Estamos mergulhados em constantes possibilidades de expressar idéias e desejos, mas há limites bem definidos nesse entremeio. A condição de suportabilidade física, psicológica e financeira, por exemplo. “Querer é sofrer”, dizia certa psicóloga, em artigo que li tempos atrás – contrariando a máxima da cultura capitalista, que vende o resultado material de um objetivo como valor único da vida. De fato, o desejo por algo constitui também a consciência sobre a sua ausência. Assim, queremos o que não temos, uma parte que falta, cuja busca vai envolver um contínuo deslocamento para um fim. E, este esforço, se não for revestido de uma consciência sobre o mérito de todo o processo da conquista, tem mais chances de se refletir em frustração do que satisfação. Tudo isso tem a ver com uma dimensão espiritual que opera anônima e silenciosamente em nossa vida. Como ela tem sido hoje apropriada, reproduzida e devolvida aos seres humanos, sob a forma de consumo – e constante sofrimento – especialmente pela indústria cultural e a publicidade (sua técnica mais visível) é digno de reflexão.
"O HAMAS, que é um grupo palestino muçulmano sunita, tem como intenção, através de ataques, serem ouvidos sobre a situação caótica de seu povo árabe, pois através do diálogo não houve uma resposta satisfatória."
sábado, 30 de abril de 2011
sexta-feira, 29 de abril de 2011
Rir é necessário; mas sorrir sincero, uma arte
Lembro nada quando foi que comecei a desacreditar no sorriso, em qualquer sorriso. É bem provável que ocorreu pelo mesmo período que comecei a valorizar mais um sorriso sincero. Sorrir dessa maneira, em tempos em que a ironia está na terra, no ar e nas almas, é uma arte. É sintomático que me venha à cabeça essa idéia, quando leio a manchete “Falta coerência às políticas do Brasil, diz economista de Harvard”. Os norte-americanos, mais uma vez ensinando como ao Brasil como devemos pensar e fazer. Em geral, as lições vem em um to de amizade, num sorriso diplomático.
Mas no caso da declaração na manchete, o tom é tecnodiploplomático. As palavras foram pronunciadas ontem pelo economista Ricardo Hausmann, da Universidade Harvard, durante Fórum Econômico Mundial no Rio. Entre outras críticas a política econômica brasileira, salientou que “o fato de que a economia brasileira está superaquecendo com um ritmo de crescimento de 4% ao ano é sinal do baixo limite de velocidade”. Importante notar que palavras semelhantes foram utilizadas, no início de março, pelo diretor gerente do Fundo Monetário Internacional, Dominique Straus-Kahn, também com ampla repercussão na imprensa brasileira. (seria essa uma nova agenda pública?).
Vejamos a tradução do termo “superaquecimento” no Dicionário de Termos Financeiros e de Ivenstimentos, dos John Downes e Jordan Elliot Goodman, onde encontro a palavra pelo nome genuíno - OVERHEATING que descreve uma economia que está se expandindo tão rapidamente a ponto de os economistas temerem um aumento da inflação (INFLATION). (...). Como solução, o Banco da Reserva Federal tem adotado uma política de aperto da base monetária e cortes nos gastos públicos. Curioso que quando o Brasil anunciou emprestar R$ 10 bilhões ao FMI.
O receituário do momento, portanto, dos economistas do FMI e de Harvard para o Brasil tem a ver, mais uma vez, com cortes nos gastos públicos. Lembremos o que isso representou há uma década atrás um acerto de países em torno de um certo Consenso de Washington. Conforme o João José Negrão (Para conhecer o Neoliberalismo), o Consenso de Washington faz parte do conjunto de reformas neoliberais que apesar de práticas distintas nos diferentes países, está centrado doutrinariamente na desregulamentação dos mercados, abertura comercial e financeira e redução do tamanho e papel do Estado. Talvez existam razões para rir mos menos e ficarmos mais atentos a qualidade dos sorrisos.
quinta-feira, 28 de abril de 2011
Sobre o amor e outros demônios (de Gabo até nós)
Nossa fragilidade em conviver com outros seres, em condições mais estreitas, revela amor próprio de dois gumes. Saber controlar esse impulso é vital para crescer e viver em harmonia. Isso não significa atrofiar-se. O amor próprio, penso, é pré-requisito para qualquer forma de gostar, inclusive aquela que comumente se chama Amor, que pode ser também confundida com o matrimônio, uma forma de poder. Mas poder de quem?
