Dia bem aproveitado, após um sábado cheio de bate-papos e memórias com meu amigo Juan Corvalán, dormi muito bem hoje, com direito ao espetáculo Burrinha da Saudade, encerrando a mostra Persistência e Pé na Tábua.
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"Para o psicanalista austríaco Wilhelm Reich, além de proporcionar prazer, a função do orgasmo é produzir uma carga energética poderosa capaz de dissolver a “couraça neuromuscular do caráter” de indivíduos bloqueados pelas exigências de uma sociedade hierarquizada em que a sexualidade é oprimida.". Via Lucas Salazar. Reportagem completa, de Carla Rodrigues, na Trip.
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"Para o psicanalista austríaco Wilhelm Reich, além de proporcionar prazer, a função do orgasmo é produzir uma carga energética poderosa capaz de dissolver a “couraça neuromuscular do caráter” de indivíduos bloqueados pelas exigências de uma sociedade hierarquizada em que a sexualidade é oprimida.". Via Lucas Salazar. Reportagem completa, de Carla Rodrigues, na Trip.
As Palavras Aprisionadas
Na dica de Elaine Tavares, reproduzido de Andredeak.
...Nenhum jornalista brasileiro chegou tão perto da emoção
nacional como ele. O seu texto tem sido para nós o estabelecimento dos ritmos
do coração, o registro do som que bate nas veias da nossa gente (..) uma visão
dolorida do real (Jacob Klintowitz, contra-capa)
Por Marcos Faerman*
Texto extraído do livro Com as mãos sujas de sangue, 1979.
(Global Editora)
O repórter e sua perplexidade. O repórter tem diante de si a
realidade. A realidade é a natureza e os outros homens. Como entender o mundo
que nos rodeia? Como entender os conflitos, as mentiras aparentes, as verdades
ocultas? Que instrumentos usar na hora da revelação?
Saindo da abstração. O repórter tem diante de si a realidade.
A realidade pode ser um homem encolhido à beira de um rio. O repórter é um ser
em disponibilidade. Esta é quase que sua essência. Ele está à disposição dos
'chefes', do jornal em que trabalha. Cumpre horários, ordens. Num dia qualquer,
uma hora qualquer é mandado para um lugar qualquer. É sempre assim. Ele poderá
ter diante de si este homem ajoelhado no barro, olhando para um rio. O repórter
olha para este homem. Procura saber sua história. A reportagem pedida: a vida
de uma aldeia à beira de um rio corroído pelo mercúrio que mata os peixes que
alimentam os homens.
O repórter e sua perplexidade. O repórter recebe ordens. O
repórter diante da pauta. Os problemas de um Estado diante da poluição. O que
dizem as autoridades. O que diz o povo. O que dizem os industriais. As técnicas
do repórter? O papel, a caneta Bic, o gravador. Os olhares das pessoas para ele
como o olhar daquele homem ajoelhado à beira do rio, não dá para esquecer. Um
homem de roupas rasgadas, um pescador, que me fala com uma linguagem confusa
como o vento que bate na água. Uma canoa parada no rio e uma rede. O olhar do
repórter que cai em suas mãos. Mãos cortadas pelo barro.
Os direitos do repórter e do jornal. A lembrança, diante
daquele homem, das perguntas de um outro repórter, das inquietações de outro
repórter diante de outra realidade. Parece-me curioso, para não dizer obsceno e
totalmente aterrorizante que pudesse ocorrer a um grupo de seres humanos
reunidos através da necessidade e do acaso, e por lucro, numa empresa, num
órgão jornalístico, intrometer-se intimamente nas vidas de um indefeso e
arruinado grupo de seres humanos, uma ignorante e abandonada família rural, com
o propósito de exigir a nudez, a humilhação e a inferioridade destas vidas, em
nome da ciência, do 'jornalismo honesto', da humanidade e do destemor.
Saindo da abstração. O repórter em busca da realidade. Com a
sua sensibilidade. Com a sua insensibilidade. Em nome de uma empresa
jornalística. Ouvindo histórias das vidas dos outros. Sugando dos outros a
única coisa que eles têm, além do corpo nu: uma história, a sua vida, a sua
perplexidade, as suas próprias dúvidas e pequenas verdades (e separa grande
medo). E o que ele ouviu que era 'jornalismo'. E uma linguagem que lhe disseram
que era jornalística. Como esta linguagem que lhe disseram ser 'jornalística'
se adequa aos olhos e às mãos daquele homem à beira do rio?
