Os atos em
evidência pelas capitais do País, agora também se estendendo pelas cidades das
regiões metropolitanas e interiores, podem ter um valor inestimável no processo
democrático, acredito, porque são sintomas do desenvolvimento deste; como
também podem assumir faces autoritárias incontroláveis. Quero crer que ainda é
possível se superar essa última hipótese.
Como a própria presidenta diz - e ela tem autoridade moral e
política para isso - seria um grande desperdício se todo esse vigor popular
deixasse de ser canalizado para dar impulsionalidade e sustentação às mudanças
de base que o País ainda carece, e que deram a largada no governo Lula,
reconheça quem justo e lúcido for.
Ocorre que o que está tendo visibilidade no domínio da pauta
dessa perigosa "metralhadora giratória" parece ser mais uma massa
despolitizada (no pior sentido), onde se encontraram, entre outras forças
históricas, segmentos grossos de uma geração 'to nem aí', com oportunistas de
plantão muito bem situados politicamente, ainda que sem bandeiras. Assinalo,
porém: tem muita, muita gente boa e positivamente articulada nesse meio, que
querem mesmo um País melhor, e não pretendem se valer da massa para provocar
desestabilidades golpistas; no entanto, as manifestações visíveis sinalizam o
progressivo esvaziamento destes atores nos atos. Quero estar enganado. E a
probabilidade de estar é grande, porque analisamos no calor da hora.
Em meio a isso, é notável que "comentaristas de dramas
sociais", que abundam nas telinhas e nos microfones tradicionais, surfam com
estigmas e simplificações nessa confusão de foco, legitimando um discurso
construído pela própria mídia para explicar o clamor popular - como, aliás,
sempre o fazem com endosso público expressivo, graças exatamente a essa
despolitização ansiada por discursos pré-fascistas como os do
"sem-bandeiras".
Seja como for, há uma encruzilhada. Pela frente, se
apresenta a perspectiva de dois Brasis, que gritam há décadas, mas que tiveram
marcos de expressão, como nas manifestações em torno das Reformas de Base e nas
Diretas, cada um atuando em uma direção. Em meio a essas duas grandes miras,
institucionalmente falando, há vários outros movimentos e aspirações, mas
estruturalmente, o horizonte de nossa história de longo prazo se divide em
dois.
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