No caso, da instituição casamento, há uma relação secular, estrutural e mutante, que não se deixa descolar de sua essência familial. E a visibilidade, ao que parece, é um dos fatores mais influentes nessa força retro-alimentadora da relação matrimonial. A cerimônia do príncipe William e sua noiva, Kate Middleton, que ocorre nesta sexta-feira em Westminster, sob cadeia internacional, explicita essa dimensão sócio política, de fora para dentro. “O mundo está espiando vocês, não façam feio”. Em se tratando de uma solenidade da realeza, nada pode dar errado. Uma festa tão linda, quanto terrivelmente tensa.
Há, vejo assim, uma força combinada (ou suportada) de triplo sentido no casamento formal: a vontade de uma parte, com a vontade da outra parte e a “expectativa” externa. Esse, dependendo a época ou contexto, pode ser a mais definidora. Quanto ao Amor, é custoso demais definir nesse cenário. Mas creio que pouco tenha a ver com isso tudo.
quarta-feira, 27 de abril de 2011
O tempo que não pára e a vida louca de Lobão
A organização da vida, por meio da hierarquização e articulação de compromissos se impõe como essencial nesses tempos em que “tudo vemos” e “tudo queremos”. Assim como a natureza, o corpo e os recursos que dispomos para concretizar objetivos é limitado, o que condiciona a necessidade de termos uma vida regrada.
Mas quebrar regras também é parte desse jogo. Mais do que isso, é a base do jogo. Sair da rotina, seguir o impulso do coração, satisfazer um prazer contido são necessidades humanas, que alimentam o espírito para que suportemos o peso intenso do cotidiano. Todos, de algum modo e de algum nível tem suas estrvavagâncias. E quem não as manifestas, é vítima de seu transbordamento. Muito ao contrário foi o caso da de Lobão que divide com o jornalista Claudio Tognolli, a produção de sua biografia - “50 anos a mil”.
Quem é Lobão? O que tem a ver o artista da que cantava a “Vida louca”, e que prometeu que “o melhor ainda está por vir” com o cantor que se apresenta hoje em um fórum de empresários em tom de rebeldia? O que vincula a sua história, de ilimitadas aventuras com a uma geração fragmentada nos seus referenciais ideológicos e confusa nos seus parâmetros morais e políticos? Talvez essa obra, que prossegue na lista dos mais vendidos no País, seja uma abertura interessante para desvendar isso. Ou, quem sabe, criar perguntas mais pertinentes sobre a realidade (da juventude) brasileira. Nesse caso, já será válido sua leitura.
Abaixo, um trecho da apresentação do livro. “Preparem‑se porque, a partir de agora, vou contar uma história de amor louca, insólita, humana, demasiadamente humana, imprevisível, improvável, mas bem real: a história da minha vida, que se mescla e se confunde com a da minha geração, do nosso país e de nosso tempo”. Leia trecho completo do livro aqui.
terça-feira, 26 de abril de 2011
Trocar impressões é uma forma saudável de entender a vida
Somos seres sociáveis, e o diálogo com a diferença é crucial para derrubarmos certezas e amadurecermos olhares superficiais sobre o que nos cerca. Não somos prontos, o ser humano é uma permanente construção. A dinâmica da vida social, potencializada pela intensidade da produção informativa e sua difusão instantânea por meio de tecnologias progressivamente mais sofisticadas, estimula sensações de impotência de assimilação. Mas assimilar é um processo complexo, que envolve diferentes modos. O olhar, por exemplo, é um deles poderoso. Ler o que está a nossa volta pode ser tão rico e problematizante quanto uma crônica escrita.
