domingo, 30 de junho de 2013

Os rios que correm por dentro e por fora de nós

O filme Medianeras, que acabei de assistir via internet, bem no espírito dessa produção audiovisual, fala de pessoas que vivem sozinhas no século XXI, esses tempos de avançadas tecnologias de conexão e aproximação e, paradoxalmente, de solidões endêmicas. Estamos, de fato, vivendo um período de paradoxos, no que se refere às realizações humanas. Longe de mim querer me opor a qualquer avanços da ciência ou da tecnologia. Mas não posso deixar de reparar que o deslumbramento dessas novas gerações com a abertura de possibilidades e visibilidade através da digitação de botões, me causa certo tédio. Já houve, há algumas décadas, a queixa de que a TV isolava as pessoas. Estas, ficavam sem se falar, mesmo que sob um mesmo ambiente, dependendo da voz e images dos equipamentos. Hoje, senão tomarmos o devido cuidado, os telefones e outros portáteis isolam as pessoas de uma forma ativa, ou seja, sem necessariamente depender do som externo. Se aliena de onde se está por opção consciente e dependente exclusivamente do operador. A sociedade das máquinas, mais do que isso, também impõe modos de ser e agenda comportamentos. Lidar com tudo isso de maneira criativa e sem se perder na superficialidade dos meios, que são apenas meios, é um caminho equilibrado para sobreviver nessa sufocante onda digital. 

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O cinema argentino anda mesmo sempre na frente em termos de conteúdo e estética, é precismo admitir. Na contra-mão dos hollywoodianos, que infestam as residências, locadoras e shoppings, a produção audiovisual latino-americana respira nas frestas das salas alternativas e pelos canais que se abrem na internet, esse novo pulmão para a diversidade - e, paradoxalmente, também para a homogeneidade - da cultura. Atrasado, como sempre, assisto Medianeras, de Gustavo Taretto. Está completo e legendado no Youtube. Recomendo.



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Foto: Ireno Jardim / Secom - PMC

Domingo de serração, sinal de sol brilhante. Mais um dia ótimo para muitas coisas, de viajar para muitos lugares, inclusive ao nosso universo interior. Viajar no mesmo lugar. O interior de nosso pequeno universo diário. Durante esta semana, estive com a equipe de trabalho por perto de um rio, que todos conhecem na cidade, mas poucos se aventuram em explorar no sentido poético. Na ocasião, enquanto nos apresentava alguns pontos desse lugar, mesmo sem parar o carro, o condutor recordava de momentos lindos de sua infância, quando nadava naquele lugar. Próximo dali, um trilho de trem de carga contribuía para acrescentar um tempero diferenciado e bucólico à essa parte da cidade, mais conhecida pelo movimento dos carros em uma BR federal. Quando comentava sobre seu passado, inquiri ao motorista se esses rios eram navegáveis. Na realidade, o local pelo qual passamos envolve um delta, em que se soma adiante ao encontro de mais dois. Ele não apenas confirmou como chegou a convidar-me para qualquer dia dar um giro de barco por ali com uns amigos que conhece. Eu aceitei de cara e já começo a ter umas ideias mais ambiciosas com relação ao assunto. Lembrei, rapidamente, que um dos rios ao qual esse se encontra, foi visitado por mim em outras ocasiões recentes, e em algumas muito remotas. Ele fez parte de minha infância. E hoje, sua popularidade quase se resume a ser um dos mais poluídos rios do País. Gravataí se chama ele. Vários morreram em suas cabeceiras, muitos cresceram felizes em suas margens. Há pouco mais de um ano, encontrei no Youtube um vídeo de um explorador desse maltratado rio, que me deixou simplesmente encantado, o qual reproduzo outra vez (abaixo). De qualquer forma, a partir desse bate-papo e dessas experiências episódicas e superficiais, percebo que a vida e a cidade podem se tornar mais interessantes para nós sem necessariamente sairmos para tão longe de onde estamos. E um rio, mesmo poluído e quase abandonado, pode ter muito a ver com isso.



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Os valores e a visão médica predominante nos sistemas de saúde brasileiro - público e privado - precisam de um banho de humanitarismo urgente, e a experiência e referências da medicina cubana fariam muito bem nesse propósito
"O único médico de Santa Maria das Barreiras é graduado pelo ISCM-VC (Instituto Superior de Ciências Médicas de Villa Clara), em Cuba, com o qual a Faculdade de Medicina da UNESP de Botucatu-SP mantém convênio desde 2002. Dr. Perini ressalta que o conceito de priorizar o atendimento às regiões carentes foi uma das coisas que aprendeu no curso". O PROBLEMA DA MÁ DISTRIBUIÇÃO DOS MÉDICOS NO BRASIL.Ver artigo completo aqui.

sábado, 29 de junho de 2013

Sobre as fragilidade dos super-homens as coisas que o cercam

Sábado absolutamente instável, que oscilou entre o nublado e um sol brilhante. Há quem se perturbe muito com o clima e a temperatura do dia, coisas de vida na agricultura. A natureza, sobre isso, nos dá mais um indicativo de nossa proximidade com o meio ambiente, pois nós também temos  um clima específico a cada dia. Por vezes, sem saber explicar porque, acordamos muito bem, outras, parece estar uma sombra nos rondando. Há quem fale em energia. O fato é que isso tem a ver muito na forma como nós nos abrimos para o dia e para o outro. Absorvemos, creio, aquilo que nos interessa, a partir de identificações. Nos aproximamos das energias com as quais nos identificamos. Somos, de fato, energias pulsantes. Os animais, mais uma vez eles, tem muito a nos ensinar sobre isso, porque parecem ter uma sensibilidade com o que está a sua volta. O canto dos pássaros, por exemplo, ilustra muito bem essa influência. Já as minhas gatas ficam agitadas ou mansas também, conforme eu me comporto em casa, em parte. Em outras palavras, somos também um clima ambulante. E o sol interno brilhante envolve uma boa dose de espiritualidade e bom humor com as adversidades, que são certas todo dia.
Tenho notícia há pouco que meu pai anda mal, coisas de pulmão, herança de décadas de fumo e álcool.  Ao desligar o telefone, penso sobre essa relação necessária que envolve a família, coisa de vínculos criados e cultivados com sutileza. Com o tempo, transformam-se em um laço invisível, onde há uma ética que orienta a cuidar de quem cuidou da gente um dia. Precisamos mesmo do outro, como assinalava Roberto Freire, somos o outro. A questão é que parece existir também, nessa afirmação pela nossa real vontade de ser o que sentimos, um desejo de romper esse ciclo vicioso que nos coloca em uma armadilha de reproduzir estruturas das quais lá atrás condenamos. Queremos, assim, ser diferentes. A diferença é perseguida mais intensamente na adolescência, de forma, por vezes, estúpida. Um dia, no entanto, descobrimos em desespero que precisávamos muito daquelas migalhas de palavras que um dia alguém por perto soltou a nossa volta, com alguma intencionalidade. Definitivamente, dependemos do outro, desde cedo, o ser humano é essa fragilidade. 

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Reproduzido de Premio de Literatura Uff 2013
Inscrições para Prêmio UFF de Literatura vão até dia 2 de julho
27/6/2013
Luiza Gould

Escritores e poetas da língua portuguesa, independentemente da nacionalidade, têm até dia 2 de julho para se inscrever no concurso literário que selecionará os melhores nas categorias contos, crônicas e poesias. O 7º Prêmio UFF de Literatura neste ano tem o tema “A vida é a arte do encontro, embora haja tantos desencontros pela vida”, versos de Vinícius de Moraes, que é o homenageado em 2013. O prêmio tem patrocínio da Fundação Euclides da Cunha, de apoio à UFF, e da Imprensa Oficial do Estado do Rio de Janeiro, contando com apoio da Pró-Reitoria de Extensão da UFF.

O texto apresentado no concurso deverá ser inédito e ter o formato impresso ou eletrônico. Cada concorrente pode inscrever apenas um prêmio por categoria e não serão aceitas obras póstumas nem assinadas em grupo. O conto não pode ultrapassar quatro páginas, enquanto crônicas e poesias devem ter no máximo três páginas.

Os vencedores serão anunciados no dia 17 de dezembro, e na mesma cerimônia, serão lançadas antologias com os 20 textos selecionados de cada categoria. O primeiro colocado de cada gênero ganhará um notebook, o Troféu Itapuca, além de dez exemplares da coletânea de textos selecionados. Os segundos colocados receberão oito coletâneas; os terceiros, cinco; e os demais, três exemplares cada um. O edital do concurso está disponível no site www.editora.uff.br/editais.


Para as inscrições, os trabalhos deverão ser enviados pelo correio em carta registrada ou via Sedex, a tempo de chegarem até o dia 2 de julho, para o endereço: 7º Prêmio UFF de Literatura – Editora da Universidade Federal Fluminense (Eduff), Rua Miguel de Frias, 9, Icaraí, Niterói RJ - 24220-900

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Maré baixa, talvez não...

