terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Berço de Lata



QQ SEMELHANÇA COM UM ESTADO BRASILEIRO, NÃO É ACASO. "O grupo “Fat Soldiers” é um dos nomes que tem ganhado espaço no rap angolano. Formado por Soldier V, Timomy e Daniel A.K.A.M.P, o grupo começou seu percurso em 2010 com o lançamento da primeira mixtape, “Mentes da Rua”. Com músicas políticas, “Fat Soldiers” tem denunciado a vida dos pobres e dos oprimidos. "Berço de Lata" é o segundo single do disco “Sobreviventes vol. 1”, que consiste em um discurso contra a pobreza, a ignorância e a miséria." F: Soundcloud e Cenas que Curto.

A atualidade em Hannah Arendt


assustadoramente atual. "Eichmann ficava abatido ao visitar os campos de concentração, mas para participar de assassinatos em massa precisava apenas sentar-se em seu gabinete e mexer em seus papéis. Por sua vez, o homem do campo que acionava as câmaras de gás podia justificar a sua conduta dizendo que estava apenas cumprindo ordens superiores. A pessoa que assume total responsabilidade pelo ato evaporou-se. Talvez seja esta a mais comum característica do mal, socialmente organizado, da sociedade moderna.“ STANLEY MILGRAM, Obediência à Autoridade, p. 28.



sábado, 24 de fevereiro de 2018

PLANTANDO E COLHENDO MUITO ALÉM DE FRUTAS


  Ia só lembrar aqui, como registrei outras vezes, o valor de uma horta e um pomar doméstico, para além da saúde mental, das relações de sociabilidade que pode criar; sobre o pé de Araçá aqui de casa, que dá tanto, que, pra não desperdiçar, costumo distribuir aos vizinhos  
- e estes, volta e meia retribuem, generosamente, com alguma fruta ou produção artesanal própria, como o Mateus, que me trouxe há pouco uma bacia de butiás; ou como a minha vizinha Joelma, dias depois de eu deixar-lhe uns araçás para provar, retornou o pote com um belo pedaço de bolo de chocolate. Então, ia falar, de novo, o quanto é valiosa essa cultura de troca, de um “comunismo primitivo” e belo, como lembro bem a colega Márcia Camarano. 



Mas, aí, resolvi aproveitar e buscar alguns comentários, e até uma poesia, retirados de arquivos do próprio Face, desse nível de abordagem da vida local,  a partir de alguns bairros que passei ou morei, os quais reproduzo, com algumas fotos, pela pertinência do que quero tratar; dos valores discretos e silenciosos que nos cercam, incluindo uma poesia sobre um certo bairro da RMPA.

PONTO DE VISTA. Saindo da Orla, avisto uma jovem de uns 15 anos tendo uma leve queda, ao saltar ra calçada para a avenida, em uma  manobra de skate arriscada. Após ouvir dela, diante de minha manifesta preocupação, q está tudo bem, pergunto se não há pista de skate no povoado, ao q ela dispara: "Tem não, aqui nesse Francês não tem nada". Olho pra ela e o imenso mar verde q tem atrás de si e fico em um silêncio confuso entre a lástima e a admiração. (Marechal Deodoro, Al, junho, 2016)


 NO INTERIOR DE SP, HÁ UNS 10 ANOS, MOREI EM UMA RUA CHAMADA ALAMEDA DAS AZALEIAS, NO BAIRRO CHAMADO CIDADE JARDIM, ONDE CADA RUA TEM O NOME DE UMA ÁRVORE.




ARAÇÁ MADURINHO, DIRETO DO PÉ? TEMOS! Sim, a Natureza é generosa com todos, ainda q o capitalismo atice o individualismo nos espíritos humanos. Se cada um plantasse um pé de uma fruta ou hortaliça em sua calçada, teríamos uma gigante fruteira a céu aberto, de graça e para todos; mas... (Fevereiro, Alvorada, 2017)


 Um giro do Centro ao Mathias transforma o tempo e a paisagem da alma / Pela tarde, o fervilhar do sábado se transfere para cantos anônimos, mas cheio de vida / Entre o frio seco do shopping e o calor chuvoso dos arredores da rodovia, sorvetes, cinema, churrasquinhos e pés sujos / Transita entre os corpos por aí uma confluência que extravasa a rotina da caixa registradora / As cavidades das testas e as fachadas com janelões descascam frestas de outras Canoas