Há quem diga que a bola da vez são as novelas, que deixaram, há muito, de ser só entretenimento. Na medida em que associam ocorrências de sentido comum, do presente e do passado, ao cotidiano de um drama - seja por via direta, seja por inter-textualidades os melodramas trazem subsídios para olharmos de maneira mais saliente o modo de ser de coletividades. Mesmo pobres na narrativas, ou homogêneas na visão de mundo, as produções televisivas deixam brechas diversas para “enxergar o que não se quer mostrar”.
Poderia estender, com as devidas proporções, essa mesma leitura para os seriados, telejornais e outros produtos que se modelam ou agonizam na tela nesses tempos de sociedade midiatizada. O fato é que, se mudou as formas de relação das pessoas com os bens simbólicos - agora em um nível veloz, direto e fragmentado – permanece a necessidade da troca. E nisso, vale tudo. Do vizinho (quem ainda o tem) ao próximo de uma fila; da hora do cafezinho a reunião formal; da vida a dois à vida profissional.
Mídias eletrônicas complexificaram essas relações e, por vezes, ampliaram, mas devem manter por muito tempo a nossa necessidade vital de negociar sentidos e impressões. Pelo menos enquanto pudermos nos intitular seres humanos.
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Trocar impressões é uma forma saudável de entender a vida
Somos seres sociáveis, e o diálogo com a diferença é crucial para derrubarmos certezas e amadurecermos olhares superficiais sobre o que nos cerca. Não somos prontos, o ser humano é uma permanente construção. A dinâmica da vida social, potencializada pela intensidade da produção informativa e sua difusão instantânea por meio de tecnologias progressivamente mais sofisticadas, estimula sensações de impotência de assimilação. Mas assimilar é um processo complexo, que envolve diferentes modos. O olhar, por exemplo, é um deles poderoso. Ler o que está a nossa volta pode ser tão rico e problematizante quanto uma crônica escrita.
Há quem diga que a bola da vez são as novelas, que deixaram, há muito, de ser só entretenimento. Na medida em que associam ocorrências de sentido comum, do presente e do passado, ao cotidiano de um drama - seja por via direta, seja por inter-textualidades os melodramas trazem subsídios para olharmos de maneira mais saliente o modo de ser de coletividades. Mesmo pobres na narrativas, ou homogêneas na visão de mundo, as produções televisivas deixam brechas diversas para “enxergar o que não se quer mostrar”.
Poderia estender, com as devidas proporções, essa mesma leitura para os seriados, telejornais e outros produtos que se modelam ou agonizam na tela nesses tempos de sociedade midiatizada. O fato é que, se mudou as formas de relação das pessoas com os bens simbólicos - agora em um nível veloz, direto e fragmentado – permanece a necessidade da troca. E nisso, vale tudo. Do vizinho (quem ainda o tem) ao próximo de uma fila; da hora do cafezinho a reunião formal; da vida a dois à vida profissional.
Mídias eletrônicas complexificaram essas relações e, por vezes, ampliaram, mas devem manter por muito tempo a nossa necessidade vital de negociar sentidos e impressões. Pelo menos enquanto pudermos nos intitular seres humanos.
segunda-feira, 25 de abril de 2011
Há uma urgência da vida, mas também uma urgência de viver
Sim, a rapidez das coisas impõe a ação; mas a ânsia e o desejo pela descoberta e pelo prazer insere outras expectativas. Conciliar ambas dimensões da vida é uma arte. No caso da infância, a urgência é brincar (que todos nós temos dentro de si), muito alienadamente dos anseios por uma certa “preparação para o futuro”, ou pelo domínio de novas tecnologias. A fantasia e a imaginação está na simplicidade. Um dado interessante, a respeito disso foi a pesquisa realizada a partir do Programa pelo Direito de Ser Criança, da empresa Omo, que apontou dados interessasntes com relação ao que tem sido priorizado nas escolas brasileiras que diagnosticou os materiais mais utilizados nas brincadeiras escolares das crianças.
