sábado, 30 de outubro de 2010

As eleições e as escolhas de cada dia

Na sombra das eleições, a vida prossegue. Vença o candidato que vencer, há um cotidiano individual a se enfrentar. Afetado pelas eleições, é fato, mas exigente de uma atitude própria, além e independente de expectativas governamentais. A velha dicotomia estrutura indivíduo é presente; porém, se no plano da utopia social essa tensão está sob o controle maior do primeiro nível, no plano da sobrevivência, está com o segundo. Intransferivelmente.

E nesse 31 de outubro, para se proteger da boçalidade do Halloween, invoque o Saci Pererê.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

A escolha de Folha

Digno de registro e leitura o editorial da Carta Maior, a respeito da “investigação” sobre o passado de luta política da candidata Dilma Roussef.

A escolha de um certo jornalismo
Dilma Rousseff foi presa em 1970 e torturada durante 22 dias. O processo dessa via crucis é público. O que a 'Folha de São Paulo' cobiça com avidez eleitoral é a autorização cúmplice da Justiça para dar a esse relato aromas de verdade jornalística. Qualquer veículo democrático teria como prioridade denunciar as condições de exceção de direitos humanos vividas nessas tres semanas. A Folha prefere um carimbo que dê legitimidade ao fruto do pau-de-arara. Leia a a íntegra aqui.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Os servidores da sociedade

Celebra-se hoje em todo o País o Dia do Servidor Público, uma data que poderia servir para uma reflexão sobre a importância desse profissional como agente  mediador entre os direitos e deveres do cidadão e o Estado. Esse estado, às vezes tão enfraquecido, normamelmente difamado e raramente reconhecido com a devida amplitude, em sua atuação de assegurar a justiça social, por meio de políticas e serviços públicos. Pois bem, o servidor, de carreira, comissionado ou contratado, e até mesmo os estagiários que atuam nessa estrutura pública, são os responsáveis por manter a qualidade desses serviços. Um servidor de boa índole, capacitado e motivado, é interessante à toda a sociedade. O contrário, é pernicioso. Deixo esse registro como profissional que tem atuado nesse papel há alguns anos, em diferentes níveis empregatícios. E que por isso mesmo sabe que a noção de que servidor público não trabalha, que se difunde facilmente é um mito, se baseia em experiências que não representa a predominância do espírito desse profissional, que é altamente responsável e consciente do papel que despempanha para seu público, os ciadadãos, e todo o País.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Mais transparência, menos mitos, outras versões

Ouvido ontem o comentário do historiador Marco Antônio Villa sobre a morte de Romeu Tuma no Jornal da Cultura (que, aliás, está ótimo nesse formato interpretativo) contemplei-me com a avaliação daquele comentarista, sobre a importância da abertura dos arquivos da ditadura militar pela União, a fim de que os pesquisadores possam contribuir melhor para evitar a criação de mitos. Romeu Tuma, falecido no último dia 26, prestou serviços interessantes ao estado brasileiro, em áreas estratégicas, como o combate ao tráfico. Todavia, esse experiente policial teve também atuações durante o nosso período de ausência de direitos democráticos, que precisam serem melhor esclarecidas. Tuma foi diretor geral do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) paulista de 1977 a 1982, entre outros cargos importantes, naquele período em que o temido Sérgio Fernando Paranhos Fleury – apontado como chefe do cruel e assassino Esquadrão da Morte -  era contemporâneo e subordinado de Tuma. Foi nessa fase que se fortaleceu a prática da tortura do País – já disseminada desde a Era Vargas. Fleury, a despeito das limitadas informações disponíveis, rendeu ao jornalista Percival de Souza a obra Autópsia do Medo Vida e Morte do Delegado Sérgio Paranhos Fleury (editora Globo, 649 páginas). É bem provável que outro biografo se encarregue de contar melhor a história de Tuma, e lance mais luz sobre seu passado. Independente disso, insisto, o Estado precisa fazer a sua parte na construção dessa transparência sobre nosso passado, única maneira de superarmos suas mazelas e não mais as repetirmos. Enquanto isso não ocorre, bonas referências sobre o tema, e assuntos relacionados estão disponíveis no site Direitos Humanos na Iternet.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

O jogo das palavras e os nossos sapatos sujos

Há palavras sobre as quais temos já um sentido pré-definido, desgastado pelo mau uso histórico que se fez delas e, por causa disso, costumamos reduzi-las, evitá-las, enfim, relativizar a sua profundidade. O que pode ser equivocado. Especialmente porque as palavras dependem de contextos. Outras descartamos a priori pela associação supostamente preconceituosa que a elas se atribui. Um caminho que pode ser dogmático, visto que as palavras estão carregadas também de estigmas, elas não são a essência das coisas, mas as suas representações. A intencionalidade do autor que as pronunciam e a qualidade do público que as interpreta, isso que as relativiza e as considera na sua real dimensão. E há, ainda, as novas palavras que se acumulam em nossa língua, que nem sempre são simpáticas, mas que se tornam parte do cotidiano. E fugir disso também pode nos distanciar de códigos de comunicação importantes, não que seja importante interiorizá-los. As palavras, logo, são elementos vivos que tem história por trás, e por isso mesmo implicam contextualizações. Mesmo os conceitos, que se entendem por mais profundos, são re-significados por diferentes autores. Daí a necessidade de referenciá-los, caso se queira ser entendido em uma certa direção. Essas breves reflexões sobre o que é a palavra e o que importam ante a complexidade de cada ser humano em sua realidade me vieram a tona a partir de uma primeira leitura do texto Os sete sapatos sujos, do escritor moçambicano Mia Couto, reflexão que merece uma, ou várias leituras. Mas também não deixa de ser oportuno examinar, a luz dessas considerações, o impacto da proposta de mudança do nome da estatal brasileira Petrobrás para PetroBrax. O que importa e a quem importaria isso? Bem além de uma questão de grafia, certamente.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Controle social da mídia, necessidade para construção democrática

A construção da democracia no País (falo da democracia social, para bem além da que contamos hoje), envolve o controle social da mídia como um iniciativa estratégica. O fim dos monopólios regionais e nacionais seria outra dimensão importante desse processo, mas parece que isso vai levar mais tempo.

Quanto ao controle social, que foi dos importantes avanços  da I Conferência Nacional de Comunicação,  partir de um longo processo de debates da sociedade civil, já gera, como esperado, o esperneamento dos donos imprensa grande. Da mesma forma ocorreu por ocasião do projeto de lei do Conselho Federal de Jornalismo, que causou a “mobilização” desses mesmos grupos em defesa da (sua) “liberdade de imprensa”.

Liberdade de expressão real pressupõe a pluralidade de vozes nos espaços jornalísticos e uso dos meios de comunicação com atenção maior ao interesse público, o que está muito distante dos conteúdos desses meios. Ao lado disso, o sensacionalismo e a uniformidade de vozes nas grandes emisssoras e na linha editorial dos jornalões tem sido a regra, com a devida reprodução de práticas falsamente neutras nos jornais regionais de menor porte.

Na área de entretenimento, que tem grossas audiências, nem se fala, o nível tem sido baixíssimo. Como senão bastasse, vivemos em um período de transformação estrutural de formatos, em que se confunde jornalismo e entretenimento, onde se converte a realidade em invenção alegorística, conforme a criatividade dos produtores e o gosto de seus patrões.

Já era hora, portanto, de a sociedade civil participar mais efetivamente do monitoramento dessas produções, que interessam a todos. Assim ocorre nos países mais avançados, como os Estados Unidos – sempre citado como modelo pelos (pseudo) liberais que boicotaram a CONFECOM. Assim, esperamos que esse processo de democratização social se aprofunde, para o bem da consolidação democrática em nosso País.

Durante a etapa nacional da Confecom, foram apresentadas 6.119 propostas com a participaçaõ de 1.800 delegados. O Caderno, com as 633 propostas apresentadas, pode ser acessado aqui.

domingo, 24 de outubro de 2010

Anõs

La negrita, voz imortal, ao lado de um conhecido cabra brasileiro. A letra é de Pablo Milanés. E o ano é 1981.

 

O neocoronelismo passou por aqui?

Campanha de Serra é flagrada distribuindo alimentos no RS
Caminhão carregando sacolas com alimentos e propaganda do candidato tucano foi apreendido no final da tarde desta quinta feira, entre os municípios de Coxilha e Passo Fundo, no interior do Rio Grande do Sul. Três pessoas foram presas e encaminhadas à Polícia Federal. Segundo denúncia encaminhada ao MP Eleitoral, caminhão saiu do comitê central de Serra em Passo Fundo carregado de sacolas com alimentos para serem distribuídos na periferia do vizinho município de Coxilha. Junto com a sacola pessoas recebiam bandeira de Serra. Texto na integra em Carta Maior.

sábado, 23 de outubro de 2010

O mito da dona da água

Para se sensibilizar, de uma forma lúdica, sobre a questão da mercantilização da água na Bolívia, vale a pena conferir a animação O mito da dona da água.

