa estar aberta. Estamos falando de gestores, de uma série de intermediárias, uma série de setores, lidamos com conhecimentos sociotécnicos que dependem do conhecimento científico”, assinala Monique, do LABinCC/Unicamp.

Foi destacado no evento também a importância de se valorizar a divulgação científica como uma etapa necessária para a sociedade. “Nem todos precisam necessariamente fazer a divulgação científica, mas precisam apoiar e se engajar com os colegas e, sobretudo, valorizar os que realizam esse tipo de divulgação, não como uma atividade de segunda categoria para o pesquisador, mas que traz incentivo e investimento para todos e que fecha o ciclo científico”, avalia Aline Ghilardi, professora do Departamento de Geologia da UFRN.

Descolonizar a Ciência

Outro tema que emerge nos debates sobre a democratização do conhecimento científico, e que também foi abordado entre os presentes no painel “O preço da ciência”, é a difusão do conhecimento em uma perspectiva decolonizadora. “Revistas de alto impacto são concentradas no norte global e cobram dos pesquisadores do sul global na sua moeda. O quanto a ciência é acessível para ser produzida e disseminada aqui no hemisfério Sul?”, provoca a pesquisadora Aline Ghilardi, professora do Departamento de Geologia da UFRN.

“As normas de publicação científica que se seguem foram criadas todas no ocidente e excluem outras formas de pensar e de comunicar a ciência. É um ambiente que, por si só, já nasce excludente”

Aline Ghilardi

Já a bibliotecária da UFRGS Leticia Strehl, que trabalha há 20 anos com comunicação científica, apoia a atenção às fontes de conhecimento menos visibilizadas, mas repara a necessidade de se preservar a qualidade da apuração dos dados. “Não necessariamente a gente precisa reproduzir a ciência que é feita nos EUA, na Europa, o Norte Global. A gente sabe que eles têm uma tradição de séculos de Ciência. E, naturalmente, se podem perceber formas. O que não se pode é flexibilizar a capacidade de os resultados científicos serem significativos e não uma elaboração criativa”, analisa.

A professora Aline Ghirald, por sua vez, convida ainda a refletir sobre valores culturais na ciência. “É preciso tornar as informações mais importantes. Considerem a possibilidade de anexar o resumo em diferentes línguas. Como alterar as formas como são ranqueadas as publicações pelos cientistas? Será que a gente poderia privilegiar os caminhos do próprio país para as revistas institucionais, acadêmicas? É preciso se conectar com a sociedade, o fator fundamental que move a ciência”, reflete.

Já o antropólogo José Rodrigues observa singularidades no modo de se fazer ciência na América Latina, que, algumas vezes, pode levar a um preconceito. “Temos uma forma de escrever mais baseada no relato, de criar personagens, episódios, contexto… Isso, muitas vezes, não interessa às agências financiadoras, que querem objetivos. E essa forma mais narrativa é vista como charlatanismo”, avalia.

Por outro lado, ele tem ressalvas aos discursos que homogeneízam a crítica. “Tem uma forma um pouco equivocada de se combater isso que se chama ‘eurocentrismo’. Colocam uma agenda obrigatória, de clichês, enquanto o mundo discute outras coisas – como a Otan, o nazismo, a Ucrânia, que tratam do mundo que Foucault falava, da biopolítica, mais complexo, mais imanente”, considera.

quarta-feira, 6 de setembro de 2023

 Como parte da construção de um novo projeto editorial para esse blog, modiquei seu nome para in-senses. Em breve a mudança será melhor comprrendida. Por hora, agradeço a todos seguidores-visitantes de meus conteúdos, atualmente bem eventuais. att. r.b.

domingo, 3 de setembro de 2023

Brasílias, tantas... fetiches, sabores, vazios e cores

 
A capital federal é plana, mas só na geografia.

Pelo avesso desse território de patrimônios, há um cerrado de sinuosidades.

Entre a prancheta de Niemayer, a aridez dos militares, a abertura que não passou a limpo, o desastre inominável e o retorno à civilidade, essa ilha de belezas e dissabores absorveu algumas essências.

O Fetiche do poder é uma delas. 
 
Ele está em tudo e em todos. 
Das vias às vilas. 
Do porteiro ao senador. 
Do shopping à tenda. 
Do lanche da rodoviária ao luxo do aeroporto.

Assim, que só um outsider como eu se surpreende ser tratado como senhor feudal em um bar noturno - supostamente liberal, infestado de fumantes de narguilé, com garçons pressionados a encher seu copo e limpar a mesa a cada 5min.

