domingo, 16 de junho de 2013

As viagens interiores, um transporte em si, para sí

Como sobreviver em meio à contradição entre o que desejamos internamente e o que realmente as condições concretas de vida nos apresenta, senão por meio de uma viagem imaginária? Daí porque sustento que uma outra noção de mobilidade, de transportar-se é a que tem a ver com a própria imaginação. É essa uma viagem interior comum que fizemos seguidamente, e de algum modo tem a ver com a nossa sobrevivência enquanto seres espirituais que somos. 

Se trata de aqui de um mergulho para dentro de si, que estamos permanentemente realizando, em alguns momentos da vida de forma mais intensa. Em Passeios interiores, procurei certa vez explicitar isso por meio de uma crônica. Mas há ainda uma outra ilustração mais viva dessa viagem diária, que me remete a memória de minha infância (outra viagem) que é a de minha mãe me deixando diariamente para ir trabalhar. Ocorria ali - nela e em mim - um desligamento físico, que se compensava em um vínculo imaginário. 

Penso hoje sobre quantos milhões de crianças brasileiras passam por isso. Considero que tive uma infância feliz, mesmo com limitados recursos econômicos, tínhamos naquela época uma criatividade manual comum, que ajudava a sobreviver melhor afetivamente, em uma sociabilidade construtiva. Existia vizinhos mais solidários naquele período, acredito - que, inclusive, era um socorro às mães que tinham que trabalhar e as creches eram bem mais inacessíveis nas periferias.  

Mas daí, me vem a mente também a dramatização que essa distância pode ter na infância quando, ao invés de ela ser compensada por carinho é agravada por abusos, como seguidamente temos registros hoje. E, nesse caso, é um ser indefeso que está cercado, sem sequer a possibilidade driblar o pensamento. O vídeo abaixo apresenta um pouco do impacto emocional que isso pode vir a ter quando ocorre sobre um ser nos primeiros anos de vida.

A mente humana é um espaço complexo, no qual ainda temos pouco domínio. Houve um período da história em que, de forma mais intensa, procurou-se refugiar-se em outros mundo por meio de substâncias químicas e naturais. As motivações mudaram, mas as carências de driblar esse dilema entre o ser e querer ser, persistem. E as viagens também, lúcidas ou não.


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Se eu tinha alguma dúvida sobre o desprezo da mídia brasileira pela realidade nacional, desmanchou-se há pouco. O Brasil ferve em torno de uma pauta que contagia de norte ao sul e o "Fantástico" abre com um tema de seguros em viagens ao exterior; e quando dá o assunto, se resume a 2 ou 3 minutos. O telejornalismo só sobrevive com uma política de comunicação regulamentada e sob controle social. O resto é telenovela, reality shows e futebol. Ou seja, cerVeja.

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É decente reconhecer que com todos os equívocos, simplificações e generalizações que o movimento vigente está provocando, há um saldo positivo nesse fenômeno: A despeito da estupidez de comentaristas de Ibope, segmentos formadores de opinião da sociedade brasileira estão interiorizando uma agenda social - que não começou com isso e com a qual já estão engajados há décadas milhares brasileiros, inclusive políticos sérios. O mérito maior dessa provocação, todavia, se for adequadamente compreendido e canalizado nas decisões de interesse público, é que ela dá sinais de um reencantamento jovem com a política. É meio caminho para um engajamento amadurecido com a transformação concreta do País (para muito além de pintar a cara, pixar paredes ou dar flores a policiais).

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Por falar em abusos, vi ontem um depoimento audiovisual de uma menina norte-americana, que me deixou impressionado sobre até onde pode alcançar as marcas desse tipo de agressividade em um menor. Para os colegas das áreas de psicologia, serviço social e pedagogia, recomendo em especial esse material, singularmente chocante, mas necessário de ser conhecido.

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