sexta-feira, 29 de abril de 2011

Rir é necessário; mas sorrir sincero, uma arte

Lembro nada quando foi que comecei a desacreditar no sorriso, em qualquer sorriso. É bem provável que ocorreu pelo mesmo período que comecei a valorizar mais um sorriso sincero. Sorrir dessa maneira, em tempos em que a ironia está na terra, no ar e nas almas, é uma arte. É sintomático que me venha à cabeça essa idéia, quando leio a manchete “Falta coerência às políticas do Brasil, diz economista de Harvard”. Os norte-americanos, mais uma vez ensinando como ao Brasil como devemos pensar e fazer. Em geral, as lições vem em um to de amizade, num sorriso diplomático.

Mas no caso da declaração na manchete, o tom é tecnodiploplomático. As palavras foram pronunciadas ontem pelo economista Ricardo Hausmann, da Universidade Harvard, durante Fórum Econômico Mundial no Rio. Entre outras críticas a política econômica brasileira, salientou que “o fato de que a economia brasileira está superaquecendo com um ritmo de crescimento de 4% ao ano é sinal do baixo limite de velocidade”. Importante notar que palavras semelhantes foram utilizadas, no início de março, pelo diretor gerente do Fundo Monetário Internacional, Dominique Straus-Kahn, também com ampla repercussão na imprensa brasileira. (seria essa uma nova agenda pública?).

Vejamos a tradução do termo “superaquecimento” no Dicionário de Termos Financeiros e de Ivenstimentos, dos John Downes e Jordan Elliot Goodman, onde encontro a palavra pelo nome genuíno - OVERHEATING que descreve uma economia que está se expandindo tão rapidamente a ponto de os economistas temerem um aumento da inflação (INFLATION). (...).  Como solução, o Banco da Reserva Federal tem adotado uma política de aperto da base monetária e cortes nos gastos públicos. Curioso que quando o Brasil anunciou emprestar R$ 10 bilhões ao FMI.

O receituário do momento, portanto, dos economistas do FMI e de Harvard para o Brasil tem a ver, mais uma vez, com cortes nos gastos públicos. Lembremos o que isso representou há uma década atrás um acerto de países em torno de um certo Consenso de Washington. Conforme o João José Negrão (Para conhecer o Neoliberalismo), o Consenso de Washington faz parte do conjunto de reformas neoliberais que apesar de práticas distintas nos diferentes países, está centrado doutrinariamente na desregulamentação dos mercados, abertura comercial e financeira e redução do tamanho e papel do Estado. Talvez existam razões para rir mos menos e ficarmos mais atentos a qualidade dos sorrisos.


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