Como seria se...

... as pessoas conversassem sobre política como a mesma seriedade que conversam sobre futebol e novela? ... as escolas formassem mais pensadores livres do que reprodutores de idéias? ... as autoridades públicas, em atuação ou a caminho, falassem com corações, além de câmeras e microfones? ... os homens não saudassem os seus representantes como heróis ou bandidos, mas como indivíduos de igual capacidade, apenas temporariamente responsáveis por corresponder aos anseios mais legítimos dos mais autênticos interesses públicos?.... as palavras fossem respeitadas e exercidas por seu potencial transformador, e não prostituídas para influenciar oportunisticamente os mais leigos? .... essas linhas representassem um pouco mais do que devaneios? Como diria Brecht, tantas perguntas, tantas questões...

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

As bolinhas de papel, o jogo e o juiz Mídia

Sobre o episódio das bolinhas de papel, fita e outros elementos na cabeça de Serra, ainda não encontrados, mas que passam a povoar, "didaticamente" essas eleições na reta final do segundo turno - a parte as impressões óbvias apresentadas em rede nacional, sobre as quais qualquer brasileiro de bom senso verificou, sob as primeiras imagens veiculadas nacionalmente, uma fraude construída  - novas imagens surgem e o jogo se altera. O que não se altera é o enfoque unidirecional dos principais veículos de comunicação e de maior audiência sobre a Campanha. Os colunistas, nesse caso, se tornam mais incisivos e referenciais que os editoriais. Se for bolinha ou fita crepe (há quem já sustente que a tal fita de meio quilo), os fatos são produto da revelação deles, onde os operadores das lentes são parte do jogo. Senão, vejamos: Porque ainda não se questionou sobre como dois grupos de militantes de duas campanhas presidências, que tem agendas muito bem organizadas, se "encontrem", sendo um deles com a participação de um presidenciável? Casualmente? E como se permitiu que um candidato a presidente se locomovesse em meio a um cenário de conflito evidente? Todos candidatos a cargos públicos participam ativamente e se posicionam em campanhas eleitorais. Lula deveria ser exceção?  Perguntas vão gerando perguntas. A dúvida que fica é qual o nível que vai descer a exploração desse episódio. Uma coisa é certa. O Vale tudo está solto. E o juiz, legítimo ou auto-legitimado, como sempre, é a Mídia. E quem quiser enxergar, escute as imagens; e quem quiser ouvir, enxergue os discursos.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

O coração dos artistas brasileiros e a utopia

O entusiástico apoio recebido por Dilma de intelectuais brasileiros no último dia 18, e exibido nesta neste dia 20 no programa eleitoral da candidata, indicou uma forte demonstração de posicionamento da classe artística, expressiva naquele ato. Como Darcy Ribeiro refletia, sou dos que entendem que o artista brasileiro, diferente daqueles do primeiro mundo, não podem se dar o luxo de virarem as costas para a política. Aliás, com todos os seus personagens folclorísticos, tendo a entender como salutar essa entrada expressiva de  celebridades na atividade política. Ainda que isso possa parecer, por vezes, comprometedor em termos de qualidade, a médio e longo prazo tende a ser educativo. As máscaras que caem daqueles que agem reacionariamente nos palanques pode ser uma ótima contribuição politizadora para a sociedade brasileira, que em outros tempos encontrava esses ícones fora dos palcos encantados do show business apenas na presença episódica - e oportunista - dos chamados showmícios, ou seja, superficialmente. Com a participação direta no jogo, cada um mostra sua cara real. Agora, com relação ao ato realizado no Leblon, em que pese a participação mista de intelectuais artistas e outros setores da cultura, é fato que sempre que os artistas entram em cena por uma proposta mais generosa dão um gás mais interessante à política. Todavia, é necessário notar que, ainda que emocionante, o ato do dia 18 pouco se compara ao verdadeiro movimento nacional artístico que mobilizou o País em apoio a Lula nas eleições de 1989 (ver abaixo). Naquele momento, por diversas razões especiais, havia um engajamento mais forte. A bandeira da esquerda ainda pode ser identificada por uma sociedade mais justa e igualitária. Mas na trajetória por um projeto de País no âmbito eleitoral, é compreensível que estratégias de risco, alianças amplas e outros elementos que integram o jogo político tenham reflexos no comportamento dos artistas identificados com a Liberdade. Mesmo assim, o ato do dia 18 é nobre e precioso porque indica, sobretudo, que nem tudo está perdido no mundo das celebridades. Também por isso um rápido olhar entre 1989 e 2010 é interessante. Descontando a carácterística técnicas e tipológicas de ambas gravações - a primeira, de um público, expontânea; a segunda, de um gingle, gravado - o que importa aqui notar são os elementos simbólicos, presentes ou ausentes em ambos momentos.  Mas, acima de tudo, a comparação é sempre construtiva para contextualizar como funciona o coração do artista identificado com a esquerda. Este é, em última análise, o coração da juventude. Ou, se quisermos, o  coração do País.

 Ato de intelectuais e artistas em apoio a Dilma - RJ, 2010




Gingle da Campanha de Lula, gravado por artistas em 1989



Em tempo: Ainda n entendi a "gravidade" do "ferimento" dramatizada na Globo, Folha e Cia sobre a "agressão" ao candidato José Serra. As imagens abaixo, que retratam um pouco o momento desmentem, mais uma vez, o barulho e denotam que o antipetismo está ainda presente em qualquer oportunidade.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Verão, férias e contra-rotina

Curioso essa sensação de fim de ano, que o horário de verão antecipa na percepção geral, mudando rotinas e criando a impressão de que as férias estão chegando. As propagandas de Natal, ao lado disso, reforçam essa noção. Isso também reflete o quanto o trabalho, seja ele qual for, impõe na vida das pessoas uma divisão de tempo no ano. Em vista da tendência das férias e principais festas nacionais ocorrerem entre dezembro e fevereiro, parece sempre que a vida para nesse período, com a mudança da paisagem urbana e a transformação emocional dos indivíduos, particularmente os cristãos. Da minha parte, tenho me esforçado para fugir desse modelo de vida, que separa a vida em momentos para estados emocionais diferentes. A questão é que pouco podemos fazer em uma condição em que todo o fluxo da economia se movimenta em uma determinada direção.  

Legião Urbana - Tempo Perdido

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Saúde, estado social

Ainda sobre a saúde, questão que poderíamos arrolar eternamente - porque há assunto de sobra – diante do discurso em que se converteu a saúde como valor em “qualidade de vida”, pergunto-me às vezes o que deveria realmente representar essa área na vida das pessoas. A parte a cultura hospitalocêntrica, imperante no imaginário dos usuários brasileiros, convivemos como uma noção instrumentalizada de saúde. Graças ao que se converteu esse conceito, por meio do forte apelo de consumo a esse “produto” – bom ou péssimo - é comum esse  assunto ser também reduzido à idéia de ausência de doença ou providência de cura (visão já superada desde antes da histórica 8.ª Conferência Nacional de Saúde). Cresce entre os mais atentos, todavia, um entendimento holístico desse tema, de que o estado do corpo está vinculado diretamente às dimensões espiritual, mental e, porque não dizer, política da vida. Sim, somos, em termos de sanidade, em muito, conseqüência de nossa condição psíquica ante os fatos que nos circulam. As correntes e organizações do individualismo e da auto-ajuda tem por orientação simplificar isso no “eu”, o que é também o outro extremo simplificador. Na realidade, nosso estado de estar saudável tem a ver com o resultado da mediação entre o que percebemos como realidade e o que efetivamente somos afetados pelo contexto. A comunicação, nesse caso, é central na vida moderna, caracterizada por sujeitos descentrados. Somos enquanto se comunicamos, e estamos bem enquanto negociamos bem com os outros e consigo mesmo as experiências do dia. Há ainda outro fator externo, determinante para além da relação face a face que é o estado de sanidade de toda a sociedade. Esta, já é comprovadíssimo, também se torna doente. E, a partir disso, podemos pensar e projetar a real dimensão da saúde coletiva. Um estado social.

E por falar em saúde, achei saudáveis as reflexões do artista de rua Eduardo Marinho.