Ah, o passado... porque insistimos em mexer nele; temos faltas, mas às vezes pode vir surpresas nessas cutucadas que damos no tempo. Que sejam boas, é o que desejamos. Na realidade, a vida dá mesmo voltas. É algo estranho perceber que revivemos, até mesmo com detalhes, experiências de outrora. Mudamos a posição nela. Mas ali estamos vivinhos. Será essa a beleza de ter filhos. Que sabe eu saberei um dia... Enquanto, isso, pelas ruas, prossegue essa efervescência de desejos por um novo amanhã, entre outras coisas. 
Os partidos precisariam captar com a devida dimensão os anseios do que clamam os jovens pelas ruas para poderem de fato começar a recuperar o nível de representação que tiveram outrora junto a esse estado de espírito social. Mas isso envolve muita lucidez para o reconhecimento sobre falhas em caminhos tomados. E custos dos quais desconfio que exista indisposição predominante em se pagar.
Diferente da leitura que tem sido feita nos meios, descreio que os protestos pelo País tendem progressivamente a se reduzir a violência. Há uma força maior que eventuais intimidações por conta de confrontos indesejáveis. Penso que, diferentemente de outras mobilizações em outros momentos históricos, a que ocorre atualmente atingiu uma amplitude importante demais, de norte ao sul, que se oxigena geograficamente, por um agendamento físico e virtual. 

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Via Iconoclastia Incendiária.




Sintomático que seja em um programa TV argentino que vamos encontrar uma das análises críticas mais esclarecedoras das contradições de nossos meios de comunicação de massa. A imprensa brasileira, salvo raras exceções - em geral, estatais (Ver TV, Observatório da Imprensa..?) - não se auto-analisa. É o Primeiro Poder, e também o único que se pretende acima do bem e do mal. Nessa história toda, sobrou até para o Caco Barcelos, que não merecia isso, embora saiba ele o que simbolizava no contexto que estava.

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quinta-feira, 27 de junho de 2013

As palavras e as coisas na Mídia

A palavra é mesmo uma navalha, como dizia o poeta. Conforme vamos progressivamente a dominando, particularmente na fala, ele vai se tornando mais perigosa e mais manejo exige. Afiada a partir da possibilidade que temos de enxergar mais longe, contraditoriamente, o silêncio se torna mais valioso. É claro que falar no momento certo, e na dose certa, seja por meio de humor ou ironia, também é uma dosagem possível. Mas tudo é espirituosidade. Em tempos de uma sociedade de imagens, mais do que nunca é preciso cautela pelos homens públicos. O que se fala pode ter mil traduções, por meio de recursos de edição. Muitas pessoas que lidam com as câmeras ainda não se deram conta disso. 
Andando pelo Centro da cidade em um ritmo mais lento podemos perceber que há novas possibilidades de ver o mundo, que a pressa tende a sufocar em nosso olhar nesses tempos turbulentos. As novas tecnologias, por meio das  mídias eletrônicas, instrumentalizaram as pessoas com muitas possibilidades de interação, que teoricamente aproximariam os seres humanos, em benefício de um mundo de sociedades mais solitárias e humanitárias. Ocorre que o tempo dedicado aos meios, mesmo que em interações com outros indivíduos, impedem algo essencial na própria concretude dessa suposta humanização: o contato com o meio ambiente, incluindo nele todos os seres vivos. Em resumo, tomar sol é necessário.
O uso da palavra vândalos é cada vez mais desprezível, e paradoxalmente, cada vez mais confuso,  pela Globo. Ao mesmo tempo que os apresentadores e repórteres se ocupam em separar os "baderneiros", "grupos minoritários" das chamadas "manifestações pacíficas", tal discurso fica estranho diante de outras manifestações mais orgânicas, como a da desapropriação em São Paulo. Nessas, soa mais contraditório as ações truculentas da polícia, que vitimam inocentes. As execuções do Bope no Complexo da Maré é um marco disso.

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Já está ficando estranho, e progressivamente mais perturbador, esses acidentes (?!) de pessoas que caem de viaduto em BH, agora com uma morte. Escrevi reproduzi há alguns dias, não me lembro bem se aqui ou no Face, um depoimento bem estranho sobre um médico que atuou para socorrer vítimas nos protestos desta Capital, e foi severamente restringido pela PM, entre outras estranhezas. Alguém de Minas na área que possa explicar melhor isso?

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O enfurecimento dos médicos brasileiros à contratação de médicos estrangeiros de países, como Cuba - de excelência em saúde - reflete bem a visão hospitalocêntrica predominante na cultura das academias de medicina e reproduzida nesse olhar corporativista: a dimensão humana é secundária, importa é estruturas em primeiro lugar. Para quem vê a medicina como ofício essencialmente humanitário o contrário é que é certo. Além disso, nada vejo se falar em saúde básica, as redes de UPAS valorizadas pelo governo Dilma para desafogar os hospitais. Se fala sim, e muito, em hospitais. Rendem votos e acomodam vagas, claro. Interessante é que não lembro de ver esse enfurecimento todo quando foi derrubado o imposto da CPMF, que atingia progressivamente os mais ricos, e que destinaria 40 bilhões para a saúde pública brasileira. Mais uma das contradições de nossas elites. Ou coerência.


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Tua caminhada ainda não terminou....

A realidade te acolhe
dizendo que pela frente
o horizonte da vida necessita
de tuas palavras
e do teu silêncio.

Se amanhã sentires saudades,
lembra-te da fantasia e
sonha com tua próxima vitória.
Vitória que todas as armas do mundo
jamais conseguirão obter,
porque é uma vitória que surge da paz
e não do ressentimento.

É certo que irás encontrar situações
tempestuosas novamente,
mas haverá de ver sempre
o lado bom da chuva que cai
e não a faceta do raio que destrói.

Tu és jovem.
Atender a quem te chama é belo,
lutar por quem te rejeita
é quase chegar a perfeição.
A juventude precisa de sonhos
e se nutrir de lembranças,
assim como o leito dos rios
precisa da água que rola
e o coração necessita de afeto.

Não faças do amanhã
o sinônimo de nunca,
nem o ontem te seja o mesmo
que nunca mais.
Teus passos ficaram.
Olhes para trás...
mas vá em frente
pois há muitos que precisam
que chegues para poderem seguir-te.



Charles Chaplin

*********************************************** Para sempre Glauber...


Reproduzido via Catarse.

quarta-feira, 26 de junho de 2013

As várias faces de um perfil dos novos atores e dos já em cena


Prosseguindo nas reflexões a respeito de qual é o real perfil desse indivíduo -  jovem de alta ou baixa idade - que protesta hoje pelas ruas em torno de pautas, sem uma agenda claramente definida, ocorreu-me que nas manifestações que participei durante as minhas experiências de ativismo comunitário, partidário e estudantil, havia também jovens com anseios e posturas distintas nas passeatas. Todavia, existia um foco sobre um horizonte a seguir mais perceptível e politizado. É bem verdade também, que como nos anos 80 e 90, os movimentos políticos já eram dotados também daquela pureza do pessoal da faixa dos 20, que tinham a inocência de mudar o mundo, e cujo País vibrava no coração. Prossegue isso hoje, e não creio que deixe de ser emocionante. Mas, então, o que muda de fato nessa mobilização marcada pela negação, a horizontalidade e o policentrismo - como bem caracterizou um analista brasiliense? O ponto, ou um dos pontos vitais, creio eu, tem muito a ver com uma percepção, antes inconcebível e agora perturbadora, de dotação de um poder simbólico de expressão, que se confunde entre espetaculização onipresente , perversão bélico-midiática e pretensão de auto-suficiência política. Sim, há um espetáculo em questão, onde estar presente perante o mundo, o círculo  de convivência e o País, concede status. E isso não iniciou hoje, mas desde que há essa possibilidade de reconhecimento poder pelos meios. Segmentos da sociedade cultivam isso há séculos. Desde o período dos reinados, desfilar nas ruas com trajes destoantes era cultivado pelas pessoas de famílias nobres. O exibicionismo, hoje, assumiu uma facilidade impressionante e, talvez, a adolescência ilustre isso mais do que qualquer nível etário. Esse controle sobre o tempo-espaço, em que se pode permanecer, ao mesmo tempo, em um espaço físico e um espaço virtual, é uma novidade vista por muitos como uma nova afirmação de existência, e consequentemente, poder de se expressar.  Por outro lado, o fosso que se criou a partir do progressivo distanciamento dos jovens da política, isolou gerações em torno da observação distante da vida social. As novas tecnologias reaproximaram os indivíduos, mas a partir de patamares de convivência solitários. Articulados em grupos, nas novas dinâmicas criadas nas redes sociais, esses contingentes passaram a extravasar suas sociais necessidades de expressão da indignação com as estruturas e as ordens vigentes. A surdez dos partidos políticos, o especificismo do terceiro setor e dos movimentos sociais sedimentou esse afastamento, estimulando outras formas de sociabilidade. Agora, perante a massificação dessas tecnologias novas, se inflamam também essas formas de organização, adquirindo um encorpamento físico quando viabilizam encontros coletivo em torno de anseios comuns. Mas seria ingenuidade ignorar que há também aqueles indivíduos identificados com o poder de politização dos meios. Nesse caso, a questão está em se apropriar dessas novas tecnologias e perverter a sua dimensão dominadora em prol de uma orientação emancipadora. Essa parcela, mais ideológica, se vê relativamente perdida também nessa banalização das manifestações. Mas disputa espaço nesse contingente, seja fisicamente, seja simbolicamente. O erro está, e aí entro na última categoria, é entender que é suficiente essa militância virtual para a transformação de um cenário social. Em algum momento essa mobilização toda vai necessitar mais definitivamente de uma organização de uma agenda factível no âmbito das instituições estabelecidas, a fim de que se expresse como mudança no plano legal. Diferente disso, também haverão mudanças, como já estão ocorrendo, porém, mais lentas, e não necessariamente estruturais. Uma pena.

