Arte: Articulação em Políticas Públicas do Estado da Bahia |
Sobre esse debate a respeito da autorização de iterrupção de gravidez de fetos anencéfalos, sou favorável a medida pela única razão de se tratar de um direito a mulher sobre seu corpo. O velho debate sobre o aborto entra em cena novamente, e mais uma vez os religiosos atacam “em defesa da vida”. Argumentam que a mulher deve evitar engravidar para isso não acontecer, e que, se o fez, tem que assumir. Afirmam, em um segundo nível, que há vida, sim, além do corpo; que uma criança, mesmo vegetativa, tem alma, etc. Sobre o primeiro ponto, há uma evidente restrição na visão sobre a realidade social, visto que o argumento ignora a dimensão sócio-cultural da questão, como se a vontade fosse obra apenas divina. O sexo, hoje, está inserido em uma cultura de massa, e o ato sexual, com a possibilidade de gravidez, é estimulado de forma promíscua. Isso vitima todas as classes. A diferença é que, ao contrário dos que vivem à margem social, os religiosos de “boas famílias” tem o poder financeiro para praticar o aborto em clínicas clandestinas, discretamente, e daí fica tudo no silêncio. Quanto ao fato de permitir uma vida vegetativa, considerando a alma em primeiro plano, é fácil defender isso de fora, sem estar enfrentando essa situação, seja como vítima ou como assistente. Talvez quem assim argumente possa estar mesmo vivendo em certa vegetatividade, e entenda que isso seja normal e salutar. Em suma, minha opinião é clara, mas não dogmática, se refere ao que vivo e enxergo, se sustenta em uma noção de justiça, para além de crenças ou paixões. Seria perfeitamente a favor da punibilidade da mulher nesse caso de interrupção do feto se nosso País garantisse todas as condições de planejamento familiar, controle de natalidade e educação pré-sexual. Mas estamos muito distante disso, em grande parte graças à igreja, diga-se de passagem.
Nenhum comentário:
Postar um comentário