De acordo com esse levantamento, entre as unidades de educação infantil, 81% usam sucata e 75% utilizam brinquedos confeccionados pelas próprias crianças na hora do brincar - ambos foram os recursos mais lembrados. O computador, como recurso, foi novamente pouco utilizado: 23% das escolas o citaram. Já nas escolas de ensino fundamental, apesar de o brinquedo mais citado ser o jogo pedagógico - lembrado por 80% das escolas - as sucatas diversas também aparecem com força, em 78% dos colégios. Em 36% das escolas consultadas, o computador, a televisão, o vídeo e o som aparecem como item fundamental na brincadeira.
São números apenas. Mas convidam a uma reflexão sobre o que representa realmente a modernidade o desenvolvimento em se tratando de ser criança.
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domingo, 24 de abril de 2011
A descoberta do novo se faz no estranho
Algumas vezes, precisamos ir muito além de onde estamos para se dar conta da própria condição. Outras vezes, a permanência de uma condição só se faz necessária em sua essência positiva. No caso de Cuba, que tem adotado mudanças estruturais, a partir do governo de Raul Castro, há uma mescla entre o novo, com o princípio de preservar as conquistas sociais no passado. Um desafio que se apresenta a um País que ousou, por décadas, enfrentar poderes gigantescos pela sua soberania e que agora, ante a imponência da conjuntura econômica e política, se troca os anéis para não perder os dedos.
"Acho que Jimmy Carter foi claro em seus pronunciamentos sobre a falha na política externa americana em relação à Cuba. Mais que qualquer outro presidente americano, exceto Gerald Ford, Carter foi o que mais fez para tentar reparar a relação com Cuba. Por isso, Carter tem estatura para vir conversar com o governo cubano, mas ele não estava aqui numa viagem oficial e Obama e Hillary Clinton não viram em Carter um porta-voz. A questão é que a opinião pública americana está pronta para suspender o embargo e restaurar as relações diplomáticas. O argumento está ganho. Cuba está soltando prisioneiros políticos e embarcando num processo significativo de reforma econômica e política. Mas a administração Obama, tendo em mente o custo político interno que isso poderia ter, nos coloca neste estranho momento em que a opinião pública americana e a atitude cubana estão à frente da administração mais liberal e democrática que os Estados Unidos tiveram desde 2000. Estamos estagnados no momento. Infelizmente, Washington não vê Cuba como uma nação de verdade."
Leia em Sem Fidel nem libreta a entrevista, na íntegra, com a pesquisadora Julia Sweig, autora do livro Inside the Cuban Revolution.
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quinta-feira, 21 de abril de 2011
Mesmo que por linhas tortas e até sobre a história oficial, a verdade um dia transoborda
Nada adianta disfarçarmos ou mentir para os outros ou para si, que a força transcendente da essência das coisas acaba por emergir. Na história, oficial ou não, se dá o mesmo, ainda que tarde. A reação dos militares da reserva da Aeronáutica, que pedem, por meio de um abaixo-assinado, a retirada do ar da novela do SBT "Amor e revolução", demonstra um desconforto de setores fardados a conviver com certas leituras sobre a nossa história.
Irônico é, como nota Alberto Dines, que a produção seja realizada pela empresa do acionista Silvio Santos, o considerado “queridinho dos militares” nos anos de chumbo. Em se tratando de versões sobre a história, considero interessante que sejam mais diversificados possíveis os olhares. Em um contexto em que a Comissão da Verdade aborda uma questão necessária, o simples fato de manter aceso esse debate, que a sociedade brasileira ainda não resolveu bem, já é um ganho que justifica manter a tal novela. Resta saber até que ponto a emoção da tela vai contribuir para a justiça da vida real.