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Agradáveis momentos nesta manhã ao som de Jorginho do Trompete, acreditem, em plena Estação do Trem

terça-feira, 25 de junho de 2013

Um passo vital foi dado, o tamanho dos efeitos é ainda inestimável

Em meio a esse tempo de exigências de direitos que vivemos no País por todos os lados no País, seria interessante que a sociedade brasileira incorporasse também a suas agendas o respeito ao direito a diferença, em sua forma mais essencial - a vida, em toda sua diversidade e plenitude. Me refiro, entre outras questões, a questão do bem-estar animal. A crueldade aos animais ainda é naturalizada em nossa sociedade, infelizmente. Tratar dessa questão, em geral, é sempre superficial, raramente entra nos meandros que o tema envolve, pelo simples fato que somos uma sociedade escravizada pela cultura do consumo da carne como forma de prazer e lucro, simplesmente. Superar isso tem a ver com uma nova consciência, essa não se dá apenas pela exigência ou conquista de direitos, mas pela transformação do olhar sobre os outros seres vivos, uma superação da visão antropocêntrica que tem caracterizado nossa civilização, desde que o ser-humano assim se reconhece, mas em geral se estranha como tal.
Nada como um bate-papo com pessoas abertas ao mundo. Alguns minutos em um almoço, por exemplo, podem abrilhantar nossa semana... e abrir perspectivas, talvez, profundas em nossa vida. Sim, é nos pequenos momentos da vida que as melhores coisas podem acontecer. Mas é preciso estar atento. Uma avaliação da conjuntura atual também, em momentos curtos com gente de visão, nos permite perceber que tudo é muito próximo em termos de história. Impressionante como ela se repete, parece até que estamos revivendo momentos sobre os quais já li, e que pareciam estar absolutamente distantes. Ilusão. Engano.
Me peguei a pensar ontem sobre qual é o perfil real dos manifestantes que se mobilizam pelo País. No momento em que são anunciadas as medidas da presidenta Dilma para acalmar os ânimos pelo País, começa a se pensar se tudo vai acalmar de fato ou prosseguir mais intensamente. Mas com base em uma olhada mais direta no clima e ao ouvir depoimento de lideranças dessa miscelânia de pautas, me convenço cada vez mais que não é tão simples esse processo. Dei uma circulada pelo clima local no dia em que foi realizada uma manifestação na cidade, em que chegou a ser parada a BR 116, e constatei que esse público é mais diverso que se imagina. Mas em que nível isso era realmente diferente em outros tempos? Em momentos diferentes de nossa história - Reformas de Base, Diretas, Ipeachment - sabemos como foi alguns desses eventos com base em discursos narrados nos livros, ou por outros indivíduos. Dos movimentos que eu, particularmente, participei, durante as greves universitárias, lembro que haviam tendências bem distintas. Mas uma coisa me chamava atenção naquele período: elas eram relativamente convergentes em torno de um foco. Por ocasião do segundo governo de FHC esse foco era a defesa da universidade pública. Durante a greve das universidades federais de 1996, era um movimento universitário, é verdade, descolado da população civil. O movimento em questão hoje é predominantemente jovem também. Mas tem o envolvimento de famílias, e de gerações distintas. Lembro que durante aquelas manifestações contra o sucateamento das instituições de ensino superior havia um grupo anarquista que começou a desenvolver um trabalho sócio-comunitário em uma vila ao lado do campi. E a coisa avançou em um nível mais profundo, de modo que prosseguiu mesmo após a greve. Também recordo que havia um acampamento, no campi central, ondem se encontravam e debatiam acadêmicos dos mais diversos cursos, em um comando de greve único, no qual também se integravam professores e servidores. Havia uma pauta, por vezes controversa, mas clara. A novidade do que há agora, além das redes virtuais mais forte de mobilização – inexistente naquele período – é essa dispersão de pautas, que causa uma incerteza sobre seu futuro. Mas a proposta de Dilma e governantes regionais sobre um plebiscito para uma reforma política parece um passo vital, que ataca um dos centros desse movimento. Se é que ele tem algum centro. Por outro lado, as cinco questões atacadas pela presidenta em sua proposta: corrupção, transporte, educação, equilíbrio fiscal e saúde – deixa de lado, a priori, algumas pautas que já haviam antes mesmo das manifestações, que envolvem movimentos sociais novos (indígenas, ribeirinhos, homossexuais...), e que estão embrenhados nas manifestações ora em curso. Como vão proceder daqui para frentes esses segmentos? Fica a dúvida. Vivemos os próximos capítulos. 

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25/06/2013        17:57
Especialistas e autoridades propõe mudança de cultura para o bem-estar animal

Foto e Texto: Prefeitura de Canoas

Foto: Tony Capelão


"É preciso de uma pactuação com a sociedade, de modo a se pensar coletivamente recursos, ações e polítias específicas para o bem-estar animal". A afirmação foi realizada nesta tarde pelo prefeito Jairo Jorge, durante a abertura do 2.º seminário de Bem Estar Animal, para a discussão da política municipal para esse segmento.

O evento foi realizado no auditório Sady Schivitz da Prefeitura de Canoas, e contou com a presença de especialistas, autoridades e ativistas de Canoas, Porto Alegre e Região Metropolitana. Na ocasião, o prefeito também lembrou que esse debate foi impulsionado em 2012, com a criação da primeira edição desse evento. Ele destacou a necessidade de superação da visão antropocêntrica, que ainda é predominante na sociedade.

O prefeito observou ainda a transversalidade das política de bem-estar animal, orientadas pela coordenadoria, e apontou iniciativas de vários níveis, realizadas nessa gestão em atenção à questão. Entre elas, a criação da coordenadoria, a adoção de metas de castração de 3 mil animais por ano, de implantação de chip de identificação dos animais adotados, a conscientização para a posse responsável, a realização das feiras de adoção e a construção do Centro de Bem-Estar Animal. "Muitos que adotam os filhotes são os mesmos que os abandonam. Atacar o mal na raiz é a posse responsável", nota.

Na ocasião, o coordenador municipal de Bem Estar Animal, Cristiano Moraes, sugeriu  a criação de um fórum permanente para o debate e contribuição na construção de políticas de bem-estar animal. Também prestigiou o evento o secretário de Segurança Pública do RS, Airton Michels. Alguns animais, adotados ou em tratamengo, também foram levados ao local do evento e sensibilizaram os presentes (Foto).

Ética e Mudança de Cultura

Em sua fala, o professor Paulo Renato Pulz, da disciplina de Ética e Bem-Estar Animal (Ulbra) abordou a temática "Como enxergamos os animais". Ele traçou um panorama, da Grécia antiga aos nossos dias, destacando os fundamentos e as teorias construídas para a exploração e a difusão de práticas cruéis contra os animais. "Vivemos sob esse paradigma - Os animais existem para nos servir; ao serem convertidos em moeda de troca, eles passam a ganhar valor conforme a sua utilidade", observa.

O especialista também explicou doenças e dilemas a partir das práticas de confinamento, pressão genética e ambientes artificiais utilizado pelo mercado na comercialização de animais, sugerindo uma mudança de cultura, a partir dos próprios consumidores. Na continuidade, a advogada Luana Michels - mestre em Ciências Criminais e Especialista em Direitos da Fauna e Consultora, que abordou o tema Direitos Relativos aos Animais abordou o tema Direitos Relativos aos Animais e aos Protetores, e o Cinotécnico Alex Szekir, Cinotécnico responsável pela preparação psicológica do Centro de Bem Estar Animal, com a palestra Comportamento Canino e as Liberdades do Bem Estar Animal.

Também integraram a abertura do evento o vereador secretário municipal de Relações Institucionais, Mário Cardoso; os vereadores Ivo Fiorotti, Celso Jancke e José Patrício, da Frente Parlamentar de Bem-Estar Animal; o vereador de Esteio, Valmir Rodrigues. Participaram também do seminário subprefeitos, coordenadores, secretários e diretores de áreas afins à questão.


Crédito da notícia: Ronaldo M. Botelho

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Excelente site com alternativas e técnicas para a realização de hortas em pequenos espaços, aqui.



segunda-feira, 24 de junho de 2013

As mobilizações que aquecem as ruas

Início de semana, com frio intenso aqui pelo Sul, e prosseguimos com nenhum deciframento mais claro sobre o que se opera no País efetivamente com a juventude que tomou as ruas há cerca de duas semanas. O fato é que em todos períodos da história quando isso ocorreu a partir da mobilização espontânea, coisas boas ocorreram. Um palpite levantado ontem pela Globo, por meio do Fantástico, com base em pesquisas da Folha e do Ibope, dá conta de se tratar de um público de quase 50% acima de 5 salários mínimos e universitários. Isso, de certa forma, confirma a leitura já realizada por vários observadores de que houve uma incorporação expressiva de jovens nas universidades nos últimos anos, por conta de vários programas sociais. E esse público estava/está sedento por uma causa coletiva. O movimento pela redução das tarifas foi o rastilho de pólvora, mas certamente houve outros. Enquanto isso, prosseguem pelo mundo, agora com mais cautela, as manifestações de solidariedade ao Brasil nessas manifestações. Com mais cautela porque percebeu-se por lá que esse grito da juventude não é tão inocente assim, e por vezes, chega a ter uma dose de intolerância perigosa. É, sem dúvidas um inverno que vai vai ficar na história bem contada de nossa sociedade. Que assuma também no presente uma dimensão pedagógica, por meio da recuperação da memória histórica, direcionando pautas de reivindicações a altura do que o País quer e maduras o suficiente em suas urgências. É o que todos de boa índole esperam.

domingo, 23 de junho de 2013

HÁ UMA ENCRUZILHADA NO HORIZONTE DO BRASIL (II)

