domingo, 6 de maio de 2012

Anotações rápidas sobre uma viagem breve por RN

Desses oito dias que estive entre o interior e a capital potiguar tive experiências emocionantes com pessoas interessantes. Algumas impressões, entre boas e ruins:
* A história dos cangaceiros, que atravessa vários estados nordestinos, é um patrimônio histórico nacional; combina mitos e causos, se constituindo em um rico acervo da memória local para os estudiosos do modo de ser e da cultura sertaneja;

Memorial da Resistência, no centro de Mossoró

* A cidade de Mossoró, pela experiência do conflito que resistiu ao bando de Lampião, é emblemática nesse sentido. Falta, todavia, um melhor aproveitamento turístico dessa experiência pelo governo local, canalizando o interesse externo para atrair por mais esse aspecto àquela Região;
* O trânsito de Mossoró é caótico e reflete a gravidade de um problema típico de cidades urbanas. A dependência de mototáxis e transporte irregular é consequência da falta de uma política clara de transporte urbano pela administração municipal (*a questão me inspirou, inclusive, a escrever um artigo, que reproduzo abaixo);
* Mais do que memória, Mossoró tem uma vida urbana intensa e um comércio forte, e uma paisagem social que mistura o velho e o novo, em uma síntese surrealista de um povo que ri, quando devia chorar; mas, sobretudo, nos faz pensar sobre a importância de ser feliz.

O invasor interno: Carros pesa o clima da vida urbana

* Quanto a Natal, as praias são lindas, de fato, e o povo também muito acolhedor. Mas há necessidade, urgente, de se pensar a sustentabilidade local, especialmente à beira-mar. Não que isso seja um problema exclusivo do Nordeste, mas confesso que me assustou a situação do avanço do mar sobre o Calçadão e a faixa de rua, construída em um avanço exagerado, no caso de Ponta Negra.
* O transporte é um problema na capital portiguar; inadimissível que uma cidade turística desse porte não tenha uma linha de ônibus que largue os turistas dentro da Rodoviária, deixando-lhes em uma beira de BR. Fico por aqui hoje.

Mossoró, uma nova batalha ronda a cidade*

Artigo escrito ainda em minha estada nessa cidade
e enviado para dois jornais locais.

O tempo de 30 minutos pelo memorial da resistência, no centro de Mossoró, é o suficiente para um viajante sulista como eu conhecer e encantar-se com a bela memória que guarda com orgulho esse simpático povo nordestino. Mas outros 30 minutos a circular e sentir os arredores desse ambiente urbano é também o suficiente para sensibilizar-me sobre outra batalha, latente na vida dos mossorosenses: a problemática ambiental X o anseio por uma cidade mais saudável e humanizada. Mossoró precisa pensar-se e, sobretudo, repensar-se no seu desenvolvimento urbano. Dada a condição sintética que o espaço permite, destaco uma área nesse sentido: a mobilidade urbana.

A diversidade das opções de transporte, não tenho dúvida, é uma qualidade desejável em qualquer município. Mas quando há um crescimento desmedido das rodas privadas em relação a mobilidade pública, é sempre preocupante. Nesse sentido, a deficiência do transporte coletivo parece que plasmou nessa cidade uma dependência extrema dos serviços de moto-táxi – que são, sublinho, essencialis em qualquer cidade desse porte. Mas a dependência majoritária do transporte privado não é, é nunca será, salutar em uma socieade desigual como a nossa. É, isto sim, elitista, polunete e, consequentemente, nociva à saúde pública.

Deste modo, rever as condições para a otimização do espaço e dos meios da mobilidade urbana me parerce ser uma urgência na agenda dos políticos sérios que representam essa população. Igualmente, uma prioridade na pauta das organizações civis identificadas com tal bandeira. Não demandar muito – mas o necessário, que se reconsidere a real capacidade da empresa de transporte público local que atende os mossorosenses dar conta das demandas sociais de um município que cresce e se desenvolve com tal magnitude. E se for constatado uma incapacitade, se for para o bem de todos, que a prefeita local avalie a possibilidade de inserir uma concorrente, nem que seja pública.

Da mesma forma, seria condizente com o crescimento da vida urbana verificado, que se considerasse por aqui a construção de ciclovias, o que tem sido implementado por várias cidades brasileiras desse porte, sempre com ótimos resultados. E finalmente, ainda com respeito a mobilidade, é preciso estudar e implementar melhorias nas condições e no uso dos passeios públicos, sempre em observação ao livre trânsito de todos, com especial atenção às pessoas com deficiência. Me restrinjo a apenas esses três tópicos do fator mobilidade, por considerá-los de grande pontencial superativo nessa nova “batalha” que parece cercar os mossosenses. Se outrora a batalha contra lampião exigiu uma articulação para a resistência ao invasor externo, a problemática ambiental ora apresentada é de ordem interna e sistêmica, e desse modo deve ser enfrentada.

Longe de mim está a pretensão de dar lição de moral aos governantes locais sobre como conduzir os rumos desse próspero município. Nem a autoridade moral (que me falta), nem uma eventual soberba me motivam, mas a vontade de deixar uma contribuição reflexiva a pessoas que tão bem me receberam nos poucos dias que por aqui passei, e com os quais me solidarizou na esperança lúcida por melhores dias. Ave, Mossoró!



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