segunda-feira, 18 de abril de 2011
Utopia, direções e contradições
A perspectiva de chegar a um ponto move muitos nas adversidades, ainda que também imobilize outros. Tendo a crer que, no caso dos que agem, é o que se pode chamar de força interna, essa lenta e diária superação do estranho. Se confunde com a fé, mas é uma forma mais especificamente humana de se ver e pensar a vida, pois está diretamente ligada ao contexto, e independe do transcedental ou divino – é puramente interior, e nada cobra ou nada deve, além da própria condição, disposição e meios. Chega a ser estranho como há na cultura brasileira uma forte predominância da preferência pela mudança repentina para mudar de vida de dia para noite. E, para isso vale tudo – loteria, caridade, plágio, promessa, e até outras formas não-lícitas. Há quem diga ser isso um sintoma do que em outros tempos se chamava “vagabundagem”, pelos que não acreditavam no trabalho. Mas, o trabalho, em nosso contexto, merece que nível de credibilidade enquanto forma de melhorar de vida e em contraste com a possibilidade de dispensá-lo para se perseguir um grau maior de liberdade? E o que é exatamente trabalho? E o que é exatamente liberdade? Há várias formas de qualificação e desqualificação desses conceitos, extremamente ideológicas. E, nesse emaranhado, cada um encontra, de seu modo, sua utopia.
domingo, 17 de abril de 2011
Diferenças de pensamento nos ajudam a viver mais intensamente
A possibilidade de ouvir diferentes olhares, em termos de formação, é salutar. Cruzando com três velhos conhecidos por esse fim de semana, fiz a experiência de apresentar e discutir questões políticas do âmbito nacional, a fim de colher posições e contrastar pareceres com o meu diagnóstico pessoal da conjuntura. Foi um belo exercício jornalístico, disfarçado de bate-papo. Temos, normalmente, pouca noção do quanto somos influenciados pelos outros no que somos e pensamos. Mas é importante também a consciência de que o equívoco de avaliação está em toda parte, ninguém é dono da certeza, e se o quer, deixa de ter crédito a mim. Essa constante dúvida e relativização das verdade nos faz mais maduros para viver e amar.
sábado, 16 de abril de 2011
Sobre o caminho e o imprevisível
A busca é uma forma de encontro. Às vezes, o simples deslocar-se traz luz sobre uma condição aparentemente inútil, nos faz valorizar melhor instantes outrora vistos como vazios. E no meio do caminho, há novidades. Tudo se transforma em termos de dinâmica da vida. Há uma química do imprevisível, que invade o mais meticuloso planejamento. Nela, saber agir, desdobrar-se, improvisar e criar caminhos é uma habilidade, insubstituível, que a cada um pertence. O fato é que a iniciativa de furar bloqueios é passo decisivo nessa capacidade ultra-racional.
sexta-feira, 15 de abril de 2011
Uma certeza, a morte; uma dúvida, o amor
Dinâmica que é, a vida atropela sentimentos. Mas a pontencialização das relações sociais, que a internet e outras tecnologias possibilitaram, tem sido um progressivamente assustador no impacto diário sobre o modo de ser das pessoas. A respeito disso, a fé, como mistério em direção ao transcendental é ainda um terreno protegido da racionalidade detonadora de corações. Para além do porque e do no que, a fé envolve um tipo de relação com o estranho, com o outro, que é complexa demais para ser interpretada ou engavetada por teorias. Nesse aspecto, tem motivos para trazer boas luzes o filme Homens e Deuses, de Xavier Beauvois, com nomes como Lambert Wilson e Michael Lonsdale no elenco, e inspirado na vida dos monges cistercienses que viviam numa remota localidade argelina no início dos anos 1990. Ameaçados, recusam-se a abandonar o país e também não querem proteção do Exército, o que os afastaria da população. A preservação da vida, em sua plenitude, se coloca como um dilema para aqueles religiosos. Temos hoje a vida como um conceito controverso, uma oportunidade para correr em busca do não se sabe o que. E o momento, o presente, se esvai como areia em nossas mãos. Isso também é motivo de vigilância própria. A dúvida é uma forma de amar, ante a certeza da morte. Pode ser que, sem sabermos, a dinâmica mecanicista dessa existência tende a virar algo que desconfio se distanciar do humano.