A ESTRATÉGIA DO “NACIONALISMO INOCENTE E VERDE AMARELO” PODERIA DAR CERTO... SE NÃO FOSSEM ESSES VÍRUS VERMELHO, PRETO E BRANCO...
Na realidade, o discurso reacionário e retrógrado nunca foi completamente superado na cultura brasileira. Se perpertuou no pós-abertura, por meio de expedientes legais, e está pulsante na violência simbólica da vida social. Nota-se sua presença, por exemplo: na vigilância permanente pelas normas morais vigentes; nos silêncios impostos nas salas de aula por meio do medo; no abafamento das torturas socialmente toleradas e naturalizadas pelos “comentaristas de polícia” e no marketing economicista do crescimento empresarial como sinônimo de interesse público.
Quando as espinhas dorsais de tais estruturas são minimamente ameaçadas por políticas públicas inclusivas, a partir de um Estado que olha para diferentes lados, e que tem o apoio institucional de um novo jogo de forças, as elites sofrem um desgaste em suas mais representantivas siglas partidárias, particularmente naquele histórico propósito de privatizar o Estado para o seu exclusivo bem. Então, os herdeiros da Casa Grande decidem agir diferente. A estratégia agora é infiltrar-se nos movimentos que legitimamente lutam pelo aprofundamento dessas frestas de luz emancipatórias entre os segmentos excluídos. É a perversão do protesto como ato essencialmente libertário.
A TFP já havia usado isso outrora; a novidade, talvez, seja agora a sua difusão e inserção entre os contingentes com diferentes bandeiras.  Mas bandeiras podem prejudicar o objetivo maior. Então, o foco vira impedir a identificação política dos autores de qualquer avanço social. E aí, surgem aliados da hora – confundir-se entre as manifestações patrióticas e o anarcoativismo se torna jogo fácil nessa multidão colorida. Isso foi mais facilitado ainda com um alinhamento político midiático nacional, via telinha.
O fator que talvez tenha sido ignorado nessa orientação é que a própria essência massificadora do capitalismo levou à perversão da estrutura excludente das novas tecnologias. E, com isso, há armas simbólicas nas mãos de todos. E, nesse cenário, a transparência pode não ser uma aliado interessante...


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Independente da vida social, que está agitada pelo País no âmbito político, há outras dimensões da vida de cada um que não param. E é bom que assim seja. Na realidade, somos também produto de nosso tempo, e toda essa miscelânea de anseios que se misturam por várias vozes também tem a complexidade do tempo em que vivemos, em que há quem queira curar inclusive a doença do amor. No fundo, quem precisa de cura é a própria sociedade.
O Brasil que precisa de cura envolve o coração e a mente de gerações de brasileiros que permitiram se adoentar por vícios morais e políticos introjetados em nossa cultura. Estas, certamente começam a se situar bem antes de problemáticas como corrupção de políticos profissionais e mazelas sociais delas decorrentes. E vão além, bem além dos períodos eleitorais.

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Lembrando o projeto de Cura Gay, do estupido InFeliciano, abaixo vai uma história com várias questões pertinentes entre adolescência de nossos dias.



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SOBRE OS PONTOS VITAIS DO FENÔMENO. Boa sacada do Emir Sader, via Andrea de Freitas (Face).: As idéias de que agora é que o pais acordou e de que é preciso estar "contra isso tudo que está ai" buscam apagar todos os avanços da ultima década, e deslocar o foco dos verdadeiros eixos do poder economico e midiático assim como apagar a existencia do povo - classe trabalhadora, sem terra, povão - reivindicando-se eles o país e seu futuro.

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"Confundir a atuação dos anarquistas com provocadores de direita (historicamente) é uma prática stalinista.", disse um analista que respeito.

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Há quem esteja observando, com bons fundamentos, que a cor do sorrisinho do Anonymus é verde-oliva.

sábado, 22 de junho de 2013

HÁ UMA ENCRUZILHADA NO HORIZONTE DO BRASIL

Os atos em evidência pelas capitais do País, agora também se estendendo pelas cidades das regiões metropolitanas e interiores, podem ter um valor inestimável no processo democrático, acredito, porque são sintomas do desenvolvimento deste; como também podem assumir faces autoritárias incontroláveis. Quero crer que ainda é possível se superar essa última hipótese.

Como a própria presidenta diz - e ela tem autoridade moral e política para isso - seria um grande desperdício se todo esse vigor popular deixasse de ser canalizado para dar impulsionalidade e sustentação às mudanças de base que o País ainda carece, e que deram a largada no governo Lula, reconheça quem justo e lúcido for.

Ocorre que o que está tendo visibilidade no domínio da pauta dessa perigosa "metralhadora giratória" parece ser mais uma massa despolitizada (no pior sentido), onde se encontraram, entre outras forças históricas, segmentos grossos de uma geração 'to nem aí', com oportunistas de plantão muito bem situados politicamente, ainda que sem bandeiras. Assinalo, porém: tem muita, muita gente boa e positivamente articulada nesse meio, que querem mesmo um País melhor, e não pretendem se valer da massa para provocar desestabilidades golpistas; no entanto, as manifestações visíveis sinalizam o progressivo esvaziamento destes atores nos atos. Quero estar enganado. E a probabilidade de estar é grande, porque analisamos no calor da hora.

Em meio a isso, é notável que "comentaristas de dramas sociais", que abundam nas telinhas e nos microfones tradicionais, surfam com estigmas e simplificações nessa confusão de foco, legitimando um discurso construído pela própria mídia para explicar o clamor popular - como, aliás, sempre o fazem com endosso público expressivo, graças exatamente a essa despolitização ansiada por discursos pré-fascistas como os do "sem-bandeiras".

Seja como for, há uma encruzilhada. Pela frente, se apresenta a perspectiva de dois Brasis, que gritam há décadas, mas que tiveram marcos de expressão, como nas manifestações em torno das Reformas de Base e nas Diretas, cada um atuando em uma direção. Em meio a essas duas grandes miras, institucionalmente falando, há vários outros movimentos e aspirações, mas estruturalmente, o horizonte de nossa história de longo prazo se divide em dois.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

A utopia perseguida, disfarçada e prostituída

Sexta-feira, dia de finais e começos, e tempo também de reflexões, para alguns de prosseguimento de passeatas nas ruas. Essas passeatas contagiam por vários motivos os mais jovens, e não deixam de trazer identificações e referências para os de idade mais avançada. Participei de muitas manifestações em minha vida - movimentos estudantis, partidários e comunitários. De certa forma, estou também nas ruas. Discordo absolutamente que estar fisicamente nas ruas é a única forma de se pronunciar e agir. A ação de variáveis de materialização. Por outro lado, há um processo em curso que mobiliza por motivações absurdamente heterogêneas. E não necessariamente se identificamos com todas.
Diante das conotações violentas, por meio de depredações do patrimônio público, a quem questione, a mobilização perdeu o rumo? Não exatamente, até porque um rumo definido nunca enxerguei. Mas, dada a dimensão, os segmentos e os atos que incorporou em sua condução, há de inserirmos nessa questão o debate da democracia como questão necessária. Bem entendido que democracia no sentido pleno é uma utopia. Mas é justamente a sua parcialidade, por hora, que está garantindo o que ocorre no Brasil. Se quer mais. Mas o respeito a alguns códigos é necessário para se garantir esse avanço.

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Muita coisa ainda deve ser realizada, produzida e avaliada nas manifestações ora em curso pelo País. Mas para que se salve a dimensão saudável desse processo, é saudável que, paralelo às ações, exista a compreensão e reflexão de seus efeitos e dimensões. Esse material dá conta limitadamente do que ocorre pelo País, mas contribui interessantemente, em uma linguagem jovem, para se entender.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Sonhos em transporte e mobilidade

A mobilização tomou outro rumo, e revelou faces desconhecidas. Creio que a partir de agora, os manifestantes sérios e legítimos com as causas dignas desse processo, vão avaliar melhor a partir daqui seus passos. E várias outras posturas devem alterar profundamente o cenário.
Incerto estou se para o melhor ou o pior, mas estou começando a acreditar que o País vai deixar de ser definitivamente o mesmo depois dessa efervescência das ruas. Há uma inquietude contagiante, que partiu de SP para o País, em intercâmbio com a já existente mobilização global. Sem dúvidas que os as novas tecnologias e a internet, incluindo seus meios de interação, contribuíram para impulsionar e potencializar essa mobilização. Mas é certo que havia aí também uma subjetividade reprimida entre os jovens, particularmente, o combustível de qualquer transformação social. Oportunistas e fascistas nesse meio, sem dúvidas, abundam. Um sonho por um País melhor, todavia, é o que no fundo enxergo nessa nova geração. Esse sonho se transformou ao longo das décadas, e incorporou novos atores, que até então não sonhavam. O que é positivo. 
Tendo a crer que os sonhos, igualmente, a outros anseios dinâmicos da vida, sofrem um processo de mobilidade, ainda que sempre preservem algo de sua essência original. O que criamos como ideal na infância é baseado nas primeiras referências de liberdade e felicidade. Na adolescência, se intensifica essa identificação com o outro e, pelo surgimento da paixão como sentimento novo da vida, a felicidade tende a se reduzir muito ao plano pessoal. Na pós-adolescência, ali pelos 17 em diante, há uma redescoberta do social, uma paixão mais coletiva, em que nos tornamos altamente vulneráveis para a adesão a alguma causa - religiosa, política, filantrópica ou o que seja. Isso se estende pela faixa dos 20, para se estabilizar melhor pelos 30, fase que descobrimos que não vale a pena ter certezas, ou nos tornamos estúpidos definitivos. É claro que atores como família, escola e amigos são vitais nessas construções. E é fato também que no íntimo, naquilo que somos de verdade, em geral custamos muito a enxergar, ou de assumir coragem para admitir. O filósofo, nesse caso, tem muita razão quando aponta a necessidade de conhecermos a sí mesmo. Ultimamente, ando bem atento a isso.

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Trecho de análise de um conceituado cientista político gaúcho: HÁ PERIGO NO AR (Endosso): "Por que a polícia se omite, em todo o país, em reprimir os saques e os atos de vandalismo? Será apenas despreparo de uma força policial que só sabe reprimir com truculência e que, quando receber ordens de não usar violência não sabe como agir? Há meios democráticos e não violentos para reprimir manifestações de massa que fogem ao controle. Por que a polícia não os está utilizando?"

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Impressões do dia e da vida

Dizer que as manifestações de rua adquirem contornos violentos a certa altura é diferente de dizer que os movimentos ora em vigência são violentos. O que ocorre nesse fenômeno novo é que, por tratar-se de uma mobilização horizontalizada e heterogênea, são várias pautas. Pautas, inclusive, que surgem na própria dinâmica da manifestação. O risco dessa multiplicidade de agendas é que se perca o foco. Acredito, nesse ponto, que os militantes partidários tem muito a colaborar, na medida em que são vinculados a organizações institucionalizadas e podem mediar esse conflito das ruas para o âmbito de quem tem o poder oficial de decidir.
Uma causa também se transporta na dinâmica de um processo de reivindicação de ampla abrangência? Sim. Mas há também a possibilidade de ela ser antecipadamente organizada a partir de segmentos que visam direcionar uma causa maior em prol de seus objetivos específicos, às vezes perigosamente restritivos de liberdade e de humanidade.
Estamos vivendo uma retomada da mobilização jovem, de maneira mais efetiva, após próximo de uma década de imobilismo. Tenho para mim que o episódio do Mensalão foi um marco desse desencanto, que começou lá atrás, durante a decepção com os governos do tucano F.H.C. Mas ainda nesse período havia uma resistência. Participei de greves contra o desmonte da universidade pública. Todavia, vivemos um momento de avanços inegáveis nas áreas de educação, direitos humanos e moradia, entre outras; a sede da juventude por uma causa de transformação se compreende, mas é preciso identificar a real dimensão disso, para poder se distinguir e entender determinados atos bárbaros e discursos vazios ou contraditórios.

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Noto que entre as redução de tarifas anunciadas pelo País o comum é que estas sejam resultantes da desoneração de impostos - que em outras palavras, é a redução de recursos públicos para investimentos em benefício do próprio Povo que reivindica. Que tal a pauta dessas reivindicações incorporarem a redução da lucratividade das empresas de ônibus?

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“Foda-se o Brasil”, gritava o rapaz em SP

publicada terça-feira, 18/06/2013 às 22:40 e atualizada terça-feira, 18/06/2013 às 22:38

Texto e Foto reproduzidos de Viomundo

Por Rodrigo Vianna, no Escrevinhador


 A chegada ao viaduto do Chá foi surpreendentemente rápida. Trabalhadores e lojistas tinha ido embora mais cedo, deixando o centro de São Paulo estranhamente vazio às seis horas da tarde. Contornei o Teatro Municipal, e segui a pé, para cruzar o viaduto rumo à Prefeitura – onde os manifestantes se concentravam. Estava acompanhado da equipe de gravação da TV.

No sentido contrário, a massa marchava. Pareciam estudantes razoavelmente organizados: carregavam faixas de diretórios acadêmicos, bandeiras da UJS, mas também muitos cartazes desenhados a mão: “O Brasil acordou”, “Fora FIFA”, entre outros. Um rapaz me informou: ”estamos indo pra Paulista porque o Haddad nem está mais aí na Prefeitura”. Haddad tinha seguido ao encontro da presidenta Dilma, para uma reunião no Aeroporto de Congonhas. Pensei em tomar o rumo da Paulista, mas meu chefe de reportagem avisou pelo rádio: “acho melhor você ficar por aí, porque um grupo pequeno resolveu ficar pra atacar a Prefeitura”.

Pouco a pouco me aproximo do prédio. O grupo que ficou não era tão pequeno assim. E o que vejo e ouço é estranho – pra dizer o mínimo. Há homens mascarados, muita gente de coturno. E há também jovens que conversam com a gíria típica da periferia paulistana. Misturados a eles, moleques com jeito de playboys de classe média. Gritam palavras de ordem de forma desorganizada e aleatória.

Um menino, a meu lado, grita “Fora, petralhada”, e “Fora, Dilma”. Puxo papo, e ele conta: “Sou do grupo Mudança Já, que luta por menos impostos e uma gestão eficiente”. Esse não parece da periferia. Pelo papo e pelas roupas. De fato, mora no Jabaquara – bairro de classe média. O menino fala mal do MPL – Movimento Passe Livre, que puxou as manifestações desde o início. “Esses não me representam, são agitadores e falam com jeito de comunista”.

Êpa…


De repente, o grupo dos mascarados se exalta e avança sobre os portões da Prefeitura. Voam pedras, arrancadas do calçamento do centro antigo. Pedras portuguesas. Jovens mascarados arremetem contra os homens da Guarda Civil Metropolitana.

Um deles usa camiseta branca justa, bota em estilo militar e age com a volúpia típica dos provocadores que conhecíamos tão  bem nos anos 80 – quando a Democracia ainda engatinhava. É o rapaz que aparece nas fotos acima…
Alguns picham as paredes da Prefeitura. A turma mais moderada grita: “sem vandalismo”. Os mascarados devolvem: “sem moralismo”. Um rapaz passa a meu lado e grita: “vamos quebrar tudo”. E quebram mesmo.* Pedras voam perigosamente sobre nossas cabeças.
Mas a imagem mais chocante eu veria logo depois. Um grupo segura uma bandeira brasileira e queima. Um rapaz grita: “foda-se o Brasil, Nacionalismo é coisa de imbecil”. E aí tenho certeza que há um caldo de cultura perigoso por aqui.
Um Brasil fraco, um Estado nacional sob ataque, não será capaz de melhorar a vida do povo. Isso interessa para os conservadores e para seus aliados nos Estados Unidos.
De repente, chega um grupo novo, mais de cem pessoas. Trazem uma faixa amarela, com a frase “Chega de Impostos – Mooca”. O bairro da Mooca é um reduto da classe média – em geral, conservadora. A palavra de ordem é “Fora, Dilma”.
Um funcionário da Prefeitura meio gordinho aparece na janela. Ao meu lado, um grupo berra pra ele: “Gordo, filho da puta, você vai morrer. Você come nossos impostos, filho da puta”.
Penso com meus botões: essa turma  foi pra rua pra pedir serviços públicos de qualidade e, de repente, está pedindo também menos impostos, menos Estado. E queimando a bandeira do Brasil. O que é isso?
Ah, é o sintoma de uma sociedade que incluiu jovens pelo consumo, sem politização. Ok. Isso está claro. Desde 2010, dizíamos nos blogs que essa equação do lulismo poderia não fechar. Despolitização? Ou pior que isso: um pé no fascismo? O discurso que nega a Política é a melhor forma de deixar a avenida aberta para uma Política autoritária.
Claro que o povo na rua é muito mais que isso. O recorte que descrevo acima é bastante específico. Entre os milhares que foram para a Paulista, na segunda e na terça-feira em São Paulo, havia muita gente progressista, disposta a mudar o Brasil. Mas ali também imperava o “Fora, Políticos”. Ora, se todos foram eleitos, o que será que essa turma imagina? Sovietes no Grajaú e no Morro do Alemão? Nada disso. A idéia de muitos por hora é botar fogo em tudo. Qual será o fim disso?
A esquerda organizada, hoje tive certeza, precisa disputar as ruas. Lula precisa reaparecer e botar o bloco na rua.
Outro dia escrevi aqui: quando vemos esse clima de “Fora, todos os Políticos” podemos imaginar duas saídas possíveis
–  a Argentina que escolheu os Kirchner para se recuperar depois do caos;
– ou a Espanha, que levou jovens “indignados” para as praças (e lá também bandeiras de partidos eram “proibidas”) mas no fim das contas elegeu os franquistas do PP.
No Brasil, o jogo está sendo jogado. A massa lulista – aquela massa forte das periferias das capitais, e do Nordeste – essa massa não está nas ruas. Isso ficou claro pelo que vi e ouvi nas ruas de São Paulo.
Nas ruas há uma mistura: ultra-esquerda, nova esquerda, indignados em geral e, infelizmente, também há o velho lúmpen que pode virar – fácil, fácil – caldo de cultura para uma saída autoritária.
Quem conhece bem a história do Brasil não ficaria surpreendido se, desse processo todo, nascesse não “uma nova política”. Mas um governo (mais) conservador, que botasse o Brasil de novo “nos trilhos” da submissão aos EUA, jogando fora os tênues avanços da Era Lula.
Afinal, “foda-se o Brasil”, não é?  Essa cena não vou esquecer: a nossa bandeira queimada por jovens tresloucados que afirmam querer mudar o país. Foi estranho.

* Ao fim da manifestação, parte dos jovens mascarados avançou em direção ao carro da TV Record que estava diante da Prefeitura e tocou fogo no veículo. Tudo que parece – ou é –  símbolo de poder acaba virando alvo. Nenhum jornalista ficou ferido. O alvo era a empresa.