Para o equilíbrio com esses pilares de vaidades, porém, o poder nessas noites não tem face única. Felizmente.
A natureza, por exemplo, também reivindica suas luzes.

Até um pé de manga, jaca ou bananeira em plenas calçadas confunde e abstrai a ostentação de ferro, vidro e concreto pelos prédios de olhos eletrônicos.

Entre as distâncias dos cardápios em QR Codes, o humano ainda tem vez nessas acolhidas - seja no sorriso da artesã pernambucana, seja num refúgio de silêncio das telas, do funk, do futebol e do hard rock.

Já o dia nessas bandas tem sabores próprios.

Se a feijoada ou a carne de sol não dão conta pra se lembrar que muitas culturas se cruzam aqui, umas comprinhas na Neguinho da Pimenta preenche o cardápio dos gostos.

É só uma das tantas casas nordestinas da Ceilândia das feiras (sempre eles salvando).

É de encher os olhos: dos temperos aos sucos, dos grãos às farinhas, das manteigas aos azeites.

E se sobrar tempo, tem ainda a Feira do Rolo com suas novidades e cambalachos.

É o centro que resiste em existir na periferia.

Limonada que os candangos fizeram da segregação que começaram a sofrer, desde quando o outro lado do Paraíso os reduziu a um rejeito, que encheu outros mundos.

Um desenvolvimento para além dos olhos e do coração do Brasil de JK.

Mas de vazios também se faz uma capital planejada.

Como na solidão do guarda de vestes imperiais no Alvorada. 
No gigantismo dos corredores do Itamaraty. Nos desertos dos saguões e das praças por toda a órbita dos três poderes.

Perplexidades que surgem sobre as contradições entre a generosidade comunista do genioso arquiteto e o seu estranho culto às curvas de beleza sem gente.

A opulência física para a exibição de miúdos segmentos, que não falam com gente sem gravata.

E falando em vazio, isolada é também a homenagem à Lídia, em meio ao Campus.

Para nunca se esquecer da criança covardemente violentada e morta há 50 anos por engravatados ligados ao regime das botinas - das brutalidades que marcaram os tempos de Médici, sobre a qual tentaram culpabilizar a esquerda.

Sob a secura do clima, o encarnado do cumpinzeiro dá um tom conveniente no contraste ao azul do céu infinito.

Alimento fino para a letra do alagoano, 
entre outros tantos.

E no entorno dessa sede de Mar, um Paranoá nos brinda por todo lado.

Nas praias do lago. 
Nas garças e capivaras. 
(à distância ) das lanchas dos playboys 
No bronze sem padrão das tardes de chove não molha...

... enfim, o refresco popular que ainda sobrevive à gentrificação de Ibaneis.

Mas há ainda muita esperança nos caminhos de mobilidade sem rodas.

É o que dizem os Ipês amarelos, que anunciam a Primavera desde a Asa Norte.

Dos desenhos das nuvens aos corredores das carregadeiras, tudo inspira para a foto dos namorados.

São as Brasílias muito além de um plano e de um piloto. E são tantas...

quinta-feira, 9 de março de 2023

Dia Internacional da Mulher 

Solidariedade, assistência e arte no Bairro Farrapos*





O Dia Internacional da Mulher vai contar com uma programação especial no Bairro Farrapos, com um evento de múltiplas atividades: atendimento jurídico, oficina de maquiagem, corte de cabelo, orientação em saúde e moradia e inscrições em cursos gratuitos.

O evento ocorre no domingo, 12, a partir das 14h30, na Praça do Sesi – Rua Bambas da Orgia, S/n, V. Farrapos, em mais uma iniciativa do Comitê de Lutas do Bairro Farrapos.

Organização Civil

Inaugurado em julho de 2022, o Comitê de Lutas do Bairro Farrapos é um coletivo de moradores que tem por objetivo estimular e proporcionar a organização popular dos moradores para a reivindicação e a defesa de seus direitos. O Comitê atua nos âmbitos assistencial, cultural e político.

No local, são preparadas e servidas refeições por voluntários do bairro para dezenas de famílias em situação de vulnerabilidade. Também está sendo montada no espaço uma biblioteca e uma infraestrutura básica para reuniões e outras atividades de capacitação e de geração de renda. Recentemente, esse coletivo estruturou-se estatutariamente, convertendo-se em Associação pelo Desenvolvimento do Bairro Farrapos.