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Filmes e Documentários
quinta-feira, 14 de abril de 2011
Sobre nossas fragilidades para atacar o que é central
A sinceridade nos assusta. Talvez porque tenhamos nos acostumados a viver tanto sob a égide da mentira e da artificialidade, ser sincero em absoluto, consigo mesmo, assusta a ambos – a si e ao nosso interlocutor. Isso vale para a vida individual e coletiva. Quem sabe por isso seja tão comum se desviar das coisas como ela são, priorizando a moral e as normatizações vigentes, em troca da fidelidade à realidade, no diagnóstico dos problemas sociais. Seria por isso que a relação eletrônica, particularmente via e-mail, tem criado um novo, e para alguns, exclusivo canal de comunicação? Tem se dito que o garoto Wellington Menezes, autor da chacina no Realengo, teria sido uma mente perturbada pelo isolamento, que vinha se comunicando apenas pela internet nos últimos tempos e que isso poderia ter contribuído para a sua perturbação mental. Penso que faz sentido, em parte. Mas seu comportamento pode ser bem mais sintomático, reflexo de um modo de ser na vida coletiva atual, que ainda está por ser melhor interpretado. Esse suposto isolamento de Wellington atinge a todos, mas acredito que adolescência, por ser uma fase mais acesa para a sociabilidade, tende a maior vulnerabilidade. De qualquer modo, o enfoque estritamente monstrificador do autor do crime, como tem sido realizado por setores da mídia de massa, pouco contribui para pensarmos sobre a dimensão real do caso e as formas de evitar, ou reduzir, repetições. Nesse contexto de medo e perplexidade, tendem abundam propostas proibitivas, e volta à tona o desarmamamento. Não seria momento mais adequado para uma ampla campanha nacional, tendo a escola como espaço privilegiado para trabalhar as subjetividades individuais em torno de uma consciência humanizante e emancipadora? Como sempre, um caminho mais complexo, sincero demais para uma cultura política dominante que prioriza, para o enfrentamento da violência, as soluções por decretos, controle e proibições.
quarta-feira, 13 de abril de 2011
Lobos às vezes só ladram; Pena
Houve quem visse apenas humorismo nas presenças de Lobão e Peninha no Fórum da Liberdade. Sou mais cético. Lembremos que o Lobão cresceu na Gávea, e muito das “loucuras” que fez, não foi às suas custas. Já Peninha é criativo, mas, à parte seu talento de escrita – que não depende de ideologia – está longe de ser modesto; é alienado demais para ser engajado e sua arrogância compromete um brilho natural. Lembro que este, já ousou, por exemplo, menosprezar Memórias del Fuego, de Galeano, em comparação a sua Viagem do descobrimento – que diga-se, de passagem, é de um viés historiográfico Novo demais para meu gosto. Quem diz não ter lado, já se posicionou. Não sou dos que chegaram a queimar os livros de FHC após sua guinada tucana, mas olho sempre com muita desconfiança essa postura “liberal” dos que agem, dizem e fazem o que é típico do que há de mais reacionário, a pretexto da independência. Deus é inocente, artistas ou jornalistas, não. E no jornalismo, pululam exemplos do quanto o oportunismo tem a ver com esse ajuste de discurso. Quanto aos intelectuais, já faz tempo que essa palavra anda meio contaminada. Vou mais longe, há raiz nisso. Volto a dizer, ninguém se transforma, as pessoas se ampliam, ou se revelam.
terça-feira, 12 de abril de 2011
Vivendo e não aprendendo
Aprendemos com as limitações alheias; sim, não somos perfeitos, ainda que exista uma tendência em negar nossas fragilidades. E quando se refere aos destinos da humanidade, parece que isso se multiplica infinitamente. Quando a imprensa mundial noticia que os índices de radiação no Japão leva a alerta nuclear equivalente a Chernobyl seria hora de uma profunda reflexão dos governantes, pensadores e demais segmentos das sociedades no sentido de se aperceber sobre o que estamos fazendo com nós mesmos. Organismos que se ocupam com questões transcontinentais é o que não faltam e cabeças comprometidas com uma mudança de rota também. Porém, há forças políticas que operam nesse entremeio. Penso que as pequenas coisas, mas com ressonância política tendem a ter, nesse cenário, um efeito cada vez mais influente. De baixo pra cima. Ou a humanidade se repensa, ou consideremos a possibilidade de sua falência.
