segunda-feira, 15 de julho de 2013

Transformações de dentro para fora, e vice-versa

A violência está solta nas ruas mesmo, e sob várias faces. Ao sair do hospital em que fui ver meu pai hoje, deparo com uma cena bizarra, de um homem de um sessenta anos estendido, com quase meio corpo para dentro do asfalto. No clima tenso, enquanto alguns paravam os carros para que não o atropelassem, um jovem de uns 30 e poucos anos andava de um lado ao outro. Ele gesticulava nervoso, dizendo que foi ele o autor do golpe que derrubou o outro, porque teria sido agredido, e agira em legítima defesa. A Samu chegou em instantes para o socorro, e esse suposto autor da ação prosseguia gritando e dizendo que foi ele, ao que provocou a ira de alguns que estavam por ali, que partiram para cima dele, enquanto aquele era atendido pelos socorristas. Uma discussão de trânsito teria sido o motivo da briga, contaram alguns presentes. No trânsito, as discussões se acirram de maneira impressionante. Disse certa o antropólogo Roberto da Mata que atualmente as pessoas converteram os seus veículos motorizados em extensão do próprio corpo; quando um arranhão que seja é feito no carro, é como arranhado estivesse o corpo de seu proprietário, tal é o cuidado e a ira pela sua proteção. Faz sentido. Se aliarmos a isso o stress dos engarrafamentos, buzinas, indisciplinas e outras predominâncias que vivemos nas ruas urbanas entre o movimento de motores e pessoas, temos um caldo da cultura de uma sociedade a flor da pele. É preciso um outro comportamento. Mas, para isso, é preciso também se pensar um e fazer acontecer um novo trânsito, onde as pessoas, os seres vivos sejam o centro de tudo, não as máquinas. Antes que se torne tarde para consertar os corações enferrujados de pressa e de medo.
Tenho me enxergado melhor, a cada dia, que estamos todos inseridos em um circuito forte e impositivo, chamado ordem social. Na realidade, muito se fala nisso em discurso por aí, mas outra coisa é enxergar e sentir isso no cotidiano. Tem a ver com opções perversas ao normal. Trata-se de um enorme campo de força concatenado pelas pequenas atitudes que tomamos. E quando divergimos dessa direção, que nada fácil é, outras possibilidades se abrem e pessoas diferentes passam a se aproximar de nós. Pessoas e outros seres vivos. Desconfio que isso tem a ver com energias.

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