*Relise enviado em 09.3.2023 à pauteiros da imprensa gaúcha em apoio à divulgação desse importante evento para aquela comunidade porto-alegrense, mas, pelo monitorado até o momento. O evento foi solenemente ignorado pela imprensa corporativa - como a RBS e o Jornal do Comércio - sendo divulgado apenas no jornal Brasil de Fato, ligado aos movimentos sociais. Parece se confirmar a impressão que essa imprensa comercial hegemônica só tende a se interessar pela periferia quando há violência e sangue por lá.














segunda-feira, 6 de março de 2023

Transporte público, de massa e de qualidade: o melhor negócio para o País (por Ronaldo Botelho)

A solução passa pela execução de projetos estruturais, como uma política de Estado, que atravesse governos*

Foto: do autor

 


Ronaldo Martins Botelho 

 

Sul 21 - Opinião - 06.3.2023

 

O ônibus enquanto solução para o transporte urbano de massa está superado há muito tempo. Em capitais em que a sociedade civil se deu conta disso, a reação acontece. É o caso do Movimento Mais Metrô em SP, o METRÔ QUE O RIO PRECISA no RJ e o Floripa Sustentável em SC, para citar só alguns.

Poderia se ter alguma esperança que a gestão do MDB de Renan Filho no Ministério dos Transportes se sensibilize para isso? A ver.

Fato é que, nesse País, os lobbys das empresas de transporte rodoviário e da indústria automobilística, aliados a uma visão política historicamente míope sobre a demanda do transporte e mobilidade urbana, mantêm as conveniências, para o sofrimento dos usuários.

Custo social

Amortece essa opressão os serviços de transporte de qualidade, como ainda têm sido, por décadas, o caso da centenária Companhia Carris Porto-Alegrense . Mas o neoliberalismo, que visa o lucro e não a vida, tende a tornar deficitárias também essas alternativas.

É público e notório o sucateamento dessa empresa, desde sempre na mira de privatização pela gestão de Melonaro. Pessoal da Associação dos Trabalhadores do Transporte Rodoviários de Porto Alegre sabe do que falo.

E o receituário para isso é conhecido: sucateia, precariza os serviços, desmoraliza e constrói o discurso sobre a necessidade de vender para a “competência privada”.

Parece ter feito parte desse pacote a extinção da prestativa linha Universitária, que ligava três campis da UFRGS e a PUCRS. Criada a partir de demandas planejadas e identificadas, essa linha era uma alternativa popular, rápida e confortável, que contemplava milhares de trabalhadores e estudantes.

E por falar em popular, parece que o caráter racionalizador antissocial dessa política privatista do atual governo municipal para o transporte público de Porto Alegre vai muito além de linhas e horários.

Em dezembro de 2021, extinção do acesso ao meio passe para professores e estudantes de pós-graduação e a restrição rigorosa para os demais estudantes a esse mesmo direito, decretada por esse governo, impactou sensivelmente esses segmentos. Na ocasião, o jornal Sul 21 registrou a repercussão negativa de tais medidas.

Nesse cenário de deficiências e limitações, é claro que a uberização surfa como um mal necessário. Mas o sintoma não serve como explicação para a causa.

Direito X Privilégio

O transporte público e popular de qualidade segue tendo um papel relevante e insubstituível, particularmente nas regiões metropolitanas. Mas se trata de um serviço de alto interesse coletivo, cujas demandas, lucros e investimentos devem passar por critérios de responsabilidade social, muito além de planilhas de maximização lucrativa.

Do contrário, o alto valor das tarifas com a redução dos subsídios, tende a torná-lo um privilégio o que é constitucionalmente assegurado como um direito.

E se algum porto-alegrense ainda tem dúvida sobre os motivos para essa atenção, basta observar as esperas e filas nos terminais dos centros urbanos – alguns desses, como do Triângulo, o do Viaduto da Conceição e o do terminal São Jorge, com problemas estruturais que beiram ao a abandono.

Diante desse cenário, já há quem não se surpreenda com uma espera de cerca de 5min para subir em um ônibus superlotado, como testemunhei há poucos dias, por volta das 7h30, no Terminal São Jorge, em um dos veículos da Linha T11.

Essa linha, que tem um de seus terminais no Aeroporto Internacional Salgado Filho – POA , integra o grupo de transversais que oferece um valoroso conjunto de opções para cruzar a cidade de ponta à ponta e que o governo de Melo também está conseguindo precarizar.

A EPTC – Empresa Pública de Transporte e Circulação (oficial), tão hábil em aplicar multas – e quem sabe outros órgãos públicos competentes – poderiam prestar mais atenção na fiscalização desse serviço tão essencial na capital gaúcha.

Semelhante expectativa deve se esperar da Metroplan, no sentido de identificar e responder com mais celeridade e eficácia às demandas dessa natureza no âmbito metropolitano.

