sábado, 30 de julho de 2016

Provocações do Tião: Glyphosate na lavoura, na água, na merenda e nos intenstinos - que M. é essa?! - grita o biopoder camponês

 Sebastião Pinheiro*

A colega Raniera solicitou informações sobre a água de Porto Alegre. Meu sarcasmo pampeano permite intitular essa resposta: Do “bigstick” de Eisenhower ao tapinha nas costas de Obama.

O livro “The Second Brain” (O Segundo Cérebro), do médico Michael Gershon, é “Best Seller”, e causa comoção ao denunciar a destruição pelos hábitos de vida impostos pelo “Complexo agro-industrial, alimentar, financeiro (agronegócios).

Quando o Brasil reatou relações diplomáticas com a China - suspensas dez anos antes, quando a missão diplomática daquele país foi presa, expropriada de seu dinheiro, condenada, e posteriormente, indultada e expulsa nos dias seguintes ao golpe militar (Foto1) - há 42 anos, em Brasília, o ditador Geisel recebeu a nova comitiva chinesa (Foto2) e, para luzir sua ação social naquele, então a palavra Social nem constava no nome e sigla do BNDE.  Teria dito aos comunistas asiáticos que toda criança na escola brasileira recebia uma merenda escolar.



O pobre tradutor chinês da missão ficou numa saia justa, pois não conseguia traduzir a intenção das palavras do ditador sobre o termo merenda. O tradutor brasileiro tentou explicar, mas a comitiva estrangeira não conseguia entender o porquê de se comer na escola de um turno. Depois de algum nervosismo e sorrisos amarelos dos locais, o chefe da delegação foi claro e objetivo: “Na China toda criança sai de sua casa o suficientemente alimentada para não necessitar comer na escola, pois isso prejudica o seu aprendizado”. 

A parte final da tradução para o português ficou incompleta, graças ao “desconfiometro” do tradutor nacional, e até mesmos os estrangeiros entenderam.

Primeiro a “cantina”, e depois a merenda escolar, desde então, continuam sendo um dos itens de maior corrupção na educação do país pelo interesse da indústria de alimentos. O INAN e PRONAN foram criados pela lei 5.829/72 e regulamentado pelo Decreto 72.034 de 31 de março de 1973, um dia antes do décimo aniversário do golpe militar, pelo carrasco Médici, mas as políticas do SAN começaram no Estado Novo no interesse da indústria futura (No Colégio Batista Brasileiro, em 1954, todos os alunos receberam creme dental e escova da Kolynos, que ensinou a escovar os dentes, e logo em seguida, a Nestlé distribuiu jogos e latinhas de Nescau).

Já passou mais de meio século de muita euforia e milhões de crianças continuam, tanto mal educadas, quanto famélicas, recebendo sua única alimentação na escola ou complementando-a com o “Bolsa Família”, que carece de qualidade.

O que preocupava o embaixador chinês agora é exponencial.

Itamar Franco pretendeu acabar com a mega corrupção, ao municipalizar a merenda escolar, através da Lei 8.913 de 1994. Contudo, o estado de SC deu um exemplo, ao exigir que a alimentação escolar fosse natural e orgânica, com a Lei 12.601 de 18 de Dezembro de 2001.

Antecipando-se, o governo federal editou a medida provisória N. 2178-36, centralizando os recursos para a aquisição da mesma, ludibriando a qualidade e natural.

Com a Lei 11.947/09, o governo federal tornou monopólio a compra por entidades alinhadas a ele, e fez muito alarde e propaganda. As quantidades compradas nunca atendem a necessidade nacional, enquanto os gastos em propaganda sobre a referida política pública gastou pelo menos dez vezes aquele valor em proselitismo vazio e eleitoreiro, mas não política pública consolidada.

O tempo passou. A China é uma potencia mundial com astronautas, e mantém o alicerce comunista, mas sua nomenclatura veste “Armani” e usa sapato “Louis Viutton”; os daqui também, mas as crianças continuam com a tradicional merenda que, na maioria das vezes, é sopa instantânea, sardinha em lata, macarrão, arroz e Tangs, Q-sucos de todas as cores e sabores.

