Interessante, às vezes impressionante, como a tradição - ou aquilo que a ela se atribui - cria e dá visibilidade à modos de comportamento. Isso se reforça, noto, quando estamos diante do estranho. A difusão de CTGs pelo mundo, por exemplo, poderia ter entre suas explicações, a condição de estrangeiro que o riograndense se situa em outras terras, despertando em si a necessidade de se afirmar na sua individualidade.
Há controvérsias, é verdade, sobre o que é ser gaúcho, mas há traços que são incorporados nesse modelo exportado, sem dúvidas. E críticos não faltam para difundir isso, no caso do gaúcho. O que também indica o poder que esse movimento adiquiriu. O papel da mídia sulista nisso, em particular a RBS, merece um capítulo a parte. Mas essa afirmação territorial local se faz em outras regiões do País também, certamente, ainda que de modo menos produzido e mais restrito geograficamente. Os imigrantes são outro tipo de grupo social em que é fácil se perceber esse fenômeno da "invenção das tradições". O impuslo para recriar o passado está fortemente verificado na matriz de vida européia, asiática e africana. Basta analisar preliminarmente as comunidades relativamente fechadas que tais grupos criam, algumas - como é o caso dos quilombos, como uma forma de sobrevivência cultural que tem a ver com a existência diária em uma perspectiva ainda de afirmação da liberdade, em seu sentido mais genuíno. Em síntese, o ser-humano é, em grande parte, seu passado. Porém, nesse enleio de experiências se insere modelos, que podem ser reforçados politicamente, pela mídia ou a religião, a ponto de se solidificarem na cultura e se tornarem referências do presente e futuro, para uma vida mais livre, reprimida ou repressora.
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