A despeito disso, a solução passa pela execução de projetos estruturais, como uma política de Estado, que atravesse governos. E como assinalei na abertura dessa reflexão, o Metrô é um caminho imperante e indispensável nesse norte. Disso depende milhões de vidas, isso esperam algumas gerações.













sexta-feira, 3 de março de 2023

El vino de Caxias y el rostro humano de la comida*

Una denuncia del trabajo esclavo ocurrida a finales de febrero, en el municipio gaucho de Caxias do Sul, al sur de Brasil, aún resuena a nivel nacional e internacional, produciendo indignación, investigaciones, castigos y debates en todo el país. 

La denuncia de los trabajadores salió a la luz luego de la huida de tres trabajadores de Bahía, víctimas de condiciones infrahumanas, que lograron escapar del alojamiento en el que se encontraban y buscar ayuda de la Policía Federal de Carreteras en el municipio vecino. Ante el incidente, la Policía Federal movilizó un grupo de trabajo, que rescató a más de doscientos trabajadores más que laboraban en la viña.

Las imágenes, rápidamente reflejadas en los medios, muestran la promiscuidad de los lugares donde los trabajadores dormían y hacían sus necesidades, sin las mínimas condiciones de higiene, salud y dignidad. 

Además, estos trabajadores fueron condicionados a contraer deudas desproporcionadas a sus salarios. Según testimonios, los trabajadores también sufrieron presiones psicológicas, golpes y descargas eléctricas. El episodio ha dado lugar a investigaciones y denuncias más profundas y afecta a varios sectores involucrados en la cadena vitivinícola del sur.

Además de multas y perjuicios para las tres bodegas que venden la producción de estos trabajadores, este episodio tiende a generar impactos significativos en la economía estatal y ya tiene repercusiones en la imagen del sector vitivinícola brasileño en su conjunto. 

Desafortunadamente, este caso no es, en sí mismo, completamente nuevo en la historia de las relaciones laborales en Brasil, el último país en acabar con la esclavitud en las Américas. No aislado. Según datos del Ministerio de Trabajo y Empleo de Brasil, difundidos por la ONG Repórter Social, el país encontró 2.575 personas en situación análoga a la esclavitud en 2022, la cifra más alta desde los 2.808 trabajadores en 2013.

En el contexto de las nuevas posibilidades de comunicación de hoy, un caso como este debe ser observado con atención, especialmente en términos de comportamiento del consumidor en relación con los productos que compra. 

La identificación del consumidor con el alimento que consume y las condiciones de producción de este producto son cada vez más estrechas. En esta relación interfieren factores que van mucho más allá de la atención a la calidad del producto en sí, extendiéndose a aspectos laborales, sanitarios, ambientales y culturales de la mano de obra involucrada en su relación con una determinada cadena alimentaria.

El despertar de nuevas sensibilidades en la relación con la naturaleza y la cultura hace que los seres humanos estén más atentos al consumo responsable, bajo una conciencia y una ética que van más allá de la mera relación comercial. 

En el contexto de un mundo globalizado, no sólo los bienes y sus mercados crean rápidos niveles de interacción e intercambio, sino también los seres humanos involucrados en ellos, a pesar de lo que muchos empresarios insisten en ignorar. 

El espectro de representación de intereses atraviesa el nivel institucional, movilizando redes civiles y movimientos sociales, especialmente los vinculados a la producción agropecuaria, que se expandieron rápidamente por regiones y continentes.

Por eso, el productor agrícola y ganadero del siglo XXI debe estar atento al mundo, ser consciente de que su producto no sólo lo sustenta, está inserto en una cadena productiva, sino que involucra cadenas de vidas y culturas. 

Como ya apuntaba proféticamente el inolvidable educador Paulo Freire, pedagogo que sigue siendo un referente en la educación de los trabajadores agrícolas: “No basta saber leer que 'Eva vio la uva'. Hay que entender qué posición ocupa Eva en su contexto social, quién trabaja para producir la uva y quién se beneficia de ese trabajo”. 

*Artigo enviado para publicação à Revista Union, da UGT, em 09.3.2023, e aos jornais La Tribuna de Alba e Diário La Tribuna, em 03.3.2023, todos sem retorno até o momento desta edição.

sábado, 16 de julho de 2022

Comitês Populares: brotos de solidariedade sob novas arenas

Cozinhas Solidárias, Pontos de Cultura, cooperativas, capacitações, hortas comunitárias são alguns caminhos possíveis

Ronaldo M. Botelho

Brasil de Fato | Porto Alegre (RS) | 12 de Julho de 2022 às 10:48

Urge, diante disso, semear e cultivar entre a esperança que ainda resta (e sempre resta) - Foto: Tanam A. Hennicka

Uma noite especial marcou, na última quarta-feira (6), a inauguração do Comitê Popular de Luta do Bairro Farrapos, em Porto Alegre (RS). Localizado em uma das principais vias de acesso do Quarto Distrito de Porto Alegre, deverá ser um espaço de organização social dos moradores para a reivindicação e a defesa de seus direitos, entre outros objetivos de interesse popular.