Infelizmente, com essa alimentação não vamos ter os cinco Prêmio Nobel que a Argentina tem, nem os três do México, os dois do Chile ou o de Peru, Colômbia e Guatemala. Nem nossas crianças serão selecionadas para a produção de matéria fecal para o OPENBIOME BANK do M.I.T, o que poderia, no futuro, transformar-se num segmento de recebimento de divisas maior que o de remessa dos trabalhadores no exterior. Nem terão seu “segundo cérebro” funcionando melhor para ajudar o desnutrido primeiro, sobrecarregado com a merenda e o estudo simultâneo.

Sobre a água de Porto Alegre/RS, que está com cheiro hediondo, George Orwell foi lapidar: “In a time of universal deceit, telling the truth is a revolutionary act” (Em tempo de fraude universal, dizer a verdade é um ato revolucionário). 

Mas, ao assistir a entrevista da secretária de Estado do Meio Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável/RS e ver o diretor do Departamento de Água e Esgoto da Prefeitura tomar água, lembrei o saudoso Lutzenberger quando a apresentadora Tânia Carvalho em entrevista ao eng. químico Millo Raffin, ele rebateu as informações técnicas:

“O que o tecnocrata está dizendo é que em cada copo de água potável distribuída pode haver uma colherinha de merda dissolvida”. Era época do Prefeito (indicado pela Marinha) Socias Villela no regime autoritário.

O tempo passou, envelheci e triste acompanho as informações que o cheiro presente na água é devido à Actinomicetes, um singelo absurdo. Buckminster Fuller ensina: “You never change things by fighting the existing reality. You change something by building a new world that makes the existing model obsolete” (Você nunca muda as coisas lutando contra a realidade existente. Você muda algo através da construção de um novo mundo que faz com que o modelo existente fique obsoleto). 

Ignorar não só ciência e tecnologia, mas, invariavelmente, a cordura e bom senso é a formação do tecnocrata heteronômico.

A hidrologia no RS mostra que mais de 33% da água passa pela cidade de Porto Alegre carregando tudo que, desde os limites das bacias é nela suspenso ou dissolvido. O tratamento de potabilidade e higienização física e química, já não consegue manter a qualidade biológica e a água perde vida.

O impacto dos resíduos de Glyphosate, que aumentou significativamente nos últimos 18 anos, é um poderoso quelador de todos os minerais. Minerais fundamentais no metabolismo da microbiota na água para sua purificação e qualidade. 

Os trabalhos científicos de Antony Samsel & Stephanie Seneff , do MIT sobre os impactos sanitários sobre o sistema enzimático dos citocromos (CYP) causando a depleção de sulfatos (Fe, Mn, Co, Mo y não formação do DMSO precursor do MSM, etc.) com um amplo espectro de alteração nos metabolismo de protistas, plantas e animais. Algas produzem toxinas altissimamente perigosas em épocas especiais do ano em blow up e o Glifosato provoca isso.

Cidadãos em sociedades soberanas não necessitam de adjetivos junto aos nomes para esclarecer valores, pois entendem a significação e o significado semântico nas coisas, senso comum ou consciência coletiva. Sociedades dominadas ou alienadas adoram adjetivos embelezando substantivos por não ter memória cívica.

Há aproximadamente 30 anos, começamos a escutar os termos: “segurança alimentar”, “sementes crioulas” e “sustentabilidade” repetidos de forma impertinente nos movimentos sociais, mídia, órgãos de governo, e, principalmente nos documentos dos organismos multilaterais. Sempre que uma ordem está a ser implantada os neologismos surgem para educar e aculturar consumidores e gestores políticos heteronômicos.

A repetição à exaustão por pessoas humildes leva ao messianismo, o que é bem explorado pelo poder e mercado.

O termo “segurança alimentar”, oriundo do desenvolvimentismo da sociedade industrial, através da SAN no Estado Novo foi substituído pelo de “soberania alimentar” da OMC, manipulado e induzido no meio político subalterno e posto ao serviço da indústria de alimentos, beneficiada com a troca.

No mundo, a maior indústria é a de alimentos e sua pretensão é libertar-se totalmente e definitivamente da agricultura e da natureza para seu poder supremo sobre a energia alimentar, o que significa crescimento continuo. Sugestivo, um irônico yankee diz: - É por isso a segunda indústria é a de medicamentos.