*Ando com umas ameaças de problemas no meu computador, que pode vir a comprometer postagens por esses dias. Qualquer eventual ausência, então, por favor, entendam. Será temporária.


segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Um olhar além na saúde pública brasileira

Para além da dicotomia público x privado, a questão da saúde publica brasileira, sob os princípios avançados que nossa constituição assumiu, exige para a superação de suas mazelas um amplo pacto entre os diferentes segmentos. A sociedade civil, contudo, é parte estratégica nesse propósito, especialmente no que diz respeito ao controle social (a participação consciente dos cidadãos no monitoramento da qualidade das políticas públicas nesse setor e nos debates sobre seus rumos). Essa convicção me foi reforçada ontem, ao assistir a entrevista de Adib Jatene (ex-ministro de FHC), que demonstrou um olhar visionário para a questão, revelando, inclusive, os problemas que teve na gestão daquele presidente e as incoerências de Serra quando o sucedeu. Analisando osa saúde pública brasileira sob diversos enfoques – financiamento, formação dos médicos, acesso universal.. – esse cardiologista notável não poupou críticas à multiplicação de cursos de medicina, à visão mercadológica da saúde coletiva no País e, sobretudo, ao problema do déficit de investimentos nesse setor, que ficou seriamente fragilizado a partir da derrubada do CPMF. “O setor empresarial conseguiu convencer pessoas que nunca tiveram conta em banco que essa contribuição seria prejudicial eles”, disparou com relação demagógica supressão desse recurso que renderia 40 bilhões ao setor. Uma curta entrevista concedida por esse médico pode ser conferida aqui.

domingo, 17 de outubro de 2010

Crianças, a alma do negócio




Em qualquer projeto de sociedade, a na religião, na educação ou na política - seja ela em que direção for - as crianças são consideradas peças estratégicas de doutrinação e ajuste ao sistema. Dizia certa vez Frei Betto que "Se você não ensinar religião ao seu filho, a Xuxa ensinará". Para entender essa dimensão do consumismo na mídia sobre as crianças, indico o documentário Criança, a alma do negócio, dirigido pela cineasta Estela Renner e produzido por Marcos Nisti. Dica da atriz Cibele Reis.

sábado, 16 de outubro de 2010

Marilena Chauí: Serra e a Democracia - Parte I

Sobre a arte de viver e morrer na estrada


Viver é uma arte, já se sabe os que realmente vivem. Entre a segurança e a liberdade, há controvérsias sobre o que é melhor. O tempo e a qualidade de como se vive, esses sim podem explicar a essência de uma opção.

I - Microcrônica – Todo vôo tem um risco

Cenário: hospital. Barulho de vozes, cheiro de álcool. Dor de cabeça e na perna. Ernesto abre os olhos.  Enxerga a mãe, chorando. Médicos no entorno. Um acidente, horas atrás. Perna fraturada, dessa escapou. Recuperou-se bem, já come e fala. Entre uma fisioterapia e outra, a mãe, apreensiva, arrisca perguntar. “Já é suficiente o que houve, vais abandonar essa vida de perigo e vender aquela máquina de morte?”. Ernesto levanta a cabeça. Um olhar seguro e sereno dentro dos olhos acompanha sua voz em tom de convicção. “Viver é fútil, morrer é incerto, e a liberdade tem seu preço. Vou voar sobre as rodas até quando meu corpo puder suportar o vento. Porque todo vôo tem seu risco". (Dedicada ao meu cumpa W.U).

II – Crônica - Camila aprende a acelerar

Camila aos cinco anos imaginava desde a infância como seria ter em suas mãos o controle sobre um veículo automotor. Andava de carro com seus pais todos os fins de semana, nos passeios ao Sítio, em Clevelândia, pequena Cidade do sudoeste paranaense. Pela estrada, tudo andava rápido: animais, casas, árvores e nuvens. Porém, muito mais velozes eram os outros veículos. Estes zuniam em seu ouvido, causando uma sensação de que estava no interior de uma bala de revólver, recém disparada. A velocidade a fazia poderosa, e cada ultrapassagem era uma nova aventura. Foi por isso que a decepção foi tão grande com o seu pai, de quem esperava ganhar, pelos seus 15 anos e por ter de aniversário uma Jogue – modelo de pequena motocicleta - mas recebeu um relógio banhado a ouro. Seu José, um pobre agricultor descendente de família humilde e que nunca ganhou presentes em sua adolescência, ficou revoltado com a cara de insatisfação da filha, ao receber o embrulho do pai. “A juventude de hoje só quer o que a gente não pode dar” bradou rispidamente, retirando-se no em plena festa de debuta da filha, só retornando ao final da noite quando todos os convidados haviam ido embora. O tempo passou, os anos voaram como aqueles carros que assoviavam ao seu ouvido. É claro que a família não estranhou quando ao completar 18 a primeira atitude foi matricular-se em uma auto-escola. Agora estava ali, ao lado de seu instrutor, na primeira aula prática de direção. Por falta de oportunidade, medo ou proibição, nunca havia encostado a mão no volante para dirigir, e não via a hora de fazer isso. Já havia feito uma série de outras provas teóricas, que sabia necessária, para pegar a estrada, embora ainda não tivesse muita noção da dimensão de importância desses testes. A aventura, na verdade, era aquele momento, tudo o que queria. O instrutor, com pelo menos 30 anos a mais que ela. Não era bonito, mas isso não importava. Demorou-se 20 minutos dando orientações sobre os componentes do painel e os procedimentos básicos, antes de dar a partida. O coração pulava de seu corpo e na hora em que chegaram à uma rua mais isolada, o orientador pediu que assumisse o volante. Era o momento. A estrada era sua. Ligou o veículo, pé na embreagem e no acelerador, marcha adequada, olhar a frente e, pronto, o carro se movimentava. Não havia palavras, naquele instante, nada mais ouvia. O tempo parou, a vida mudou, tudo seria mais rápido. Foram poucos os segundos, 200m, mas inesquecíveis. Nada seria como antes, se constituíra um projétil, poderia ser mais veloz, só uma questão de tempo. Mas dentro dela algo mais ficou daqueles instantes. A idéia de que um projétil não apenas voa livremente, mas também fere e mata.


sexta-feira, 15 de outubro de 2010

15 de outubro - Dia Mundial de Lavar as Mãos


Reproduzido de: Agência Fiocruz

Uma homenagem à memória dos professores

Recordar é pensar, saber e superar. Nesse sentido, nesse 15 de outubro, vale uma olhada no Memorial da Greve do Magistério Paulista. Reportagens, fotos e vídeos contam ali um pouco sobre como o atual presidenciável tucano trata os trabalhadores da educação em seu Estado.

Doenças tropicais, questão social estratégica

É ambiciosa a meta anunciada esta semana pela Organização Mundial da Saúde, de querer controlar as doenças tropicais até 2015, revertendo décadas de abandono na pesquisa de problemas que matam 534 mil pessoas por ano. No entanto, a estratégia adotada para esse objetivo precisa ir bem além da doação de medicamentos pelas multinacionais, ou mesmo a ampliação de diagnósticos. Políticas eficazes, sobretudo, é que são essenciais, como também aponta a ONU. Mas isso não pode ficar em palavras. No Brasil, as doenças tropicais, como a malária e a hepatite, são as mais difíceis de controlar e um dos motivos principais são as características específicas das comunidades centenárias que as contraem.
Em agosto de 2005, a reportagem Ribeirinhos do Tapajós ainda esperam pelo SUS, pulicada pela revista Radis (Fiocruz), dava alguns subsídios importantes sobre essa realidade. Em uma expedição de três dias pelas cidades onde vivem os caboclos ribeirinhos do Tapajós – GO, PA, AM – a equipe da Radis conheceu o modo de vida desses moradores, ao longo dos 1.992 quilômetros de comprimento daquele rio, onde o Estado ainda é frágil ou inexistente. E onde o Estado inexiste é campo fértil para o assistencialismo e outras formas de dominação ou comercialização dos problemas locais. As ONGs estrangeiras, freqüentemente - e com certa fundamentação – acusadas de interesses estranhos na Amazônia – têm, em alguns desses  cenários, atuações sérias e importantes. A respeito disso, o trabalho do projeto Saúde e Alegria, financiado com o apoio de várias instituições estrangeiras naquela Região, é exemplar
Outro aspecto importante na formação cultural para o enfrentamento das doenças tropicais é a situação das sociedades indígenas. As 55 aldeias Xavantes que vivem no MT e GO, em especial no Cerrado, estão entre os casos dos povos indígenas que, além das doenças tropicais, já convivem também com doenças típicas da cidade, como é o caso da obesidade. Soma-se a isso a questão das extensas fronteiras brasileiras, que é outra questão estratégica para o enfrentamento na área da saúde coletiva.
Nota-se, portanto, que muito além de apoios estrangeiros o enfrentamento das doenças tropicais no País exige um diagnóstico profundo que dê conta das amplas dimensões continentais de nosso território, considerando nisso a rica diversidade social dos povos nativos. Ao lado disso, porém, se faz necessário, sobretudo, a abertura de financiamentos para pesquisas nacionais de ponta nesse campo. Esses investimentos, aliados à projetos viaveis, e sob orientação de políticas sérias, é que vão, de fato, consolidar avanços significativos para a erradicação das doenças tropicas no Brasil.



quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Fotografia rima com educação ambiental e reforma agrária

Um belíssimo exemplo das relações entre fotografia com o ativismo social, em um enfoque infantil, foi o trabalho desenvolvido nesse feriado do dia 12 pelo pessoal do Celeuma com os Sem terrinhas e os sem morrinhos.