O clima de festa despertava a atenção dos transeuntes, condutores e passageiros que passavam no local e expressava bem mais do que uma festa eventual. No caminho a uma arena em que os gaúchos costumam se dividir entre o azul e o vermelho, brota outra vez um entusiasmo mais duradouro, de cores inúmeras, que singularizam, unem e misturam passados, sonhos, lutas, conquistas e, sobretudo, esperanças e utopias, entre elas – e sobre elas – a de um país mais justo e melhor para se viver. É o calor da organização popular sobre velhas e novas arenas.

A movimentação entre pessoas do cotidiano do bairro com ilustres lideranças comunitárias, estudantis, sindicais e políticas em um modesto e caprichosamente decorado prédio expressava também a importância desse comitê para aquela comunidade, protagonista de grandes lutas e de exemplares conquistas. O significado de comitê, como um grupo de indivíduos que trabalham juntos para resolver um problema ou realizar um projeto, foi ampliado e ressignificado ao longo da história da humanidade.

Na França do fim do século XVIII o Comitê de Salvação Pública era centro de articulação das demandas pró-república; na Rússia pré-revolucionária do início do século XX o comitê central inspirará mais tarde os chamados sovietes, conselhos locais de trabalhadores e soldados em que se tomavam decisões de interesse coletivo na construção do governo popular; em povos de culturas tradicionais milenares, como a africana e a indígena, lembram também os comitês as organizações coletivas tribais de decisão para responder a demandas locais, sob códigos morais de uma comunidade, uma casta ou uma aldeia.

No Brasil, no início da década de 1990 – entre os escombros sociais dos regimes militares a herança do entreguista governo Collor e as mazelas dos governos neoliberais de FHC – o sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, criava a Ação da Cidadania que tinha como objetivo maior combater a fome no Brasil, aliando a isso cidadania e dignidade. Nesse período, pela sua potência de mobilidade, pluralidade e apelo social, esses comitês provocaram grandes mobilizações, combinando cooperação, solidariedade e conscientização.

Ainda naquele momento histórico, aqui em Porto Alegre, no primeiro governo da esquerda na Capital, Olívio Dutra inaugurava em sua Administração Popular o Orçamento Participativo, uma experiência de democracia direta que projetou a cidade pelo país e pelo mundo e que tinha nos conselhos e comitês populares sua base de decisão e de transparência. Mais tarde, os governos Lula, irá também seguir essa orientação, fortalecendo e criando conselhos, em diferentes áreas e níveis, espalhando nacionalmente essa identidade de participação popular e de aprofundamento da democracia nos governos de esquerda.

Portanto, assim como as fomes, de pão, de liberdade e de dignidade não são novidade na trajetória dos povos, também têm sido marcantes na história de nossas gentes as reações visionárias, as iniciativas solidárias contagiantes e as grandes transformações que elas produziram a partir delas, desde os debaixo. E os comitês, em suas diferentes formas, têm se constituído, canais para isso.

Mas no Brasil de 2022, a aridez econômica, social e política que nos joga o governo Bolsonaro impõe aos comitês populares um desafio maior. O avançado nível da insensibilidade social e das violências de uma cultura antipolítica difundidas por esse governo substanciam a insegurança alimentar e o individualismo sistêmicos, que geraram uma apatia social mais profunda. E nessa conjuntura, o desafio dessas iniciativas de mobilização social é a de serem, ao mesmo tempo, acolhedoras, organizativas, resolutivas, conscientizadoras e mobilizadoras.

Urge, diante disso, semear e cultivar entre a esperança que ainda resta (e sempre resta), uma sinergia de forças populares, que possa recuperar os ânimos nas esferas da vida, da comunicação, da cidadania, da dignidade e das utopias. Cozinhas Solidárias, Pontos de Cultura, cooperativas, capacitações para a geração de renda, hortas comunitárias, são alguns desses caminhos possíveis para os quais os comitês devem facilitar a organização e a resposta às demandas urgentes das periferias. E os comitês populares têm um papel estratégico e cotidiano nessa construção.

Então, muita vida para o Comitê Popular de Luta do Bairro Farrapos!

*Ronaldo M. Botelho é jornalista.

**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Fonte: BdF Rio Grande do Sul

Edição: Katia Marko