A eleição se encerrou parcialmente para alguns estados e nos deixou algumas perplexidades e impressões sobre o que o processo eleitoral tem a ver com (D)emocracia, o que realmente ele pode expressar, além de legitimação de popularidades. A democracia política que dispomos é essencial, claro; porém, por mais e melhores mecanismos de participação que ela ofereça, a avaliação de sua eficácia na expressão das vontades coletivas não pode se reduzir a sua dimensão eleitoral.
A vontade de cada indivíduo está sistemicamente relacionada às condições econômicas e culturais deste. E isso não é pouco em um País de tantas disparidades nessas duas dimensões da vida social dos brasileiros, independentes dos reconhecidos avanços pelos projetos e programas sociais no atual governo. O clima nos locais de votação por onde passei, por exemplo, era de certa rotina, nenhum entusiasmo e modificação de comportamentos, a parte o festival de papel pelo chão e de adesivos colados nos corpos dos cabos/trabalhadores. A maioria se dirigia ao local do votação, e ali aguardava sua vez, como o faz em uma missa. Seria o brasileiro tão indiferente assim, ou é mesmo a ausência de um envolvimento que o toque interiormente nesse processo?
Por outro lado, um fenômeno que julgo novo, pelo menos no impacto que se apresentou, é a presença de celebridades na arena eleitoral. O voto em ícones popularescos, que era um fenômeno mais reduzido ao rádio, se ampliou, e consolida de vez o poder dos meios de comunicação nessa Idade Mídia. No esporte, na musica, no entretenimento, nos mitos da própria política (sobre nomes fixados no imaginário como “bons”) e outras esferas, nomes estranhos ao exercício da política enquanto atividade nobre e séria, estavam no páreo e garantiram uma espécie de “Bancada das Celebridades”. O que resultará disso é de se esperar, mas experiências semelhantes já verificadas, não nos dão boas razões para ter otimismo.
De qualquer forma, o exercício da política, por si só, dirão muitos, já está a muito tempo tomado pela tetralização da mídia, em que o marketing diz muito. Acho, a respeito disso, bastante cínico por parte de âncoras dos telejornais – que representam a opinião dos empresários de comunicação – quando se queixam de que um ou outro candidato “não quis debater”, “se fez ausente do debate”, ou algo assim. Qual é a prática que existe nos espaços apresentados por esses sujeitos para o debate cotidiano das questões nacionais, que ultrapassem a informação mecânica, ou quase assexuada politicamente? Quantas vezes os políticos, durante os outros meses, além do obrigatório nas eleições, podem comparecer à esses meios para apresentar suas idéias e debatê-las?
Assim, novamente, voltamos ao ponto: a democracia social – aquela que entendemos mesmo como plena (combinada com condições econômicas que situem os indivíduos em uma órbita em que a cidadania seja viável em todos sentidos, permitindo que a cultura seja um direito em todos os seus aspectos) está longe, lamentamos constatar. Isso não quer dizer que políticos sérios não tenham sido beneficiados nesse processo. Mas precisamos avançar ainda. Muito. E sabem disso os reais democratas.
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