As lembranças do repórter. 'Tudo isto me parece curioso,
obsceno, aterrorizante', disse certa vez um repórter. James Agee, de quem fiz a
citação anterior. James Agee. Um repórter. Era um garoto quando a Life lhe
pediu a história de algumas famílias rurais na época da Depressão dos EUA, de
onde nasceu uma espantosa reportagem, Louvemos Agora os Grandes Homens. A Life
rejeitou a reportagem de Agee por considerá-la anti-jornalística. Agee
descrevia com minúcias até a respiração do pesado sono de trabalhador.
Construiu um documento eterno. Seu relato é obra à altura de Steinbeck, John
dos Passos, Faulkner. Quem quiser saber alguma coisa sobre a vida camponesa nos
anos 30 terá que ler este relato que a Life rejeitou. O relato seria publicado
na forma de livro. Trinta anos depois seria editado numa coleção de
Antropologia dirigida por Lévi Strauss. Da rejeição em nome do jornalismo para
a glória (as famílias camponesas assassinadas em nome do jornalismo
renasceram!).
O repórter e sua formação. Todas estas idéias nascendo na
cabeça do repórter a partir da questão da Linguagem da imprensa. A certeza que
o repórter tem de que muitos colegas ainda têm na cabeça o mito do texto
jornalístico e do texto anti-jornalístico. A certeza de que em nome do
jornalismo muitos colegas rejeitariam o texto de Agee e muitos outros textos. A
questão do 'texto objetivo'. A pergunta: que texto é esse? Onde nascem e com
quem a técnica jornalística ensinada pelo que é publicado nos jornais e
revistas, e pelas 'Escolas de Comunicação'. Onde nasceram e como as idéias de
objetividade e neutralidade? Uma resposta possível: este texto jornalístico,
esta linguagem fluente nos jornais surge com a estruturação da imprensa em
forma de empresa/imprensa; empresas ligadas diretamente a determinada forma de
organização da sociedade, o capitalismo. A linguagem da imprensa
norte-americana se disseminando pelo mundo. A expansão de um Império e das
idéias que o justificam.
Ainda a formação do repórter. A linguagem oficial da
imprensa é defendida por muitos jornalistas. Ou não discutida. Ela é implantada
nos jornais por jornalistas. Os Vigilantes do Texto. Às vezes, os Policiais do
Texto. Uma arma na mão, a caneta. O direito que ganham de modificar o texto. O
texto nasce do olhar do repórter sobre a realidade. Mas um olhar que não baixou
para a realidade pode modificar as palavras. A defesa de uma linguagem. O
esquecimento de que a 'linguagem vem sempre de algum lugar'. De que a linguagem
está sempre referida a uma classe social, a um grupo humano. E de que há uma
linguagem do poder, como há uma linguagem de crítica ao poder. O quanto pode a
linguagem do poder ser disseminada pela realidade toda, preenchendo até a
linguagem dos sonhos, até se tornar uma linguagem aparentemente neutra e
objetiva? (Barthes. Barthes. Barthes.) A linguagem do poder alcançando até o
espaço último do senso comum. Pensar em tudo isto. E ainda analisar a forma
como esta linguagem se confunde com a expressão jornalística.
Saindo da abstração. O retorno ao rio, àquele homem. A
responsabilidade diante dele, daquele momento. A necessidade: saber ouvir,
saber descrever. A linguagem pode chegar ao real? (Discussões: o que é o real,
etc.) O jargão Jornalístico/Economicista/Sociologuês/ pode captar esta
realidade? Mas é aquele homem que devemos descrever, não uma abstração! Será
que é ser "literato" abrir meu mundo para aquele homem, absorver a
sua realidade, a sua linguagem - achar as palavras certas para revelá-lo? E uma
outra idéia: a relação entre as palavras que surgem da máquina de escrever, e
aquele homem.
Ficção e realidade. Algumas idéias, a partir de James Agee.