 Diversos artigos em revistas científicas começam a propalar o novo vocábulo: “segundo cérebro”, neologismo para os intestinos, pois o seu funcionamento garante a qualidade do “primeiro”, o mais vital do corpo. 

A ciência comprova que o funcionamento dos intestinos influi sobremaneira nos sistemas imunológico, endócrino e nevrálgico, através do cérebro [The enteric nervous system consists of some 500 million neurons,[6] (including the various types of Dogiel cells),[1][7] one two-hundredth of the number of neurons in the brain, and 5 times as many as the one hundred million neurons in the spinal cord.[8] The enteric nervous system is embedded in the lining of the gastrointestinal system, beginning in the esophagus and extending down to the anus.] wikipedia

Há quatro epidemias mundiais (Foto3):



Nele se enquadram:

- A “Doença Renal Crônica”, provocada pelo herbicida conforme os trabalhos dos cientistas acima;
- A “Epidemia crescente de Diabetes” detonada (despertar de genes) pelo efeito gatilho do referido agrotóxico.
- O “Autismo”, provocado pelo uso do referido herbicida aplicado sobre as sementes transgênicas; É afirmado que 50% das crianças nascidas nos EUA em 2032 serão autistas.
- A outra é a “Disbiose Intestinal” ou Síndrome do Intestino Irritável com mais de um milhão de pacientes e que já matou somente nos EUA 50 mil pessoas, pois a indústria de alimentos é hegemônica às refeições. Os principais agentes da disbiose são o Clostridium difficile e as Salmonelas. Estes dois patogênicos oportunistas são facilmente controlados por saprófitos através de sideróforos, mecanismo que somente os saprófitos dispõem para solubilizar os sais de ferro no ambiente tornando o metal indisponível para os patogênicos.

Os sideróforos são destruídos pela ação quelante do Glyphosate e a microflora perde diversidade, cuja persistência na água é termoestável até 370ºC e biologicamente indestrutível por ser bactericida e fungicida destruindo os ciclos do Enxofre, Nitrogênio e Oxigênio do Efeito Estufa da mudança climática. Quanto mais diversa e abundante a Microbiota Fecal (nos intestinos) mais facilmente são controladas os referidos patogênicos.

Embasados nos estudos da velha medicina chinesa, os cientistas e médicos norte-americanos optaram por uma solução menos radical, ideológica e mais rentável a “sopa dourada”. Uma sopa de excrementos, recém expelidos e naturais, administrada ao paciente. Este tratamento escatológico recebeu o pomposo nome de Transplante de Microbiota Fecal.

Seu desenvolvimento como biotecnologia de ponta trouxe a projeção de um mercado superior ao trilhão de dólares. Pelo que no Massachusetts Institute of Technology (M.I.T) foi criado o OPENBIOME BANK para a compra de excrementos humanos já representa um segmento de bilhões de dólares. Hoje, o pagamento é de 40 dólares por dose de fezes, além de um bônus de 10 dólares para a doação continua por cinco dias seguidos. O transplantado paga pelo menos mil vezes este valor.

O interessante é que médicos e cientistas nos Estados Unidos e México garantem que a epidemia tem sua exacerbação a partir dos resíduos de herbicida Glyphosate® nos alimentos transgênicos e água permitido legalmente. A U.S. EPA já aumentou em 233% sua tolerância nos alimentos.

Ocorre que o principio ativo do Roundup® foi registrado como fungicida e bactericida em 2014 pela Monsanto, precavendo-se de responsabilidades perante as autoridades sanitárias e povo norte-americano.

Em microbiologia molecular há o neologismo Metagenômica, (do grego: além da genômica). No intestino há uma diversidade de 4 a 6 x 1030 ( lê-se dez elevado à potencia 30): De 4 a 6.000.000.000.000.000.000.000.000.000.000 indivíduos, dos quais as técnicas tradicionais de cultivo em laboratório e identificação alcançam na atualidade somente 1%. 

Contudo, a biologia molecular permite extrair seu DNA/RNA, mas não identificá-los em separado.

Trabalhar com esse universo desconhecido exige mudanças radicais. Desde Pasteur, na saúde e Liebig, na indústria de alimentos e agricultura, o dogma é esterilização total e absoluta como base da higiene. 

