quarta-feira, 29 de junho de 2011

Uma idéia que merece todo registro e apoio

Cooperação internacional une Canoas, Feevale e País Vasco
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18:24 - quarta-feira, 29 de junho de 2011
   
“A construção de uma outra história”. Com essas palavras, o Prefeito de Canoas, Jairo Jorge, sintetizou a dimensão social que se insere o acordo de cooperação assinado na tarde desta quarta-feira, 29, com a Universidade Feevale e a Universid Del País Basco. O ato foi realizado no auditório Sady Fontoura Schiwitz do Paço Municipal. “Era uma história que já existia lá no Guajuviras, mas que a violência escondia, e que agora faz as pessoas brilhar”, completou o prefeito.

Assinaram o termo de cooperação com a Prefeitura de Canoas a professora e diretora do Departamento de Periodismo II da UPV, prof. Dr.ª Maria José Cantalapiedra Gonzáles (FOTO), e o reitor da Universidade Feevale, prof. Ramon Fernando da Cunha.


Na avaliação dos representantes das instituições que assinaram a parceria, essa iniciativa deve viabilizar a qualificação e o fortalecimento do projeto Agência da Boa Notícias Guajuviras (ABNG), além de desencadear outras ações conjuntas entre as partes envolvidas. Na ocasião, a coordenadora da ABNG e secretária adjunta da Secretaria Municipal de Canoas, Andrea de Freitas, destacou a oportunidade aberta pela Prefeitura de Canoas para a realização desse projeto, que está inserido nas ações do Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (PRONASCI) no Território de Paz Guajuviras. “O atual governo tem tido uma dinâmica de governo muito interessante, que está colocando Canoas no lugar que esta cidade devida estar, que é oferencendo melhor qualidade de vida e oportuniddes aos seus cidadãos”, observa.

(...)

Confira no link do Território de Paz Guajuviras mais informações sobre a ABNG, além dos vídeos produzidos pelos alunos: http://guajuvirasterritoriodepaz.blogspot.com/.

Ronaldo M. Botelho
(Reproduzido do site www.canoas.rs.gov.br)

Abecedário Cosmonicante - Amor / Arder / Alvorecer:

Há muito tempo, no começo das primeiras civilizações, e no calar de uma dessas noites que antecedem o fim do mundo, houve uma chuva de sementes. Proveniente de órbita ainda não identificada, esses elementos espalharam-se por todos os cantos da terra, gerando milhões de brotos de certa plantinha, invisíveis aos olhares sombrios, de onde brotam flores raras. Desde então, elas são beijadas entre suas pétalas por pássaros transcontinentais, não-catalogados pela ciência – portanto, ainda livre de extinção – e confundidos pela religião. De hábitos estritamente noturnos, essas aves são polinizadoras daquela flora, das quais distribuem por aí partículas implacáveis sobre os seres vivos. Nas pessoas, dizem que tem efeito mutante sobre as mentes e corações, gerando sensasões de Sol e Sombra; Dor e Prazer; Carência e Satisfação; Humanidade e Barbárie. Atualmente, devido a operações de âmbito climático, político e cultural, seus efeitos se tornam cada vez mais complexos a compreensão humana (não se sabe ainda interpretar como seu poder se relaciona entre os mundos Animal, Vegetal e Mineral. Veneno para os estados mais pacíficos, há muitos também que sustentam estar nesse raro e estranho elemento transcendental a única saída para a civilização não perecer congelada.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Terras estão mais concentradas e improdutivas no Brasil

Publicado em 22 de junho de 2011 — por reformaagraria1 (Rede de Comunicadores pela Reforma Agrária)
Por Igor Felippe Santos
Da Página do MST


Dados do cadastro de imóveis do Incra, levantados a partir da auto-declaração dos proprietários de terras, apontam que aumentou a concentração da terra e a improdutividade entre 2003 e 2010.
Atualmente, 130 mil proprietários de terras concentram 318 milhões de hectares. Em 2003, eram 112 mil proprietários com 215 milhões de hectares. Mais de 100 milhões de hectares passaram para o controle de latifundiários, que controlam em média mais de 2.400 hectares.
Os dados demonstram também que o registro de áreas improdutivas cresceu mais do que das áreas produtivas, o que aponta para a ampliação das áreas que descumprem a função social. O aumento do número de imóveis e de hectares são sinais de que mais proprietários entraram no cadastro no Incra.
Em 2003, eram 58 mil proprietário que controlavam 133 milhões de hectares improdutivos. Em 2010, são 69 mil proprietários com 228 milhões de hectares abaixo da produtividade média.
“Essas áreas podem ser desapropriadas e destinadas à Reforma Agrária”, afirma José Batista de Oliveira, da Coordenação Nacional do MST.
Os critérios para classificar a improdutividade dessas áreas estão na tabela vigente dos índices de produtividade, que tem como base o censo agropecuário de 1975.
O número de propriedades improdutivas aumentaria se fosse utilizado como parâmetro o censo agropecuário de 2006, que leva em consideração as novas técnicas de produção agrícola que possibilitam o aumento da produtividade.
“Há um amplo território em todas as regiões do país para a execução da reforma agrária com obtenção via desapropriação, sem ameaçar a ‘eficiência’ da grande exploração do agronegócio”, afirma Gerson Teixeira, ex-presidente da Associação Brasileira de Reforma Agrária (Abra) e integrante do núcleo agrário do PT.