Numa novela, uma casa ou uma pessoa tem seu significado, sua existência,
inteiramente a partir do escritor. No jornalismo, uma casa ou pessoa tem apenas
o mais limitado dos seus significados através do repórter. Seu verdadeiro
significado é muito maior. O personagem existe num ser concreto, como você e
eu. 'Seu grande mistério, peso e dignidade estão neste fato'. Outra questão: o
jornalismo é James Agee, García Márquez, Eduardo Galeano, Heródoto, René
Chateaubriand, Norman Mailer, Euclides da Cunha eis os nomes de alguns
repórteres. O jornalismo de Agee é menos literário do que a sua ficção? O
jornalismo de Norman Mailer é menos literário do que sua ficção? O jornalismo é
um método: trabalha como instrumento de descoberta de uma realidade, com formas
próprias, anotações, pesquisa. Outra idéia: o pensamento escolástico
contemporâneo, os intelectuais de gabinete, o pensamento universitário
preservando a Arte e a Literatura com Maiúsculas. Esquecendo em nome do
Elitismo o sentido mais contemporâneo do conceito de Escrita. Uma última
idéia: muito da melhor literatura brasileira desta década vai ser descoberta
(quando???) em alguns jornais e algumas revistas (por quem???).
Manifesto de libertação da palavra. A busca de uma realidade
exige uma linguagem capaz de captá-la. Esta linguagem não é uma fuga (tese dos
populistas chulos, contra os revolucionários chucros). É o único caminho para
nos levar à débil captação de uma sociedade e de suas contradições. E da única
coisa que interessa: o ser humano sufocado em sua vontade de ser.
*Saiba mais:
Um tributo: Marcos Faerman e a poética do confronto
Um ensaio de Faerman: O crime no novo jornalismo
62 obras sobre os principais pensadores da educação para download
Reproduzido de: Revista Bula
O Ministério
da Educação, em parceria com a Unesco e a Fundação Joaquim Nabuco,
disponibiliza para download a Coleção Educadores, uma série com 62
livros sobre personalidades da educação. A coleção traz ensaios biográficos
sobre 30 pensadores brasileiros, 30 estrangeiros, e dois manifestos:
“Pioneiros da Educação Nova”, de 1932, e “Educadores”, de 1959. A escolha
dos nomes para compor a coleção foi feita por representantes de instituições
educacionais, universidades e Unesco.
O critério
para a escolha foi reconhecimento histórico e o alcance de suas
reflexões e contribuições para o avanço da educação no mundo. No Brasil,
o trabalho de pesquisa foi feito por profissionais do Instituto Paulo
Freire. No plano internacional, foi traduzida a coleção Penseurs
de l’éducation, organizada pelo International Bureau of Education
(IBE) da Unesco, em Genebra, que reúne alguns dos maiores pensadores
da educação de todos os tempos e culturas.
Veja também
Integram a
coleção os seguintes educadores/pensadores: Alceu Amoroso Lima,
Alfred Binet, Almeida Júnior, Andrés Bello, Anton Makarenko, Antonio
Gramsci, Anísio Teixeira, Aparecida Joly Gouveia, Armanda Álvaro Alberto,
Azeredo Coutinho, Bertha Lutz, Bogdan Suchodolski, Carl Rogers, Cecília
Meireles, Celso Sucow da Fonseca, Célestin Freinet, Darcy Ribeiro,
Domingo Sarmiento, Durmeval Trigueiro, Edgard Roquette-Pinto, Fernando
de Azevedo, Florestan Fernandes, Frederic Skinner, Friedrich Fröbel,
Friedrich Hegel, Frota Pessoa, Georg Kerschensteiner,
Gilberto Freyre, Gustavo Capanema, Heitor Villa-Lobos, Helena Antipoff,
Henri Wallon, Humberto Mauro, Ivan Illich, Jan Amos Comênio, Jean Piaget,
Jean-Jacques Rousseau, Jean-Ovide Decroly, Johann Herbart, Johann Pestalozzi,
John Dewey, José Martí, José Mário Pires Azanha, José Pedro Varela,
Júlio de Mesquita Filho, Liev Semionovich Vygotsky, Lourenço Filho,
Manoel Bomfim, Manuel da Nóbrega, Maria Montessori, Nísia Floresta,
Ortega y Gasset, Paschoal Lemme, Paulo Freire, Roger Cousinet, Rui
Barbosa, Sampaio Dória, Sigmund Freud,Valnir Chagas, Édouaqui.
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