segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Fumar é opção individual, mas de interesse coletivo

Sobre a questão do combate ao fumo (uma expressão que me soa ruim), antecipo que é pouco simpático a mim a idéia do controle sobre a vida alheia. A questão é que, em se tratando de seres vivos em sociedade, poucas e raras coisas eliminam os interesses de outras coletividades. E o cigarro, decididamente, não é uma delas. Sem me ater a pesquisas, que existem há toneladas para comprovar os danos individuais e sociais do fumo, entendo que essa opção, na maioria das vezes prazerosa para quem o pratica, não deveria ser discutida sob o viés moral. A questão é essencialmente de saúde pública. É especificamente nesse caso que esse tema foge da esfera individual. Talvez em locais mais modernos já exista espaços apropriados para fumantes fechados do contato à atmosfera externa – aí, sim, sem prejudicar quem está dentro ou fora daquele ambiente. Mas há um outro ponto mais profundo nisso, que é a lucratividade gigantesca que o fumo, enquanto cultura agrícola, propicia às empresas desse setor. E aí, a questão é econômica mesmo. Trabalhei em regiões de fumo, onde estas empresas desenvolvem sistemáticos projetos de apoio social às famílias de fumicultores, o que procurava dar um ar de positividade para tais organizações. Mas nem precisaria, considerando que os ganhos financeiros para quem planta fumo são bastante generosos com relação a outras culturas, o que, por si só, é um desafio para os governos competir – quando de fato desejam. Em qualquer hipótese, defendo a liberdade do fumante, aquele consciente. Mas tenho esse ponto de vista apenas na condição de que se assegure que toda despesa pública decorrente do consumo do fumo – leitos hospitalares, baixa produtividade no trabalho,  aposentadoria precoce, etc... -  seja adequadamente compensada, seja pela indústria tabagista, seja pelo fumante. No mais, nada mais tenho a dizer.
 
 “...O cinema mudou a imagem do fumo para sempre. O advento dos filmes permitiu, talvez pela primeira vez na história, que pessoas separadas tanto pela distância como
pela cultura, tivessem experiências visuais iguais. Os cigarros, cachimbos e charutos que apareciam em tamanho gigante na frente de milhões de pessoas em todo o mundo fizeram o ato de fumar parecer tão natural como comer ou beijar."

Trecho do livro Tobacco, a Cultural History of how an exotic plant seduced civilization (Tabaco, uma história cultural de como uma planta exótica seduziu a civilização).

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