 / Misturam à paisagem gelada um quente cheiro de saudade / O clima parado e a brisa de silêncio rimam com chimarrão, praça ou calçada; para outros, a sorte no bailão / E na mesa do bar, em meio ao pretexto da cachaça triste, ou da cerveja alegre, se despertam histórias e sorrisos / Que socorrem o coração de uma modernidade apressada e veloz / Vai, então, a imaginação de um trem ao outro, sem pressa de descer na próxima estação / Sob essa sombra do tempo, mais ao Centro, um avião atento vigia a implacável passagem da história / 

Foto: PMC
Debaixo das asas, entre interiores e capitais, um tapete de cimento e piche dá liga às corridas por outros amanhãs... ... de sonhos, medos e mudanças. (Canoas, RS, Jan, 2017)

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

Cyrano Fernandez


A literatura, como a arte em geral, tem sua perenidade na linguagem universal profunda com que são retratadas certas obras, e isso faz toda a diferença entre um trabalho que modifica olhares e um mero produto da/para indústria cultural. É o que se vê em Cyrano Fernandez (Alberto Arvelo, Venezuela, 2007).  Essa produção latino-americana é uma versão da obra francesa Cyrano de Bergerac, que narra a saga de um militar, pensador e escritor parisiense do século XVII, e que tornou-se um clássico, transposto para a literatura e o cinema por autores de vários Países. A habilidade com as palavras e com a espada (no caso latino, a pistola) é uma dupla qualidade de Cyrano, que contrasta com sua aparência rude, que não seduz sua prima, Roxele (Jessica Grau). Esta, guarda seu amor para Cristian (Pastor Oviedo), o terceiro personagem desse triângulo romântico; nele, Cyrano é cercado pela contingência de assumir o papel de redator das cartas de amor do homem que corteja a mulher que ele ama, mas que sequer imagina a intensidade de seu sentimento. Em meio ao submundo violento do narcotráfico, na periferia de Caracas, Arvelo trabalha com sutileza dos extremos da gangorra da existência, que povoam todos nós: Beleza e Estranheza; Morte e Amor; Violência e Ternura, etc. O ator Edgar Ramirez, nesse aspecto, interpreta com maestria tais bipolaridades.  Nesses tempos de caricaturas políticas e tragédias sociais, é sempre revigorante ver um registro épico adaptado às possibilidades dramáticas que a vida na cidade alcançou, tanto para o bem quanto para o mal.



sábado, 17 de fevereiro de 2018

DA INTERVENÇÃO ELEITORAL.

Foto: Jornal GGN

"Não existe crime organizado que não tenha chancela, convivência, conivência e conveniência com setores do estado (...) a primeira coisa que não temos é mecanismos de governabilidade das polícias do Brasil (...) é preciso fazer do limão uma limonada; se tem uma intervenção, porque o RJ está ingovernável, é fundamental que se tenha uma auditoria imediata na PM, na PC, no CB e no sistema prisional, e é necessário observação externa e internacional (...) estamos diante de uma temporada de abertura das chantagens corporativas e das negociatas da segurança. Que Deus nos proteja".

Professora Jaqueline Muniz, Dep. Segurança Pública da UFF

Confira entrevista completa aqui.


terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

"O FINAL FELIZ DEPENDE DE ONDE VOCÊ COLOCA O PONTO”



Uma viagem carregada de incertezas, mudanças e metáforas. Assim é “Qué tan lejos?” (Tânia Hermida, Equador, 2006). Esperanza (Tania Martínez), una turista espanhola, e Tristeza (Cecilia Vallejo), uma acadêmica equatoriana, com objetivos diferentes, se conhecem em uma viagem de ônibus, interrompida pelo protestos na estrada. A partir disso, inicia um percurso de direção incerta pelo interior do Equador. Nos diálogos dessa trajetória, na qual se inserem outros personagens - com destaque para "Jesus" - misturam-se questões de valores, de relacionamento e de família, sempre sob o fundo de paisagens andinas transcendentais; além da fotografia, os contrastes entre as personalidades dos protagonistas é um elemento de interessantes singularidades.

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

UMA FILME INFANTIL PARA ADULTOS.