segunda-feira, 11 de abril de 2011
Permanências que valem a pena
Hoje eu acordei pensando em permanências. O que realmente é permanente em nossa vida? E o que realmente pode ou deve sê-lo? Me deparo com a notícia desta segunda-feira, de que violência é a principal limitação para o “Objetivo do Milênio”, estabelecido pela ONU para diversas metas sociais até 2015, e penso sobre a permanência da violência em detrimento a outras permanências necessárias. Sim, entendo, nesse caso, que a violência é uma permanência. Ela se estabelece em um ambiente e tende a se manter e se consolidar, ficando progressivamente mais difícil de superá-la, ou, pelo menos, complexo.
A Paz, em sentido oposto, pelos fatores consensualistas que envolve, não é permanente, mas pode ser introjetada em uma certa cultura, de modo a superar e alimentar sentimentos fortes, ao ponto de cercar a violência e sugar dela agressividades positivas, conscientes, politizadas, emancipadoras. Não qualquer paz, por certo, mas aquela que envolve a possibilidade de livre expressão, é a que me refiro.
Na memória, arquivo precioso de nossa vida, ficam armazenadas permanências positivas e negativas, o estoque de nossos mais profundos sentimentos. Recuperá-los diariamente e positivamente, é uma forma de permanências que nos fortalecem, as que vale a pena ficarem. Um beijo de mãe, o valor do trabalho, o valor da preguiça, um reencontro, uma descoberta, coisas assim.
Nesses tempos de invasão do imaginário por máquinas, tem sido fácil se perder nessa recuperação diária. Talvez, a superação da violência passe por esse retorno ao íntimo, retorno à permanências que valham a pena.
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RECICLAMENTO HUMANO
quarta-feira, 6 de abril de 2011
Os intelectuais dos jornalões
Agencia Estado, 06 de abril de 2011 | 6h 00
Me pergunto sempre, o que são realmente os intelectuais dos jornalões, como a sua atuação na cultura se diferencia dos intelectuais indepedentes, que criticam livremente a imprensa grande. Ainda não tennho respostas, só mais perguntas:
A crítica de um cronista que só vê um lado é dele ou da voz da instituição que se vincula?
E quais os limites de suas elaborações, quando se voltam contra os interesses da própria casa?
Como alguns desses seres se "transformam" da água para o vinho?
a pensar.
Diversidade, afeto e língua afiada:
somos cronistas do 'Caderno 2'
Ignácio de Loyola Brandão
Conto em palestras para estudantes, repito agora aos leitores. Talvez não saibam que, entre nós, a crônica é chamada literatura sob pressão. Precisamos escrevê-la, temos prazo, buscamos o tema. Ou, se preferirem, a tal inspiração. Cada um tem a sua, mas não conheço definição melhor do que a do Luis Fernando Verissimo: "Inspiração? É o prazo". Ou seja, chegou a hora, temos de escrever e escrevemos. Moro neste Caderno há 12 anos, pelas minhas contas. Antes, saía no Cidades (hoje Metrópole). Mas meus textos têm mais o jeito e a cara do Caderno 2, onde convivo com alguns dos melhores cronistas deste País. Não há dois iguais entre nós, a diversidade nos marca, a variação de assuntos, os campos vividos e explorados. Neste grupo, encontra-se divertimento e também informação, esclarecimento, questionamento, opinião, briga, poesia, o que se precisar. Daí sermos um conjunto compacto.
Veja a íntegra aqui.
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Contos e Crônicas
terça-feira, 5 de abril de 2011
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