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DEMOCRACIA, APRENDIZADO QUE SE CONSTRÓI EXERCENDO. Em um processo de mobilização no nível que vem ocorrendo no País fica cada vez mais notório que os riscos de limitações das liberdades individuais, politicamente falando, não raras vezes partem da própria sociedade civil, e não necessariamente do Estado - sem querer eximir o potencial deste para isso, enquanto detentor do monopólio legal da Força.

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É desnecessário conhecer mais a fundo o tal projeto que aprova a "Cura Gay" no País, aprovado nesta semana aprovada por votação simbólica na Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados, para se assustar com o nível medieval que chegou nosso Parlamento.

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A imprensa revela por vezes sua visão política profunda e engajada apenas pela observação das questões que propõe agendar. A enquete de hoje na rádio de maior audiência no RS, por exemplo, algo como: Manifestação x Civilidade, é possível eliminar as laranjas podres do cesto? A ideia de eliminação dos indesejáveis está sempre presente no discurso da imprensa hegemônica, seja explícito, seja nas entrelinhas de determinadas falas.

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Discordo frontalmente do tipo de hostilidade que foi vítima Caco Barcelos no Largo da Batata, em SP. A qualidade de seu trabalho desmerece esse tipo de situação. Entendo que ele mediu o custo a pagar, mas é alvo errado; quem conhece seu trabalho sabe disso. É um equívoco criminalizar todos os programas e profissionais que atuam na Globo por causa da orientação político-editorial da empresa. Generalizações sempre cometem excessos.

terça-feira, 18 de junho de 2013

A violência e a mobilidade de uma causa

O desfecho violento entre segmentos dos manifestantes e policiais em algumas capitais, que empolgou muita gente e deixou outros tantos atônitos, deixa espaço para refletir melhor sobre esse fenômeno. Se nota nele contradições de ordem política (bandeiras de partidos identificados com a causa são hostilizados em seu interior) e multiplicidade de causa (enquanto há os chamados pacifistas, há também os que articuladamente optam pela ação política do confronto), potência e habilidade mobilizatória (surpreende a força e agilidade com que, em poucos dias, milhares se envolvem na mobilização), entre outras. Em um primeiro momento, é preciso constatar que o saldo político do que ocorreu, no âmbito local provavelmente vai ser desfavorável politicamente para o movimento - se é que dá para definir assim, de uma forma unificada a união das várias redes, partidos e instituições ali envolvidas. Por outro lado, no âmbito nacional, há uma constatação da força e do clamor popular, que tende a fazer aos governantes ficarem atentos sobre a insatisfação de rumos da política brasileira.
Revela também contradições e uma multiplicidade de causas, que precisa, e provavelmente vai, se traduzir em mudanças positivas para todos.

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Restringir a possibilidade de se manifestar partidariamente é pretender impor uma visão única, de que política se faz só de um jeito e em um sentido. Contraditório ao próprio espírito plural dessa mobilização. O sentido libertário da politica é a livre manifestação, e restringir isso, seja de fora e de dentro é óbvio que apolítico. Sinceramente, decepcionante!!!

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Transporte é serviço de interesse público, e tem que haver responsabilidade social das empresas nisso; o Estado tem que ser o canal mediador entre os anseios populares e o empresariado, no sentido de assegurar a qualificação dos serviços com uma tarifa racional e justa, sem transferir custo a mais por isso a população. Senão, temos aí uma aliança com o Capital para prosseguir a exploração de um serviço coletivo, sem dar retorno decente por isso.



segunda-feira, 17 de junho de 2013

Transporte de Época, inspiração para o a Rebeldia e a Criação

Ainda sobre as possibilidades que me ocorrem em torno da ideia de transporte e mobilidade, seja no sentido literal, seja na órbita metafórica, está a das imagens de outros tempos, 
em outras palavras, a memória. Essa é uma questão valiosa e cara àquelas gerações que outrora sentiram na pele o peso de governos e sociedades repressivas, e que pagaram por estarem a frente de seu tempo. E daí, me refiro, obviamente aos que viveram isso a partir de uma consciência de mudança então necessária. 

Lembrar tem a ver com recuperar o sentido de uma vivência, uma experiência em um tempo específico, que marca um pedaço de nossa história. Quando esta história individual, que tem a ver com um olhar e um sentimento pessoal, se vincula ao plano coletivo, passa a interessar socialmente. E quando essa experiência de convívio entre uma comunidade, de que natureza for, é marcada por um drama, temos aí um vínculo coletivo que pode contribuir para a revelação de um momento histórico e, mais do que isso, impulsionar o interesse pela recuperação e preservação dessa memória.

Hoje, retomar a reconstrução desse imaginário é um desafio que muitos tomaram para si, dentro de suas respectivas artes e discursos. Os protestos que se registram pelo mundo e o Brasil tem a ver com essa reconstrução, a partir de uma influência que não se perdeu, mas se dispersou pelo capitalismo. Os jovens (sempre no sentido espiritual do termo) parecem estar querendo também recuperar isso, à sua maneira, meios e alcance.

Se sabe bem que a história não é estanque, e entre as frestas do discurso oficial, a geração de hoje herda uma influência de seus ascendentes sobre os desmandos políticos de outrora. Somando isso à característica imanentemente mobilizadora dos jovens e as demandas sociais ainda vigentes em um campo tão carente para esse segmento, como o transporte e mobilidade, temos o clima ideal para esse senários se construir. 

Onde vai dar essa situação é uma dúvida geral, mas é fato que ela já se integra a história brasileira como mais um registro que nega a noção de que o povo brasileiro é acomodado politicamente  Mérito dos mais jovens, mais uma vez.

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- Tendo também a crer que a esquerda autêntica desse País só tende a perder se não tomar a dianteira desse processo de manifestações, que mobiliza dezenas de milhares na maioria das capitais.

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Articulação Nacional de Agroecologia - ANA

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Imagem: Perfil Capinaremos (Face)

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* Esta entrevista foi concedida pelo filósofo em outro contexto, por ocasião da onda de esculacho de ex-ditadores, no entanto, dada a sua profundidade, se ajusta muito bem ao fenômeno vigente no País.

Safatle: juventude perdeu o medo do capitalismo




Reproduzido de Outras Palavras

POR VLADIMIR SAFATLE
– ON 03/07/2012

Filósofo contesta mitos sobre “geração despolitizada”, propõe intensificar choque de valores e sugere que é preciso hackear instituições conservadoras

Entrevista a Beatriz Macruz, Guilherme Zocchio e Rute Pina* | Imagem Racalavaca (flickr)

Que caracteriza o comportamento da geração que, ao chegar à faixa dos vinte anos, começa a sondar seus papéis políticos? Por que ela não adere a hábitos valorizados no passado, como o engajamento num partido ou a leitura de um jornal diário? Como expressa seus desejos de transformação, que parecem desdobrar-se em múltiplas causas e campanhas, às vezes fragmentadas? Que atitudes assumirá, no futuro próximo?

O filósofo Vladimir Safatle é um dos que têm dedicado parte de seu tempo a refletir sobre estas questões. Conhecido de muitos pelas colunas que publica em “Carta Capital” e “Folha de S.Paulo”, ele é, muito mais que isso, um estudioso profundo da herança (e presença…) da ditadura brasileira; e um pensador que, à maneira de Slavoj Zizek, procura articular marxismo renovado com teoria psicanalítica.

Suas reflexões têm produzido interpretações instigantes sobre a nova geração. Ele rechaça, é claro, os pontos de vista superficiais, segundo os quais o fato de não haver “povo saindo às ruas” indicaria uma fase de despolitização. É preciso ir mais fundo, examinar os valores que mobilizam e os que já não encantam; a partir deles é que será possível fazer previsões de longo prazo.

Safatle anima-se, quando se dedica a esta sondagem. Ele destaca que aspirações como ascender socialmente, ser “bem-sucedido” segundo as regras e critérios do sistema, “fazer curso de publicidade ou entrar no departamento de marketing” já não cativam. Há sinais de desconforto social. Busca-se outros encantos e prazeres: talvez, participar em redes de colaboração, contribuir para uma distribuição menos desigual das riquezas produzidas por todos, construir novas relações entre o ser humano e a natureza.

Mais: segundo o filósofo, já é possível vislumbrar o momento em que desaparecerá a cultura do medo disseminada pelo capitalismo após a queda do (mal-)chamado “socialismo real”. Está em xeque, diz ele, a ideia de que “se quisermos grandes mudanças, provocaremos catástrofes” e “só estaremos seguros no presente – por mais que o detestemos e o julguemos insuportável”…

É natural, diz Safatle, que a nova geração busque organizar-se de forma não-tradicional. “Os grandes partidos já não têm força alguma para mobilizar as pessoas. E os pequenos, cobram caro pela mobilização: um tipo de adesão que boa parte dos jovens não está disposta a dar, pelas melhores razões. Eles não querem virar instrumentos para uma lógica partidária”.

À falta de instrumentos eficazes para expressar vontades coletivas, seria o caso de optar exclusivamente pela micropolítica, ou pela ação à margem das instituições? Safatle pensa que não. Ele rejeita fórmulas como a de John Holloway, que propõe uma esquerda totalmente afastada do Estado. Alfineta: “se tal postura prevalecer, os donos do poder irão atrapalhar todas as nossas tentativas de mudar o mundo: não conseguiremos fazer nada”.

Mas propõe-se a sondar saídas. “Há algo no meio do caminho [entre as lutas e as instituições], que você opera pressionando de fora (…) O Estado, os partidos e o parlamento não vão desaparecer. No entanto, você pode operar as estruturas políticas em outras chaves. Forçar a democracia plebiscitária, esvaziar atribuições do parlamento, ativar processos de democracia direta”. Operar o que outros pensadores chamam de “hackeamento das instituições”.

Safatle falou sobre todos estes temas numa longa e preciosa entrevista, feita por três estudantes de jornalismo da PUC – São Paulo. “Outras Palavras” tem a satisfação de publicá-la a seguir (A.M.) 

Você consegue imaginar por que é a geração da juventude de hoje, e não a que viveu ou ainda pegou o resto da ditadura, que está promovendo os esculachos contra agentes do regime militar?

Safatle: Porque esta é uma das gerações mais politizadas que tivemos nos últimos trinta anos. Contrariamente ao que algumas pessoas querem nos fazer acreditar, não vivemos num processo irreversível de despolitização juvenil. Acredito exatamente no contrário. Acho que a geração que hoje tem vinte, vinte e poucos anos, é muito mais politizada do que a minha, de pessoas que hoje têm quase quarenta. A minha era de pessoas que tinham como maiores preocupações ascender socialmente no mercado, fazer curso de publicidade, entrar no departamento de marketing… As preocupações políticas eram nulas. Existia todo um discurso de que as ideologias haviam terminado, havíamos chegado ao fim da história e não havia outra forma de vida possível, a não ser a institucionalizada pelas sociedades capitalistas avançadas.

A atual, é uma geração que vive a experiência da crise social, de uma crise econômica mundial (mesmo que o Brasil seja um caso à parte). Há um esgotamento da confiança na democracia parlamentar, a ascensão da extrema direita, o retorno do racismo e da xenofobia: são questões de profunda natureza política. É muito normal que uma parcela de jovens, no Brasil, volte-se para o que resta da ditadura, seu legado, a impossibilidade de saber que há um acerto de contas com os crimes do passado; e que faça mobilizações como as que começamos a enxergar.

Isso também demonstra algo interessante: as sociedades nunca esquecem. Até hoje, fala-se no genocídio armênio, há mais de cem anos. As experiências das ditaduras podem ser simbolizadas, quando você encontra uma inscrição simbólica adequada para este tipo de experiência. Como isso não existiu no Brasil, dá-se um fenômeno descrito por Lacan: o que é expulso do simbólico, retorna no real, e de forma violenta. Como nunca tivemos uma inscrição simbólica da violência da ditadura, ela volta agora sob a forma do desprezo, que várias parcelas da juventude têm a figuras que cometeram crimes contra a humanidade. Estamos falando do uso do aparato do Estado, da tortura, assassinato, estupros, ocultações de cadáver e coisas desta natureza.

Mas esta manifestação civil não chega em uma instância oficial do Estado. Você acha que ela também pode contribuir para que surja um debate sobre o tema?

Safatle: Acho que demonstra claramente a existência de um desconforto social – e é o primeiro passo. O argumento de quem quer esquecer a qualquer custo é que a sociedade já se pacificou e reconciliou, não haveria nenhuma razão de o Estado intervir em um processo resolvido. Essas manifestações demonstram que tudo isso é falso, uma mentira, a reconciliação foi extorquida. A própria Lei da Anistia é um exemplo claríssimo: foi votada só por membros do partido do governo. A oposição não se reconhecia de no projeto. Que tipo de acerto é esse? Conseguiram extorquir a reconciliação, e querem fazer passar a ideia que ela resultou de ampla negociação por debate. Sem contar que as instâncias de justiça de transição, no mundo inteiro, são completamente contrárias à de uma anistia autoconcedida. Os militares concederam anistia para si mesmos. Isso é, em qualquer situação, uma aberração jurídica.

Você acha que o fato de isso aparecer no momento que o estado brasileiro está se organizando para instaurar uma Comissão da Verdade revela um desconforto?

Safatle: É uma maneira de pressionar o debate, tentar impedir que a Comissão da Verdade seja uma farsa, como tudo indica que pode ocorrer. É uma comissão esvaziada, tem apenas sete membros. Vai operar sem poder de mandar material para a Justiça, pois, a princípio, sua função é descobrir o que realmente aconteceu. Essa é uma questão importantíssima: não sabemos o que aconteceu. “Existem quatrocentos e poucos mortos”. Quem disse que foram quatrocentos e poucos? Isso foi o que a gente conseguiu descobrir.

Num processo de Comissão da Verdade, os crimes vão aparecendo. Quem nos garante que não aconteceu no Brasil algo como na Argentina: sequestro de crianças, essa brutalidade que é, para mim, o pior dos crimes. Entrega-se os filhos dos torturados para os torturadores. Corta-se a possibilidade de memória da dor. Esse lado maquiavélico da ditadura argentina coincide com a pior experiência do nazismo. Primo Levi dizia que a pior frase que ouvira, quando estava no campo de concentração, era a de um oficial nazista: “tudo o que a gente fez é tão inacreditável, que ninguém vai ouvir ou acreditar no que você disser. E a gente vai apagar todos os rastros”.

Você percebe uma mudança na forma, na estética dos esculachos para os movimentos na época da ditadura?

Safatle: Com certeza. Você tem a identificação clara de um indivíduo e uma pressão, um movimento claro de desprezo. É um recado: “você pode conseguir segurar algumas coisas na imprensa e escapar de tudo, menos do o desprezo social”. É completamente distinto das manifestações que ocorreram no período militar, de luta contra um aparato repressivo. Temos agora consciência de como o reconhecimento social é central na vida política. Retira-se o reconhecimento social ao dizer: “Você não pode ser um cidadão de plenos direitos. Você é um criminoso”.

Você enxerga uma relação entre a mudança de ativismo no Brasil e o movimento Occupy, que propõe uma nova forma de se manifestar?

Safatle: Há algo em comum: todos estes movimentos são feitos à margem de partidos. As estruturas partidárias – pelo menos as grandes – não têm mais força alguma parra mobilizar as pessoas. E os pequenos partidos cobram caro pela mobilização: um tipo de adesão que acredito que boa parte dos jovens não está disposta a dar, pelas melhores razões. Eles não querem virar instrumentos para uma lógica partidária. Essas mobilizações se fazem em torno de temas: você se organiza para certos objetivos, cria estruturas ou fóruns ligados a eles; depois, eles se dissolvem. É bem provável que isso seja cada vez mais utilizado.

O Occupy forneceu um modelo para este tipo de processo. Mas… o que eles conseguiram? Francamente, não é esta a questão. O ponto de vista por trás de tal pergunta é muito rasteiro. “ – Deu um resultado logo em seguida? – Não. – Então, não deu resultado algum”.

Não faz sentido: às vezes os resultados precisam de anos. Um primeiro movimento produz um desdobramento aqui, outro ali… Lá na frente, anos depois, você vai enxergar resultados mais concretos. Essa visão de ato e reflexo, bate aqui e vê se acontece alguma coisa ali, é a antipolítica por excelência. Acho que os movimentos foram muito bem-sucedidos. Eles tensionaram um acordo que parecia intocável, forneceram o modelo de um processo de mobilização e isso não terminou.

No Chile há, até hoje, grandes manifestações sobre a educação, 400 mil pessoas nas ruas contra o governo, por uma escola pública de qualidade. O processo é mesmo lento, ninguém ache que vai conseguir modificar o tabuleiro do xadrez do debate político de um dia para a noite, mas toda grande caminhada começa com um passo – e ele foi dado.

Penso numa frase de Deleuze, segundo a qual os jovens necessitam muito ser motivados. Nossa geração pede isso. Você não acha que falta uma noção maior do que tudo isso representa?

Safatle: Isso é muito normal, porque tivemos um esgotamento das grandes explicações. Não porque estivessem completamente erradas, mas estavam parcialmente erradas. Não deram conta de uma série de processos ocorridos nos últimos vinte, trinta anos. É normal que você precise reconstruí-las agora, em novas bases. Aquilo que um dia Jean-François Lyotard chamou das grandes metanarrativas. Tem um lado certo e um errado, da crítica que fazia. Ele disse que as grandes metanarrativas, a ascensão proletária, o movimento revolucionário, a teleologia histórica, isso tudo era um grande equívoco.

Eu diria que não foi um pequeno equívoco. Você não pode abandonar perspectivas de largo desenvolvimento histórico. Do contrário, os acontecimentos ficam completamente opacos, você torna-se incapaz de enxergá-los. Os fatos parecem vir no ritmo do acaso, da completa contingência.

No entanto, existe o espaço da contingência. Ou seja, há acontecimentos completamente imprevisíveis, que exigem uma reformulação ampla dessa perspectiva de análise histórica. Isso não aconteceu. Eu diria que uma tarefa atual é compreender o lugar da contingência no interior de uma dinâmica onde a necessidade vai se construindo. Ninguém enxerga muito bem o que está acontecendo, isso só é possível depois. Em certos momentos da história, algumas pessoas conseguem mobilizar mais e dizer: “vejam, existe uma abertura, um desfiladeiro. A gente consegue passar por aqui”.

Falta acreditar que os processos abertos não necessariamente terminam em catástrofe. A gente absorveu muito essa ideia: se quisermos grandes mudanças, provocaremos catástrofes. Segundo tal lógica, só estaríamos seguros no presente – por mais que o detestemos e o julguemos insuportável. Espero que esse raciocínio desapareça o mais rápido possível. Ele expressa a cultura do medo: você não projeta nada para frente. Você se rende ao presente.

Nos momentos de crise, há tanto busca de novos referenciais, quanto retorno do autoritarismo. Num país como o Brasil, em que as correntes conservadoras são muito fortes, não há risco de que esta segunda posição prevaleça?