Pra quem cresceu se impressionando com os monstros dos seriados orientais, para os quais sempre havia um herói que derrotasse, "Esperança" (Hope, Korea, 2013) é um chute no fígado; retrata um golpe frio e cruel sobre uma infância indefesa, que faz ter saudades daqueles monstros das séries de TV. Com oito anos, quando estava caminhando rumo a sua escola, em uma manhã chuvosa, So-won (Lee Re), sofre um estupro horrível. Submetida a uma complexa cirurgia, além dos danos físicos, a menina é afetada emocionalmente para sempre. Para superar isso, os pais, com a polícia, os enfermeiros, os vizinhos e os amigos compõe uma rede de apoio, que se torna vital para a recuperação da vítima. Sob uma linguagem metafórica, tanto quanto possível em um drama tão vivo, Hope é um filme que fala de violências, de como uma vítima pode o ser várias vezes, de vários jeitos; mas também fala de esperança, de amor e de renascimentos.

domingo, 11 de fevereiro de 2018

E O PESSOAL VAI ME PODER ME VER?!















Manhã de domingo de carnaval é silêncio de cemitério na vila e deserto no campinho... mas, pera, nem tanto; ao longe, se move um sujeito em movimentos de trabalho. Se aproximando aos poucos, se confirma do que se trata, é Porquinho. Dá pra identificar também por Elton Quadrado da Silva, ma aí fica mais anônimo ainda.

Porquinho, este sim é o cara que marcou gerações de meninos que corriam nas peladas de futebol do Agriter entre os anos 70 e 80 – entre eles, este que vos escreve . Alguns iniciados por Porquinho no futebol enveredaram até pela carreira profissional; outros, infelizmente, decaíram pela dependência das drogas ilícitas, que concorriam as atenções dos garotos, já naquelas décadas. 

De qualquer modo, é uma multidão de gente que, onde quer que esteja, não pode esquecer desse treinador de timezinhos de várzea, já quase sexagenário, e que ainda segue a sua vida sempre informal, distribuída entre biscates (trabalhos eventuais a domicílio), relacionamentos livres e seus jogos de fim de semana, hoje já na categoria Master.

Na ocasião em que encontrei-lhe, nesta manhã, recolhia a grama solta que cobria toda extensão do campo, que a prefeitura baixou com máquina, mas deixou por cima, e ele, voluntariamente, se pôs a tirar. 

“Vamos precisar do campo pra jogar, comentei com os meninos que estavam ali, se queriam pegar um carrinho pra me ajudar, mas só riram. Se alguém quiser me dar um troco, eu aceito, claro”, comenta ele, sem parar de recolher o mato ainda verde, para encher outro carrinho e levar outra carga para as beiradas do campo. 


O tempo passou, e muitos atletas que ouviram os gritos de Porquinho durante jogos amistosos e oficiais já estão adultos, com famílias, e alguns, pais de novos meninos para correr no mesmo campinho.

Pessoas como Porquinho, em geral, não cabem dentro dos ditames quadrados que a nossa sociedade considera como normal, pois nem sempre se ajustam em conceitos como “Trabalhador Qualificado”, “Chefe de Família”, “Pessoa Direita”, “Bem-Sucedido” ou “Mulher Casada”, “Dona de Casa”, “Mãe Respeitadora”, “Estudante”, e assim por diante. 

Isto porque, por circunstâncias estranhas, às vezes, à si mesmo, percorreram caminhos árduos, em que a luta pela sobrevivência não deixou espaço para mais nada. 


Integram um amplo espectro social suburbano formado por trabalhadores informais, dependentes químicos, alcoólatras, ciganos, donos de bares, pedintes, artesãos, entregadores, andarilhos com deficiência, vendedores, enfim, membros vivos de um território de vida humana, que se confundem com ele, que marcam e contam a memória de um bairro, mas que, em geral, não são reconhecidos pelo que fazem ou se recusam a fazer. Mesmo assim, muitas vezes, não há como lembrar da história de uma rua, de um bairro ou de uma cidade, sem associá-los.

Não pude fazer mais por Porquinho que tomar-lhe alguns minutos de papo, levar uma garrafa de água gelada e prometer-lhe postar uma foto sua como forma de reconhecimento público pela sua iniciativa. E o pessoal vai me poder me ver?! – pergunta, com uma noção meio distante do mundo virtual. Acenei que sim... pelo menos pela tela do computador, pensei.