* A guerrilha de Porecatu durou sete anos – de 1944 a 1951. Com o envolvimento do Partido Comunista do Brasil – PCB – em 1948, chegou a controlar um perímetro de 40 quilômetros quadrados. Nesse período os posseiros fundaram as duas primeiras associações de lavradores do Brasil – a de Porecatu com 270 famílias e a de Guaraci com 268. Elas chegaram a 12 até o final do conflito, já com o nome de Ligas Camponesas. A disputa pelas terras devolutas também levou à assinatura do primeiro decreto de desapropriação de terras para fins sociais do país. Foi lá que a palavra camponês foi usada pela primeira vez para designar o trabalhador rural sem terra, arrendatário, colono ou pequeno proprietário.
A obra foi lançada durante a 10ª Jornada de Agroecologia: livro "Porecatu" - de Marcelo Oikawa.
Reproduzido de: http://jornadaagroecologia.blogspot.com/

sábado, 25 de junho de 2011

Sobre a o amor, o pecado e outros demônios

Teologia/ 1
O catecismo me ensinou, na infância, a fazer o bem por interesse e não fazer o mal por medo. Deus me oferecia castigos e recompensas, me ameaçava com o inferno e me prometia o céu; e eu temia e acreditava.
Passaram-se os anos. Eu já não temo nem creio. E, em todo caso – penso – se mereço ser assado cozido no caldeirão do inferno, condenado ao fogo lento e eterno, que assim seja. Assim me salvarei do purgatório, que está cheio de horríveis turistas da classe média; e no final das contas, se fará justiça.
Sinceramente: merecer, mereço. Nunca matei ninguém, é verdade, mas por falta de coragem ou de tempo, e não por falta de querer. Não vou à missa aos domingos, nem nos dias de guarda. Cobicei quase todas as mulheres de meus próximos, exceto as feias, e assim violei, pelo menos em intenção, a propriedade privada que Deus pessoalmente sacramentou nas tábuas de Moisés: Não cobiçarás a mulher de teu próximo nem seu touro, nem seu asno... E como se fosse pouco, com premeditação e deslealdade cometi o ato do amor sem o nobre propósito de reproduzir a mão-de-obra. Sei muito bem que o pecado carnal não é bem visto no céu; mas desconfio que Deus condena o que ignora. (Eduardo Galeano, O livro dos abraços).

sexta-feira, 24 de junho de 2011

A quem escrever

"Ter escrito algo me deixa como um fuzil disparado, que ainda vibra e fumega, ter te esvaziado por inteiro de ti mesmo, como também do que suspeitas ou supõe, bem como os teus estremecimentos, teus fantasmas, tua vida inconsciente, e tê-lo com fadiga e tensão sustentada, com cautela constante, tremores, descobrimentos repentinos e fracassos, tê-lo feito de modo que toda a vida se concentrasse nesse determinado ponto, e advertir que tudo isso é como se não existisse se não o acolhe e lhe dá calor um signo humano, uma palavra, uma presença; e morrer de frio, falar no deserto, estar sozinho, noite e dia, como um morto."
(Pavese), por Ernesto Sábato em "O Escritor e seus Fantasmas".

quinta-feira, 23 de junho de 2011

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Marcas definitivas para portas sem saída

Era início da manhã de um sábado quando seu Jorge, o supervisor, chegou com a equipe. Com seu jeitão de durão (pelo menos assustava os estranhos), já dando as orientações para os operários. E João lá estava - porque sabia o que ocorreria ali. No piso frio, frente à porta, sentado e com as pernas cruzadas se mantinha intacto. Seu Jorge já tinha visto de tudo naquela Casa de Estudante, mas aquele doido sempre surpreendia; outra vez vinha problema, pensou. “O que fazes aí, rapaz, os caras tão com pressa, e tem que começar a pintura, Combinamos isso na reunião de quinta, não vou recuar”, ficou o pé. E João, que estava meio em outra órbita - não chapado dessa vez, apenas meditando - levantou calmanente os olhos. “Essa porta não pode ser pintada, tá nela poemas meus dos últimos três anos, é parte de minha história; minha e de mais uma dúzia de moradores e ex- moradores dessa casa”, apelou em um tom meio choroso. Seu Jorge, pacientemente, retorquiu. “João, as portas tão imundas, demoramos três meses para conseguir fazer isso com dispensa de licitação e o serviço vai ser feito, seja como for. E virou-se aos trabalhadores (já meio inseguros então). “Começamos por cima, depois retornamos a esse andar”, ordenou. João apenas baixou a cabeça, parecendo se fazer meio de surdo. Bastou Seu Jorge subir as escadas, abriram a porta do quarto 21, o da “trio maravilha”, e saiu Lucimara e Fabio, falando quase junto. “E agora, o que se faz, João? Não tem jeito, o cara tá decididio e tua porta de poema, já era”, findou Fábio. Mas Lucimara, mais perserverante e esperta, reagiu. “Um cacete! Ninguém pinta as poesias dessa porta, e pronto”, falou quase como um grito. “Esperem aqui”, e saiu de supetão. Fábio e João ficaram se olhando. Enquanto isso, o trabalho dos pintores no andar de cima já tinha começado. Os dois, meio confusos, foram para dentro do “quarto-casa” tomar um café e matutar o que fazer. Um pouco também preocupados com a determinação de Lucimara, brigar não era o objetivo dos dois. Queriam apenas preservar aquelas reflexões, que misturavam épocas, gerações e perturbações de poetas, e até talentos nascido naquela casa. Riscados na parte central da porta dos quartos, e naquele em particular, aqueles versos atravessaram décadas, desde a fundação daquela casa. Ficaram reflexivos, quase decididos a ir até Seu Jorge tentar argumentar novamente, quando, de repente, ouviram um barulho na porta. Eram os pintores chegando para lixar, iam começar o trabalho. João ia falar algo de novo, ensaiou sentar outra vez na frente da porta, mas dessa vez foi Lucimara que o impediu. “Espera João, chegamos a um acordo.”, interferiu. E ele, atônito, gritou - “Vamos ceder assim, no más? Logo você, que não desiste fácil?”. Luciana olhou em tom paciente. Deixa os caras trabalhar, disse firme, e impôs o respeito que detinha. Então, dando de ombros, João e Fábio se olharam, e saíram porta a fora, com uma fisionomia de trizteza, decepção e raiva. “Nem quero ver isso, vai me doer”, disse ainda Fábio, quase num suspiro. Os pintores pegaram as lixas e começaram o trabalho. A dupla, por sua vez, pegou o primeiro ônibus, e se foram para o Centro. Almoçaram na casa de um amigo da República, passaram na Usina e emendaram a tarde na Redenção. De volta, depois de muito conversarem sobre como as pessoas mudam e o que vale a pena acreditar, se encaminharam para descer a escadaria externa, que dava acesso ao saguão. Foi quando, ainda de longe, perceberam um clima estranho. Um grupo de uns 10 moradores tomava chimarrão em um bate-papo entusiasmado em frente à porta principal. Sabiam que quando isso acontecia o ambiente estava muito bom na Casa. Ao vê-los, todos olharam para eles. Os dois não demoraram para perceber Luciana entre o grupo. Não entenderam nada. Foi Danilo, da filosofia, que saiu na frente ao encontro de ambos para anunciar - “Cara, surpresa. As portas foram pintadas, a Casa está linda”. João e Fábio, ficaram mudos, mas foi Fábio que largou o verbo - “Beleza, para mim, tem outro sentido, cara!”, e virou as costas, seguindo João, que já estava passos à frente. Ao entrarem na Casa, Luciana, com o grupo, nada disse. Mas, ingressando no prédio, olhou em um tom meio risonho. E, no corredor, ambos se dirigiram ao quarto, nem reparando que folhas de jornais granepadas, amarradas por um único barbante do corredor, cobriam as portas no caminho até o quarto 21. Inventaram outra festa, pensou João, mas percebendo que todos os seguiam. Tudo muito estranho. Matutou em pensamento. No exato momento em que Fábio e João chegaram em frente à porta do quarto que residiam, o barbante suspenso que mantinha as cortinas de jornais (inclusive frente à sua porta) foi solta e a surpresa veio em múltiplos sentidos. “Agora Danilo, cochichou Lucimara”, e o mundo brilhou nos olhos de Fábio e João. Em um alto falante, discretamente colocado no canto do saguão, disparava All You Need Is Love (Ouvir Beathles era uma forma de celebrar conquistas por ali, e tudo era motivo fácil para isso). Quase no mesmo momento, ambos descobriram a porta pintada, mas muito diferente do que imaginavam. Na parte externa, preservando os rabiscos de assinaturas, poemas, canções escritas entre as décadas de existência daquela moradia, por seus residentes. A tinta tinha sido aplicada apenas em bordas largas, o suficiente para não prejudicar os textos no seu interior. Faixas de cinza claro no entorno, ao invéz de apagar, ajudavam a dar mais contraste às cores internas dos versos escritos em canetas coloridas. Completamente pintada estava somente a parte interna das portas de todos os quartos, onde ninguém costumava rabiscar (deixavam isso para os guarda-roupas). E o estilo se repetia em todas as portas daquele andar, que era conhecido como “Ala dos poetas”. Perturbados, Fábio e João procuraram Lucimara, que apenas sorriu. “Quis fazer uma surpresa”, um abraço coletivo se sucedeu. E no ouvido de anbos, ela gritou: “Voces acham que eu ia amarelar assim, seus cabeções??”, explicando.. “Negociei com Seu Jorge que a pintura fosse com cores diferentes em cada andar, e no nosso, com esse estilo, e ele topou manter a coisa parcialmente”. Foi João, que quase em lágrimas, perguntou em palavras atropeladas - “Não acredito!!!! Como tu conseguiu dobrar aquele velho teimoso???”. Luciane, novamente, no seu olhar malicioso e tranquilo, revelou a carta na manga. “Ele tem uma sobrinha que morou aqui em 1991, não sabia? Eu sim, as meninas do térreo me disseram. É ela, apontou para a ruiva que estava logo ao seu lado.”. Não foi difícil para João reconhecer a menina. Era de Soledade e costumava vir às festas da casa. Agora ali, com aquele sorriso doce, parecia mesmo um anjo, especialmente pelas circunstâncias. E o convencimento disso se reforçou a cumprimentá-la e ouvi-la. “Meu tio me devia isso. Ele me ensinou a desenhar quando pequena. E dizia: tudo que sai de dentro é bonito. Aproveitei e cobrei agora essa lição”, contou. “Os quatro, então, se abraçaram, com João quase rindo e chorando ao mesmo tempo”, agora no clima sonoro de “I Want To Hold Your Hand”. Mas a quebra final foi de Osmar, da Educação Física, que fez a proposta em outro grito – “No meu quarto tem pipoca quentinha com pôquer”. A festa estava completa para o final de uma tarde de sábado, naquele fim de mundo e novo início de cada um.

Um certo olhar sobre o jornalismo em Cuba

terça-feira, 21 de junho de 2011

O pior dos males na vida acadêmica é a escravidão intelectual


Falo de um dos tipos mais perversos de auto-escravidão, que é o que consiste em se sentir diminuído, ou resignado, ante outro indivíduo com mais visibilidade, seja pelo conformismo, seja pelos interesses imediatistas que vertem por diversas veias da vida universitária.  Abundam por aí, e na academia é notório, uma aura mofada de intelectuais ocupados estritamente em cultivar imagens perante seus pares, pouco se importando com a finalidade social do conhecimento científico. Separando as figuras sérias - que são cada vez mais escassas e valiosas, tanto nas universidades públicas quanto privadas - o que hegemoniza, infelizmente, ainda é a postura elitista, alienante e superficial no fazer científico. Isso às vezes é escancarado; outras, camuflado e, na maioria, muito sutilmente estruturado. É claro quando disso falo tenho meu foco nas ciências humanas e sociais, de onde emergi. Das ciências da saúde, engenharias ou jurídicas, nem se fala, porque nelas, a natureza elitista vem muito antes da própria academia - está nos filtros sociais que os próprios condicionamentos culturais de um País de formação socialmente segregacionista como o nosso se encarrega de criar. Estes, encaminham os acadêmicos e docentes a um mercado que valoriza o “doutoramento” e despreza, exclui ou, simplesmente, é indiferente a tudo que se relaciona ao compromisso social da universidade. A escravidão intelectual que se constrói ainda nas universidades, no que se convencionou chamar de “Comunidades Acadêmicas” se dá por um tecido de vassalagem, típico do feudalismo. A moeda das bolsas, dos títulos, dos méritos e dos cargos ainda impera e acomoda nesse meio todos os cérebros e corações que apresentam possibilidade de ameaça ao status quo vigente em tais castelos. Volto a dizer, fiz minha formação intelectual, em grande parte, a partir da academia e reconheço que há bons de caráter em tais estruturas,  em todo o País. Mas quem me entende e vive em tais ambientes sabe porque, do que e sobre quem me refiro.

"O que ocorre com a universidade no Brasil é mais ou menos o que sucederia com uma vaca se, quando bezerra, ela fosse encerrada numa jaula pequenina. A vaca mesmo está crescendo naturalmente, mas a jaula de ferro aí está, contendo, constringindo. Então o que cresce é um bicho raro, estranho. Este bicho nunca visto é o produto, é o fruto, é a flor acadêmica dessa classe dominante sábia, preclara, admirável que temos, que nos serve e a que servimos patrioticamente contritos. Cremos haver demonstrado até aqui que no campo da educação é que melhor se concretiza a sabedoria das nossas classes dominantes e sua extraordinária astúcia na defesa de seus interesses. De fato, uma minoria tão insignificante e tão claramente voltada contra os interesses da maioria, só pode sobreviver e prosperar contando com enorme sagacidade, enorme sabedoria, que é preciso compreender e proclamar." (Darcy Ribeiro, "Sobre o Óbvio).

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Debate sobre saúde pública local é complexo, mas necessário

 Retornei agora à noite de Três Coroas, município localizado a 91 km de Porto Alegre, onde integrei uma turma de pós-graduação em Comunicação e Saúde para participar da Conferência Municipal de Saúde daquela cidade, uma experiência enriquecedora, mas também perturbante. Os debates foram do melhor nível, com a intervenção de abertura da Márcia, uma de nossas colegas, militante na causa do controle social do SUS (emponderamento da população brasileira com o Sistema Único de Saúde).

Emergiram nas falas em grupos, e depois no coletivo, questões sobre financiamento do sistema, meios de acesso, assistência, divulgação, difusão entre outras áreas, etc. Entre nós, que estudamos academicamente esse assunto, houve um certo auto-policiamento para que não ocupassemos indevidamente o debate em questões que cabiam à população local. Notei, particularmente, como sempre, uma dificuldade séria das pessoas em se articularem enquanto sociedade civil organizada. A participação nas associações de moradores, por exemplo, ainda é um desafio, como instância legítima e permanente falta muito para para essas entidades serem cultivadas como canais de expressão popular. Então, vemos que nesses tempos de internet, muitas vezes as pessoas estão mais atuante na interação virtual do que face – a – face. E ambas tem valor diferentes, não se substituem.

Uma questão que levantei, que acho crucial a respeito do SUS, é a intersetorialidade desse tema nas políticas de gestão municipal. Em outras palavras, criar condições para que a questão do SUS seja debatida em sua legítima magnitude, que a presença da saúde pública em todas as esferas da administração e da vida social: habitação (porque morar mal pode ocasionar doenças); obras e serviços urbanos (pois o acesso aos serviços públicos de qualidade protegem de doenças); trabalho e renda (já que, tanto as doenças profissionais, quanto a ausência de trabalho, geram estados de adoecimento); educação (porque tudo, simplesmente passa pela educação, e ali está uma área estratégica para se conscientizar e informar sobre o acesso ao SUS).

Enfim, poderia listar várias outras áreas, fico nessas primordiais. Fora isso, acrescento, como o fiz durante aquele encontro, a necessidade das diferentes secretarias, ao nível de governo municipal, inserirem a questão da saúde pública, em algum nível, em seus programas, projetos e ações. Só assim, em uma visão holística da presença do SUS, que esse sistema será fortalecido e disponibilizado ao nível de qualidade que a população brasileira precisa e merece.

domingo, 19 de junho de 2011

O castigo dos festeiros da sexta-feira santa e a dúvida de Rafaelzinho

O pai chegava por volta das 22h. Lá fora, chuvia e trovejava. A mãe e os quatro filhos ao redor da mesa, recém tinham jantado. A carne do pai estava separado, afinal de contas, ele sustentava a casa, tinha que comer bem. Os quatro, em silêncio, sob luz de vela, tinham medo. Mas só Rafaelzinho tinha a fama disso. E foi ele que, novamente, tomou a iniciativa de insistir - “Mãe, conta uma história”. E ela, que já sabia, que o pedido viria, já tinha também se preparado. “Então, tá”. Bom, foi assim, aconteceu dia de chuva, noite de sexta-feira santa. Ninguém sai nesse dia, mas aquele grupo de quatro amigos - Pedro, João, Juca e José teimaram e foram. – “De carro ou de ônibus?” (pergunta Rafael, interrompendo). “Não tinha isso não naquele tempo, filho, foi de carroça, mesmo. Único meio de viagem”, esclareceu a mãe, prosseguindo. Curtiram a noite numa boa, ignorando se a data era santa. Cerveja para lá, cigarro para cá, dançaram e namoraram madrugada adentro. Mas, como tudo que é bom termina, passava da 1h, e o baile ia terminando. Era hora de voltar. “Tão cedo? Nem arrumaram namorada?” (“agora foi a vez de Regina, a mais velha, interromper”). “Sim, responde, de novo, tranqüilamente a mãe. Naquele tempo, os bailes não amanheciam 1h já era tarde demais”, explica a mãe novamente. E prossegue. No retorno, subiram na carroça – que assim que era o transporte lá fora – e retornaram a trote para casa. Proseando durante a viagem, não se deram conta que seguiram por um caminho errado. Bem mais escuro daquele usual, no qual tinham vindo. Lá pelas tantas, para completar, os cavalos simplesmente paralisaram. E Pedro Ernesto, o que guiava, gritava, batia as rédeas no coro dos bichos, e nada. Foi aí, que ele ia recorrer ao relho para atiçar a tropa, e não achou. Perguntou a todos, que procuraram pela carroça, e nada. “Embaixo do banco, não procuraram? (o menino mais velho, Rodrigo, apresentou a questão à mãe). E esta não deixou dúvida. “Sim, até embaixo do banco, não houve lugar na carroça que não reviraram, e nada”. E continuou - E a escuridão era total e absoluta desceram, então, todos, a procurar o tal relho. Se acocaram no chão, apalparam a terra, e nada. Como era muito escuro, começaram a acender palitos de fósforos. Queimaram uma caixa inteira, e nada. Pediram outra. E nada. Era um acende palito e procura, por baixo da carroça, ao redor, e nada. Finalmente, acabou os fósforos dos quatro. Todos já nervosos, as horas passando, e o pior aconteceu. Uma trovoada anunciou e os primeiros pingo a cair. Daí, não teve jeito. Subiram todos de volta na carroça se protegeram com um pelego e uma capa sobre o toldo da carroça, e ficaram a esperar o tempo melhorar. “Eles rezaram?”. (Foi a vez de Marileia, a segunda das irmãs, a mais nova das mulheres, questionar). E a mãe: “Claro que sim. Foi bom ter perguntado. “Foi o que eles mais fizeram, rezaram muito”. E foi adiante.  Encolhidos nos bancos. Todos os quatro adormeceram. Então, a noite se foi aos poucos cedendo lugar ao luar, e a claridade calmamente surgindo. Foi então, que Pedro Ernesto, o mais atento, despertou, e desceu da carroça. O susto foi grande no que ele viu. “O que ele viu????!”  - perguntaram os quatro, quase em coro. E a mãe, satisfeita por ter despertado a curiosidade total. Colocou a cereja no bolo da história: Pois sim, lá estava ele, o relho no chão, coberto de palitos em toda a sua extensão, inclusive no cumprimento do couro. Os quatro irmãos, então assustados, impressionados. Ficaram refletindo em silêncio. E a mãe, para finalizar, sentenciou – “Então, é por isso que em sexta-feira santa não se deve sair, pois deus castiga”. Todos ouviram em silêncio, sem questionar mais nada. Eram 21h45. Quase hora do pai chegar. Então, a mãe recomendou a todos que fossem dormir. Rodrigo, Mariléia e Regina saíram em fila par escovar os dentes. Mas, Rafaelzinho, o mais curioso, ficou. A mãe, enquanto recolhia a louça, olhou para a mesa o menino sentado. Se voltou a ele. “O que foi, Rafael? Não gostou da história?”. “Gostei, sim, mãe – reagiu. “Mas... uma coisa eu não entendi bem nessa viagem da história”. A mãe, inquieta, questionou. “O que tu não achou bom?”. E o menino, em uma inteligência estranha para os seus seis anos, disparou: “Se a sexta-feira era santa, isso não era motivo de se comemorar, de ficar feliz? Por que Deus castigou eles por estarem feliz?”. E a mãe, perplexa e incomodada com a pergunta, só pode ordenar – “Vai para cama, Rafael e esquece dessa história!”.


O fradinho da prateleira e os grãos de um outro modelo agrícola

Não sei se foi pelo conto que escrevi ontem, mas tive vontade de comer feijão ao anoitecer. No fim de semana, raramente ligo para isso. Mas, como coinscidia com algumas compras básicas, aproveitei para passar na prateleira. Minha decisão rapidamente mudou a enxergar algo mais atraente por esses dias de frio sulista: lentilha. Ótimo. Só que não parou por aí. Ao olhar as marcas disponíveis, passei os olhos de repente pelo que me chamou mais atenção – um tal “Feijão Fradinho”. Veja só, achei que nunca encotraria isso com tanta facilidade nesses supermercados metropolitanos. E ali estava. Para a minha surpresa, é o tamanho e o tipo coincidia exatamente com o que eu imaginava, inclusive com o nome “Caupi”. Bom, o resto da história, vou deixar para um artigo que escrevi no final da década passada e publiquei em um site argentino. O objetivo, além de sistematizar um aprendizado coletivo, era concorrer uma vaga em um curso de Jornalismo Científico na Unicamp. Na minha ingenuidade, o enfoque que propunha teria chance. Nem de perto. Posteriormente, em outro momento, me foi solicitada a autorização para a reprodução do texto em uma rede de agricultura familiar da Costa Rica, isso pelo ano de 2000. Para quem se interessar, é uma experiência de extensão rural, no litoral sul do RS, onde um grupo de universitários interage, a partir da recuperação de sementes de um certo “feijão sopinha”. O que isso tem a ver com a alimentação da vida moderna, a sustentabilidade do planeta e nossa cultura? Deixo as conclusões a cada um. Por hora, reparo apenas que, em termos alimentares, vivemos a base da dependência de complexos agro-industriais, onde a uniformidade e a lucratividade ainda imperam como orientação suprema. Tudo que existe alternativo a esse cenário deveria ser digno de melhor observação, de cosmonicação. A história, então, está aqui.

sábado, 18 de junho de 2011

Caldinhos de feijão

Seu Odair era divorciado e não tinha filhos, que ele soubesse, ou que quisesse. Gostava muito de feijão preto, mas não qualquer feijão. Tinha que ser feito com arte, maestria. Bem temperado e cozido. O que costuma se dizer “no ponto”. Dona Maria, a empregada, sabia disso. E caprichava. Ao chegar do trabalho, pelas 18h, já sentia o cheirinho do feijão sendo preparado, sempre novo. Jantava cedo. Eram três pratos de caldo de feijão. Só isso, e nada mais. Volta e meia, porém, ao entrar em casa, sentia um cheiro diferente. E sempre quando isso ocorria, perguntava à dona Maria – Acabou de novo o feijão preto? – ao que ela respondia – Sim, seu Odair, teve visitas três vezes nesse mês, lembra? E no supermercado só há feijão vermelho. E quando isso ocorria, ele mudava a fisionomia. “Como, vermelho?”. Não pode ser. Volto já. E, como sempre, saia pelo bairro atrás do feijão preto. Dessa vez, entrou em armazéns, nada; passou dois supermercados abertos ainda, nada; chegou a ir até em um posto de gasolina. E nada do feijão preto. De repente, desconsolado (já eram 18h40), cansado e há 2 km de casa, viu há uns 30m um garoto com uma sacola pela metade, caminhando pacientemente. Correu, alcançou o menino, que devia ter por uns 6 anos, e perguntou: "Você tem feijão aí?". Desconfiado, o menino disse, sim, é para a minha mãe fazer a janta. “Quando você quer por esse feijão?”, indagou Odair, firme. O garoto olhou e respondeu com mais firmeza ainda: “Não, senhor, esse feijão é para nossa janta, não vendo por preço nenhum”. Insistiu. E a negativa continuou. Então, vendo a condição intrasigente daquela criatura, aliada a a fome que já se avizinhava (a empregada já havia ligado três vezes ao celular) uma raiva súbita tomou de si. Pensou um pouco e tomou uma decisão drástica.  Olhando para todos os lados, a rua estava deserta, e as casas já fechadas pela escuridão cedinha do inverno. Ainda disfarçando querer dialogar com o garoto, Odair pegou subitamente o saco de feijão do garoto e saiu correndo. Cego, querendo apenas chegar em casa e entregar a Dona Maria para cozinhar, ignorou os gritos de choro que ficou  para trás. Ao chegar, ainda ofegante (e meio preocupado pelas possíveis conseqüências do que fez), entregou à Dona Maria. Esta, olhou com mais estranheza que a de costume, mas preparou o Feijão, dessa vez de modo meio improvisado, e pôs a cozinhar. Ao servir, Odair estava salivando. Após cerca de 40 minutos colocou o prato na frente do esfomeado. E ainda parou um pouco assistindo como este comia com gosto. Observava ele com um misto de pena, rancor e perplexidade. Tendo cumprido todas as tarefas, ela pediu licença e anunciou que ia embora. O patrão consentiu, sem tirar os olhos de seu caldinho. Dona Maria, que já tinha 47, arrumou-se lentamente em seu quartinho, despediu-se de Odair (ainda centrado em seu segundo prato de caldinho), e saiu. Em 10 min, como rotineiramente fazia – hoje 2h hora mais tarde – estava na parada, esperando o ônibus. Lotado. Esperou pacientemente, por mais 40 minutos. Ao chegar em casa, na vila São Cristóvão, já era noite adiantada. Desceu a ladeira da rua dos Casebres, dobrou à esquerda e chegou a sua residência. Viu de longe todas luzes zcesas ainda. Entrando em casa, a TV da sala estava ligada, ainda. E no sofá, Pedro – seu filho de 12 – dormia no sofá da sala, enrolado ao cobertor e com Mimosa, sua gata, deitada por cima dele. Olhou  a pia, louça suja de leite, e já se atacou. Com um beijo carinhoso com cheiro de ônibus e desodorante vencido o garoto, perguntando – “Por que comeu mingau de novo, deixei a janta pronta na geladeira!!!?”. Ele subiu os olhos para a mãe e ficou em silêncio. “Dona Maria nem esperou resposta. Foi para a cozinha, sem sequer trocar de roupa, pôs o avental, e pacientemente, se colocou a fazer feijão, arroz, carne e salada nova. A essas alturas, passava das 21h. Jantaram pelas 22h30. Após isso, satisfeitos, Pedro, novamente, como fazia toda noite, perguntou a mãe. “E o pai, vai voltar daquela viagem quando, mãe? Você disse que seria quando eu fizesse cinco anos!!! – cobrou outra vez. E dona Maria, como de costume, em uma voz de amargura, tédio,  e cansaço, respondeu de novo, olhando para o prato de comida - Não sei filho, acho que a viajem foi mais longa. Acho que por esse ano, talvez. Agora pegue o feijão da bolsa e ponha na despensa. O garoto abriu a bolsa da mãe, tirou o alimento e levou até uma portinha de uma sala ao lado da cozinha. Abriu a porta, subiu em uma escadinha e juntou o quilo à uma das pilhas altas, que acumulavam dezenas de sacos de feijão preto, alguns de marcas não mais existentes, outros, encarunchados pelo passar dos anos. "Eu nunca entendi esse monte de comida estragada, desde que nasci", disparou, como de costume o menino. E dona Maria, pacientemente, reagiu como de sempre: "Por que um dia, quando teu pai voltar, eu quero que ele veja quantos caldinhos ele perdeu de comer contigo".

quinta-feira, 16 de junho de 2011

A idade é o que mesmo? questão de tempo, cabeça ou espírito?

Pensando hoje sobre isso acordei perturbado refletindo que daqui a menos de 2 dúzias e meia de anos eu serei considerado uma pessoa idosa. E isso me intrigou. Daí, em uma viagem rápida pela minha vida, num flash, comecei a pensar o que fiz e o que não fiz. Resultado, conclui que preciso viver mais, urgentemente. Logo depois, comentando o assunto com dois colegas, tive reações diversas. O primeiro, disse que - de fato, seremos idosos em pouco tempo! E sabe o que se tornaremos? Lixo”, sublinhou. Deixou-me meio intrigado. Já o outro, foi mais enfático, respondendo: – Eu só sei disser isso: Dedo para eles, meu!!!. Não sei bem porque, mas esse segundo comentário me deixou mais tranqüilo e disposto a encerrar o assunto

Por uma justiça sem vícios

A liberação das marchas da maconha pelo STF não deveria assinalar uma surpresa, já que se trata de apenas o reconhecimento da possibilidade de indivíduos que discordam de uma lei se manifestem contra ela, sob uma forma pacífica – direito básico assegurado pela constituição no que diz respeito à liberdade de expressão. Notamos, porém, um avanço importante na decisão do STF, na medida que juízes estaduais insistiam em definir como apologia ao crime uma marcha pela liberação da maconha. A liberdade de expressão implica, acima de tudo, a possibilidade de as pessoas dizerem o que pensam, sobretudo naquilo que é legal. Porque a lei nada mais é, ou deve ser, a expressão legítima da vontade popular. E essa, felizmente, é tão mutante quanto o é os anseios e necessidades implicadas pelo desenvolvimento da cultura. Em todos os tempos foi assim, e fora disso, uma proibição desse tipo é um vício inconcebível da justiça.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Mini-conto – Missa com gosto de pipoca

Rodriguinho tinha seis anos. E não gostava de missa. Em frente do cemitério tinha uma igreja; na frente da igreja um pipoqueiro. Chamava-se Manoel. Todos domingos, após a missa, seu Manoel tinha pipoca quente e saborosa para a alegria da criançada, e de Rodriguinho, que às 11h30 em ponto, se sentia mais leve e se soltava da mão de sua mãe, logo após o “ide em paz” do padre. O um cruzeiro já era guardado enroladinho em sua mão, esperando a troca pelo saco de pipoca. Um dia, seu Manoel não estava, e a missa ficou mais longa. No final, antes do “ide em Paz”, o padre pediu uma prece a alma do pipoqueiro, “que não mais está entre nós”. Rodriguinho não chorou, mas nunca mais lembrou do gosto de pipoca quando a mãe o convidava para ir a missa.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Sobre a autodeterminação da vida

Penso que ninguém deveria tirar a própria vida, mas acho também pouco racional a normatização de qualquer proibição a esse ato. Compreendo, assim, a atitude do escritor britânico Terry Pratchett, que produziu o documentário Choosing to Die ("Escolhendo morrer", em tradução livre) sobre suicídio assistido, defendeu a legalização da prática e a realização de um debate sobre o tema na Grã-Bretanha. Estamos em uma era de direitos, de consciência sobre as escolhas individuais e de autonomia nas decisões pessoais. Escolher a morte, por mais dramático que possa parecer aos que rodeiem o definidor dessa opção, é uma decisão absolutamente própria. Ninguém deveria ter o direito de itervir sobre a opção de fazer o que se quer com o próprio corpo e a própria vida. Pelo simples fato que ninguém conhece a história, a dor ou as razões de alguém, melhor do que esse próprio alguém.

Vale apena até que ponto controlar sentimentos?

Sendo a vida tão curta, o que é exatamente a disciplina sobre o exercício de escolhas prazerosas, senão o mecanismo de exclusão de oportunidades de estender o tempo de felicidade real, em detrimento do imaginado?

domingo, 12 de junho de 2011

O tempo da gente é o tempo que a gente cria

Se o sol está lindo na rua e se o tempo que temos é pouco para tudo, se a vida pede bem mais do que dispomos para usufruí-la, só o coração é  a voz que pode decidir com suficiente clareza.

sábado, 11 de junho de 2011

Micro-poema – Ao coração, números são medidas aleatórias

Tinha 78, e há 30, todo dia, às 18,
tomava 2 xícaras de chá com 4 bolachas
No dia 31 de 1999, deu 3 batidas na porta 1 nova vizinha
Com 1 olhar ½ diferente, pediu 4 colheres de açúcar, sorrindo 3 vezes
Devolveu na em 2 dias, e convidou para comer 1 bolo
Foi 1 receita 100% bem feita, tanto que,
Há 12 estão comendo juntos, todo dia, às 8, 18 e 22

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Microconto - O estranho sonho de Baratão

“Que sonho esquisito, heim meu?!”, comentou o Pedro farelo, Dono do velho boteco na entrada da canto da cozinha, após o relato do Baratão sobre  a estranha experiência de viver um dia na pele de um humano. “Então, quer dizer, que acordastes mesmo de mãos e pernas no lugar de tuas preciosas asinhas? “Assim foi, confirma o sonhador. “E desse dia turbulento, como narrastes, entre trabalho, essa tal vida social e esse jeito estranho de viver em família, o que me conta que te marcou mais?”. Baratão, ante a questão do amigo, matutou, coçou a cabeça e, num olhar distante pela fresta do buraco que os protegia, viu duas mãozinhas pequenas que apoiavam um engatinhamento. Suspirou, de repente e, com um olhar distante, afirmou, meio reticente: “Acho que uma sensação confusa de que aquela rotina sufocante e delirante tinha sentido”, falou quase que consigo. E Pedro Farelo, não entendendo nada, apenas olhou estranho, e convidou, “Então toma mais um caldinho de açúcar, e esquece esse loucura. É por minha conta”.


quinta-feira, 9 de junho de 2011

O amor e o ódio são faces de um mesmo querer?

Penso exagerada essa idéia. Exigir do outro, querer mais – às vezes, até sufocá-la/lo pode ser, sim, parte de um modo determinado de querer. Mas ódio, não creio. Porque gostar mesmo tem a ver com construção, e ódio é, simplesmente, destruição. Dirão alguns que esse é um sentimento irracional, que o ser-humano não controla. Pode ser, mas aí já falamos de outra coisa, de problemas de autonomia psicossocial, que nada tem a ver com algo que possa um dia se entender por amor. São desvios de comportamento, que extravasam impropriamente em alguém, em geral, também injustamente. Dirão outros, mas um amante traído sente ódio pela pessoa que o praticou. Pode ser também, mas aí é de se entender o que realmente existia ali naquela relação para dar fruto à “traição”. E, igualmente, perceber o que mesmo se entende por traição, se não é, no caso, uma forma, indevidamente alimentada de posse, que sempre é egoísta, e, também, pouco tem a ver com querer com profundidade. Então, ódio, penso, é outra coisa. Querer com sinceridade, pureza e desinteresse, nada tem a ver com ódio.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Um fato que surge a partir de um sonho tem grandes chances de se tornar real.

Falando, nesse caso, de sonho no sentido literal, o que passa por nossa mente à noite não é fruto do nada. Tem um sentido inserido em nossa experiência cotidiana.Tive um sonho estranho e indesejável, por isso me receia essa idéia. Mesmo assim, não impede que eu escreva sobre o fato, mesmo sem me referir ao sonho, de fórum íntimo. Sonhar nesse sentido, por outro lado, nos dá uma sacudida para a vida também, faz pensar se estamos trilhando no rumo certo, tomando as atitudes cabíveis, assumindo a coragem necessária, olhando para as pessoas adequadas, na hora adequada. Faz, sim, pensar. Tenho buscado fazer diariamente um link entre as minhas idéias e o que ocorre no mundo. Mas nem sempre isso bate. E, nesse caso, priorizo o que sinto e vivo. Penso que a subjetividade maior está em nós, individualmente; para além do que enxergamos fora, é forte e definitivo o que absorvemos disso. Inclusive em um sonho.

terça-feira, 7 de junho de 2011

O impossível, na maioria das vezes, é o que dizemos que é.

Como qualificar uma situação como inviável de se realizar diante de nossa compreensão, pobre e limitada, sobre as circunstâncias que envolve sua realização? Da mesma forma que podemos superdimensionar nossa capacidade, é muito comum superinferiorizá-la. O fato é que estamos habituados a condições que, por vezes, nos impedem de enxergar, e enfrentar, um problema alheio a nossa realidade com a devida força que ele requer. E possuímos, invariavelmente, essa força. Sem perceber.

domingo, 5 de junho de 2011

Pressa para acontecer é o que nos angustia às vezes...


... mas, assim como apressar o despertar da flor, pois ela tem seu tempo, há sobre o que é inútil se ansiar.

Oficina - Bioconstrução

sábado, 4 de junho de 2011

Correlação de forças envolve olhares diversos


Ainda sobre poder, questão que toquei ligeiramente  por esses dias, noto que também ao nível individual de nossa vida – como na órbita política macro, noto que a correlação de forças em torno de um  objetivo também se dá por meio da combinação de vários fatores. Nesse aspecto, é curioso como as chamadas “redes sociais” tem se destacado na atenção de organizações e pessoas, no que se refere a objetivos. Mas o uso dessas ferramentas são para o bem, tanto quanto para o mal. O caso dos Hackers, por exemplo, que tem atuado contra as páginas de indivíduos e corporações, tem merecido uma atenção especial pelas empresas mais vulneráveis a esses operadores. O fato é que a internet é um espaço para tudo, e o modo da internveção desse meio é tão variado quanto o é a diversidade de interesses sociais e o perfis humanos.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Olhar para a diferença, questão de necessidade e direito

As pessoas são o que imaginam ser a partir do outro. Por isso que, tão nocivo quanto a solidão absoluta é a construção de relações falsas. Ou discriminatórias. Mesmo que certas atitudes e mudanças delas se dêem efetivamente no plano cultural, a lei tem que ser aliada em casos extremos, em que a dignidade alheia é ferida. Daí, porque, seja bem oportuno que a Justiça Federal de São Paulo tenha acatado a denúncia oferecida pelo Ministério Público Federal (MPF-SP), abrindo processo contra a estudante de Direito paulista Mayara Penteado Petruso – veja aqui. Após o segundo turno da eleição presidencial, ela postou no Twitter a mensagem "Nordestino não é gente. Faça um favor a São Paulo: mate um nordestino afogado". Naquele mesmo mês, o Fantástico veiculou matéria sobre esse tema.


quinta-feira, 2 de junho de 2011

O que mesmo define o poder?

Estava pensando sobre o que é poder nos dias de hoje. A conclusão nenhuma cheguei, mas mantive a convicção que ele existe, e está em exercício em todas as dimensões da vida de todos. O que diferencia, creio, é a forma de se expressar. A questão colocada pelo mexicano Agustín Carstens, ao questionar porque um latino não pode representar a América Latina em um posto do FMI, situa um aspecto interessante sobre o poder - bem mais do que posição, ele pode estar também no lugar de um discurso “já dito”, em uma estrutura estabelecida. Surgido nos EUA, no início dos anos 40, após duas guerras mundiais e a recessão nos anos 30, o FMI teria nascido para trazer mais estabilidade ao câmbio dos países capitalistas e para levantar fundos que auxiliassem as nações com dificuldades financeiras. Hoje esse fundo conta com 180 países membros, e já teve profundamente questionado suas premissas e interesses, visto que é, ao mesmo  tempo, o “salvador” e intermediário das amargas dívidas externas aos países que ele recorrem. Atualmente, prossegue sendo uma instituição poderosa e influente no mundo, mas há uma correlação de forças que diminuiu o modo de interferência externa em contextos como a América Latina – onde se criou, décadas atrás, enorme dependência de governos com esse órgão, e conseqüentemente imposição de ajustes estruturais, de cunho neoliberal. Pois nesse novo contexto, questionar essa voz “onipresente” é sempre conveniente. Lembremos,  porém, que o poder não está em um lugar propriamente, de modo que, ser latino-americano pouco pode representar em termos de mudanças estruturais, pois quando se fala “lugar de onde se diz”, isso também tem que se considerado na história e coerência de quem diz (o “lugar-pessoa”. De qualquer modo, pluralizar minimamente o poder internacional pode ser um caminho para contribuir para as vozes do poder oficial dos vários continentes olharem de modo mais unido às grandes questões que comprometem a própria existência humana, como: impactos e deficiências ambientais, fome e doenças provocadas por esses dois males.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

A universidade popular, uma perspectiva ainda em construção

Houve um tempo, e bem recente, em que o campi central da Ufrgs, a universidade pública que estudei, tinha um ambiente de mais e melhor e acesso popular. Sem nenhuma nostalgia (que já tive bastante, e também a sinto convenientemente), falo de realidade concreta, de tipo de relações internas que se estabeleceram pelo Campi. Como passo por lá semanalmente, sob um roteiro que de compromisso, e motivo de um encontro acadêmico, que combinei propositadamente com essa direção, posso observar a vida interna. Gostava nos tempos da faculdade, e hoje ainda, de ver murais. Leio tudo que eles tem de interessante, e nas universidades esse é um espaço riquíssimo. Pois bem, o que existe ao lado do Cinema Universitário, percebi, virou inacessível por causa de dois estacionamentos de veículos ali instalados. Intrigante. Será essa uma convivência impossível? Me surpreendeu, por outro lado, no prédio da economia, a estrutura de segurança interna, com um corredor que bloqueia o acesso direto, exigindo que se passe por guardas e recepção com identificação. Segurança é importante, mas para um ambiente que se pretende democrático, é preciso um cuidado especial para que a estrutura e discurso que ela traz consigo não estabeleça inibições, e até proibições impróprias. Pois a universidade pública é de todos. As grandes no entorno da reitoria, a propósito disso, são de um mau gosto tremendo, mas vá lá. A tranqüilidade de todos obriga que seja assim, dirão alguns. E lembrarão o assassinato do universitário no Campi da Usp. Também fiquei chocado com aquilo, mas, sinceramente, vejo outros caminhos, além da obstacularização de acesso. Até mesmo porque, uma certa cultura democrática de segurança, que hoje se desenvolve pelo País, considera a o diálogo entra a diferença como um de seus pilares. Se uma “cidade universitária” é vista como um condomínio fechado, é obvio que vai necessitar que se ajuste a esse modelo de vida e de segurança. Ainda sob minha rota, por estar por volta do meio dia, passei no RU e, mesmo sabendo o controle eletrônico das carteirinhas, experimentei perguntar se, como “não-estudante”, poderia almoçar ali. Outra perplexidade. Um dos atendentes me perguntou só era tolerado isso, eventualmente, a “irmãos”, “pais” ou algum parente de estudante, pois só poderia nessas condições. Como almoço freqüentemente no RU de uma universidade particular, onde não há problema nenhum nesse tipo de acesso, só pude ficar impressionado. A universidade pública, entendo, deveria se perseguir como popular, e para isso, essencial seria superar todo tipo de discriminação e obstacularização ao acesso igualitário da sociedade (há a proposta sobre a progressividade, relacionada ao cobrar mensalidades em correspondência à renda, mas isso é um debate à parte, que também não deixa de ser democratizante). No entanto, em um tempo que se abrem novas oportunidades convenientes de acesso ao ensino superior - como cotas, Pro-Une, Enem, seria adequado desejar que uma melhor mistura das comunidades universitárias dessas instituições públicas com os demais segmentos da sociedade. Tenho certeza que sim. Pela experiência que acumulei em meus tempos de extensão, que isso faria muito bem a todos. E ao atual reitor, em particular.