quinta-feira, 14 de abril de 2011

Sobre nossas fragilidades para atacar o que é central

A sinceridade nos assusta. Talvez porque tenhamos nos acostumados a viver tanto sob a égide da mentira e da artificialidade, ser sincero em absoluto, consigo mesmo, assusta a ambos – a si e ao nosso interlocutor. Isso vale para a vida individual e coletiva. Quem sabe por isso seja tão comum se desviar das coisas como ela são, priorizando a moral e as normatizações vigentes, em troca da fidelidade à realidade, no diagnóstico dos problemas sociais. Seria por isso que a relação eletrônica, particularmente via e-mail, tem criado um novo, e para alguns, exclusivo canal de comunicação? Tem se dito que o garoto Wellington Menezes, autor da chacina no Realengo, teria sido uma mente perturbada pelo isolamento, que vinha se comunicando apenas pela internet nos últimos tempos e que isso poderia ter contribuído para a sua perturbação mental. Penso que faz sentido, em parte. Mas seu comportamento pode ser bem mais sintomático, reflexo de um modo de ser na vida coletiva atual, que ainda está por ser melhor interpretado. Esse suposto isolamento de Wellington atinge a todos, mas acredito que adolescência, por ser uma fase mais acesa para a sociabilidade, tende a maior vulnerabilidade. De qualquer modo, o enfoque estritamente monstrificador do autor do crime, como tem sido realizado por setores da mídia de massa, pouco contribui para pensarmos sobre a dimensão real do caso e as formas de evitar, ou reduzir, repetições. Nesse contexto de medo e perplexidade, tendem abundam propostas proibitivas, e volta à tona o desarmamamento. Não seria momento mais adequado para uma ampla campanha nacional, tendo a escola como espaço privilegiado para trabalhar as subjetividades individuais em torno de uma consciência humanizante e emancipadora? Como sempre, um caminho mais complexo, sincero demais para uma cultura política dominante que prioriza, para o enfrentamento da violência, as soluções por decretos, controle e proibições.

Nenhum comentário: