terça-feira, 31 de maio de 2011

Tudo é comunicação... e além disso?

Em se tratando de vida em sociedade, já sabemos - tudo é comunicação. Ultimamente, com o acesso massivo ao Youtube e o intenso crescimento do uso de câmeras digitais nas mais diversas formas, tudo também passou a ser imagem. Me deixou, portanto, pouco surpreso, o caso da professora mexicana que gravou a ação de acalmar as crianças durante um tiroteio. A parte seu mérito sobre a valiosa iniciativa, diz ela que foi sem intenção de notoriedade. É possível. Mas o fato é a gravação e reprodução de imagens tem se tornado tão instigante às pessoas, que compartilhar momentos da vida – inclusive íntimos – já parece ser uma forma de reconhecimento como pessoa. A mediação estaria substituindo de vez a interação face a face na construção da identidade? O intrigante é que, em meio a todo esse turbilhão de retro-alimentado com imagens de/entre si, via mídias, tenho notado pessoas que assumem um processo de negação. Pois sabemos, a internet e o computador- seu suporte ainda principal – facilitam e estimulam também um certo isolamento. As pessoas se falam mais hoje, diriam alguns. Mas, considerando a comunicação apenas como um processo social, e a sociabilidade apenas um processo de contatos físicos, reais, diretos, em um nível de isolamento de um indivíduo de outros seres vivos humanos, o que temos aí? E o que colheremos daí enquanto novo ser humano? Algo diferente melhor ou pior do que o ser humano já é? Pensar sobre isso poderia levar a dezenas de outras questões. A família, talvez, seja a base de um desses eixos possíveis de indagações futuras, particularmente sobre a comunicação, a educação e os limites do que é ser humano hoje. O núcleo de uma transformação silenciosae de efeitos gigantesco.


segunda-feira, 30 de maio de 2011

O tamanho de um problema pode ser o tamanho do nosso olhar

Analisando uma situação difícil, em geral, tendemos a pensar apenas nas dificuldades que ela oferece. Sem ver brechas, o desespero direciona para medidas comumente equivocadas e inadequadas. Daí a importância da tranqüilidade no decidir. Em geral, com lucidez e paz de espírito tendemos a olhar melhor a complexidade da questão, todos os seus lados possíveis no tempo que dispomos. E assim obter mais eficácia na difícil decisão a tomar.

domingo, 29 de maio de 2011

Os seres vivos refletem ânimos entre si



As gatas que vivem comigo – a Petinha e a Fênix – andam brigando muito ultimamente. Tenho até estranhado, e interfiro às vezes. Mas,  me dando conta mais atentamente, percebo que isso pode ter a ver com o meu ritmo de vida, agitado, que pode refletir sobre elas. Sobre essa energia entre os seres, me vem à mente também alguns estados de espírito mais exaltados por ocasião de partidas de futebol, ou outros eventos de impacto popular. De fato, há um clima que parece tomar conta do ar por onde estamos, e interfere. Uma energia, de fato, pouco explicada, que pode vir a explicar uma dimensão de sociabilidade ainda ofuscada na ciência tradicional. O que efetivamente influencia no processo de sociabilidade – entre os seres humanos e entre estes e demais seres vivos? Estou iniciando um trabalho de pesquisa sobre comunicação e saúde, onde procuro problematizar essa relação a partir de um elemento central, no qual situo o corpo. Vamos ver até onde chego e o que posso explicar. Por hora, vou me adaptando com as brigas de minhas gatinhas, e meus esforços por harmonizá-las/me.

sábado, 28 de maio de 2011

A condição e o tempo da esfera jurídica viabiliza a construção da democracia?

Ao ler que a Justiça de SP proíbe Marcha da Liberdade, um segundo movimento nesse sábado, 28, após a brutal repressão à manifestação pacífica pelo direito do usuário em usar essa droga culturalmente concebida (em contraste com diversas outras drogas perniciosas e legais), nos traz pelo menos dois questionamentos: porque a justiça não sujeita ao questionamento e monitoramento político, no mesmo âmbito dos outros dois poderes oficiais? E, em um segundo tempo, também vale perguntar, o tempo da justiça viabiliza a construção da democracia no Brasil (oportuno considerar na resposta os diversos erros da justiça e estratificações sociais, na construção da nossa realidade carcerária, por exemplo)? Da mesma forma que não é inútil eu chorar meu leite – recém derramado – pouco vale a posterior modificação de posição em uma decisão que retarda a liberdade em uma situação onde a livre manifestação fica comprometida em um tempo e espaço determinado (ou seja, os marchantes já se locomoveram de diversos lugares para participarem em São Paulo de uma manifestação livre. O impedimento disso é um prejuízo material explícito. Sob outra perspectiva, se o raciocínio jurídico que embasa a decisão do TJ de São Paulo é válido, transferindo a decisão de uma situação para a outra (pois se trata de duas marchas diferentes, a interpretação proibitiva é que é a mesma) a justiça passa a se revestir de um poder sem limites definidos. Ou seja, decide-se uma questão, e se o efeito se esgota, reformula a decisão e se reedita. Isso lembra perfeitamente os projetos de lei do legislativo, que, se não passam de uma forma, recebem emendas e colhem outros subsídios plurais, inclusive civis. No caso da justiça, não vejo isso ocorrer essa chance de contemplação popular, particularmente nessa situação de proibição da Marcha da Maconha/Liberdade. O que, em nível de construção da democracia brasileira isso implica efetivamente? A palavra está aberta aos governantes – legislativo, executivo e judiciário.


sexta-feira, 27 de maio de 2011

"Desde pequena eu via coisas estranhas na TV"

Mais uma bobagenzinha anônima que circula na net - só para distrair

Desde pequena eu via coisas estranhas na TV:

 * O Tarzan corria pelado...
* Cinderela chegava em casa meia noite...
* Aladim era ladrão...
* Batman dirigia a 320 km/h...
* Pinocchio mentia...
* Bela Adormecida era uma vagaba...
* Salsicha (Scooby-Do) tinha voz de maconheiro, via fantasma e conversava com o cachorro...
* Zé Colméia e Catatau eram cleptomaníacos e roubavam cestas de pic-nic...
* Branca de Neve morava na boa com 7 homens (pequenos)...
* Olívia Palito tinha bulimia;
* Popeye fumava um matinho suspeito!!!* Pac Man corria em uma sala escura com musica eletrônica comendo pílulas que o deixam ligadão;
* Super Homem locão, colocava cueca por cima da calça;
* A Margarida namorava o Pato Donald e saía com o Gastão;

Olha os exemplos que eu tive!
Tarde demais!!! 
Agora pedem pra eu me comportar?!

Mergulhar na vida ou organizar a morte?

Impressionante, nesse turbilhão de produção simbólica sobre felicidade, que encharca os olhos de todos pelas diversas mídias, como o estímulo à organização individual para a morte e à incerteza é tão forte, e talvez, indiretamente superior à abertura para a vida. Nada de novo com relação às opções religiosas, onde isso é mais comum, e uma opção silenciosa e surda, às vezes pela felicidade como penitência e promessa pós-morte – de modo que, nem me causa maiores surpresas o ato de o Papa Bento 16 fechar o convento onde freiras dançavam em cerimônia. Falo da morte propagada, por meio da indústria que ela constitui, direta ou indiretamente. Nisso, a morte abrange diretamente as funerárias, os seguros, os planos de saúde, etc. Mas também, em um outro sentido, envolve a fuga do processo d vida. Daí, entra a indústria da beleza com uma solução rápida e eficaz para o envelhecimento, como se esse fosse o grande mal da existência, em si. A idéia de segurança, o medo de uma suposta escuridão do futuro, leva também ao isolamento, à compartimentação de uma certa “felicidade”, em prédios sofisticamente gradeados e protegidas contra os “estranhos”. Eis aí outra maneira de morrer para a diferença, o que deveria mover o espírito de descoberta dos seres humanos. Temos uma tendência forte, por conveniências sociais, de adorar o belo – e até o feio, maquiado (vide as novelas) – desde que, estejamos protegidos disso pela raiz. Assim, a vida simbólica impera na artificialidade da existência de todos. Enquanto isso, milhares de outras formas de enxergar e explorar essa mesma vida aflora pelos cantos dos nossos olhos.


quinta-feira, 26 de maio de 2011

Arcaicas marcas da modernidade

A morte do casal de seringueiros, no contexto de votação do Novo Código Florestal; a questão da homofobia ainda acesa no País, como uma cultura indiretamente protegida por atitudes e discursos de governantes e comunicadores;  a ausência, ainda clara, de elos entre as políticas públicas sociais com a proteção aos animais, são três – mas poderiam ser dezenas – de questões que me fazem pensar sobre a longitude ainda existente entre as necessidades das gerações futuras (e dessas) para habitarem um planeta mais justo e feliz e a real condição das mentes dos que decidem seus rumos hoje. No entanto, de mais recente, impressionou mesmo foi a repressão violenta da PM de São Paulo à Marcha da Maconha, uma manifestação pacífica em defesa de uma idéia, cujo debate há década se alastra pelo País. Sintomático que nas cerca de 100 últimas matérias de hoje, de uma agência de mídia do estado onde os fatos ocorreram, não se verifique nenhuma repercussão sobre o tema. Um silêncio ensurdecedor sobre um atropelamento a um direito democrático, o da manifestação de idéias, que pensávasse já superado. Hora, se meio ambiente, questões humanitárias e liberdade de expressão ainda são tabus no Brasil em pleno século XXI, podemos nos considerar mesmo uma país civilizado e democrático? O mais interessante é que isto é vivido em tempos em que tão se propaga uma certa Modernidade. Problematizo essa palavra, profundamente. Ser moderno é “poder” freqüentar os mais sofisticados shoppings e “ver” tecnologias de última geração pelas vitrines, assim como “aspirar” roupas de marcas  fast-fashion? Ou “ser”, de fato, emancipado, viver em condições justas e expressar suas idéias e opções de vida, independente de cor, orientação sexual, crença ou nível de deficiência? Um debate amplo, mas tem a ver apenas com o País que construímos e que deixaremos aos próximos.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

O sonho de Amanda e o despertar do Brasil


"Eu não sei dizer o que aconteceu com o meu sonho, mas ele não é mais o mesmo, definitivamente. Eu estou em uma fase de avaliação, estou refletindo", declara a professora Amanda Gurgel, em matéria publicada no Diário de Natal, em 20.5 - Amanda, para quem ainda desconhece, foi a brasileira que tem se projetado como um  cometa da mídia, após a veiculação de um vídeo no youtube, em que denuncia o óbvio, mas necessário ser dito: a educação é estratégica para o País, mas um dos principais atores de seu desenvolvimento ainda é desvalorizado, e até abandonado, entre a prática e o discurso das políticas públicas. Acredito que o estado de sonhar se constitui ainda um mistério por ser devidamente desvendado e racionalmente compreendido. O que efetivamente envolve os sonhos? Um momento de despertar para o que não conseguimos enxergar na vida “acordada”? Uma passagem breve por um tempo inalcansável? A possibilidade de nos vermos interiormente? E o sonho com a realidade concreta da experiência, o que tem a ver? Quando ele se perde nesse espaço de tempo entre sua aspiração e sua realização no plano material, onde está a linha condutora? No caso de Amanda, que inspirou seu “sonho” para o ofício do magistério a partir da referência em uma ex-professora sua, a árdua vida em sala de aula, provavelmente aliada às frustrações de sindicalista na luta pela mudança desse quadro, tornou seu sonho um pesadelo. Que sonhemos, e trabalhemos, para que os sonhos do professor brasileiro se recuperem, ou nem cheguem a passar por isso no futuro. É justo observar que muito foi feito pela educação nos últimos oito anos. Porém, descontando a demagia da mídia - cuja generalização acrítica pouco contribui para que se enxergue os desvios - O País precisa acordar, para poder sonhar.





terça-feira, 24 de maio de 2011

Mudanças de nós e o turbilhão que as contextualiza


Estamos em tempos de mudanças, não há dúvidas; mas há alguns momentos da vida de todos que existe um processo de mudança independente. Não falo das mudanças naturais do tempo, regulares, e sim daquelas mais intensas, que ocorrem em fases de transformações internas. Entendo que há apenas uns quatro momentos em que isso ocorre – nas fase dos 15 anos próximos aos 30, próximo aos 40  anos e, finalmente nos 60, que é a grande mudança definitiva para a fase, que costuma se chamar “Idosa”. Talvez, em uma avaliação mais profunda, exista ainda o momento da morte em sí, como uma mudança definitiva. Mas de minha experiência, digo que mudar próximo aos 40 em nossos dias tem a ver com espiritualidade, entre outras coisas. Trata-se de rever o passado, presente e futuro, em uma perspectiva de superar erros e amadurecer, sem se tornar refém dos próprios planos. Tem a ver com viver o ainda possível, sem machucar quem está a sua volta, mas de um modo autêntico e intenso. Tem também muito a ver com paz. Acredito que há momentos, como esse que vivo, que almejamos isso, porque precisamos mais disso. Uma paz consciente e responsável, não alienada, mas que permita uma vida organizada em um nível harmônico. Talvez seja mesmo um tempo de reencontro. Em meio ao século da velocidade da informação, saber o essencial e dominar o estratégico é uma arte diária. E insubsituível na vida de cada um. Que venham os próximos anos!!!

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Sobre como ocupar o resto da vida

Viver plenamente é aproveitar o máximo possível a própria existência em termos de tempo ou de intensidade? É uma pergunta, penso, pertinente, nesses tempos em que a tudo temos acesso, mesmo com recursos escassos, mas o que é mais precioso – o tempo – tem limite bem definido. Então, a questão da intensidade se coloca ante a questão da quantidade. Talvez por isso a questão do transporte e mobilidade nos grande centros tenha se tornado tão preciosa. De fato, transporte, muito além de sobrevivência, tem a ver com lazer, segurança, e sustentabilidade. Infelizmente, o Brasil, ainda tem muito que avançar nesse campo. Especificamente com relação ao transporte a pé (que é o meio que mais freqüento ultimamente), achei curioso o termo “Pedestrianismo 2.0”, do colunista do Estadão Matthew Shorts. Consiste, segundo ele, em “consultar sempre o Google maps pela internet. Ele ensina os melhores caminhos. Cabe ao pedestre fazer uma combinação de ônibus, metrô, trem (sim, é ótimo) e táxis para chegar ao destino”. Uma tendência a mais na mobilidade urbana, antes mais restrita aos veículos motorizados. Então, o tempo e o seu aproveitamento mais intenso, tem levado à tecnologização das formas de mobilidade nas grandes cidades. Até então, tudo era imagem. Agora, bem mais que isso, tudo pode ser imagem identificada e localizada no tempo e no espaço. Comecei falando sobre o tempo na vida e terminei com mobilidade por meio da tecnologia. É assim, inescapável. A vida e a tecnologia estão intrinsecamente ligadas em nossos dias. Talvez porque vida seja tempo e tecnologia tem sido um instrumento que tem afrontado Deus – seja lá o que for – no sentido de problematizar a sua duração e intensidade. Em resumo, a vida tecnologizou-se pelo ser humano, em busca do tempo não lhe resta.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Retornando à rotina de esforço por quebrar a normalidade

Estou retornando, após cerca de 20 dias, às postagens diárias nesse canto cosmonicante. Uma viagem de 10 dias ao litoral nordestino me fez bem, e também mais convencido do quanto as férias são uma necessidade acima de um direito. Um dever em prol da prevenção à saúde, portanto. Quero oportunamente, e em breve, veicular – sob uma linguagem artística o registro de minha experiência de viagem. Enquanto não o faço, o comentário fica por conta da cultura que verte em nossos dias pelas telas da internet, TV e cinema, disponíveis em nossos tempos em um nível impressionantemente rápido e disponibilizado em uma quantidade gigantesca. A vida, de fato, modifica-se nesses tempos para quem está vinculado diariamente à grande rede. E para quem não está, de alguma forma conecta-se indiretamente a essa nova dimensão da vida. Pelo menos se quiser inteirar-se no que se passa no contexto que vive e no que isso tem a ver com o que se passa no mundo. E, caso deseje se posicionar sobre isso, a inserção na vida digital é vital. Falo isso após observar o quanto a música, as manifestações políticas, a produção audiovisual, cênica e plástica (para ficar nessas linguagens) tem tido um aliado difusor valioso com as redes “sociais” – embora eu prefira o termo redes virtuais, pois sociais é algo bem mais organicamente real, na minha avaliação. Assim, não posso deixar de notar, passando os olhos nas bancas de jornais, nas três capas de revistas importantes (Carta Capital, Veja e Galileu), que abordam, sob enfoques diferentes, as modificações e comportamento nesses tempos tecnológicos. Voltarei, como de práxis, ao tema oportunamente. Por hora, fico nessas considerações básicas para abrir a palavra.

*Quero agradecer aos visitantes que aqui tiveram, mesmo em minha ausência e também às contribuições da fotógrafa Letícia de Jesus, que veiculou por alguns dias seu material no blog.

terça-feira, 10 de maio de 2011

O tempo na fotografia

O fotógrafo Nicholas Nixon é responsável por uma compilação de fotos bastante curiosa. Desde 1975, ele é responsável por fotografar quatro irmãs. A intenção é mostrar como o tempo age sobre nosso corpo.
As imagens, em preto e branco,  mostram as irmãs que tinham de 15 a 25 anos.

http://colunistas.ig.com.br/obutecodanet/2011/05/10/fotografo-passa-36-anos-fotografando-irmas-para-mostrar-como-o-tempo-age-sobre-nos/

quinta-feira, 5 de maio de 2011

O repertório fotográfico

Diego não conhecia o mar. O pai, Santiago Kovadloff, levou-o para que descobrisse o mar.
Viajaram para o sul. Ele, o mar, estava do outro lado das dunas altas, esperando.
Quando o menino e o pai enfim alcançaram aquelas alturas de areia, depois de muito caminhar, o mar estava na frente de seus olhos. E foi tanta a imensidão do mar, e tanto o seu fulgor, que o menino ficou mudo de beleza.
E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao pai:
- Me ajuda a olhar!

Livro dos abraços, Eduardo Galeano



Foto: Henri-Cartier Bresson

terça-feira, 3 de maio de 2011

Formas de ver e objetos observados

Marilena Chaui em Janelas da alma, Espelho do Mundo, apresentou uma reflexão antropológica, etimológica e filosófica no sentido de ver a visão como potencializador da produção do conhecimento. Seu olhar serve com referência questionadora contemporânea sobre a visão diante da realidade. Romper com a suposta naturalidade que as imagens podem sugerir, é a principal proposição da autora quando questiona: “Não é o olhar alheio fonte de alienação?” (CHAUI, 1988:33). Essencialmente se interpreta na ideia de que, na teoria da questão do olhar, existem diversas formas de ver. O olhar é plural – dentro e fora; – parte pelo sentido da percepção e, em outro nível, pelo operacional que depende dos olhos para ver. Nesse aspecto, admitimos que não podemos nos alienar pela imagem, achando que a representação que a realidade, por meio daquilo que os olhos nos apresenta, seja algo natural. Tudo depende, nessa perspectiva, da capacidade de olhar e da habilidade de analisar as imagens.




Fonte:
CHAUI, Marilena. Janela da alma, espelho do mundo. In: Novaes, Adauto (Org.). O olhar. São Paulo, Companhia das Letras, 1988. p.31-63.
Fotos:
3 primeiras: Letícia Jesus
Última: Rei Santos

Mobilidade, vida e condições espaciais, problema crônico nas capitais

Enquanto Obama canta a morte de Bin Laden como um marco na Paz universal norte-americana, é digno de nota uma outra demanda de paz nas capitais brasileiras: a perceptível sensação de anseio pela mobilidade, pelo consumo e pela segurança na sociedade moderna, particularmente nos grandes centros urbanos. Não chega a ser assunto de relações de terror - ainda que, em certos estabelecimentos, particularmente os bancos, o controle e a proteção contra assaltos imponha uma cultura de desconfiança e medo. Mas o ponto central que quero tratar é das relações humanas e de sua viabilidade e qualidade. Parar não é um verbo que pertence à vida social no coração das capitais. Talvez porque as grossas massas que andam pelos centros são formadas por populações de cidades do entorno, e tem, portanto, pressa de retornarem aos seus lares. Mas a vida nas cidades mais populosas, capitais ou não, poderiam, de fato, serem mais humanizadas. Creio que, entre as várias políticas públicas possíveis nessa área, os municípios deveriam pensar com mais atenção na valorização das praças, das árvores, da cultura e outras condições de bem estar públicas, para que as pessoas pudessem usufruir melhor os centros como um espaço saudável no frenético ritmo de idas e vindas. Em um desabafo semelhante, se referindo a esse esgotamento dos bancos no centro de Florianópolis, a jornalista Elaine Tavares escreveu há poucos dias o belo texto “Uma cidade para se estar. Sobre Porto Alegre, que o maior centro que tenho para onde me locomovo com alguma regularidade semanal, eu salientaria, nesse aspecto sócio-urbano, a necessidade da condição para uma geografia mais harmônica entre os pedestres e os veículos motorizados, particularmente no transporte coletivo, e ampliação de calçadões em partes de grande concentração populacional, especialmente nos horários “de pico”. Considero um avanço, para notar de positivo, o acesso ao túnel do trensurb a partir do mercado. Porém. Entre o Largo Glênio Peres e o Viaduto da Conceição há uma paisagem excessivamente tensa. O Largo Glênio, especificamente, poderia ser aproveitado melhor pela vida cultural da cidade do que como estacionamento de carros, penso. Já, no trecho citado, multidões indo e vindo, gritos de vendedores e calçadas danificadas, tudo isso entrecortado por passagens de ônibus. Dá impressão, às vezes, que a cidade foi feita para públicos diferentes, entre o povo que circula pela esquina democrática em direção ao Gasômetro, e o que depende dessa rota diária da Voluntários, na área mais velha da capital. Do Viaduto da Conceição à Rodoviária, então, se fosse me deparar em comentar, seria mais tétrico. Por hora, fico nessas primeiras observações sobre a mobilidade da vida urbana na capital gaúcha e a urgente necessidade de revitalizá-la.


***** A partir desta quarta-feira, estarei ausente, por conta de uma saída de descanso. Deixo, porém, o espaço do blog para a fotógrafa Letícia de Jesus, que deve veicular material de sua produção.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Tempos de visitar


Fico imaginando como seria a vida se os encontros ocorressem virtualmente, se as pessoas anulassem completamente a relação face a face. É exagero dizer que estamos próximos disso, mas um documentário que vi hoje na Record News, sobre a presença do vidro e da eletrônica na sociedade do futuro, em um nível imponente, me deixou um pouco impressionado. Sobretudo, chamou-me a atenção na representação dos atores a frieza estes, deslumbrados pela tecnologia, pouco apresentavam sensações tipicamente humanas (riso, choro, ternura...). Em lugar disso, apenas olhares indiferentes e sorrisos inexpressivos.   Casualmente, vi o documentário por ocasião de uma visita agradável que fiz a um velho amigo. Ando, confesso, visitando poucos estimados ultimamente. Mas sempre me realizo nesses deslocamentos para contatos pessoais. Vejo, por outro lado, que há uma tendência crescente de as pessoas se concentrarem suas relações sociais em ambientes fechados e restritos, quando não elitizados, considerados sempre “mais seguros”. Além de pizzarias e bares, os shopings centers são exemplo forte dessa tendência. Nada demais, tudo que dá prazer sob equilíbrio é salutar. Mas penso que a aproximação em condições alternativas e domésticas tem um tom acolhedor, insubstituível, que e está cada vez mais rara essa prática. Outro dia, a convite de um amigo, participei de um piquenique, que me fez relembrar tempos de infância. (para os mais jovens, que não sabem, é uma saída ao campo com a realização de uma refeição coletiva ao ar livre, no chão de um parque ou praça). Saí do encontro renovado. É claro que a sofisticação das programações televisivas e de internet, além do acesso fácil à vídeos e jogos eletrônicos, contribuiu decisivamente para a mudança de hábitos e a modificação nas opções de encontros. Porém, também cresceram os recursos de mobilidade, com a multiplicação de veículos nas ruas. Então, como explicar essa progressiva dispersão entre os seres humanos? Ou seria isso apenas mera impressão minha? Gostaria.


domingo, 1 de maio de 2011

Trabalhar é um outro nome que se dá ao prazer ou a dor

Embora muitos recursos disfarcem, a condição do trabalho é apenas uma extensão da vida, dos sentimentos mais íntimos. Se isso envolve a sobrevivência, sim; mas, no plano real das subjetividades humanas – que todos absorvem e expressam em sociedade – o trabalho é muito mais. Organiza o homem também, como nota Darcy Ribeiro, mas, sobretudo, estrutura e determina uma forma de enxergar, sentir e construir (ou destruir) a vida.  E, como qualquer outra instância da vida, um espaço processual sujeito a preconceitos, vitórias, humilhações e conquistas. O Brasil, como tantos outros países de herança escravocrata, carrega ao longo de séculos a transformação do conceito de trabalho. E, lógicamente, como a história não é feita de rupturas (mas de misturas culturais) a conquista do mundo do trabalho como uma possibilidade de real emancipação é um processo em construção. Talvez por isso seja tão interessante o informativo Gênero e Raça, lançado em março deste ano pela OIT. Com seis páginas, ótima apresentação visual e conteúdo diversificado, o material é uma fonte interessante para a atualização dos interessados nessa área – ou seja, seja por ofício de pesquisa ou pesquisa sobre o próprio ofício. Já no número 1, o boletim apresenta um conceito interessante sobre Trabalho Decente. Conforme o material esse é um  “Conceito formalizado pela OIT, em 1999, que sintetiza a sua missão histórica de promover oportunidades para que homens e mulheres possam ter um trabalho produtivo e de qualidade, em condições de liberdade, equidade, segurança e dignidade humanas, sendo considerado condição fundamental para a superação da pobreza, a redução das desigualdades sociais, a garantia da governabilidade democrática e o desenvolvimento sustentável.”. Confira a edição aqui.