Na Metagenômica, há um universo desconhecido que necessita ser identificado e conhecido para entender como faz funcionar melhor o primeiro cérebro descortinando um mundo biológico, econômico, financeiro gigantesco que fará tudo existente até agora ser comparado à descoberta da luz e do fogo. Este segmento científico, tecnológico, sanitário, industrial vale muitos bilhões de dólares.

Para as indústrias de Alimentos e Medicamentos, o Openbiome Bank, acelerador do axioma de liberdade da natureza, que, enquanto não chega, fará o que tem muito dinheiro comer orgânicos (vitalizados) certificados. Quem tiver pouco dinheiro tomará a “sopa dourada”, idem, certificada, quem não tiver sofrera as conseqüências da eugenia biológica, parte do seu dogma capitalista.

Se, a indústria de alimentos chama a endosimbiose em nosso intestino de “segundo cérebro” por razões mercadológicas, mais propriedade há em afirmar que a Microbiota do Solo que alimenta aquela diversidade através da Simbiogênese de Kozo-Poliansky (1924, baseado em “Apoio Mútuo de Kropotkin”, 1890) é muito mais o "segundo coração da humanidade", através da regência ético-moral camponesa, que professa a saúde no solo (Bio~poder camponês).

Quando o camponês recebeu a fórmula do biofertilizante sabia que os micróbios eram a nova ferramenta tecnológica, sem se preocupar com sua ação ou identidade, necessidade implícita da indústria de alimentos e sistema financeiro. 

Quando, por resistência, Julius Hensel começou a usar os pós de rochas não era necessário defini-lo como um "transplante de células-tronco da rocha-mãe" para a restauração do sistema imunológico do solo contaminado y degradado pela agricultura moderna que provoca a epidemia de disbiose em humanos, que agora procura sustentabilidade e soberania alimentar para os ricos, através da segurança mercantil de seus neologismos.

Em agroecologia, com Bio~poder camponês, se “elimina as causas” protege o “segundo coração” e elimina as desigualdades, através da saúde no solo, mas somente as "Pedagogia da Autonomia" e Pedagogia da Indignação (Paulo Freire) nos fazem entender que somos pós de estrelas ou “espíritos em jornada humana”, como alertou Teilhard du Chardin.


Na Sociedade Industrial periférica, “comer merda” é vendido como ciência de ponta, mas desconhecem metagenômica, mesmo quando a estudam. (Foto4) Crianças comem alimentos naturais em Chiapas (México), onde se pratica e exerce o biopoder camponês.



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*Engenheiro agrônomo, ambientalista e escritor

quinta-feira, 28 de julho de 2016

Chico César - Reis do Agronegócio (Estúdio Showlivre)


Vídeo da música "Reis do Agronegócio", apresentada ao vivo no Estúdio Showlivre, no dia 29 de abril de 2015.

segunda-feira, 25 de julho de 2016

Provocações do Tião: O problema é o Trumpismo, disse-me um leitor sem universidade


Sebastião Pinheiro*

O cientista Roberto da Mata, em entrevista à TV, afirmou que foi criança, em uma casa sem livros. Minha situação era pior, fiquei órfão muito cedo e forçado a “não chorar por não ter sapatos, pois haviam aqueles que não tinham o pé”. O primeiro nome do país independente foi “Império” do Brasil. Na casa onde morava ninguém era alfabetizado, pois escola era para a elite, logo, mesmo indo à escola, livro era supérfluo.

Aprendi a ler sozinho, antes dos 5 anos com outros primos que iam a escola. E, além do jornal O Dia, lia, emprestada pelo vizinho livreiro, as Seleções Reader’s Digest velhas que ele colecionava.

Ler e escrever é muito bom, mas lembro que tomei uma coça aos 11 anos por contestar meu tio, que rato velho não virava morcego, pois são espécies diferentes; Outro “tio” (as aspas, pois ele era casado com minha tia) me deu outra coça, pois ele disse “Orospoque”, para o helicóptero, e eu cai na asneira de corrigi-lo.

Hoje, a segurança que a leitura dá a TV retira, pois esconde a realidade ao não permitir a reflexão que ela traduz.

