quarta-feira, 27 de junho de 2012

A disssimulação e a super-exploração, faces de um mesmo modelo social

Às vezes me volto a pensar sobre esse papo de sociedade liberal, de que vivemos em um tempo de mais liberdades do que em outros tempos, e me dou conta do quanto isso é um mito, considerando que o que realmente reina como poder, não são os governos mais a moral. Não há dúvidas que a questão da orientação dos costumes e do comportamento é o grande centro do poder sobre sobre tudo e sobre todos. A Igreja já sabia disso há séculos; a Globo está se especializando e apostando cada vez mais nisso nessas últimas décadas. Talvez fosse o caso de se acrescentar que conviver em meio a esse poder gerou no Brasil, a partir de nossa raiz “cordial”, um outro elemento típico de ser: a dissimulação. E no sentido contrário a isso, cada vez mais raro - e por isso mesmo valioso - a sinceridade se valoriza progressivamente.
* A  postura da jornalista Elaine Tavares sobre a situação de maus-tratos pela Eucatur a um motorista é exemplar. A modernidade, de fato, significa conforto apenas para certos segmentos e super-exploração para outros. Passei situação parecida em várias vezes, em empresas de SC, SP e RS. Confira trecho:
 “Ao chegar fui fazer a reclamação na empresa. Nem bem entrei os funcionários me cercaram. “É sobre o atraso. Aqui o formulário”. Eu disse: “não é o atraso. Quero reclamar do terrorismo psicológico que foi feito contra um trabalhador”. Eles se entreolharam. Uma mulher saiu, acusando: “O Geraldo demorou a chamar ajuda”. Ou seja, o motorista já tinha sido julgado pelos colegas. Fora o culpado, exatamente como ele mesmo já se sentira lá na estrada. Aí alucinei e me parei a dar discurso. “Vocês são todos trabalhadores, iguais a ele. Deviam se proteger, se ajudar. Mas não, ficam aí a defender patrão. Ele cumpriu as regras impostas pela empresa. Fez o que pode e o que não pode. Que ninguém agora vá culpar o cara por isso. Era o que faltava”. E tudo isso aos gritos, enquanto as pessoas paravam para ver. Fui à agência que fiscaliza o transporte: nada podem fazer. Saí dali desolada e impotente”. Veja a história toda no Palavras Insurgentes
*O bispo é um pecador, é verdade, mas menos pecador do que muitos outros prelados da Igreja. Ele, ao gerar filhos, agiu como um homem comum. Outros foram muito mais adiante nos pecados da carne — sem falar em outros deslizes, da mesma gravidade — e têm sido “compreendidos” e protegidos pela alta hierarquia da Igreja. O maior pecado de Lugo é o de defender os pobres, de retornar aos postulados da Teologia da Libertação. Em - Santayana: O golpe no Paraguai e a Tríplice Fronteira, no Viomundo.

* Escuta, Zé Ninguém não foi necessariamente o trabalho mais importante de Wilhelm Reich, mas é uma obra preciosa a ser lida para quem quer compreender melhor como funciona as relações de poder na sociedade capitalista. Sobre a obra e esse autor leia um pouco aqui.

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