Os caminhos e descaminos das decisões

A necessidade de tomar decisões, pelo medo ou coragem, é um dos traços marcantes que nos diferencia das outras raças. Talvez pela força energética que essa palavra possua, tenha ela uma semelhança com "desistir" ou "existir". Sim, decidir é avançar em rumo, é exisitr em uma possibilidade. Assim como o é negar outra, desistir de um certo caminho. O que está em jogo nisso, sempre, é um determinado destino. Mudamos o rumo de nossas vidas a partir de uma decisão. Na política, como temos acompanhado, existe, além da expectativa pública sobre uma decisão dos candidatos, as estruturas mediadoras. Estas tem um poder fortíssimo de influenciar no "que" e no "como" algo é apresentado. Nesse caso, para além de uma decisão, entra na arena a forma com que o conteúdo dessa é apresentado, como está sendo no caso das pressões dos evangélicos e a reação dos candidatos a presidência na questão do aborto. Em nossa vida individual há pesos também nesse sentido. A palavra, no caso, é o meio entre o caminho da mente e nosso receptor. Entra aí tom de voz, gestos, olhares e outros recursos de comunicação, que definem o real efeito da expressão de uma decisão, o modo como esse conteúdo vai ser interpretado. Assim, observar o que é expressado nos meios de comunicação pode ser facilitado e melhor esclarecido com a observação dos efeitos das nossas palavras sobre os que nos circulam. Incluindo aí todos os enganos e acertos que elas implicam.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Uma experiência exemplar de organização humana

A experiência dramática dos 33 mineiros no exército do Atacama, que se organizaram em equipes para suportar e viabilizar a vida coletiva a 600m abaixo da terra, é um exemplo de convivência para os indivíduos. Mais do que a questão da baixo estima, imposto pela situação física e a provável prorrogação da situação que estariam, os 33 operários tiveram que superar incerteza também de algum risco que comprometesse suas vidas naquelas condições. Em torno disso, ao invéz de se resignarem, se distribuiram em grupos liderados para a execução de tarefas de higiene, alimentação e saúde. O resultado foi a vitória confirmada com o último retirado na noite desta quarta-feira, 13. Uma data que a humanidade deve lembrar como exemplo de força, esperança e superação.

casamento homossexual, questão espinhuda também para os cristãos

Para contribuir com um pouco mais de controvérsias ao cinismo religioso, em relação ao debate sobre o casamento homossexual no calor da eleição, vale conhecer o  manifesto O DESAFIO DOS CRISTÃOS HOMOSSEXUAIS, divulgado em janeiro de 1999 pela Comunidade Cristã Gay de S.Paulo.

Católicos e evangélicos declaram voto em Dilma Rousseff

Manifesto de Cristãos e cristãs evangélicos/as e católicos/as em favor da vida e da vida em Abundância!

Somos homens e mulheres, ministros, ministras, agentes de pastoral, teólogos/as, padres, pastores e pastoras, intelectuais e militantes sociais, membros de diferentes Igrejas cristãs, movidos/as pela fidelidade à verdade, vimos a público declarar:

1. Nestes dias, circulam pela internet, pela imprensa e dentro de algumas de nossas igrejas, manifestações de líderes cristãos que, em nome da fé, pedem ao povo que não vote em Dilma Rousseff sob o pretexto de que ela seria favorável ao aborto, ao casamento gay e a outras medidas tidas como “contrárias à moral”.

A própria candidata negou a veracidade destas afirmações e, ao contrário, se reuniu com lideranças das Igrejas em um diálogo positivo e aberto. Apesar disso, estes boatos e mentiras continuam sendo espalhados. Diante destas posturas autoritárias e mentirosas, disfarçadas sob o uso da boa moral e da fé, nos sentimos obrigados a atualizar a palavra de Jesus, afirmando, agora, diante de todo o Brasil: “se nos calarmos, até as pedras gritarão!” (Lc 19, 40).

2. Não aceitamos que se use da fé para condenar alguma candidatura. Por isso, fazemos esta declaração como cristãos, ligando nossa fé à vida concreta, a partir de uma análise social e política da realidade e não apenas por motivos religiosos ou doutrinais. Em nome do nosso compromisso com o povo brasileiro, declaramos publicamente o nosso voto em Dilma Rousseff e as razões que nos levam a tomar esta atitude:

3. Consideramos que, para o projeto de um Brasil justo e igualitário, a eleição de Dilma para presidente da República representará um passo maior do que a eventualidade de uma vitória do Serra, que, segundo nossa análise, nos levaria a recuar em várias conquistas populares e efetivos ganhos sócio-culturais e econômicos que se destacam na melhoria de vida da população brasileira.

4. Consideramos que o direito à Vida seja a mais profunda e bela das manifestações das pessoas que acreditam em Deus, pois somos à sua Imagem e Semelhança. Portanto, defender a vida é oferecer condições de saúde, educação, moradia, terra, trabalho, lazer, cultura e dignidade para todas as pessoas, particularmente as que mais precisam. Por isso, um governo justo oferece sua opção preferencial às pessoas empobrecidas, injustiçadas, perseguidas e caluniadas, conforme a proclamação de Jesus na montanha (Cf. Mt 5, 1- 12).

5. Acreditamos que o projeto divino para este mundo foi anunciado através das palavras e ações de Jesus Cristo. Este projeto não se esgota em nenhum regime de governo e não se reduz apenas a uma melhor organização social e política da sociedade. Entretanto, quando oramos “venha o teu reino”, cremos que ele virá, não apenas de forma espiritualista e restrito aos corações, mas, principalmente na transformação das estruturas sociais e políticas deste mundo.

6. Sabemos que as grandes transformações da sociedade se darão principalmente através das conquistas sociais, políticas e ecológicas, feitas pelo povo organizado e não apenas pelo beneplácito de um governante mais aberto/a ou mais sensível ao povo. Temos críticas a alguns aspectos e algumas políticas do governo atual que Dilma promete continuar. Motivo do voto alternativo de muitos companheiros e companheiras Entretanto, por experiência, constatamos: não é a mesma coisa ter no governo uma pessoa que respeite os movimentos populares e dialogue com os segmentos mais pobres da sociedade, ou ter alguém que, diante de uma manifestação popular, mande a polícia reprimir. Neste sentido, tanto no governo federal, como nos estados, as gestões tucanas têm se caracterizado sempre pela arrogância do seu apego às políticas neoliberais e pela insensibilidade para com as grandes questões sociais do povo mais empobrecido.

7. Sabemos de pessoas que se dizem religiosas, e que cometem atrocidades contra crianças, por isso, ter um candidato religioso não é necessariamente parâmetro para se ter um governante justo, por isso, não nos interessa se tal candidato/a é religioso ou não. Como Jesus, cremos que o importante não é tanto dizer “Senhor, Senhor”, mas realizar a vontade de Deus, ou seja, o projeto divino. Esperamos que Dilma continue a feliz política externa do presidente Lula, principalmente no projeto da nossa fundamental integração com os países irmãos da América Latina e na solidariedade aos países africanos, com os quais o Brasil tem uma grande dívida moral e uma longa história em comum. A integração com os movimentos populares emergentes em vários países do continente nos levará a caminharmos para novos e decisivos passos de justiça, igualdade social e cuidado com a natureza, em todas as suas dimensões. Entendemos que um país com sustentabilidade e desenvolvimento humano – como Marina Silva defende – só pode ser construído resgatando já a enorme dívida social com o seu povo mais empobrecido. No momento atual, Dilma Rousseff representa este projeto que, mesmo com obstáculos, foi iniciado nos oito anos de mandato do presidente Lula. É isto que está em jogo neste segundo turno das eleições de 2010.

Com esta esperança e a decisão de lutarmos por isso, nos subscrevemos:

Dom Thomas Balduino, bispo emérito de Goiás velho, e presidente honorário da CPT nacional.
Dom Pedro Casaldáliga, bispo emérito da Prelazia de São Feliz do Araguaia-MT.
Dom Demetrio Valentini, bispo de Jales-SP e presidente da Cáritas nacional.
Dom Luiz Eccel – Bispo de Caçador-SC
Dom Antonio Possamai, bispo emérito da Rondônia.
Dom Sebastião Lima Duarte, bispo de Viana- Maranhão.
Dom Xavier Gilles, bispo emérito de Viana- Maranhão.
Padre Paulo Gabriel, agente de pastoral da Prelazia de São Feliz do Araguaia /MT
Jether Ramalho, líder ecumênico, Rio de Janeiro.
Marcelo Barros, monge beneditino, teólogo
Professor Candido Mendes, cientista político e reitor
Luiz Alberto Gómez de Souza, cientista político, professor
Zé Vicente, cantador popular. Ceará
Chico César. Cantador popular. Paraíba/são paulo
Revdo Roberto Zwetch, Igreja IELCB e professor de teologia em São Leopoldo.
Pastora Nancy Cardoso, metodista, Vassouras / RJ
Antonio Marcos Santos, Igreja Evangélica Assembléia de Deus – Juazeiro – Bahia
Maria Victoria Benevides, professora, da USP
Monge Joshin, Comunidade Zen Budista do Brasil, São Paulo
Antonio Cecchin, irmão marista, Porto Alegre.
Ivone Gebara, religiosa católica, teóloga e assessora de movimentos populares.
Fr. Luiz Carlos Susin – Secretário Geral do Fórum Mundial de Teologia e Libertação
Frei Betto, escritor, dominicano.
Luiza E. Tomita – Sec. Executiva EATWOT(Ecumenical Association of Third World Theologians)
Ir. Irio Luiz Conti, MSF. Presidente da Fian Internacional
Pe. João Pedro Baresi, pres. da Comissão Justiça e Paz da CRB (Conferência dos religiosos do Brasil) SP
Frei José Fernandes Alves, OP. – Coord. da Comissão Dominicana de Justiça e Paz
Pe. Oscar Beozzo, diocese de Lins.
Pe. Inácio Neutzling – jesuíta, diretor do Instituto Humanitas Unisinos
Pe. Ivo Pedro Oro, diocese de Chapecó / SC
Pe. Igor Damo, diocese de Chapecó-SC.
Irmã Pompeia Bernasconi, cônegas de Santo Agostinho
Cibele Maria Lima Rodrigues, Pesquisadora.
Pe. John Caruana, Rondônia.
Pe. Julio Gotardo, São Paulo.
Toninho Kalunga, São Paulo,
Washingtonn Luiz Viana da Cruz, Campo Largo, PR e membro do EPJ (Evangélicos Pela Justiça)
Ricardo Matense, Igreja Assembléia de Deus, Mata de São João/Bahia
Silvania Costa
Mercedez Lopes,
André Marmilicz
Raimundo Cesar Barreto Jr, Pastor Batista, Doutor em ética social
Pe. Arnildo Fritzen, Carazinho. RS.
Darciolei Volpato, RS
Frei Ildo Perondi – Londrina PR
Ir. Inês Weber, irmãs de Notre Dame.
Pe. Domingos Luiz Costa Curta, Coord. Dioc de Pastoral da Diocese de Chapecó/SC.
Pe. Luis Sartorel,
Itacir Gasparin
Célio Piovesan, Canoas.RS
Toninho Evangelista – Hortolândia/SP
Geter Borges de Sousa, Evangélicos Pela Justiça (EPJ), Brasília.
Caio César Sousa Marçal – Missionário da Igreja de Cristo – Frecheirinha/CE
Rodinei Balbinot, Rede Santa Paulina
Pe. Cleto João Stulp, diocese de Chapecó.
Odja Barros Santos – Pastora batista
Ricardo Aléssio, cristão de tradição presbiteriana, professor universitário.
Maria Luíza Aléssio, professora universitária, ex-secretária de educação do Recife
Rosa Maria Gomes
Roberto Cartaxo Machado Rios
Rute Maria Monteiro Machado Rios
Antonio Souto, Caucaia, CE
Olidio Mangolim – PR
Joselita Alves Sampaio – PR
Kleber Jorge e silva, teologia – Passo Fundo – RS
Terezinha Albuquerque
PR. Marco Aurélio Alves Vicente – EPJ – Evangélicos pela Justiça, pastor-auxiliar da Igreja Catedral da Família/Goiânia-GO
Padre Ferraro, Campinas.
Ir, Carmem Vedovatto
Ir. Letícia Pontini, discípulas, Manaus.
Padre Manoel, PR
Magali Nascimento Cunha, metodista
Stela Maris da Silva
Ir. Neusa Luiz, Abelardo Luz- SC
Lucia Ribeiro, socióloga
Marcelo Timotheo da Costa, historiador
Maria Helena Silva Timotheo da Costa
Ianete Sampaio
Ney Paiva Chavez, professora educação visual, Rio de janeiro
Antonio Carlos Fester
Ana Lucia Alves, Brasília
Ivo Forotti, Cebs – Canoas – RS
Agnaldo da Silva Vieira – Pastor Batista. Igreja Batista da Esperança – Rio de Janeiro
Irmã Claudia Paixão, Rio de Janeiro
Marlene Ossami de Moura, antropóloga / Goiânia.
Ir. Maria Celina Correia Leite, Recife
Pedro Henriques de Moraes Melo – UFC/ACEG
Fernanda Seibel, Caxias do Sul.
Benedito Cunha, pesquisador popular, membro do Centro Mandacaru – Fortaleza
Pe. Lino Allegri – Pastoral do Povo da Rua de Fortaleza, CE.
Juciano de Sousa Lacerda, Prof. Doutor de Comunicação Social da UFRN
Pasqualino Toscan – Guaraciaba SC
Francisco das Chagas de Morais, Natal – RN.
Elida Araújo
Maria do Socorro Furtado Veloso – Natal, RN
Maria Letícia Ligneul Cotrim, educadora
Maria das Graças Pinto Coelho/ professora universitária/UFRN
Ismael de Souza Maciel membro do CEBI – Centro de Estudos Bíbicos Recife
Xavier Uytdenbroek, prof. aposentado da UFPE e membro da coordenação pastoral da UNICAP
Maria Mércia do Egito Souza, agente da Pastoral da Saúde Arquidiocese de Olinda e Recife
Leonardo Fernando de Barros Autran Gonçalves Advogado e Analista do INSS
Karla Juliana Souza Uytdenbroek Bacharel em Direito
Targelia de Souza Albuquerque
Maria Lúcia F de Barbosa, Professora UFPE
Débora Costa-Maciel, Profª. UPE
Maria Theresia Seewer
107. Ida Vicenzia Dias Maciel
108. Marcelo Tibaes
109. Sergio Bernardoni, diretor da CARAVIDEO- Goiânia – Goiás
110. Claudio de Oliveira Ribeiro. Pastor da Igreja Metodista em Santo André, SP.
104 . Pe. Paulo Sérgio Vaillant – Presbítero da Arquidiocese de Vitória – ES
106. Roberto Fernandes de Souza. RG 08539697-6 IFP RJ – Secretario do CEBI RJ
107. Sílvia Pompéia.
108. Pe. Maro Passerini – coordenador Past. Carcerária – CE
109. Dora Seibel – Pedagoga, caxias do sul.
110. Mosara Barbosa de Melo
111. Maria de Fátima Pimentel Lins
112. Prof. Renato Thiel, UCB-DF
114 . Alexandre Brasil Fonseca , Sociólogo, prof. da UFRJ, Ig. Presbiteriana e coordenador da Rede FALE)
115 Daniela Sanches Frozi, (Nutricionista, profa. da UERJ, Ig. Presbiteriana, conselheira do CONSEA Nacional e vice-presidente da ABUB)
116. Marcelo Ayres Camurça – Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Religião – Universidade Federal de Juiz de Fora
117. Revd. Cônego Francisco de Assis da Silva,Secretário Geral da IEAB e membro da Coordenação do Fórum Ecumênico Brasil
118. Irene Maria G.F. da Silva Telles
119. Manfredo Araújo de Oliveira
120. Agnaldo da Silva Vieira – Pedagogo e Pastor Auxiliar da Igreja Batista da Esperança-Centro do Rio de Janeiro
121. Pr. Marcos Dornel – Pastor Evangélico – Igreja Batista Nova Curuçá – SP
122. Adriano Carvalho.
123. Pe. Sérgio Campos, Fundação Redentorista de Comunicações Sociais – Paranaguá/Pr.
124. Eduardo Dutra Machado, pastor presbiteriano
125. Maria Gabriela Curubeto Godoy – médica psiquiatra – RS
126. Genoveva Prima de Freitas- Professora – Goiânia
127. M. Candida R. Diaz Bordenave
128. Ismael de Souza Maciel membro do CEBI – Centro de Estudos Bíbicos Recife
129. Xavier Uytdenbroek prof. aposentado da UFPE e membro da coordenação pastoral da UNICAP
130. Maria Mércia do Egito Souza agente da Pastoral da Saúde Arquidiocese de Olinda e Recife
131. Leonardo Fernando de Barros Autran Gonçalves Advogado e Analista do INSS
132. Karla Juliana Souza Uytdenbroek Bacharel em Direito
133. Targelia de Souza Albuquerque
134. Maria Lúcia F de Barbosa (Professora – UFPE)
135. Paulo Teixeira, parlamentar, São Paulo.
136. Alessandro Molon, parlamentar, Rio de janeiro.
137. Adjair Alves (Professor – UPE)
138. Luziano Pereira Mendes de Lima – UNEAL
139. Cláudia Maria Afonso de Castro-psicóloga- trabalhadora da Saúde-SMS Suzano-SP
140. Fátima Tavares, Coordenadora do Programa de Pos-Graduação em Antropologia FFCH/UFBA
141. Carlos Cardoso, Professor Associado do Departamento de Antropologia e Etnologia da UFBA.
142. Isabel Tooda
143. Joanildo Burity (Anglicano, cientista político, pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco,
144. Paulo Fernando Carneiro de Andrade, Doutor em Teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, Professor de Teologia PUC- Rio
145. Aristóteles Rodrigues – Psicólogo, Mestre em Ciência da Religião
146. Zwinglio Mota Dias – Professor Associado III – Universidade Federal de Juiz de Fora
147. Antonio Francisco Braga dos Santos- IFCE
148. Paulo Couto Teixeira, Mestrando em Teologia na EST/IECLB
149. Rev. Luis Omar Dominguez Espinoza
150. Anivaldo Padilha – Metodista, KOINONIA, líder ecumênico
151. Nercina Gonçalves
152. Hélio Rios, pastor presbiteriano
153. João José Silva Bordalo Coelho, Professor- RJ
154. Lucilia Ramalho. Rio de janeiro.
155. Maria Tereza Sartorio, educadora, ES
156. Maria José Sartorio, saúde, ES
157. Nilda Lucia Sartorio, secretaria de ação social, Espírito santo
158. Ângela Maria Fernandes -Curitiba 159. Lúcia Adélia Fernandes
160. Jeanne Nascimento – Advogada em São Paulo/SP
161. Frei José Alamiro, franciscano, São Paulo, SP
162. Otávio Velho, antropólogo
163. Iraci Poleti,educadora
164.Antonio Canuto
165. Maria Luisa de Carvalho Armando
166. Susana Albornoz
167. Maria Helena Arrochellas
168. Francisco Guimarães
169. Eleny Guimarães

(mandar mais adesõoes para gomezdesouza@uol.com.br )

Reproduzido de: http://www.cartamaior.com.br/

A montanha e os abutres

No que se refere à dramatização, a mobilização da imprensa internacional e a narração futebolística que tem sido feita dos chilenos resgatados do interior da San José, no deserto do Atacama, não tem como não lembrar o filme A montanha dos Sete Abutres.  A captura do furo na notícia é uma das melhores fontes para o debate sobre as relações entre Realidade-Espetáculo. É obvio que desperte interesse em um nível amplo um fato desses. Mas o que chama a atenção, em um momento como esse, é o enfoque situacional e o desprezo pelo contexto. Qual é a realidade dos trabalhadores das minas desse tipo nesse País? Por que elas ainda são exploradas com esse grau de insegurança que oferecem? Que riscos semelhantes a esses existem ainda no Chile e outros Países da América Latina? O aprofundamento dessas questões, antes do esquecimento completo dessa pauta, é o que vai separar as empresas de comunicação que realmente fizeram jornalismo na cobertura desse fato daquelas que se reduziram ao enfoque do espetáculo. Abaixo, uma curta edição do filme mencionado.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

A (re) descoberta da América - Vangelis


Um belo texto para lembrar e refletir sobre a Descoberta da América, outro 12 de outubro – Dia de Resistência e Luta dos Povos Originários.

E se enxergássemos as coisas como elas realmente são; o que seria de nós?

A raça humana vive sob ilusões, e precisa delas para sobreviver. É assim, porque assim se construiu. Se a morte fosse vista como fim absoluto, destituída de todos os invólucros e mistérios que a religião e outras tendências a envolvem, seria imapctante demais. Mentes se transformariam profundamente. E o mundo não seria o mesmo. Se a felicidade fosse entendida como um estado meramente imaginário, sem qualquer encanto com a possibilidade de construí-la materialmente, por meio de estruturas físicas, seria forte para agüentar. Mas também seria transformador. Um outro ser humano nasceria. Se o amor romântico assumisse, transparentemente, uma cara com todas as suas dimensões e possibilidades, uma indústria gigantesca de mecanismos de controle, culpas e comércios seria comprometida. E novas relações surgiriam. E, talvez, nesse encontro do âmago dos seres vivos com o sua existência nasceria uma nova sociedade. Um paraíso, ou inferno. Em qualquer caso, puro.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Faltou emoção no debate, mas que não falte memória

Realmente, creio que o brasileiros esperavam mais do debate de ontem. Polêmicas e provocações a parte, é mesmo nas adversidades mais agudas é possível que se tire esclarecimentos sobre um ou outro debatedor. Mas faltou um sal nesse debate desse domingo, 10. Mesmo assim, é temeroso que a qualidade do debate ccomprometa a memória dos brasileiros. Uma comparação entre as duas candidaturas, com alguns números, é importante para revelar melhor os dois perfis dos presidenciáveis. Nessa edição, sobre o que mudou no País desde FHC, há alguns subsídios para os idecisos.

domingo, 10 de outubro de 2010

Superar a sociedade deficiente

O útlimo Profissão Repórter que aborda como os Deficiente visuais e auditivos buscam formas de seguir a vida normalmente vale a pena ser conferido. Mesmo quem ainda não conviveu com uma pessoa com deficiência, não tem como não se emocionar. Nem a cultura da caridade, que supõe o outro como inferior; nem a cultura do super-homem, que só valoriza os que provam talentos além do normal. Uma sociedade que compreenda e aprenda a viver com as diferenças, e amadureça com isso, é o que se necessita.

Uma experiência que vivi anos atrás foi inspiradora para a crônica abaixo.

Apenas diferente
Era uma explicação que Samanta costumava comumente ouvir da boca dos adultos a seu respeito. Tinha já quatro anos, mas não compreendia porque motivo não podia fazer as mesmas coisas que as outras crianças. A vontade era tanta, mas os pequenos músculos atrofiados de uma paralisia infantil, não permitiam. E a explicação para quem perguntava em suas saídas com a mãe, vinha sempre em um tom baixinho: ‘Ela é diferente’. Algumas vezes, havia outras expressões eufemísticas, como: ‘Ela tem alguns probleminhas’, ou ‘É assim desde pequena’, ou ainda, ‘Nada que lhe impeça de ter uma convivência sadia’. Para a pequena Samanta, entretanto, isso parecia não ter a mínima importância. Suas energias, nessas saídas para além das quatro paredes de sua casa, eram concentradas apenas em uma vontade: descobrir o mundo e brincar. Samanta não falava nenhuma palavra, apenas emitia sons confusos ao ouvido comum, mas entendíveis e com claro significado para a sua mãe que, ajudada pelos gestos, sabia de pronto o que a filha queria. Era uma comunicação estranha. Mas a impossibilidade de falar, correr e pular daquela pequena bonequinha, que a todos encantava, era compensado por um olhar carregado de carinho, que tornava quase obrigatória uma resposta em algum nível, mesmo por parte das outras crianças. E assim foi com aquele garotinho na Rodoviária de Curitiba, que andava para um lado e para o outro, enquanto Samanta esperneava no colo da mãe.  De repente, o menininho voltou-se para a inquietude da garotinha. Hipnotizado pelos olhares penetrantes da menina, o agitado fulaninho tomou a iniciativa e foi até a mãe de Samanta., enquanto a sua vigiava-lhe de perto. Puxou a mão da mulher ininterruptamente, até que essa atendesse ao seu apelo e pusesse a menina no chão. Assim que tocou os pesinhos no cimento frio, sem apoio, Samanta encostou-se nos joelhos e sentou-se, começando a acompanhar os passos do menino apenas arrastando-se, como sempre fazia com os seus amiguinhos. Este, não satisfeito, e parecendo um terapeuta empenhado em fazer a sua nova amiguinha caminhar, pegou-lhe pela mão, insistindo-lhe para que Samanta se levantasse. Atenta aos movimentos a mãe da menina precipitou-se e, cuidadosamente, levantou-lhe, pegando a sua outra mão. Assim, com uma mão estendida à sua mãe e a outra àquele garotinho, que não deveria ter mais de três anos, Samanta deu muitos passinhos entre os presentes, que aguardavam o horário de suas viagens. Não tenho idéia de quanto essa aventura durou. O tempo, há quem diga, é mesmo uma ilusão. O fato é que os breves minutos, ao longo de poucos metros, que durou aquele passeio, representaram uma eternidade através dos olhos brilhantes de Samanta. Uma genuína e depreendida compreensão que poucos, além das crianças, podem transmitir em função de sua pureza de intenções. Quem testemunhou, colheu os seus frutos. Samanta e o seu amiguinho, doses de carinho. A todos ao seu redor, instantes de aprendizado sobre a dimensão que pode fazer da diferença, muito além de algo contrário ao normal, uma qualidade superior ao banal.


sábado, 9 de outubro de 2010

Conversando com Deus - uma possibilidade

Na minha condição de "ateu-espiritualista" (inventei o termo há poucos minutos), tenho grandes resistência em assistir filmes com temtática cristã; em geral os acho repetitivos e piegas, mas não sou religioso nisso. rs. Então, notei que Coversando com Deus, ainda que mantenha essa linha caricatural do "problema-solução divino", é interessante pelo modo como trata a noção de Deus e a relação do protestantismo com esse conceito, que difere substancialmente do enfoque católico. A edição abaixo é apropriada para quem quiser conhecer a idéia geral ou, quem sabe, assisti-lo. Veja aqui.


sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Toda palhaçada tem um fundo sério

O humor, além de relaxante, está associado à vida social, e apenas por isso, já se encontra no estatuto de produção cultural. A qualidade do humor produzido pode ser discutível, mas o que o “palhaço” faz sempre terá uma dose de significado.

A crítica aos portugueses, presentes nas piadas brasileiras, reproduz certa “vingança” aos colonizadores. As piadas com negros, homossexuais e velhos também traduz, nas entrelinhas, os ranços de intolerância em nossa cultura. No México, País com história de sangrentos conflitos, a morte é resignificada, entre outras coisas, por meio do humor. Na ditadura militar brasileira, esse recurso foi uma arma poderosa de contestação. Portanto, o humorismo raramente é ingênuo e nunca é dissociado do real-cultural-político. E se tratando de uma sociedade que utilizou por muito tempo a ironia como uma manobra para atacar aquilo que oprime, somado ao poder construído dos humoristas na mídia, os brasileiros deveriam levar o humor mais a sério.

Logo, as declarações de Marcelo Madureira, humorista do Caceta & Planeta, sobre Lula, ao lado de um colunista absolutamente definido politicamente, me soam sérias. Primeiro, porque são conhecidas as posições de madurareira, claramente rançosas e antipetistas; segundo, porque em um momento de disputa eleitoral, em se tratando de um nome de alta visibilidade na TV Globo, nada ocorre isoladamente. Tiririca também não está por acaso no centro dos debates sobre as relações entre política, humor, mídia e justiça. Ele é, mais do que um reflexo, considerando o que São Paulo expressa do País em termos de diversidade. Tiririca é um sintoma de como está a identificação do povo brasileiro sobre a política e os políticos.

Por outro lado, não são todas as palhaçadas cometidas por políticos que são ironizadas pelos cronistas figurões, editorializam a opinião nos jornalismos impressos, televisivos e radiofônicos – sem citar o entretenimento que se misturam com eles e vice-versa. Então, pode parecer ofuscada a racionalidade de quem humoriza, mas o humor é sério. E contextualizado com o momento, autoria e relações de intencionalidade do humorista, pode ser muito prudente e esclarecedor.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Dois pesos

Publicado no jornal o Estado de S. Paulo, o artigo Dois pesos desagradou à direção da empresa, e levou a demissão da psicanalista Maria Rita Kehl.

Individualismo, stress e saúde e vida urbana

Nem sempre as pessoas tomadas pelo stress, típico na vida urbana, se dão conta do modo de vida que tem se relaciona às opções de consumo e de organização pessoal e como isso pode afetar a saúde. Tenho notado, até como impulso próprio, que a forte influência do consumismo (o uso do dinheiro exageradamente e desnecessariamente para “resolver” coisas) é uma tônica da vida social neste século.

Como uma espécie de prisão autoconstruída, é uma tendência comum que os indivíduos se enlacem em uma rede de compromissos, que impedem a realização dos atos mais simples na sua intimidade, comprometendo diretamente a qualidade de sua vida e, em um círculo vicioso, alimentando uma cultura de praticidade pelo ato de “assinar cheques” em situações, que poderiam perfeitamente, e saudavelmente, serem solucionadas com um pouco de tempo, concentração e dedicação. A organização de um condomínio é um caso que reflete bem isso, como um dos símbolos de conforto e estabilidade. Os intermediadores existentes nesses “paraísos fechados” são de toda ordem – administração, manutenção, segurança, jurídico, lazer, educação, etc.

Há, como pano de fundo, um modo de vida construído nesse meio que é isolador, porque encastela cada um em seu espaço, reduzindo ou eliminando as relações sociais internas; excludente,  porque tende fortalecer uma falsa noção de proteção daquele grupo de moradores “afins” do resto da sociedade, e segregacionista – porque suas estruturas, especialmente nas metrópoles, compartimentam cada vez mais as cidades em espaços urbanos fechados. E tudo que se precisa o síndico, a administradora, o porteiro, o segurança e os serventes “resolvem”. Nisso, a possibilidade de solução dos mais pequenos problemas são terceirizadas. É compreensível que, nesse cenário, as possibilidades de convivência e troca de idéias na construção de soluções se reduzam à encontros para troca de insultos e processos.

Como senão bastasse esse modo de vida do “Meu Paraíso” que “ Eu preciso manter” é progressivamente estendido ao resto da cidade e às outras dimensões da vida urbana. Daí a cultura do individualismo e da competitividade como uma das tônicas da sociedade contemporânea, seja no trânsito, no trabalho, na maternidade ou até mesmo no lazer. Os shopping centers, nesse caso, são os castelos do consumo, que sintetizam esse modo de vida das soluções “mágicas”. E, ao lado, um McDonald's complementa o lazer e alimentação que essa “família feliz” vai “precisar”. Não é preciso recorrer a nenhum escrito de psiquiatria ou antropologia, que existem às pencas, para se perceber o quanto isso tudo tem a ver com a saúde coletiva – aliás, esta é outra dimensão interessante desse modo de vida, no qual os planos de saúde, seguro de vida, e até de morte, são rápidos e presentes. Pelo menos até o momento da adesão.

Assim está organizada uma parcela expressiva da sociedade moderna. E assim se almeja a outra parcela que dessa estrutura não faz parte. E as favelas, o que são? Bem aquém de paraísos, tão pouco se reduzem aos infernos que pintam. O certo é que muito elas tem a ver diretamente com o modo de vida analisado acima. Mas isso é assunto para outra análise, em outra oportunidade. Não antes de concluirmos melhor a presente questão.

Mas para quem quiser se aprofundar desde já nesse assunto, na perspectiva da arquitetura e da sociologia,  há uma análise científica no artigo Ricos e pobres, cada qual em seu lugar: a desigualdade socio-espacial na metrópole paulistana.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

A vontade no voto e seus paradoxos (II)

Ainda em torno da questão do pálido entusiasmo e envolvimento ideológico do eleitor com o processo político nessas eleições – que está muito além do ato de votar – tendo a crer que há nesse processo algumas rupturas entre as subjetividades individuais e as coletivas, e que estas últimas ainda tem  campo muito restrito de abrangência da política, apesar dos esforços dos marketeiros.

O personagem produzido nas câmeras, que é o político do século XXI, o inatingível, tem tido bloqueios para se voltar ao universo do eleitor, até mesmo do seu eleitor. Parece que o esforço do poderoso arsenal técnico que envolve uma campanha eleitoral por atingir o “ponto médio”, provoca certa desumanização no candidato a um cargo público na medida em que se torna um hábil comunicador com câmeras, microfones e gravadores, mas tende a enfraquecer sua sensibilidade à condição humana mais simples, ainda que busque isso. A eleição do palhaço Tiririca, que fez 1,3 milhão de votos com uma linguagem infantil nas câmeras, é sintomático.

Além de provocar um impacto monumental nos convencidos da suposta racionalidade do sistema eleitoral brasileiro, o fenômeno Tiririca deveria também ser base para essa reflexão sobre quem é o brasileiro.  E talvez isso remeta a uma questão mais de fundo sobre o que é o candidato e o que ele se transforma diante das câmeras. E, finalmente, com essa segunda questão, remeteríamos, aí sim, a um ponto bastante perturbante nesse início de século: Qual o real alcance dessa construção de mitos pelos meios de comunicação na vida social brasileira, e o que ela nos guarda para o futuro? Um quadro de políticos restrito às  celebridades?  Se a resposta for essa, pode ser que muita gente se convença que o Tiririca é apenas a ponta de um iceberg. De qualquer modo, se esse debate avançar, a vitória de Tiririca vai ter pelo menos um lado salutar.

Tiririca e os outros, é um artigo que explora também essa questão.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Saúde, questão de direito, questão de liberdade

A recusa do presidente dos EUA, Barack Obama, ao pedido da ONG Médicos pelos Direitos Humanos (PHR), realizado nesta segunda-feira, 4,  para que ele determine a investigação de possíveis “experiências” com presos da CIA, é perturbadora e dá margem a desconfianças. Após as revelações de que o governo dos EUA infectou centenas de pessoas com sífilis e gonorréia na Guatemala no fim dos anos 40, para testar a eficácia no tratamento da penicilina, o desejável seria que Obama deixasse claro a inteção de extirpar esse tipo de prática em seu País. A questão da saúde está intrinsecamente ligada também a da liberdade, não apenas de presos. Ainda em 1986, durante a 8.ª Conferência Nacional de Saúde, durante as lutas pela Reforma Sanitária o sanitarista brasileiro Sérgio Arouca destacava a relação entre o direito a saúde e o direito a liberdade. A internação psiquiátrica chegou a ser utilizada no Brasil, inclusive para excluir do seio social os indesejáveis. Historicamente, aliás, o confinamento é forma de exclusão social eficaz, como já considerava o filósofo Michel Foucaut. Hoje, mais do que nunca, confirmamos a convicção que o acesso universal a saúde gratuita e de qualidade é uma pré-condição essencial para o exercício da liberdade humana. Ser livre é ser saudável, sobretudo. No caso dos EUA, que tem a pretensão de ser ao mundo um País referência enquanto modelo da expressão da liberdade, o mínimo que se espera é que deixe transparente que suas práticas carcerárias respeitem os direitos humanos.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

A vontade no voto e seus paradoxos


A eleição se encerrou parcialmente para alguns estados e nos deixou algumas perplexidades e impressões sobre o que o processo eleitoral tem a ver com (D)emocracia, o que realmente ele pode expressar, além de legitimação de popularidades. A democracia política que dispomos é essencial, claro; porém, por mais e melhores mecanismos de participação que ela ofereça, a avaliação de sua eficácia na expressão das vontades coletivas não pode se reduzir a sua dimensão eleitoral.

A vontade de cada indivíduo está sistemicamente relacionada às condições econômicas e culturais deste.  E isso não é pouco em um País de tantas disparidades nessas duas dimensões da vida social dos brasileiros, independentes dos reconhecidos avanços pelos projetos e programas sociais no atual governo. O clima nos locais de votação por onde passei, por exemplo, era de certa rotina, nenhum entusiasmo e modificação de comportamentos, a parte o festival de papel pelo chão e de adesivos colados nos corpos dos cabos/trabalhadores. A maioria se dirigia ao local do votação, e ali aguardava sua vez, como o faz em uma missa. Seria o brasileiro tão indiferente assim, ou é mesmo a ausência de um envolvimento que o toque interiormente nesse processo?

Por outro lado, um fenômeno que julgo novo, pelo menos no impacto que se apresentou, é a presença de celebridades na arena eleitoral. O voto em ícones popularescos, que era um fenômeno mais reduzido ao rádio, se ampliou, e consolida de vez o poder dos meios de comunicação nessa Idade Mídia. No esporte, na musica, no entretenimento, nos mitos da própria política (sobre nomes fixados no imaginário como “bons”) e outras esferas, nomes estranhos ao exercício da política enquanto atividade nobre e séria, estavam no páreo e garantiram uma espécie de “Bancada das Celebridades”. O que resultará disso é de se esperar, mas experiências semelhantes já verificadas, não nos dão boas razões para ter otimismo.

De qualquer forma, o exercício da política, por si só, dirão muitos, já está a muito tempo tomado pela tetralização da mídia, em que o marketing diz muito. Acho, a respeito disso, bastante cínico por parte de âncoras dos telejornais – que representam a opinião dos empresários de comunicação – quando se queixam de que um ou outro candidato “não quis debater”,  “se fez ausente do debate”, ou algo assim. Qual é a prática que existe nos espaços apresentados por esses sujeitos para o debate cotidiano das questões nacionais, que ultrapassem a informação mecânica, ou quase assexuada politicamente? Quantas vezes os políticos, durante os outros meses, além do obrigatório nas eleições, podem comparecer à esses meios para apresentar suas idéias e debatê-las?

Assim, novamente, voltamos ao ponto: a democracia social – aquela que entendemos mesmo como plena (combinada com condições econômicas que situem os indivíduos em uma órbita em que a cidadania seja viável em todos sentidos, permitindo que a cultura seja um direito em todos os seus aspectos) está longe, lamentamos constatar. Isso não quer dizer que políticos sérios não tenham sido beneficiados nesse processo. Mas precisamos avançar ainda. Muito. E sabem disso os reais democratas.

sábado, 2 de outubro de 2010

Para vivir - (Pablo Milanés) - 1976


Traduzida por Vitáli Marques

Muitas vezes te disse que antes de fazermos isto
tínhamos que pensar muito bem
Que para essa nossa união
faltava sensualidade, e desejo também

Que não bastava que me entendesses
e morresses por mim
Que não bastava que no meu fracasso
eu me refugiasse em ti

E agora tu vês o que aconteceu
Nasceu, afinal, com o passar dos anos,
o tremendo cansaço que estás sentindo
E, embora seja penoso, tens que admitir isso.

Por minha parte eu esperava
que um dia o tempo se encarregasse do fim
Se assim não ocorresse
eu continuaria a brincar de te fazer feliz

Embora o pranto seja amargo
pense nos anos que tens para viver
Que a minha dor não é menor
E o pior é que já não posso senti-la

Agora tratemos de conquistar,
com esforços vãos, esse tempo perdido
que nos deixa vencidos sem poder conhecer
isso que chamam de amor para viver

Para viver...


Uma biografia do cantor, em espanhol.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

“Esquerda fez opção pela democracia na América Latina” (Lula)

Leia aqui a entrevista antológica de Lula, concedida na manhã desta quinta-feira, dia 1.º, em Brasília, à Carta Maior e aos jornais Página/12 (Argentina) e La Jornada (México).

Democracia na América Latina, questão inacabada

Louvável e corajosa a postura do presidente do Equador, Rafael Correa, que afirmou sua disposição de manter as medidas de corte a privilégios militares, mesmo diante das abusivas manifestações dessa categoria, realizadas nas últimas 48h, e que causaram feridos, morte e ameaça explícita a instabilidade nacional daquele País. Esse episódio reacende a questão da democracia e seu real significado no hemisfério sul de nosso continente. Bem mais do que expressão de vontades, por meio de um processo eleitoral episódico, a democracia é a síntese de anseios sociais concretos.

Porém, mesmo legítimo, nada assegura a vigência da estabilidade de um governo eleito. Por mais paradoxal que pareça. Os golpes militares e diversas ameaças institucionais a governos democraticamente eleitos na Argentina, no Chile, no Brasil, na Venezuela e outras repúblicas desse eixo geográfico, confirmam isso. O que pode garantir a melhor estabilidade para a consolidação democrática é uma combinação de fatores: o encontro da representação legítima de anseios sociais legítimos, traduzidos por meio da garantia máxima aos direitos básicos, com uma composição de forças que viabilizem sua governabilidade, de baixo pra cima.

Aliado a isso, no entanto, é imprescindível que o povo contemplado a isso enxergue, sob pena de ceder à sedução golpista de interesses contrariados, seja na oposição, seja nas organizações de mídia, seja em influências de poderes neo-colonialistas. Porque, nessas ameaças constantes, por quem mais se supõe prezar a democracia, as palavras mais interessantes ao bem comum são pervertidas e usadas como armas antidemocráticas: Liberdade, Justiça, Bons costumes, Tranquilidade social, etc. Interpretar e traduzir tais manobras pela sociedade civil é base para uma estabilidade democrática, mas requer discernimento.

Daí desponta a educação – enquanto suporte estratégico para o despertar de consciências, e portanto, em um nível de transformação cultural. Não é apenas o melhor, mas o único caminho promissor para a construção de uma sociedade socialmente emancipada e autenticamente  livre.