Meu assunto é a Convenção Republicana, seu início com os protestos generalizados, que me fez assistir os quatro dias, alternando CNN e FOX no show pirotécnico, algo difícil de digerir pelo pouco educativo, meus tios adorariam.

O bizarro eram as prédicas diárias de pastores religiosos que levavam os convencionais ao transe hipnótico. Discursos sem conteúdo ou qualidade, apenas fé partidária dos não contrafeitos a candidatura de Donald Trump. Foi uma avant premiére sobre a decadência do perigoso Império, que jamais ostentou este nome e para entender o melhor é ler Negri ou Lichtheim.

À frente da TV, recordei o canastrão Collor copiando os passos de Jânio Quadros, mas sob o “script” da Plim-Plim, como “caçador de marajás”, que teve até mesmo um Globo Repórter Especial para o prefeito nomeado de Maceió poder eleger-se governador. A leitura de permite reconhecer o coxo (rengo) sentado e o cego dormido.

Lembrei na época em que estávamos ultimando a constituição, quando o tresloucado desempregado Raimundo Nonato Alves da Conceição seqüestrou o avião da VASP no vôo 375, de 28 de setembro de 1988, e queria jogá-lo contra o Palácio do Planalto. Assassinou o co-piloto e baleou o engenheiro de vôo. Ele foi abatido por três tiros, mas morreu no hospital por “anemia falciforme”, uma anomalia genética sem nenhuma relação com os tiros dos “snypers”, conforme consta na Wikipédia, o laudo foi assinado pelo famoso legista Badan Palhares, que também atuou no assassinato e suicídio do PC Farias e namorada, contraditado por peritos de renome.

Sim, é da nossa índole o riso fácil, irresponsável, a pândega, galhofa ou troça herança da corte para o comportamento do povo.

Voltemos a Trump, os analistas yankees disseram, que o pior não é a eleição de Trump, mas o “trumpismo” como herança política na periferia do mundo. É isso que o Erdogan está fazendo? As corporações estimulam. Os analistas políticos yankees sabem que tudo lá já foi programado com antecedência de 50 anos no mínimo, bem diferente do que passa nas universidades periféricas caudatárias.

É razoável lembrar o “caçador de marajá” já governador de Alagoas, quando o Brasil conheceu uma tentativa de “11 de Setembro”, 23 anos antes e teria conhecido seu “Trump” também 27 anos antes, não fosse a intervenção do ex-presidente da Câmara Federal Eduardo Cunha ter descoberto um erro na filiação do apresentador Silvio Santos ao PMB que fez a justiça eleitoral impedir sua postulação (foto).

Em três dias de propaganda partidária ele superava o Collor e seria o Berlusconi caboclo, mas foi indeferido.

Antes de a convenção republicana começar os golpes e atentados já somavam quase mil mortos e o dobro de severamente feridos em menos de dez dias. Durante ela o tiro policial ao afro americano foi respondido por veteranos com o tiro ao policial. Não sai nos jornais o altíssimo índice de suicídios de veteranos do Iraque, Afeganistão, mas garanto que preocupa a ação dos dois veteranos. Será que eles aprenderam algo na cultura do Oriente Médio que despertou neles a reação? Qual o risco disto se alastrar como em 1968... A impressa não pode publicar o que está fora da pauta ou do script. Eis a liberdade.

A convenção terminou com mais duas situações esdrúxulas antes do sangrento atentado em Kabul; Os tresloucados 9 assassinatos em Munique; E no Brasil houve dez prisões de terroristas”... Desinformado, eu pensei que era a galhofa típica contra a corte e já começava a listar: Zika, Chikungunya, Caxumba, Dengue, Delação premiada, Preço do Feijão, Preço do Leite, Fila no Aeroporto, Gabinete do Senador, Água de Porto Alegre. Mas a coletiva de imprensa do Ministro da Justiça me intranqüilizou.

Foi o taxista quem me trouxe a tranqüilidade de volta com seu forte acento carioca: “O Dr. lembra a Greve na Siderúrgica Nacional, houve 3 mortos. Mas foram eleitos mais de vinte prefeitos nas eleições municipais e pelo menos 3 governadores no ano seguinte...” Eu não entendi e ele continuou: Esses presos da “Hashtag”, já começam a carreira política e quiçá algum possa chegar ao píncaro e soltou uma risadinhas sarcástica similar à do pica-pau rei da Mata Atlântica.