Safatle: Essa é uma luta que existe no Brasil hoje. Nosso debate político é hoje cultural. Os projetos econômicos são mais ou menos iguais. Existem distinções, mas não são enormes, reais. Ninguém prega grandes reformas. Nenhum partido importante sugere: “vamos fazer uma democracia plebiscitária”. Há um grande consenso.

Onde está o debate político? Está no campo da cultura, dos costumes, dos hábitos. O aborto virou um dos temas mais importantes do Brasil. Casamento homossexual, todos os outros problemas ligados à modernização dos costumes.

Isso tem um lado bom. A gente está brigando por formas de vida distintas. Mas isso também demonstra que o debate centrado na cultura sempre tocou muito mais os jovens e sempre é um debate da esquerda. Hoje, há uma direita cultural, um pensamento cultural de direita forte, conservador, que consegue mobilizar camadas da juventude. Julgo isso algo muito grave, mas lembro que é característica de todos os processos históricos ricos: a juventude dividindo-se ao meio. Há uma ala conservadora, outra progressista. Na época da ditadura militar, esse processo era muito claro.

A França viveu uma eleição agora. Um partido de extrema-direita ficou em terceiro lugar – e em primeiro, nos votos dos jovens entre 18 e 25 anos. Por que? Eles trazem questões culturais: imigração; nossos valores; nossa forma de vida; nossa religião contra a religião “atrasada” dos “outros. São debates que estão, de uma maneira ou de outra, chegando no Brasil. A gente precisa se preparar para isso, também. Para uma divisão que vai ocorrer, de maneira cada vez mais forte. Não há como escapar dela.

Você conseguiria apontar quais são alguns agentes dessa direita cultural?

Safatle: Existe uma proliferação de blogues de extrema-direita no Brasil, que a juventude lê. São colunistas de jornal, que se assumem claramente como conservadores. Isso não deve ser negligenciado: é um fenômeno que veio para ficar.

Significa o quê? Que o debate cultural deve ser feito com toda a força. A discussão sobre a memória é um aspecto decisivo. Que tipo de sociedade queremos? Uma sociedade que acredita que, esquecendo crimes do passado, você tem um presente melhor? Uma sociedade que tem medo de fazer memória? Onde você publica um artigo sobre a ditadura na internet, e surgem 150 pessoas comentando como era fantástica a vida naquele tempo, como pelo menos não tinha corrupção?

Há um preceito liberal que se chama “Direito de Resistência”. Não está em Lênin, mas em Locke, que era a favor do tiranicídio. Dizia: “se um tirano usurpa os seus direitos, as liberdades individuais e as liberdades sociais, ele merece a morte”. Isso está também no Rousseau – ou seja, na tradição liberal do pensamento político. Se algumas pessoas têm a coragem de usar a famosa teoria dos dois demônios,segundo a qual havia terroristas de esquerda e de direita, elas colocam-se aquém da perspectiva liberal de política.

Que tipo de sociedade essas pessoas procuram realizar no presente? Penso que não é mais possível admitir mais esse tipo de situação. Eles querem dizer que, mesmo numa ditadura, a violência contra o Estado não é aceitável. Para mim, é uma das proposições mais antidemocráticas que se possa imaginar. Na década de 1920, greve era um crime. Mas foi graças a esse crime que os direitos trabalhistas foram universalizados.

Uma esquerda mais clássica, organizada em partidos, fala numa disputa entre hegemonia e contra-hegemonia – e sugere disputar instituições como a mídia, o governo, o parlamento. Este tipo de opinião pode enfraquecer os movimentos da juventude que procuram uma saída não-institucional e novas formas de política?

Safatle: Acho que não – e é um ótimo tema. Há momentos em que você precisa saber como se organizar institucionalmente. A Primavera Árabe demonstra isso claramente. Começou, sempre, com movimentos jovens: na Tunísia, diplomados desempregados; no Egito, o movimento 6 de Abril, composto por jovens de várias tendências políticas. Conseguiram resultados imediatos mas, na hora de gerir o processo, não existia uma estrutura institucional, uma organização. Quem colheu todos os frutos do processo foram  os partidos islâmicos, mais organizados e com capilaridade popular.

Qual o modelo de organização para grupos que não admitem o partido como a figura clássica de organização? Uma nova estrutura política? Frentes mais flexíveis? É algo que precisaremos, em algum momento, responder. Do contrário, todas as estruturas institucionais serão dominadas por aqueles que já sabem operá-las. E elas não vão desparecer. O Estado, as eleições, os sindicatos não vão desaparecer.

Novas instituições poderiam superar as que existem agora? Poderíamos imaginar a fundação de um novo Estado e uma nova forma sociedade? Ou é muita pretensão?

Safatle: Sempre fui firmemente contrário ao slogan “mudar o mundo sem tomar o poder”, de John Holloway. Os donos do poder agradecem: se tal postura prevalecer, irão atrapalhar todas as nossas tentativas de mudar o mundo: não conseguiremos fazer nada.

Não existe política completamente à margem da estrutura institucional, da mesma maneira como não se pode fazê-la só dentro das instituições. Há uma região limítrofe, que é necessário saber operar. Precisamos ir além do pensamento binário, do “ou  totalmente fora, ou totalmente dentro”. Há algo no meio do caminho, que você opera pressionando de fora. Isso, ainda não conseguiu constituir. Só há um grupo que conseguiu fazer isso: os lobistas. Os lobbies estão semi-institucionalizados. Operam de fora, forçando a estrutura institucional. É necessário uma espécie de lobby popular, que seja contraponto ao lobby econômico.

Pensei no texto “O que é ser contemporâneo?”, do Giorgio Agamben. Ele sugere reconhecer a época em que vivemos, assumir que ela tem instituições, e ao mesmo tempo negá-la, querer deixá-la. É isso que inspira a juventude?

Safatle: Sim, com certeza existe essa região limítrofe que é necessário saber operar. Volto a insistir: o Estado, os partidos e o parlamento não vão desparecer. No entanto, você pode operar as estruturas políticas em outras chaves. Forçar a democracia plebiscitária, esvaziar atribuições do parlamento, transferir decisões para a população, ativando processos de democracia direta.

Qual é a estratégia de desmobilização? É dizer: “ou você está dentro do Estado de Direito, ou você está fora; ou aceita a estrutura institucional tal como ela é hoje, ou está completamente fora e portanto faz apologia da ditadura”. Não existe isso.

Você pode perfeitamente admitir que algumas estruturas vão continuar e, ao mesmo tempo, construir processos de transferência direta de poder. Esse me parece o grande desafio ao pensamento político atual. Como a gente constrói, como dá figura para as demandas de democracia real? Há muitos exemplos. Um deles: a Islândia foi um dos primeiros países a mergulhar na crise econômica europeia. Bancos islandeses tomaram dinheiro emprestado nos Países Baixos e Inglaterra. Quando quebraram, a Inglaterra e os Países Baixos apresentaram a conta ao governo islandês: os bancos eram privados, mas a conta foi para o Estado. O parlamento se dobrou, aceitando a conta bilionária. A população – pequena, em torno de 250 mil habitantes – teria de pagar durante cinquenta anos a dívida dos bancos.

Bem, havia um presidente, um pouco mais sensato, que lembrou uma regra da Constituição islandesa, segundo a qual os presidentes têm o direito de consultar a sociedade, antes de promulgar leis. Convocou-se um plebiscito: o povo foi chamado a votar se queria ou não pagar a dívida. Pode-se imaginar o terrorismo: em caso de não-pagamento, dizia-se, o país iria converter-se em pária internacional.

Mas o povo disse não. Hoje, a Islândia está melhor do que todos os outros países que entraram na crise à mesma época: Portugal, Espanha, Grécia, Irlanda. Isso ensina que é possível politizar a economia, tirar poderes indevidos. Alegar que um parlamento sozinho não pode decidir uma questão tão central como essa. Um parlamento é composto de pessoas que têm as eleições pagas por bancos… O parlamentar deve para o banco: há uma nova eleição daqui a quatro anos e ele sabe que, se votar contra, não tem mais financiamento, não vai ser reeleito. Como uma pessoa dessas pode tomar esse tipo de decisão?

Mas no caso da Espanha, por exemplo, os indignados não conseguiram construir alternativas como essa. O movimento caminha nessa direção?

Safatle: Na Islândia, já havia o mecanismo institucional. Tiveram a sorte de contar com um presidente um pouco mais sensato, que deu realidade ao processo. Mas é um dado extremamente interessante, porque pode ser transformado em bandeira: “quero que na Espanha a lei islandesa seja aplicada”. É possível fazer o mesmo em várias outras situações. Você tensiona o debate. Os conservadores reagirão: “a população não pode decidir sobre essas coisas, são muito complexas, só tecnocratas têm que decidir”.

“Mas, então, fala, fala na nossa frente: só tecnocrata de banco vai decidir o que vão fazer com o nosso dinheiro?” Vamos ver o que vai acontecer. Este é um recurso muito importante: você obriga o poder a falar os seus absurdos, que ele normalmente não tematiza. Todo mundo sabe que quem decide é tecnocrata, mas ninguém fala. Quando certas coisas são ditas, algo acontece, mesmo que exista um acordo tácito entre as pessoas. Por isso, uma questão política central é obrigar o poder a falar, colocá-lo contra a parede. 


*Estudantes de jornalismo da PUC-SP e colaboradores de Outras Palavras

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As artes visuais também mergulharam contudo na onda criativa que emerge na Primavera paulistana.


Imagem: Perfil Mário Pirata (Face)




Perfil Marcos Rolim (Face)