Ainda atônito, ao pagar a corrida, atrevi a perguntar-lhe: O Sr. lê muito, não é? - Sim, foi a única coisa que herdei de minha mãe, que me obrigava a ler todo o dia e escrever 30 linhas sobre temas que ela criava.

Voltei para casa e entendi a convenção republicana: O que aconteceu na Bósnia e Kosovo não foi só um problema racial, nem intolerância religiosa. Tanto o Império, quanto as corporações não permitem existir uma fé (igreja) descentralizada; nem meios de comunicação ou escolas fora do script, por isso tanta língua de aluguel diz bobagem sobre escola e ideologia sem ler os 14 livros de Paulo Freire, um advogado desiludido, que se tornou o maior educador do Século.


Se Trump ganha ou não é de menos, mas Ted Cruz seguramente será o César seguinte ao próximo. O resto é outro carnaval, como dizia o vô Nono.
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*Enhenheiro agrônomo e florestal, ambientalista e escritor

domingo, 24 de julho de 2016

Eva e Lola, história de duas vidas roubadas

Uma cicatriz histórica se faz presente no cinema argentino, seja que gênero for. Os dramas gerados pelas restrições democráticas naquele País, durante uma das ditaduras mais sangrentas do continente, foram muito além da censura e deixaram marcas latentes em toda a população.

E o cinema, arte que reflete vivamente a vida social, não poderia deixar de expressar isso, em uma espécie de inconsciente coletivo.

Em “Eva e Lola” (2010), Sabrina Farji parte desse contexto para contar a história de duas amigas, colegas de trabalho em uma casa noturna. Ambas representam dois pólos de um mesmo drama coletivo: uma é filha de um militante morto nos porões da temida Escola Superior de Mecânica da Armada, a ESMA; e Lola, filha (seqüestrada) e assumida por um casal, cujo pai é um ex-torturador, que se encontra com a saúde debilitada.

Sobre a vida de ambas amigas está esse peso, que é, ao mesmo tempo, uma busca – de uma identidade – e uma fuga e um vazio que o passado deixou.

Administrar isso, em uma relação entre duas pessoas que tem tanto em comum, e ao mesmo tempo, sensibilidades diferentes em encarar sua realidade, é um desafio para a manutenção dessa amizade, e ao mesmo tempo que uma prova de fogo, sobre a possibilidade de superar uma dor para que a própria existência se torne menos amarga.


O clima natalino dá um toque mais profundo nesse conflito constante de acertos com as memórias e o tempo. No meio disso tudo, o amor romântico - na medida e no tempo que ele tem pra florescer.

terça-feira, 5 de julho de 2016

Paulina - SOBRE VIOLÊNCIAS E REAÇÕES CONTROVERSAS


Estava há alguns dias pra comentar algo sobre esse filme. Nesses tempos de extremos, em que a violência contra a mulher ocupa a centralidade de diversas outras violências, é pertinente, sempre, tentar compreender. Se é fato que a espécie humana, dita racional ,tem liberado impulsos que assustam, não é menos verdade que as reações do Estado ao crime sexual - em suas variadas formas- andam, invariavelmente, distantes e alienadas de qualquer resposta propositiva à transformação desses comportamentos - em geral, ao contrário, facilitam a perpetuação de sua cultura, eepecialmente entre celas. Santiago Mitre, audaciosamente, em direção oposta ao senso comum, põe uma lupa sobre a questão, abordando essa temática por uma órbita surpreendente: um estupro no meio rural, em que a vítima (Dolores Fonzi) é uma estranha ao contexto e que se posiciona na contramão das expectativas. Paulina (Argentina, Brasil - 2015 - 103min) vale a pena ser conferido, não apenas por ser tão próximo de nós geográfica e psicologicamente, mas, sobretudo, porque contrasta com a pobreza de argumentação a respeito do que ainda nos resta para reagir aos comportamentos que municiam o discurso sobre a negação da viabilidade do equilíbrio de nossa raça, contra os caminhos do medo, da dor, do ódio, da clausura ou da morte.